UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA APRENDER A TER ESPERANÇA: CONSTRUÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA O 4º ANO DO 1º CICLO DE ESCOLARIDADE Andrea Liliana Fernandes Rodrigues Ritter MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção: Psicologia Clínica e da Saúde Núcleo: Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa 2011 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA APRENDER A TER ESPERANÇA: CONSTRUÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA O 4º ANO DO 1º CICLO DE ESCOLARIDADE Andrea Liliana Fernandes Rodrigues Ritter Orientadora Profª Dra. Helena Águeda Marujo MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção: Psicologia Clínica e da Saúde Núcleo: Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa 2011 AGRADECIMENTOS À Professora Dra. Helena Marujo Por toda a dedicação, orientação, disponibilidade, trabalho e ainda paciência ao longo da realização deste estudo, bem como pelas maravilhosas mensagens de motivação. Foi uma honra tê-la como orientadora. À Dra. Margarida Brígido Que tornou possível a aplicação deste programa no Agrupamento de Escolas Ribeiro de Carvalho. À Dra. Sofia Silvério Pela colaboração, atenção e disponibilização na aplicação do programa. À Professora Dra. Valle Flores Pela atenção dispensada na ajuda do tratamento estatístico. Aos participantes desta investigação Sem estas fantásticas crianças e as suas professoras esta investigação não teria sido possível. Obrigada pela colaboração e pelos bons momentos passados. Ao Bruno Pelo tempo, paciência e atenção disponibilizados neste trabalho. RESUMO O presente estudo consistiu na construção, implementação e avaliação de um programa de 7 sessões baseado no constructo de esperança definido por C. Snyder. Pretendeu-se analisar o tipo de impacto que este programa provocava nos níveis de esperança, medida através da Escala de Esperança para Crianças e de uma entrevista, e em variáveis associadas ao desempenho escolar, em crianças do 4º ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos. Para tal utilizou-se uma metodologia quasi- experimental, com grupo de intervenção e de controlo. Os dados indicam que em relação à Escala de Esperança para Crianças não houve diferenças significativas nos níveis de esperança auto-avaliados no grupo de intervenção. Relativamente às variáveis relacionadas com o desempenho escolar, houve uma diferença significativa e positiva relatada pelas professoras nas variáveis “Motivação” e “Desempenho” no grupo de intervenção. Na análise de conteúdo realizada aos dados da entrevista feita aos alunos do grupo de intervenção no pré e pós aplicação do programa, verificou-se a) um maior conhecimento acerca do conceito de esperança e das variáveis que o compõem; b) uma maior experiência de sentimentos positivos; e c) consequentemente mais esperança relatada pelas crianças após o programa. Vários dos factores que contribuíram para estes dados indicados pelos alunos são apresentados e analisados, e as limitações do estudo, as suas implicações terapêuticas e sugestões quanto a investigações futuras são também abordadas e discutidas. Palavras-chave: esperança, nível de esperança, programa de esperança, factores de esperança, desempenho escolar, crianças. ABSTRACT The present study consisted on the designing, implementing and assessing a 7-session intervention program based on C. Snyder’s hope concept. To assess the impact of the intervention on hope in 9 and 12 year old students, they completed at pre and post intervention the Children’s Hope Scale and a pre and post intervention interview. Pre- selected school variables were also assessed to understand the relationship between them and the impact of the hope-based intervention. The research design implied a quasi-experimental study involving an intervention group and a control group. At posttest, the intervention group had no enhanced hope as assessed by the Children’s Hope Scale, but on the interview children showed a) bigger knowledge about hope; b) more positive feelings; and c) higher hope levels. Also, children from the intervention group had, at posttest, enhanced two dependent school variables as assessed by teachers: Motivation and Performance. Several factors that might have contributed to the results are analyzed and discussed, as much as the limitations of the study, its implications and some suggestions for future investigations research. Key-words: hope, hope level, hope intervention, hope factors, school-age children, school achievement. Índice I – Introdução ................................................................................................................... 4 II - Enquadramento Teórico ............................................................................................. 5 1. Psicologia Positiva .................................................................................................. 5 1.1. Porque surge agora psicologia positiva .............................................................. 7 1.2. Emoções positivas .............................................................................................. 8 1.3. Psicologia Positiva e prevenção ......................................................................... 8 1.4. Psicologia Positiva na escola .............................................................................. 9 2. A Esperança .......................................................................................................... 10 2.1. Objectivos ......................................................................................................... 13 2.2. Agenciamento ................................................................................................... 13 2.3. Caminhos .......................................................................................................... 14 3. Relação da Esperança com outros constructos...................................................... 15 3.1. Desempenho Escolar e Desempenho Atlético .................................................. 15 3.2. Ajustamento Psicológico .................................................................................. 17 3.3. Saúde Física ...................................................................................................... 18 3.4. Optimismo ........................................................................................................ 20 3.5. Auto-eficácia .................................................................................................... 21 3.6. Vinculação e relação com cuidadores/pais ....................................................... 22 4. Necessidade de Esperança nos jovens .................................................................. 24 4.1. Programas de Esperança ................................................................................... 25 III – Metodologia ............................................................................................................ 27 1. Objectivo do estudo ............................................................................................... 27 2. Tipo de Investigação .............................................................................................. 27 3. Participantes e Desenho do Estudo ........................................................................ 28 4. Medidas .................................................................................................................. 29 1 5. Procedimento ......................................................................................................... 31 5.1. Recolha dos dados ............................................................................................ 31 5.2. Implementação do Programa ............................................................................ 32 5.3. Metodologias para análise dos dados ............................................................... 33 6. Aspectos Éticos ...................................................................................................... 34 IV - Análise dos Resultados e Discussão ....................................................................... 35 1. Resultados obtidos na Escala de Esperança antes e depois da intervenção .......... 35 2. Resultados obtidos na Grelha de Observação Sistemática para Professores antes e depois da intervenção ..................................................................................................... 36 3. Análise de conteúdo das entrevistas ...................................................................... 38 3.1. Análise das Entrevistas antes da Intervenção ................................................... 38 3.1.1. Percepção geral do conceito de esperança .................................................. 39 3.1.2. A experiência de Esperança ........................................................................ 40 3.1.3. Importância da Esperança ........................................................................... 41 3.1.4. Esperança em contexto escolar ................................................................... 42 3.2. Análise das Entrevistas depois da Intervenção ................................................. 43 3.2.1. Percepção geral do conceito de esperança .................................................. 43 3.2.2. Impacto do programa .................................................................................. 44 3.2.3. Perspectiva de futuro ................................................................................... 46 V – Conclusões, Implicações e Limitações .................................................................... 47 Referências bibliográficas .............................................................................................. 52 ANEXOS ........................................................................................................................ 59 ANEXO A: Escala de Esperança para Crianças ........................................................ 60 ANEXO C: Carta de permissão para participar no programa ................................... 62 ANEXO D: Carta de permissão para participar e gravar a entrevista ....................... 63 ANEXO E: Transcrição da entrevista A1 .................................................................. 64 ANEXO F: Transcrição da entrevista B1 .................................................................. 71 2 ANEXO G: Transcrição da entrevista A2 ................................................................. 76 ANEXO H: Transcrição da entrevista B2 .................................................................. 82 ANEXO I: Grelha da análise de conteúdo das respostas dadas pelos alunos antes da intervenção ..................................................................................................................... 87 ANEXO J: Grelha da análise de conteúdo das respostas dadas pelos alunos depois da intervenção ..................................................................................................................... 96 3 I – Introdução A esperança, sendo um constructo que é cada vez mais estudado, tem vindo a comprovar correlações positivas com inúmeras variáveis positivas nas crianças e nos adultos. Em consequência, inúmero autores e estudos começam a apontar para uma importância crescente da promoção e/ou do melhoramento da esperança nas idades mais novas, nomeadamente em crianças e adolescentes. Pretendeu-se neste estudo explorar o modo como um programa baseado na esperança, tal como definida por C. Snyder (1991), tem impacto em crianças do 4º ano de escolaridade, com idades entre os 9 aos 12 anos. Seleccionaram-se estas idades uma vez que estas se situam numa faixa etária imediatamente anterior à pré-adolescência e esta, por sua vez, é acompanhada por vários desafios – académicos e sociais – que exigem uma adaptação que são facilitadas por níveis altos de auto-estima e de esperança (Heaven & Ciarrochi, 2008). Deste modo, procedeu-se em primeira instância à construção do programa de acordo com as directrizes de Lopez e colaboradores (2009), e seguidamente à sua implementação em duas turmas do 4º ano de escolaridade. Tratou-se de um estudo quasi-experimental, com grupo de intervenção e grupo de controlo, avaliação pré e pós intervenção, e baseado numa análise quantitativa e qualitativa dos dados obtidos, respectivamente, através de um instrumento de auto- relato, a Escala de Esperança para Crianças e da Grelha Sistemática de comportamento escolar preenchida pelos professores – aplicadas ao grupo de intervenção e de controlo – e da entrevista aplicada aos participantes do grupo de intervenção. Com este estudo pretendeu-se salientar a importância de uma intervenção nas escolas ao nível da psicologia positiva, nomeadamente na área da esperança, de modo a que esta possa ser potenciada no contexto escolar, dado o seu valor preditivo do sucesso nesta área (Snyder, Shorey, Cheavens, Pulvers, Adams & Wiklund, 2002). Após esta introdução, o segundo capítulo começa por enquadrar conceptual e pessoalmente a motivação para a construção e aplicação de um programa baseado na esperança. O terceiro capítulo foi dedicado à metodologia de investigação, a que se segue o quarto capítulo com a apresentação e discussão dos resultados obtidos. Por último, o quinto capítulo introduz as conclusões finais e as implicações para o futuro da investigação e aplicação nesta área. 4 II - Enquadramento Teórico 1. Psicologia Positiva Martin Seligman foi e é o grande impulsionador e mentor da Psicologia Positiva. A sua história pessoal, aquela que o chamou a atenção para a necessidade de uma abordagem e foco positivo na psicologia, implicou uma conversa com a sua filha de 5 anos, pouco depois de ser eleito presidente da American Psychological Association em 1998. Foi um momento em que ele compreendeu que educar a filha não era corrigir os seus erros, pois ela própria fazia isso. Descobriu que criar uma filha era pegar nas maravilhosas forças de carácter que ela possui e amplificá-las, estimulá-las e guiá-las para que ajudem na luta contra tempestades que possam ocorrer na vida. Seligman, e outros autores que o secundam, chama assim a atenção para uma mudança de foco, defendendo que, sem deixar de lado o estudo da patologia e do seu tratamento, a psicologia deve abrir espaço para o estudo das competências e aptidões positivas do ser humano, redireccionando o enfoque para a promoção da qualidade de vida. Refere ainda a importância de ensinar a resiliência, a esperança, o optimismo, para tornar o ser humano mais resistente à depressão e capaz de levar uma vida mais feliz e produtiva (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). Contudo, a Psicologia Positiva não começou no final dos anos noventa, mas esteve sempre presente na psicologia como uma forma de conhecimento integrada e holística que passou despercebida (Linley, Joseph, Harrington, & Wood, 2006). Um dos seus maiores feitos foi consolidar e celebrar aquilo que se sabe que faz a vida valer a pena ser vivida, assim como delinear as áreas onde é preciso investir. Por exemplo, em 1979, Antonovsky (citado por Schueller, 2009) definiu as características positivas como forças ou emoções positivas que contribuem para o bem-estar e que podem ser conceptualizadas como “recursos de resistência” ou propriedades de uma pessoa ou comunidade que ajudam a mover para um pólo positivo, num contínuo de funcionamento saudável vs. doença. A Psicologia Positiva é assim o estudo científico daquilo que corre bem na vida. Não nega as dificuldades que as pessoas possam experienciar, mas sugere que dar atenção apenas às perturbações leva a uma visão incompleta da condição humana (Peterson, 2009). Este movimento tem vindo a constatar que certas forças de carácter – esperança, amor, espiritualidade – estão fortemente correlacionados com a satisfação ao longo da vida, e 5
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