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Uma perspectiva etnográfica sobre a capoeira angola PDF

126 Pages·2015·1.87 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA MARCO ANTONIO SARETTA POGLIA Todo mundo não é um, paraná! Uma perspectiva etnográfica sobre a capoeira angola NITERÓI 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA MARCO ANTONIO SARETTA POGLIA Todo mundo não é um, paraná! Uma perspectiva etnográfica sobre a capoeira angola Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau Mestre em Antropologia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Claudia Cruz da Silva Co-orientador: Prof. Dr. Ovídio de Abreu Filho NITERÓI 2014 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá P746 Poglia, Marco Antonio Saretta. Todo mundo não é um, paraná! - uma perspectiva etnográfica sobre a capoeira angola / Marco Antonio Saretta Poglia. – 2014. 125 f. Orientadora: Ana Claudia Cruz da Silva. Coorientador: Ovídio de Abreu Filho. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Antropologia, 2014. Bibliografia: f. 119-125. 1. Capoeira. 2. Resistência. 3. Etnografia. I. Silva, Ana Claudia Cruz da. II. Abreu Filho, Ovídio de. III. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. IV. Título. CDD 796.81 Banca Examinadora _____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Claudia Cruz da Silva (Orientadora) Universidade Federal Fluminense _____________________________________________ Prof. Dr. Ovídio de Abreu Filho (Co-orientador) Universidade Federal Fluminense _____________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos Rafael Barbosa Universidade Federal Fluminense _____________________________________________ Prof. Dr. Marcio Goldman Museu Nacional/UFRJ AGRADECIMENTOS São muitas as pessoas que contribuíram para que esta dissertação tomasse corpo. Aqui menciono apenas alguns nomes que não poderiam passar em branco, mas meus agradecimentos ultrapassam em muito esta pequena lista. ao meu mestre, Guto Obáfemi, pelo ensinamento compartilhado durante estes anos e pela fundamental motivação para seguir pesquisando e aprendendo; a toda a família Áfricanamente, pelos momentos proporcionados, por compartilhar o aprendizado cotidiano, pela amizade e pelo apoio e estímulo para que esta pesquisa fosse realizada, em especial àqueles que cederam seu tempo para conversar e trocar ideias sobre esta pesquisa; agradecimento especial à Magnólia, pela amizade e pela parceria firmada nos últimos meses, que resultaram em grande contribuição para esta pesquisa; à Polli, por toda a alegria, o carinho, a compreensão e companheirismo sempre dedicados; aos meus pais, pelo apoio sem o qual esta pesquisa não seria viável, e sobretudo por me proporcionarem apreender os sentidos mais profundos da resistência; a toda a minha família, pelo apoio incondicional e compreensão quanto às ausências necessárias; especialmente a Mário Eugênio, irmão, antropólogo, capoeirista que acompanhou de perto o processo pelo qual esse texto se tornou possível, trazendo muitas e importantes contribuições; à minha orientadora, Ana Claudia Cruz da Silva, pela etapa que percorremos juntos e os bons encontros realizados; aos professores Márcio Goldman e Ovídio Abreu, pelas aulas instigantes e singulares e por aceitarem compor esta banca; ao Ovídio, ainda, por coorientar esta pesquisa e ao Márcio por me permitir frequentar seus cursos no PPGAS/MN; a professor Antonio Rafael, por aceitarem compor a banca e contribuir com seus conhecimentos para a minha pesquisa e pelos bons momentos compartilhados na academia; à Ana Popp da Costa, amiga e colega, companheira das alegrias e aflições que a antropologia nos brinda; à Luíza Flores, pela amizade e pelas leituras e trocas de ideias antropológicas; aos colegas do mestrado, pelos momentos compartilhados de alegrias e construção do conhecimento; e a todos aqueles que estavam na torcida, meus mais sinceros agradecimentos! RESUMO A presente pesquisa constitui uma etnografia realizada junto à Áfricanamente Escola de Capoeira Angola, em Porto Alegre (RS). Nos primeiros capítulos, pretende-se apresentar a Áfricanamente e problematizar, a partir da descrição etnográfica, algumas temáticas relacionadas às pesquisas sobre a capoeira (especialmente o conceito de identidade e as referências às árvores genealógicas), buscando compreender a capoeira angola sob a perspectiva do grupo. A seguir, a descrição volta-se para a filosofia política expressa no jogo da capoeira, encaminhando o texto, no capítulo final, para a discussão sobre a ideia de cosmopolítica, na tentativa de apresentar o modo como este conceito pode potencializar a compreensão desta arte e as formas de resistência que engendra. Palavras-chave: Capoeira Angola; aliança; cosmopolítica; resistência. ABSTRACT This research is an ethnography with the Áfricanamente Escola de Capoeira Angola, located in the city of Porto Alegre (RS/Brazil). In the first chapters, it intend to present Áfricanamente and discuss, from the ethnographic description, some issues related to the research on capoeira (especially the concept of identity and references to the family trees), searching to understand the capoeira angola according the group’s perspective. The following, the description turns to the political philosophy expressed in capoeira’s play, forwarding the text, in the final chapter, to the discussion of the idea of cosmopolitics, in an effort to show how this concept can enhance the understanding of this art and the forms of resistance that it engenders. Keywords: Capoeira Angola; alliance; cosmopolitics; resistance. SUMÁRIO Introdução ..........................................................................................................................7 1. “África” ....................................................................................................................... 14 1.1. Narrativas ............................................................................................................. 28 1.2. Resistências .......................................................................................................... 33 2. Alianças ....................................................................................................................... 46 2.1. Capoeira Angola ................................................................................................... 65 3. Em Jogo ....................................................................................................................... 73 4. Cosmopolítica ............................................................................................................ 109 Referências: ................................................................................................................... 119 Introdução O conhecimento de uma coisa me inclui nela. (Manoel de Barros, 2010, p. 129) A presente pesquisa constitui-se de etnografia realizada junto à Áfricanamente Escola de Capoeira Angola, em Porto Alegre (RS), liderada pelo contramestre Guto Obáfemi, da qual faço parte desde março de 2010, período no qual iniciei etnografia junto ao grupo para compor a monografia de conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Sociais. Em um artigo de 1998 sobre a capoeira, Vieira e Assunção assim introduzem o tema a ser discutido: “hoje não é mais necessário explicar o que é capoeira. Ela foi tão divulgada, nos últimos vinte anos, que já deu, literalmente, a ‘volta ao mundo’” (Vieira e Assunção, 1998, p. 2). Após a virada do século esse movimento se intensificou, muitos mestres migraram para o exterior e hoje em dia estima-se que a capoeira seja praticada em mais de 150 países (Iphan, 2008). No Brasil, está presente em todo o território nacional e em 2008 a roda de capoeira foi registrada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como “Patrimônio Cultural do Brasil” (idem). Por outro lado, encontramos em Head (2011) o seguinte fragmento: Basta olhar para uma típica revista de capoeira para acharmos o que talvez sejam suas duas faces predominantes, pelo menos tais como disseminadas pela mídia. Na capa da frente, é provável acharmos a fotografia de uma sedutora jovem (tipicamente, branca e loura) executando um movimento de capoeira ou tocando o berimbau. Aqui, capoeira consiste numa bela dança comemorando a sensualidade livre da cultura brasileira. Se virarmos para a contracapa, a outra face da capoeira estará provavelmente presente, frequentemente em anúncios de produtos esportivos, representando homens jovens com tatuagens e músculos protuberantes, pele amorenada e rostos carrancudos. Nessa versão da capoeira, os corpos normalmente ameaçadores dos “marginais” são contidos pela presença da marca registrada na forma inócua de uma mera comodidade, ao mesmo tempo que aqueles corpos dão forma a sonhos belicosos de um poder incontido. Precisamos apenas abrir uma dessas revistas para acharmos a versão popularizada da história da capoeira correspondente a cada uma dessas imagens (pp. 94-95). É difícil, entretanto, imaginar que falar em capoeira angola remeta alguma pessoa a essa imagética. O depoimento de Maskote, um dos menores e mais habilidosos capoeiristas da Áfricanamente, sobre as aulas de capoeira que ministra em projetos sociais é neste sentido 7 bastante significativo: “às vezes, num projeto, as pessoas falam que vai vir um professor de capoeira, todo mundo acha que vai vir um cara malhado, grandão, forte que vai dar salto mortal. Daí chega eu! (risos). Já desconstrói, sabe?”. Na verdade, se hoje em dia todo mundo supostamente sabe o que é capoeira no Brasil, não é muito comum encontrarmos, por parte de pessoas alheias a esta prática, quem possua familiaridade com a expressão capoeira angola. Aos que tem algum contato anterior, o risco maior, parece-me, é sempre o de folclorização. De qualquer forma, raros são os casos em que se leva a sério a sua filosofia política, e inclua-se aqui grande parte das produções acadêmicas. Mesmo que menos estereotipadas, é notável como uma imagética da capoeira é fortemente divulgada e reiterada pelos meios de comunicação a partir do viés desportivo, mais associado ao estilo da capoeira regional. Esta última caracteriza um “estilo” de capoeira que reivindica uma descendência de Mestre Bimba, o qual teria introduzido, ainda na década de 1930, um método de ensino na capoeira e outras modificações em busca de eficiência que aproximaram a sua prática das atividades esportivas (Frigério, 1989; Magalhães, 2012; Pires, 2001; Vieira e Assunção, 1998). A expressão capoeira angola foi então mobilizada especialmente por Mestre Pastinha, como contraponto à capoeira regional, que havia desfrutado de forte ascensão nas décadas seguintes, para colocar em evidência a sua origem africana (idem). Hoje em dia, essa constitui uma distinção ainda muito vívida na estética de jogo (o que não se separa de uma ética) e em algumas características formais (a diferente formação da bateria, a prática de graduações identificadas por cordéis coloridos pela primeira, o uso de sapatos pela segunda, as roupas e até mesmo os corpos, geralmente mais protuberantes na capoeira regional). Entretanto, é muitas vezes em contraposição à capoeira regional que pesquisadores e também alguns capoeiristas apresentam a capoeira angola, diante da necessidade de dizer antes do que ela se diferencia do que a partir de quais práticas se constitui. Na Áfricanamente, a qual constitui o universo desta pesquisa, a própria delimitação do que é capoeira angola não soa em uníssono. Como busca demonstrar Magalhães (2012), apesar de alguns grupos apresentarem definições bastante delimitadas sobre a capoeira angola, diferentes concepções e linhagens coexistem no próprio campo angoleiro. Em uma perspectiva etnográfica, emerge a necessidade de saber como essas categorias são criadas no interior dos próprios grupos, não somente através dos seus discursos, mas igualmente através de práticas cotidianas não discursivas ou não verbais. 8 Cada vez mais, também, têm surgido grupos híbridos ou avessos a esse tipo de categorizações, em geral autodenominados tão somente capoeira ou “capoeira contemporânea”. Com efeito, Marchesi (2012) argumenta que as diferentes estratégias de agências desses mestres resultaram, em primeiro lugar, duas formas de capoeira que representam até hoje uma macro-divisão de estilos: a Capoeira Regional, de Mestre Bimba, e a Capoeira Angola, de Mestre Pastinha. Em segundo lugar, por meio da criação de significados e o estabelecimento de conexões e alianças, viabilizaram a aceitação e disseminação da capoeira no Brasil e, progressivamente, no mundo (p. 110). Num sentido mais geral, podemos estender para a capoeira, creio que de modo muito próximo, a elaboração que Goldman (2005, p. 3) faz, a partir das considerações de Guattari (1993) sobre o jazz, a respeito das religiões afro-brasileiras: as religiões afro-brasileiras como um todo são resultantes de um criativo processo de reterritorialização, efetuado a partir da brutal desterritorialização de milhões de pessoas em um dos movimentos que deram origem ao capitalismo, a saber, a exploração das Américas com a utilização do trabalho escravo. Frente a essa experiência mortal, articularam-se agenciamentos que combinaram, por um lado, dimensões de diferentes pensamentos de origem africana com partes dos imaginários religiosos cristão e ameríndio, e, por outro, formas de organização social tornadas inviáveis pela escravização com todas aquelas que podiam ser utilizadas, dando origem a novas formas cognitivas, perceptivas, afetivas e organizacionais. Tratou-se, assim, de uma recomposição, em novas bases, de territórios existenciais aparentemente perdidos, do desenvolvimento de subjetividades ligadas a uma resistência às forças dominantes que nunca deixaram de tentar a eliminação e/ou a captura dessa fascinante experiência histórica. O que explica sem dúvida, ao menos em parte, o fato de as religiões afro- brasileiras serem atravessadas até hoje por um duplo sistema de forças: centrípetas, codificando e unificando esses cultos, e centrífugas, fazendo pluralizar as variantes, acentuando suas diferenças e engendrando linhas divergentes. *** Algumas observações sobre um ponto fundamental precisam ser feitas, diz respeito ao meu duplo vínculo com o grupo que constitui o objeto desta pesquisa, ou seja, o fato de atuar enquanto pesquisador e capoeirista. Fazer parte do grupo ao qual se pesquisa coloca o pesquisador diante de uma singularidade ambivalente: pode jogar uma luz que ilumine a observação para dimensões não experienciáveis de outra forma, mas deve-se ter cuidado para que esta luz não o cegue para a produção do conhecimento etnográfico. Isso coloca também em evidência a dificuldade de se buscar um “ponto de vista nativo”, uma vez que o seu ponto de vista esbarra a todo o momento com aquele de outros. Talvez não haja nem tanta clareza sobre o seu próprio ponto de vista, especialmente quando se trata de ser um 9

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Bibliografia: f. em Antuérpia - Bélgica), Mestre Marcelo Angola (BA), Mestra Janja (BA), Mestre Conforme afirma Mestre Janja, “o que mais me.
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