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Um Rio Chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África PDF

267 Pages·2011·1.76 MB·Portuguese
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© 2003 by Alberto Vasconcellos da Costa e Silva Direitos de edição da obra em língua portuguesa adquiridos pela EDITORA NOVA FRONTEIRA PARTICPAÇÕES S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. EDITORA NOVA FRONTEIRA PARTICPAÇÕES S.A. Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso – CEP 21042-235 Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212/8313 www.novafronteira.com.br Texto revisto pelo novo Acordo Ortográfico. CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S578rSilva, Alberto da Costa e 5.ed. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África / Alberto da Costa e Silva. – 5.ed. – Rio de Janeiro : Nova Fronteira : 2011. Inclui bibliografia ISBN 978-85- 209-3903-1 1. África, Sub-Saara - Relações - Brasil. 2. Brasil -Relações - África, Sub-Saara. 3, África, Sub-Saara -Civilização - Influências brasileiras. 4, Brasil - Civilização - Influências africanas. I. Título. CDD 960 CDU 94(6) Sumário Apresentação - Um livro aberto (Manolo Florentino) Prefácio Nas duas margens As relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à Primeira Guerra Mundial O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX O Brasil e a África, nos séculos do tráfico de escravos O trato dos viventes Na margem de lá Uma visita ao Museu de Lagos Os sobrados brasileiros de Lagos Os brasileiros de Lagos Um domingo no reino do Dangomé Os brasileiros ou agudás e a ocupação colonial da África Ocidental: cumplicidade, acomodação e resistência Na margem de cá Ser africano no Brasil dos séculos XVIII e XIX Um chefe africano em Porto Alegre Comprando e vendendo Alcorões no Rio de Janeiro do século XIX A propósito do frevo Sobre a rebelião de 1835, na Bahia A casa do escravo e do ex-escravo De ida e volta A história da África e sua importância para o Brasil Bibliografia Referências dos textos Índice remissivo Apresentação – Um livro aberto U m rio chamado Atlântico se converteu para mim em um livro novo a cada leitura. Bem sei o quanto é mutante o olhar de quem lê, não é a isso que me refiro. Falo de uma sensação, quase tão palpável quanto o exemplar em suas mãos neste momento. Ao indagar sobre a sua origem, concluo que essa sensação resulta em grande medida da teimosia de Alberto da Costa e Silva em não atualizar escritos produzidos em épocas tão díspares. De fato, os mais antigos dentre seus dezesseis ensaios datam de quatro, cinco décadas. Os mais recentes apareceram há dez anos. Se na presente edição de novo surgem sem reparos é porque, conforme alerta o autor desde a primeira, de 2003, “busquei preservá-los como um dia os escrevi”. Opção no mínimo corajosa, pois — é sabido — grandes escritores gastaram boa parte de seu tempo esquadrinhando sebos, livrarias e, mesmo, bibliotecas à cata de textos publicados na juventude... para queimá-los! (Com tal objetivo ao menos um adquiriu toda a tiragem ao próprio editor.) A escolha de Costa e Silva denota, por certo, a insistência com que temas, formas e pessoas visitam a sua mente. Mas diz principalmente da forte ligadura que o fluxo do tempo se encarregou de produzir entre a obra e o narrador, transformado em personagem de si mesmo. Faz sentido a marota observação que dele ouvi por ocasião do lançamento do seu Invenção do desenho (Ficções da memória), em 2007: “Caro, essa é a minha psicanálise.” Render-se à dúvida contida no escrito e na vida torna impossível macular o antes construído. Daí a constante retomada de determinados objetos, desbastados à maneira de um certo Drowne que Nathaniel Hawthorne inventou, jovem entalhador para quem a obra consiste em descobrir as formas que pinheiros e carvalhos obstinadamente escondem. Por isso Um rio chamado Atlântico é um livro aberto e, como tal, fonte de estranhamento para o leitor atento. * As quatro partes em que se distribuem os ensaios exploram com retidão aparente a metáfora do vasto oceano convertido em rio. Ao longo da primeira (“Nas duas margens”), o Atlântico é ainda um mar extenso, suporte de movimentos grandiosos nas intenções, configurações e efeitos — o tráfico de almas e o capitalismo, o abolicionismo britânico e seu desiderato (o domínio dos fluxos mercantis de longa distância), as guerras santas e o traslado compulsório de milhares de muçulmanos para as Américas, mencionando apenas alguns. A complexa urdidura desse Atlântico humanizado não caberia em algumas sínteses historiográficas recentes, por mais bem-intencionadas que se apresentem. Guerrilha intelectual ao invés de guerra clássica quando a África é o tema — eis o programa apontado pelo historiador diletante, que é como Costa e Silva se consente. Destaco “O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX”, o ensaio mais divulgado — pelo ousado da perspectiva — desde sua publicação inicial, em 1989. A segunda e terceira partes (“Na margem de lá” e “Na margem de cá”) têm por cenários os litorais transformados em beiras. A estreitá-los, o enraizamento na África e no Brasil de instituições, óbvio; mas sobretudo de comunidades transoceânicas, encarnações de intensas mestiçagens culturais a dar novo significado ao espaço, ao homem, a seus deuses. Que a semelhantes amálgamas não se roubou o conflito é prova contundente a presença de “Sobre a rebelião de 1835, na Bahia”, por muitos realçado como um texto seminal. Me permito destacar, no entanto, a importância de “Comprando e vendendo Alcorões no Rio de Janeiro do século XIX”, porque através dele o autor esboça a trajetória dos muçulmanos negros da Corte imperial brasileira — tema indispensável embora sempre ofuscado, talvez pelo peso intelectual dos intérpretes da vertente baiana do Islã. Também em razão de sua sutileza metodológica, contida na inferência da envergadura e da vinculação religiosa dos moslins que habitavam as terras cariocas a partir de algo tão singelo como a quantidade e o preço de Alcorões por eles adquiridos a livreiros franceses aqui estabelecidos. * A quarta e última parte do livro (“De ida e volta”) é composta tão somente pelo pequeno ensaio intitulado “A história da África e sua importância para o Brasil”. Radica nele a outra fonte da sensação de novidade a que me referi no início. Bem-entendido. Costa e Silva fecha o livro pugnando para que a história da África alcance entre nós a maioridade intelectual há tempos conquistada em outras plagas. Para tanto faz menção aos atalhos intuídos (mas desgraçadamente olvidados) por autores como Gilberto Freyre e José Honório Rodrigues, para mencionar apenas os melhores. Só assim passaremos — continua ele — à efetiva identificação dos africanismos ressignificados que nos tecem. Representaria essa a única — e sempre ausente — via para saber até que ponto e como a África condicionava as relações entre as duas margens do Atlântico Sul. Não é pauta de pouco fôlego, bem sabe o poeta. Entretanto, mais do que o esboço embutido na plataforma historiográfica, capturo nesse último ensaio um contraponto à ferrenha lógica de estruturação formal até então imposta ao livro. Se é correto, como escreveu alguém, que o verdadeiro contato entre os seres só se estabelece como uma prece interior, me parece legítimo tomar o derradeiro texto de Um rio chamado Atlântico como prédica, uma súplica entoada por Alberto da Costa e Silva também em artigos de divulgação, palestras, entrevistas e aulas proferidas pelo Brasil afora. Apenas esse aspecto já sugere o quanto o Brasil e a África devem ao grande “historiador diletante”. * Não tenho a ilusão de haver convencido, mas garanto ao leitor que a cada visita, à semelhança do conto O livro de areia, de Jorge Luis Borges, Um rio chamado Atlântico muda mesmo. Se eu tivesse um mínimo de juízo, tal qual o prudente morador da calle Belgrano o faria perder-se entre as estantes úmidas de uma biblioteca pública, cujo endereço procuraria esquecer. Mas a arte de Alberto da Costa e Silva tem mais força e convencimento do que o receio que todos temos da própria imaginação. Pensando bem, não é isso o que se aguarda de um experimentado diplomata e homem de letras? Manolo Florentino

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