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Um estudo de fonologia da língua Makuxi (Karib) : interrelações das teorias fonológicas PDF

192 Pages·2004·4.646 MB·Portuguese
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Tese de Doutorado Um estudo de fonologia da língua Makuxi (karib): inter-relações das teorias fonológicas Universidade Estadual de Campinas 2004 tH~lC,<\MP BIBLIOTECA CENTRAL SEÇÃO CIRCU Carla Maria Cunha Um estudo de fonologia da língua Makuxi (karib): inter-relações das teorias fonológicas Tese apresentada ao Curso de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Lingüística. Orientador: Prof Dr. Wilmar da Rocha D' Angelis Banca Examinadora: Prof" Dr" Maria Bernadete Abaurre (UNICAMP) Prof" Dr" Adair Pimentel Palácio (UF AL) Prof Dr. Aryon Dall'Igna Rodrigues (UNB) Prof" Dr" Adelaide Hercília Pescatori Silva (UFPR) 11 ___ Ex __ .~- DMBO BC/ '5 q 1.]:Q._ ROC. I f · q :1: .. .:: O'L cO u[}.] n '\ .• ,, 'REÇO à5 I 'Y'l -·····- :Jc!IJ H0 DATA 2 . 1• CPD. FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA IEL - UNICAMP Cunha, Carla Maria. C914e Um estudo de fonologia da língua Makux:i (Karib) : inter-relações das teorias fonológicas I Carla Maria Cunha. - Campinas, SP : [s.n.], 2004. Orientador : Prof'. Dr. Wilmar da Rocha D' Angelis. Tese (doutorado)- Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. 1. Língua Makux:i - Fonologia. 2. Fonologia não-linear. 3. Geometria de traços. 4. Família Karib. L D' Angelis, Wilmar da Rocha. ll. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Ill. Título. lll A Celino Alexandre Raposo que generosa e pacientemente contribuiu, com seu conhecimento da língua Makuxi, na formação do corpus desta pesqmsa. Ao Professor Dr. Wilmar da Rocha D'Angelis, cuja parceria acadêmica viabilizou a escrita deste trabalho. A mamãe e papai, Gilda Maria Carneiro da Cunha e Luiz Gonzaga Cunha. A Galvão Vitor Corrêa, pela vida IV AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela bolsa de estudo concedida. Ao Fundo de Apoio ao Ensino e a Pesquisa (FAEP) que concedeu recursos para minhas viagens de campo. Ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) pela estrutura fisica e humana que oferece aos seus alunos e, em particular, pelo apoio dado à minha pesquisa de campo. Ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) por permitir minha entrada na área da Maloca da Raposa I. Ao Professor Dr. Wilmar da Rocha D' Angelis pelo trabalho de orientação que deu curso e suporte à escrita desta tese. À Professora Dr". Adair Pimentel Palácio, minha orientadora no curso de Mestrado, pessoa e profissional inesquecível. Aos professores do IEL que trabalham conosco em sala de aula e em nossas pesquisas, de modo muito especial, à Prol" Dr" Maria Bemadete Marques Abaurre. A João Maçarico, Lídia da Silva Raposo, Celino Alexandre Raposo, Arissádina Fidélis da Silva, falantes Makuxi que participaram de minha pesquisa de campo. À Joana e D. Zilda, índias Makuxi que me trataram como parente. À Rosely de Souza Lacerda (in memoriam) participante do Núcleo de Estudos Indigenistas (NEI) da Universidade Federal de Pernambuco. Aos amigos: Marianne Carvalho, Déborah Freitas, Ana Maria e Aldir Santos de Paula e Margarete Fernandes de Souza. À família Souza, tomando aqui duas referências: Mateus, que escuta meu silêncio e Helena, que me convida para a vida em sociedade. À minha família numerosa, barulhenta e amada. Ao bem querer de Vitor. v RESUMO A presente tese é uma nova abordagem da fonologia da língua Makuxi (Karib), falada por uma população indígena de cerca de dezoito mil pessoas no estado brasileiro de Roraima e na Guiana. A busca de uma análise mais profunda, para além dos marcos da Fonêmica, inspira se na tradição fonológica do Circulo Lingüístico de Praga e apóia-se no modelo representacional da Geometria de Traços. Disso resultam as "inter-relações das teorias fonológicas", pela correspondência que traça entre conceitos adotados nas teorias fonológicas clássica e auto segmenta! (geometria de traços). Na busca de urna explicação para o fenômeno existente na língua Makuxi, que até então era interpretado como um vozeamento que atinge os segmentos obstruintes após vogal longa, segmento nasal ou glotal, estabelecemos uma correspondência entre os conceitos 'lenis/fortis', da fonologia clássica, ao que constitui o traço SV (Vozeamento Espontâneo), do modelo auto-segmenta!. Em nossa análise, o traço SV mostra-se essencial para aclarar o que entendemos como um processo de lenição. Consideramos fundamental a participação deste traço na geometria dos arquifonemas soantes oral 17'/ e nasal /N/, de maneira a sobrepor a interpretação de lenição à de vozeamento das consoantes em foco. As observações e o raciocínio que nos fizeram descartar a idéia de um processo de vozeamento nos levaram a reconhecer a existência fonológica de uma consoante 17'1, caracterizada pelos traços [+aprox] e [SV] - distinta da obstruinte glotal marcada pelos traços [-aprox] e [-voz] (laringeo)- cuja presença é revelada justamente pela lenição das consoantes 'fortis' /p, t, k, s/ que passam a 'lenis' [b, d, g, z]. VI ABSTRACT The present thesis is a new approach of the Makuxi (Karib) language phonology, spoken by an Indian population of about eighteen thousand people in the Brazilian state of Roraima and in the neighbor territory of Guyana. Searching for a deeper analysis, beyond Phonemics, this study is inspired in the phonological tradition of the School of Prague and adopts the representational model of the Features Geometry. The result is the "inter-relations of the phonological theories", by the correspondence that it establishes between the concepts adopted by the classical phonological theories and the auto-segmental model (features geometry). Looking for an explanation for the existing phenomenon in the Makuxi language, which has been interpreted as a voicing implementation (t hat reaches the obstruent segments after long vowel, nasal or glottal segments ), this thesis establishes a correspondence between Ienes/fortes concepts o f the classical phonology to which constitutes the SV (Spontaneous Voicing) node ofthe auto-segmental model. In our analysis, SV reveals to be essential to explain what we understand as a lenition process justitying the participation of this feature node in the geometry of the sonorant archi-phonemes oral /?'/ and nasal /N/, allowing to change the interpretation of lenition to the one o f voicing implementation of the consonants in focus. The reasoning that made us discard the idea o f a process of voicing, had led us to recognize the phonological existence of a consonant !?'!, characterized by the features [+ aprox] and [ SV ]- distinct fi:om the glottal obstruent specified by [-approx] and [-voice] (Laryngeal) - whose presence is disclosed by the lenition of fortes consonants /p, t, k, s/, that become Ienes [ b, d, g, z l VII SUMÁRIO O. Apresentação 09 L Etnografia dos Makuxi 15 L 1 Abordagem histórica 19 L2 Residências e fanúlia 28 L3 Meio ambiente e atividades de subsistência 29 L4 O sentido de propriedade para os Makuxi 30 L 5 A mulher Makuxi 31 L6 Educação escolar indígena 32 II. A geometria de traços das consoantes 35 m Realidade fonética e aproximação ao sistema fonológico 47 III.1 Estudo fonológico das obstruintes 48 IILL1 Consoantes [- cont] orais 48 IILL2 Consoantes [- cont] nasais 62 III.1.2.a A nasalização vocálica sinalizando caráter 'lenis' 73 de consoantes nasais III.U Os fonemas n1 e n'l 78 III.L4 Consoantes [+ cont] 98 IIL1.5 A relação dos sons [+ cont] e os aproximantes 107 Vlll III.1.5.a Cotejo entre a aproximante palatal, OJ, e a [+cont], [coronal], 107 [+distribuída], [ô] III.L5.b Confronto entre a aproximante [labial], [w ], e a obstruinte [+ cont ], 120 [labial], [J3] III.1.6 O segmento flap, [r] 125 III.2 Quadro fonológico das consoantes 127 IV. As vogais 129 IV.1 As vogais: altura e nasalidade 129 IV.2 Segmento longo ou alongado e o acento 151 IV.2.1 Segmento longo ou alongado 151 IV.2.2 Alongamento vocálico e acento 154 v. Sílaba 161 VI. Processos fonológicos 177 VII. À guisa de conclusão 185 Bibliografia 187 O. Apresentação. A tese 'Um estudo de fonologia da língua Makuxi (Karib ): inter-relações das teorias fonológicas' 1 tem por objetivo principal produzir uma aoálise mais profunda desse componente da língua Makuxi, adotaodo modelos teóricos recentes. No percurso de sua elaboração, evidenciou-se o papel crucial de um determinado processo fonológico para a compreensão das principais oposições (correlações) no sistema da língua: o processo que envolve um tipo de vozeamento concernente aos segmentos obstruintes. Os dados utilizados neste trabalho são registros que obtive com quatro falaotes nativos da língua Makuxi: dois homens e duas mulheres, todos adultos. As gravações estão registradas, parte em fita cassete, e parte em mini-disk. Foram realizadas duas viagens de campo, uma entre setembro/outubro de 1998, na qual fiquei na Maloca da Raposa2 e a segunda em 2002, entre os meses de junho/julho, em que perrnaoeci na capital de Roraima, Boa Vista, por dois motivos: dois dos meus colaboradores (que já me conheciam e com os quais eu tinha trabalhado) encontravam-se moraodo em Boa Vista; e a dificuldade de entrar em área indígena. Na primeira ida ao campo, não havia a presença forte de nenhuma entidade organizada na região, nem uma política que dificultasse a entrada de pesquisadores em área, razão pela qual fui diretamente á aldeia e apresentei-me ao tuxaua (cacique), da época, Sr. Delmiro. Falei-lhe do trabalho que pretendia fazer e entreguei-lhe uma carta de apresentação da professora Déborah Freitas, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), que já fazia um trabalho de pesquisa naquela área. A primeira ida ao campo durou cerca de um mês, deste tempo passei quinze dias na Maloca da Raposa. Gravei com dois inforrnaotes (João Maçarico, que na época era diretor da escola, e Lídia Raposo, esposa do então tuxaua da maloca) um questionário previamente elaborado. O trabalho com Lídia foi de gravação direta dos dados; com João consegui fazer, 1A grafia das palavras Makuxi e Karib segue a convenção promovida pela Associação Brasileira de Antropologia (1953 apud Rodrigues, 1986). 'É comum na região chamar as aldeias de malocas. Historicamente, os Makuxi viviam em casa plurinuclear. provavelmente, este costume levou à correspondência do termo maloca à aldeia.

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