UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA Eveline Rojas TRANS NARRATIVAS DO SELF Uma análise a partir de diários virtuais de transição transexual no YouTube RECIFE 2015 EVELINE GAMA ROJAS TRAS NARRATIVAS DO SELF Uma análise a partir de diários virtuais de transição transexual no YouTube Tese apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Doutor em Sociologia do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco. Orientador: Prof. Dr. Jonatas Ferreira Co-orientadora: Profª. Drª. Cynthia Hamlin RECIFE 2015 Catalogação na fonte Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva, CRB4-1291 R741t Rojas, Eveline Gama. Trans narrativas do self : uma análise a partir de diários virtuais de transição transexual no Youtube / Eveline Gama Rojas. – Recife: O autor, 2015. 352 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Jonatas Ferreira. Coorientadora: Profª. Drª. Cynthia Hamlin. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Pós- Graduação em Sociologia, 2015. 1. Inclui referências e anexos. Sociologia. 2. Transexuais. 3. Identidade de gênero. 4. Narrativa (Retórica). 5. Self (Psicologia). I. Ferreira, Jonatas (Orientador). II. Hamlin, Cynthia (Coorientadora). III. Título. 301 CDD (22.ed.) UFPE (BCFCH2015-20) 2. Sociologia. 2. Transexuais. 3. Identidade de gênero. 4. Narrativa (Retórica). 5. Self (Psicologia). I. Ferreira, Jonatas (Orientador). II. Hamlin, Cynthia (Coorientadora). III. Título. 301 CDD (22.ed.) UFPE (BCFCH2015-20) Agradecimentos À minha amada família, em especial a minha mãe, minha tia Cristina, meu tio Fernando, meu irmão Marcos André e a Isabel, que foi o meu abrigo e caminhou junto comigo, pela confiança, paciência, afeto e apoio incondicionais. Sem eles esta jornada não teria tantos oásis. Aos meus amigos e amigas queridas pela torcida positiva. Ao meu orientador Jonatas Ferreira e co-orientadora Cynthia Hamlin pelas contribuições fundamentais, pela compreensão, delicadeza, generosidade e, sobretudo, pelo compromisso e desafiar constante dos meus limites. Ao professor Jay Prosser pela receptividade e diálogos inspiradores. Ao Gabriel Peters por sua ajuda cuidadosa na revisão. À coordenação e secretaria do PPGS, ao setor de bolsas da PROPESQ e a CAPES pelo fundamental suporte acadêmico. À minha avó, Dolores, por ter me ensinado a respeitar, acolher e valorizar as diferenças em mim e nas outras pessoas. Resumo O objetivo deste trabalho é compreender a constituição de um sentido de self por parte de sujeitos transexuais durante o próprio processo de transição. Por meio de uma análise qualitativa de doze “diários de transição” publicados sob a forma de vlogs na plataforma do YouTube, procuro adentrar o campo de constituição desses sujeitos a partir de suas autonarrativas, particularmente no que diz respeito às mudanças experienciadas no processo. Num primeiro momento da argumentação, procuro relacionar o conceito de self a discussões sobre gênero, identidade, corpo e performatividade. Posteriormente, relaciono o surgimento de novos media a novas práticas de confissão e de produção, armazenamento e compartilhamento de memória, evidenciando, assim, novas práticas narrativas e seu impacto na construção de uma identidade de self. A seguir, com base na análise do material empírico, questiono os pressupostos do que é um corpo “trans”, o “como” e o “para quê” de sua formação, relacionando essas questões à existência de uma imposição normativa baseada em um sistema sexo/gênero concebido numa perspectiva binária. As práticas narrativas presentes nos vlogs analisados sugerem a existência de uma multiplicidade de processos identitários envolvidos na experiência “trans”. Tais narrativas sugerem ainda que, longe de uma simples resistência ao poder normativo, a criação de novas formas de inteligibilidade identitária também está ligada à capacidade de questionamento reflexivo por parte de sujeitos que se constituem continuamente. Palavras-chave: Trans; gênero; identidade; narrativa; performatividade; self. Abstract This paper aims to understand the constitution of a sense of self by transsexual subjects during the transition process itself. Through a qualitative analysis of twelve transition diaries published in the form of vlogs on the YouTube platform, I try to enter the field of constitution of these subjects from their self narratives, particularly with regard to the changes experienced in the process. At the first moment of the argumentation I try to relate the concept of self to discussions about gender, identity, body and performativity. Subsequently, I relate the emergence of new media to new practices of confession and production, storage and sharing of memory, thus demonstrating new narrative practices and its impact on the construction of self- identity. Then, based on the analysis of the empirical material, I question the assumptions of what is a “trans” body, the "how" and "what for" of its formation, relating these issues to the existence of a normative imposition based on a system of sex/gender designed from a binary perspective. The narrative practices present on the analyzed vlogs suggest the existence of a multiplicity of identity processes involved in the “trans” experience. Such narratives also suggest that, far from a simple resistance to a normative power, the creation of new forms of identity intelligibility is also linked to the ability of reflective questioning by subjects who continuously constitute themselves. Key-words: Trans; gender; identity; narrative; performativity; self. Résumé L'objectif de ce travail est de comprendre la formation d'une conscience de soi par les sujets transsexuels au cours du processus de transition lui-même. Grâce à une analyse qualitative de douze journaux de transition publiées sous forme de vlogs, sur la plate-forme YouTube, j'essaie d'entrer dans le domaine de la constitution de ces sujets à partir de leurs récits de soi, en particulier en ce qui concerne les changements vécus dans le processus. Dans le premier moment de l'argumentation j'essaie de relier le concept de soi à des discussions sur le sexe, l'identité, le corps et la performativité. Par la suite, je raconte l'émergence de nouveaux médias à de nouvelles pratiques de la confession et de la production, le stockage et le partage de la mémoire, démontrant ainsi de nouvelles pratiques narratives et son impact sur la construction de l'identité. Puis, sur la base de l'analyse de la matière empirique, je m'interroge sur les hypothèses de ce qui est un corps «trans», la façon dont et pourquoi de sa formation, en rapportant ces questions à l'existence d'une imposition normative fondée sur une système de sexe/genre conçu d'un point de vue binaire. Les pratiques narratives présentes sur les vlogs analysés suggèrent l'existence d'une multiplicité de processus identitaires impliqués dans l'expérience «trans». Ces récits suggèrent également que, loin d'une simple résistance à un pouvoir normatif, la création de nouvelles formes d'intelligibilité de l'identité est également lié à la capacité de remise en question de réflexion par des sujets qui se constituent en permanence. Mots-clé: trans; sexe; identité; récit; performativité; soi. Sumário Introdução...........................................................................................................................09 Transidentificações.............................................................................................................09 Trans nos media..................................................................................................................14 1. Origem do Problema e Caminho Metodológico................................................................21 1.1. Transanálises.....................................................................................................................21 1.2. (Des)Integração do gênero.................................................................................................24 1.3. Atos de identificação e prática performativa......................................................................32 1.4. Corpo incorporado.............................................................................................................44 1.5. Self autonarrado.................................................................................................................51 1.6. Caminho metodológico e novas práticas de self.................................................................55 2. Tecnologias de Self e Práticas de Media.............................................................................68 2.1. Tecnologias do self.............................................................................................................69 2.2. Mediação e prática de media..............................................................................................74 2.3. YouTube e prática de vlogging...........................................................................................80 2.4. Memória e significação no diálogo entre o individual e o coletivo...................................90 2.5. Práticas de memória, identificação e compartilhamento...................................................94 2.6. Mediação da memória e espaços de experimentação.........................................................99 2.7. Produção de memória digital via vlog..............................................................................105 3. Sexo, Gênero, Identificação e Trans Debate...................................................................109 3.1. (Auto)Identificações........................................................................................................117 3.2. Gênero-sexo.....................................................................................................................132 3.3. Identificando um modelo.................................................................................................143 3.4. “Sou trans o bastante?” Discussão sobre o conceito trans no YouTube...........................153 4. Trans Corpos.....................................................................................................................158 4.1. Corpo desejado................................................................................................................164 4.2. Corpo na prática e no contexto de vlogging......................................................................174 4.3. Corpo na transição...........................................................................................................178 4.4. Corpo agente....................................................................................................................193 5. Self na Rede. Agência e performatividade.......................................................................207 5.1. [Trans] Narrativas............................................................................................................214 5.2. Self em performance.........................................................................................................227 Referências.............................................................................................................................237 ANEXOS................................................................................................................................255 A - Lista de casos.....................................................................................................................255 B - Tabelas com os vídeos analisados até o primeiro ano de transição........................,............257 C - Lista dos textos introdutórios dos vídeos analisados em ordem cronológica......................268 D - Dados videográficos..........................................................................................................352
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