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Trabalho e sonhos PDF

18 Pages·2011·0.18 MB·Portuguese
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Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n. 1, pp. 93-110 s Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de e cl arti professores e trabalhadores da saúde na era do al n gi capitalismo organizacional ri O s/ ai n gi ri Marlon Xavier1 o s o g Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) rti A Este artigo é um relato sobre resultados preliminares de uma pesquisa, parte de pesquisa internacional sobre o capitalismo organizacional (KO) como fator de risco psicossocial, que buscou identificar e compreender teoricamente aspectos das mudanças laborais características do KO que aparecem em sonhos e fantasias de trabalhadores (professores universitários, médicos e enfermeiras), e que fatores de impacto psicossocial (em termos de fatores de risco e efeitos colaterais para qualidade de vida e bem-estar) podem ser aí vislumbrados. Os dados foram coletados através de uma pergunta em um questionário e em entrevistas semiestruturadas, respondidas por 301 participantes na Espanha, e analisados através da técnica de análise de conteúdo e de uma adaptação da hermenêutica junguiana. Propomos uma breve discussão do papel do trabalho e do inconsciente no novo capitalismo. Os resultados mostram que os sonhos, como manifestações do inconsciente, trazem de forma clara os riscos, problemas e impactos na subjetivação laboral do KO, aparecendo como antípodas dos desejos laborais conscientes. Concluímos que o inconsciente pode ser considerado um campo de resistência à colonização de mentes e corpos efetuada pelo capital. Palavras-chave: Psicologia, Trabalho, Capitalismo organizacional, Inconsciente, Sonho. Work and dreams: desires and nightmares of professors and health workers in the age of organizational capitalism This paper is a report of the preliminary results of a research, part of an international research on organizational capitalism (KO) as a psychosocial risk factor, which aimed at identifying and understanding theoretically the aspects of work changes related to KO that appear in the workers’ (professors, physicians and nurses) dreams and fantasies, and which psychosocial impact factors (in terms of risk factors and collateral effects) can be seen therein. Data was collected through a question in a questionary and in semi-structured interviews answered by 301 participants, in Spain, and analysed through the content analysis technique and an adaptation of Jungian hermeneutics. A brief discussion of the roles of work and the unconscious in the new capitalism is proposed. Results show that dreams, as manifestations of the unconscious, bring about the risks, problems and impact on labor subjectivation of the KO, appearing as antipodes of the conscious labor desires. As a conclusion, it is posited that the unconscious can be regarded as a field of resistance against the colonization of minds and bodies by the capital. Keywords: Psychology, Work, Organizational capitalism, Unconscious, Dream. Introdução E ste trabalho consiste em um relato preliminar sobre um aspecto (o papel do inconsciente e dos sonhos) da pesquisa internacional Kofarips2. Esta busca estudar as profundas mudanças na cultura do trabalho derivadas de um novo capitalismo e sua subjetivação pelos trabalhadores. Seus focos são o capitalismo acadêmico (KA) e o capitalismo sanitário (KS), isto é, as formas que o capitalismo organizacional (KO) adquire em universidades e hospitais públicos. Historicamente, tal campo de pesquisa privilegiou determinados enfoques para seus dois temas: a nova organização capitalista do trabalho normalmente é relacionada às condições 1 Doutorando em Psicologia Social no Departamento de Psicologia Social da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). 2 Kofarips refere-se à pesquisa El capitalismo organizacional como factor de riesgo psicosocial: una investigación internacional, Plano I+D+I. Referência: SEJ2007-63686/PSIC. Pesquisador principal: Josep M Blanch, UAB (Espanha). Equipe de trabalho: http://psicologiasocial.uab.es/colaborando/es 93 Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de professores e trabalhadores da saúde na era do capitalismo organizacional objetivas do trabalho, e a subjetivação laboral é vista sob a perspectiva da experiência subjetiva e consciente do trabalho e seu impacto positivo ou negativo: qualidade de vida, sofrimento e risco (estresse, burnout). Nossa colaboração busca privilegiar uma faceta pouco explorada da subjetivação laboral: o papel do inconsciente, do onírico e do simbólico (de uma perspectiva diferente da perspectiva psicanalítica). Discutimos elementos que conformam o trabalhar no novo capitalismo, suas mudanças e impacto organizacional, para a seguir verificar como os trabalhadores percebem conscientemente (em suas fantasias3, ou sonhos despertos) e inconscientemente (em seus sonhos) seu trabalho nesse contexto. Para tanto, utilizamos o referencial de Jung sobre o conceito de inconsciente e suas possíveis dinâmicas em relação a tais problemas. As perguntas de partida foram: a) quais os possíveis papéis do inconsciente na subjetivação laboral do KO? e b) como as mudanças laborais derivadas do KO aparecem nos sonhos (isto é, no inconsciente) e nas fantasias dos trabalhadores? O objetivo em relação a b) consistiu em mapear e comparar os temas e fatores de impacto psicossocial na experiência subjetiva do trabalho (em termos de risco psicossocial e efeitos colaterais relacionados a qualidade de vida e bem-estar) que aparecem nesses materiais, para então elaborar respostas para a pergunta a) com base no referencial teórico. Os dados sobre os sonhos e fantasias foram coletados através de uma pergunta em um questionário e em entrevistas semi-estruturadas respondidos por 301 professores, médicos e enfermeiras de universidades e hospitais públicos ou mistos espanhóis, entre janeiro de 2008 e agosto de 2009. A proposta de estudar sonhos e mundo laboral parece ter poucos precedentes, os quais geralmente buscam um diálogo entre psicologia clínica e psicologia do trabalho (por exemplo, Schmidt, 2004), ou então a consideração somente dos “sonhos” despertos. Dentre as limitações do estudo, sublinhamos seu caráter preliminar e exploratório, e o número relativamente reduzido de sonhos utilizados. Apesar dessas limitações, mostramos como o inconsciente, através dos sonhos, expressa os problemas, riscos e emoções negativas engendradas pelo trabalho no KO e se constitui em campo de resistência a ele. Buscamos assim fomentar e construir um diálogo entre Psicologia do inconsciente e Psicologia social do trabalho. Dimensões do capitalismo4: organizacional, cognitivo, total O conceito de capitalismo organizacional (KO) refere-se ao fenômeno de colonização de instituições públicas pela economia política neoliberal e pelo ethos do mercado, e sua reestruturação, em termos de objetivos, prioridades, organização laboral e ética, com base num paradigma empresarial e numa lógica de mercantilização e flexibilização (Blanch & Cantera, 2007a). O modelo de serviço público passa a ser atravessado pelas tensões e contradições de uma organização fordista colonizada pelo paradigma de flexibilidade, na qual os servidores são vistos como empregados vendedores e os usuários como consumidores. O capitalismo acadêmico (Blanch & Cantera, 2007b, 2009; Slaughter & Rhoades, 2004, 2005) e o capitalismo sanitário (Blanch & Cantera, 2007a; Navarro, 1993; Waitzkin, 1983) referem-se respectivamente aos processos de colonização mercantil da universidade e dos serviços públicos 3 Chamamos tais sonhos de “fantasias” para diferenciar dos sonhos inconscientes, durante o sono (os quais chamamos de “sonhos” para resgatar a ideia antiga de sonho); porém estamos conscientes da polissemia de ambos termos. 4 As teorias sobre dimensões do capitalismo discutidas a seguir possuem contradições entre si, porém concordam em um ponto fundamental: a colonização de instâncias da vida pelo ethos capitalista e consumista (o qual não se restringe ao fator econômico). Nesse sentido, devem ser consideradas como olhares sobre o novo capitalismo e sua subjetivação, de acordo com os objetivos da pesquisa – olhares que não excluem outras teorias, como as de capitalismo global ou tardio, acumulação flexível, sociedade de consumo etc. 94 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n. 1, pp. 93-110 de saúde, objetivados na transformação da educação e da saúde em commodities, na flexibilização de contratos, no lucro como fundamento de seus objetivos e ética, e no gerenciamento de empresa. Trata-se de analisar como a objetivação da lógica e das práticas desse capitalismo se cristaliza em instituições tradicionalmente firmadas em outras lógicas e práticas, e como essa colonização reverbera em todos os âmbitos da vida laboral – inclusive o âmbito inconsciente. O objetivo é compreender como se dá a subjetivação laboral desse processo de empresarização, em termos de construções de significado, configurações identitárias, impacto psicossocial percebido e formas de agência e resistência por parte dos trabalhadores, em dialética com o processo de objetivação. Partimos do pressuposto de que os reflexos dessas mudanças no capitalismo manifestam-se não somente na economia e no mundo do trabalho, mas em todas as instâncias da vida; o novo espírito do capitalismo (Boltansky & Chiapello, 2002) representa não “un modo de producción sólo de la vida económica, sino también de la social, de la política, de la cultural y, por tanto, de la psicológica” (Blanch & Cantera, 2007b). Em relação ao âmbito psicológico, podem-se pensar tais mudanças através do conceito de capitalismo total (Dufour, 2008; Leys, 2007). Dufour (2001) sublinha dois aspectos nesse capitalismo: a “transformação das mentes” (pela ideologia do neoliberalismo e do consumismo) na educação, nos mass media e na cultura, e o colapso do mundo simbólico e dos valores transcendentes. Tais transformações representam um projeto de mutação antropológica, “o prelúdio de uma outra redefinição em profundidade do homem, a qual, então, atingiria não só sua mente, mas também seu corpo” (Dufour, 2005). A consequente mutação da subjetividade (“subject-form”) prenunciaria a assunção do último estágio do capitalismo, “a total capitalism in which everything, including our very being, will be dragged into the orbit of the commodity” (Dufour, 2008, p. 168). O imperativo de transformação das mentes pelo capital aparece de forma clara no chamado capitalismo cognitivo (Ayestarán, 2007; Moulier-Boutang, 2007), ilustrado pelos bestsellers de gestão de Nordström e Riddestråle (2000, 2005). Nesse capitalismo, os mercados (isto é, o capital) são a vis motrix da vida através das economias da alma e da gestão dos sonhos (Nordström & Riddestråle, 2000), receitas para “desfrutar do capitalismo”5. No mundo descrito pelos “business gurus” suecos, o capitalismo muta-se em uma guerra de todos contra todos pelo domínio das almas através das emoções e dos sonhos. O primeiro passo é considerar as “almas” como mercadorias: “Debemos crear una marca, empaquetarnos y vendernos de forma que resultemos más interesantes. ¿Qué slogan utilizaría para venderse?” (p. 221). O segundo passo é inocular o imperativo do consumo através do domínio total de desejos, emoções e fantasias. O objetivo é aproveitar-se do “último tabu”: metamorfosear essas raízes humanas em algo rentável, o que converteria o capitalismo em humanismo. A base dessa operação está na gestão dos sonhos: “El poder consiste... en proporcionar sueños a la gente. Sueños que les emocionen, les interesen y les hagan reaccionar... La cuestión es determinar cómo puede usted aportar sueños relevantes y potentes a las tribus del mundo” (p. 225). Porém quem excreta e realiza os sonhos do consumo? As grandes companhias e líderes do business (Nordström & Riddestråle, 2005), numa luta pela colonização total de corpos, mentes e sonhos, numa sociedade hobbesiana mesmerizada pelo capital: “dream against dream, organizations around the world in a total global battle for a share of customers’ money and minds”6 (p. 243, itálicos nossos). O ser humano já não é visto como um animal sedento de poder (Hobbes), mas como uma espécie de cão de Pavlov perfeitamente condicionado pelo consumo: “En la aldea global funky, los que follan y los que compran han ganado la batalla” (Nordström & Riddestråle, 2000, p. 225, itálicos nossos). 5 “To enjoy capitalism” – um bom exemplo do que Baudrillard (1998) chama de “fun morality”, o imperativo moral de consumir junto com o imperativo emocional de “estar feliz” (a qualquer custo). 6 Tal discurso revela que o alvo da colonização e homogeneização total pelo consumo não consiste somente nos sonhos “despertos” (fantasias), mas nas mentes, incluindo a inconsciente. 95 Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de professores e trabalhadores da saúde na era do capitalismo organizacional O trabalho no novo capitalismo e no capitalismo organizacional As mudanças no mundo do trabalho implementadas pelo KO são complexas e multifacetadas; todavia, para nossos propósitos, elas podem ser resumidas em alguns fatores gerais: o consumo e o individualismo como valores hegemônicos (mercantilização do mundo e dos indivíduos); flexibilização laboral e aceleração do tempo; e crescente superfluidade do trabalho e do indivíduo. Esses fatores resultam numa perda da centralidade do trabalho como fonte de sentido e numa alienação do trabalhador em relação a seu trabalho, ao mundo, a si mesmo e às relações humanas. Segundo Blanch (2003), até a era do capitalismo industrial o trabalho ainda portava para os trabalhadores um papel central em relação a formas de significação da subjetividade, das relações sociais e da vida, e como forma de enraizamento na realidade (em termos de status, organização do tempo, papel social e dignidade). No novo capitalismo o trabalho sofre uma crise em seu papel de fonte do sentido, precisamente em função dos fatores mencionados. O consumismo, a flexibilização e o individualismo geram o que Sennett (1998/2005) chamou de “corrosão do caráter”, uma insegurança permanente e uma falta de referentes psicossociais e éticos estáveis que permitam construir subjetividades e relações sociais estáveis. Castells (2005) menciona a característica capitalista de aceleração de tudo, num esforço incessante para comprimir o tempo em todos os âmbitos da atividade humana, especialmente o laboral. E, na medida em que o capital gerencia de forma cada vez mais totalitária (Allott, 2002) as vidas e o mundo, suas características parecem tornar-se mais e mais definidoras do trabalho e dos indivíduos: sua flexibilidade, em uma corrida inexorável pela acumulação infinita, determina o tempo – tempo flexível, comprimido, acelerado; seu caráter supérfluo gera trabalhadores, empregos e carreiras supérfluos; seu espírito abstrato e absurdo (Boltanski & Chiapello, 2002) produz trabalho sem sentido e alienado. No entanto, em pleno florescimento do capitalismo industrial, Marx já apontava os elementos do mundo do trabalho que estão na gênese dos fenômenos contemporâneos da alienação e da falta de sentido. Por um lado, a crítica marxiana clássica centra-se na alienação do trabalhador em relação à sua atividade de trabalho (e ao fruto de seu trabalho), e sua mercantilização e desumanização nesse processo. Por outro, aponta a crise da representação do valor, atrelada à desconsideração das qualidades do trabalho em favor da mera quantidade (Freitas, 1991), e antevê a fragmentação e mecanização do trabalho pelo taylorismo; o trabalho e o trabalhador tornam-se aí mera mercadoria, quantificável, atomizada – e isolada do sentido. A crise do sentido e a alienação em relação ao trabalho apenas se radicalizam no novo capitalismo, pois são consequências inerentes ao capitalismo desde seus primórdios. “Radicalizam-se” talvez não seja o termo correto, pois o que ocorre é exatamente a progressiva aniquilação das raízes do ser humano no mundo, na realidade. Arendt (2006) aponta a irrealidade decorrente desse desenraizamento: “Incluso el trabajo en sí ya no está ligado a la realidad, pues consiste sólo en el proceso; de todos modos, con él nos ganamos los medios para sobrevivir. Ésta es la única ‘realidad’ que hay en él” (p. 474). Mesmo a sobrevivência muta-se em consumo: “El circulus vitiosus de la economía moderna: consumimos para vivir. Producimos para consumir. Consumimos para producir (...); por tanto, consumimos por consumir” (p. 458). Em suma: o capital assume o lugar do trabalho como fonte de sentido; o eterno metabolismo com a natureza torna-se o fluido metabolismo, ou autofagocitação, do consumo – e então tudo que é sólido desmancha-se no ar. Cabe aqui a pergunta: não há uma instância humana que se contraponha a esse state of affairs? Partimos da hipótese de que, além da vontade (a possibilidade consciente de contrapor- se a essa situação e modificá-la), o inconsciente representaria a possibilidade de um contraponto natural à cultura capitalista. Concordamos com o panorama traçado por Alves (2008), que em artigo publicado nesta revista analisou a “captura” do inconsciente (e da subjetividade) pelo 96 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n. 1, pp. 93-110 capital – análise próxima à que apresentamos aqui, sobre a colonização do inconsciente pelo capitalismo cognitivo. Nesse sentido, impõe-se a tarefa de pesquisar a relação entre inconsciente e capitalismo na contemporaneidade, especialmente em relação à subjetivação das mutações capitalistas. Para isso, propomos retomar uma proposição de psique e de inconsciente dialética e não-reducionista: a psicologia analítica de Jung. O conceito de inconsciente em Jung Na teoria de Jung, essencialmente dialética, há duas esferas psíquicas: a consciência e o inconsciente. O ego (Ich, eu) representa o centro da personalidade consciente, e assim a possibilidade de ação pela vontade, à medida que consciência implica em livre-arbítrio. Não há determinismos, e sim uma ênfase no posicionamento ético do indivíduo em relação à vida e ao inconsciente. A psique inconsciente porta algumas características: é (relativamente) autônoma em relação ao ego; tem uma finalidade ou direcionamento (telos), como todo processo psíquico; é criativa e auto-reguladora; e se expressa em uma linguagem simbólica própria. O inconsciente tem dois lados, o inconsciente pessoal (IP) e o coletivo (IC). O IP é formado por conteúdos derivados das histórias e experiências pessoais, e assim pode ser conscientizado; são fatores individuais incompatíveis ou infantis que o ego reprime ou desconhece. O IC é formado por instintos e arquétipos, elementos psíquicos coletivos ou transpessoais, comuns a todos os seres humanos. Os arquétipos são possibilidades a priori de formação de imagens ou representações que organizam a apercepção da realidade e ordenam as experiências mais universais de uma forma especificamente humana e histórica, através de um significado. É como se nascêssemos com a história das experiências humanas de milênios em nossas psiques, porém não de forma concreta, e sim como possibilidades. Os arquétipos são formas típicas de fantasiar (Jung, 1959, 1947/1984). A outra esfera coletiva da psique é a consciência coletiva (CC). O conceito provém de Durkheim e designa os padrões culturais coletivos (valores, moralidade, comportamentos: mores e ethos). O indivíduo, como ser social, tem de haver-se com a CC, e a adaptação a ela dá- se através da persona (P, latim, “máscara do ator”), os papéis sociais típicos que servem como função de relação com os outros e com o mundo. Por definição, quanto mais o indivíduo se identifica com a P, mais coletivo e superficial se torna, e menos individual. Essa individualidade inconsciente, alienada da vida consciente, constitui o que Jung chama de sombra pessoal (S), que aparece de forma compensatória à P, forçando seu reconhecimento e assim um reequilíbrio7. Esse impulso constitui um telos da personalidade em direção à individualidade, à conscientização e realização do que é coletivo e do que é individual na personalidade, dialeticamente. A compensação inconsciente aparece ainda em termos coletivos: quanto mais a CC afasta-se de suas raízes inconscientes, simbólicas e instintivas, mais “carregado” se torna o IC, que aparece como compulsões coletivas: “ismos”, movimentos de massa, epidemias psíquicas8. A linguagem do inconsciente é naturalmente simbólica: “Assim como uma planta produz flores, assim a psique cria os seus símbolos” (Jung et al., 1964/1990, p. 62). O símbolo é assim expressão da natureza e do irracional no ser humano. Por um lado, é expressão dos conteúdos arquetípicos, que antigamente conformavam ethos e mores de uma cultura através de 7 A sombra coletiva representa mesma dinâmica (como os elementos humanos desconsiderados, reprimidos ou pervertidos pela CC), porém em termos coletivos e mais complexos (pois normalmente está vinculada, de forma mais nítida e profunda, ao IC). 8 Essas seriam manifestações radicais e concretas dessa sombra coletiva (que aparece ainda nas artes e na literatura, de forma simbólica). 97 Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de professores e trabalhadores da saúde na era do capitalismo organizacional sistemas simbólicos religiosos que eram o próprio fundamento da vida social. Por outro lado, é exatamente a possibilidade de junção dos opostos psíquicos (por exemplo, sombra e persona), representando assim o motor (Aufhebung) da dialética entre inconsciente e consciências (do ego e coletiva), entre racional e irracional, entre indivíduo e coletividade. A ideia de símbolo como imagem de uma dialética possível descansa em seu étimo: sym bollon, de syn- “junto” + ballé “lançar, jogar”, isto é, “lançar juntos os opostos”, em uma imagem. A cultura capitalista representa uma dissolução da possibilidade de dialética: a massificação, pari passu com um simulacro de individualidade, e o individualismo, ambos, criados pelos imperativos do consumo, constituem-se em esvaziamento tanto da cultura (que caminha para uma submissão total ao caráter abstrato e supérfluo do capital) quanto do indivíduo (homem-massa a quem só resta consumir signos de individualismo). De acordo com a teoria de Jung, o inconsciente traria um possível contraponto, desvelando patologias (da cultura e do indivíduo), mas também possibilidades criativas – em termos individuais, revelando uma compensação ou contraponto em relação à persona e à CC; e, no caso do trabalho, compensação em relação a experiências, expectativas, fantasias e relações laborais no contexto do KO. Em termos coletivos, fornecendo um contraponto em relação à própria cultura, em todos os seus aspectos. De acordo com essa teoria, o sonho (dormindo), como produto natural do inconsciente, é imagem de uma instância que não é passível de redução ou colonização totais pelo consumo. Portanto, os efeitos colaterais do capitalismo e seu impacto no mundo laboral e nas subjetividades apareceriam com mais clareza nessa vida inconsciente. A ameaça de colonização do mundo inconsciente e simbólico pela aura do capital9 significa a ameaça de falência dessa possibilidade de compreender e modificar a situação. Objetivos, método e análise de dados O objetivo geral restringiu-se a fornecer uma espécie de mapeamento comparativo e qualitativo preliminar dos temas relacionados a mudanças laborais dentro do KO que aparecem nas fantasias e sonhos dos trabalhadores, e os fatores de impacto psicossocial que podem ser aí vislumbrados; e analisar tal mapeamento, de forma modesta, através do referencial teórico. O objetivo secundário consistiu em elaborar uma discussão inicial do papel do trabalho e do inconsciente no novo capitalismo. Os dados foram coletados em 2008 e 2009 em diversas cidades espanholas por meio de uma pergunta aberta em um questionário e em entrevista semi-estruturada10: “Conte algum sonho ou fantasia sobre seu trabalho (que você tenha tido dormindo ou acordado)”. A amostra (por conveniência, intencional e estratificada) foi composta de 301 trabalhadores de universidades e hospitais públicos ou mistos espanhóis – divididos nas seguintes categorias: c1) professores universitários titulares ou catedráticos – com contrato estável; c2) professores universitários nem titulares nem catedráticos – com contrato instável; c3) médicos; c4) pessoal 9 Tal colonização aparece e tem sido estudada em muitas dimensões da vida que têm raízes no inconsciente: o mundo das emoções, instintos e comportamento em geral é mais e mais governado através da mídia de massas, novas tecnologias (a “sociedade tecnotrônica” de Brzezinski), “psicoterapias”, drogas, labor emocional (Bryman, 1999), etc.; o mundo da fantasia e mythopoesis – narrativas religiosas, contos de fada e mitos – é absorvido, mercantilizado e bowdlerised em games, filmes, quadrinhos etc.; a função religiosa é mercantilizada através do televangelismo, religiões “à la carte” (Bibby, 1997), e Disneyization (Bryman, 2004; Lyon, 2000); a imaginação é tornada obsoleta e substituída por narrativas que não deixam espaço para ela; e, finalmente, o mundo simbólico é substituído por simulacros (signos de consumo). 10 O questionário consistia de várias escalas e microescalas (sobre ambiente laboral, stress, bem-estar etc. percebidos) e perguntas abertas; a pergunta referida era a de número 27 e encontrava-se ao final do questionário. As entrevistas foram baseadas na estrutura do questionário e conduzidas por integrantes do grupo de pesquisa coLABORando. No entanto, a maior parte dos dados (82%) proveio das respostas ao questionário. 98 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n. 1, pp. 93-110 de enfermagem – dos quais foi obtido um consentimento informado. As respostas foram gravadas e/ou transcritas. Os sonhos despertos (que aqui chamamos de “fantasias”) foram analisados através da análise de conteúdo de Bardin (1977). Os sonhos (dormindo) foram analisados através de elementos da hermenêutica de Jung11 (1944/1994): a) tematização (qual o tema principal do sonho); b) atitude do ego (como o sonhador se posiciona perante o tema ou problema referido no discurso onírico, no sonho e na realidade concreta); c) compensação (como o inconsciente compensa no sonho a atitude do ego); d) interpretação no nível do objeto (tomar as imagens oníricas concretamente) e/ou no nível do sujeito (as imagens são tomadas como símbolos de tendências ou partes da personalidade do sonhador). Sonhos, pesadelos e fantasias dos trabalhadores A forma com que coletamos os sonhos e fantasias – a pergunta sobre sonhos que a pessoa teve dormindo ou acordado – tem sua razão de ser. Na língua espanhola (e em várias outras), a palavra “sonho” passou a ter como conotações principais “sonho acordado”, “ideal”, “esperança de” – mais ou menos como em “sonho americano” ou “sonho de consumo” –, ao passo que o significado antigo, de sonho como a experiência onírica, inconsciente, parece ter sido eclipsado. Para nós, a primeira conotação refere-se mais a uma mistura, em proporções variáveis, entre aqueles objetivos, valores e ideais de vida dados pela cultura (capitalista), i.e., pela consciência coletiva, e os valores e ideais do indivíduo; nesse sentido, reflete o posicionamento consciente do indivíduo diante desses valores da CC (ou a falta desse posicionamento, isto é, sua identificação inconsciente com tais valores). Já o sonho dormindo refere-se a algo não-consciente, irracional, que pode fugir ao controle da consciência (pessoal e coletiva). Ao formular a pergunta dessa forma, estávamos interessados na possível diferença, ou distância, entre o que os trabalhadores diriam a respeito de um e/ou outro significado do termo “sonho”. Discutimos primeiro as fantasias e depois os sonhos dos trabalhadores, divididos nas categorias de profissionais c1, c2, c3 e c4. A ideia é contrapor os sonhos ao que aparece anteriormente nas fantasias. Como o leitor poderá perceber, os sonhos têm por conteúdo majoritário situações problemáticas, difíceis, angustiantes; talvez isso possa ser considerado natural, por uma tendência das pessoas de lembrar, ou prestar atenção, somente os sonhos mais problemáticos. Além disso, alguns sonhos provavelmente apontam questões pessoais dos trabalhadores (como alguma relação com um colega específico, por exemplo), as quais não podemos investigar. De qualquer forma, todos os sonhos relatados podem ser vistos como a imagem inconsciente da questão/situação do trabalho para o trabalhador, e tal questão está sempre e por definição dentro de um contexto social12. 11 Até o momento, não foi possível cumprir (ou somente de forma parcial) com todos os passos requeridos pela hermenêutica junguiana (por exemplo, obter associações acerca dos elementos do sonho, interpretar o sonho em relação a uma série de outros sonhos da mesma pessoa, conhecer o contexto psicológico em que a pessoa teve o sonho). Utilizamos assim uma adaptação simplificada dessa hermenêutica. 12 O contexto social específico dos participantes pode ser visto, de maneira geral, como o de trabalhadores que têm profissões relativamente valoradas, que exigem alta formação e responsabilidade (com correspondente retorno financeiro, em muitos casos) – uma espécie de elite, em termos sociais, vivendo em um país europeu desenvolvido, que no entanto percebe as crises e transformações do capitalismo e seus efeitos. 99 Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de professores e trabalhadores da saúde na era do capitalismo organizacional Categoria 1 (c1) Os professores universitários com contrato estável relataram alguns sonhos e um número considerável de fantasias; porém, muitos não responderam a pergunta, ou afirmaram que não lembravam de sonhos com o trabalho. Alguns disseram não sonhar com o trabalho: “si tienes autonomia no es necesario soñar” [P15]; “mi trabajo no perturba mi sueño” [P26]; “el trabajo no tormenta mis sueños” [P27]. Os dois temas que apareceram com mais frequência nas fantasias da c1 (Quadro 1a) foram o tempo e os alunos. Quadro 1a: Fantasias (categoria 1) Tema Percepção Impacto psicossocial hipotético Tempo Não ter pressa, diminuir velocidade, menos horas de Alienação em relação a alunos e docência e de trabalho administrativo; ter tempo para colegas; ansiedade, burnout pesquisa e relação com colegas Insatisfação Administração/ Menos e-mails; não ter tarefas administrativas; Isolamento Burocracia antagonismo entre “trabalho” e tarefas administrativas Organização Ter mais poder decisório; mais vagas; melhora geral das condições de trabalho Pessoal/Carreira Ser bom profissional; investir em formação; crescimento de status e realização Alunos Ter menos alunos; mais recursos para eles, mais tempo Alienação para trabalhar pessoalmente Esses professores desejariam ter menos horas de docência e de trabalho administrativo, diminuir a velocidade do trabalho e, assim, ter mais tempo para pesquisa, publicações, socializar e trocar com os colegas. A ênfase recai bastante sobre as tarefas administrativas e burocráticas, inclusive leitura e escrita de e-mails [P6]; alguns apontaram em seus desejos um antagonismo entre essas tarefas administrativas e o que consideram como seu trabalho propriamente: Organización de servicios comunes bien establecidos que disminuyan la dedicación de los investi- gadores a tareas administrativas y técnicas y lo puedan dedicar a su trabajo [P11]. No hay carga administrativa. Solo investigación y docencia [P302]. Em seus discursos aparece ainda uma dificuldade de conciliar pesquisa com docência e tarefas administrativas; muitos desejariam ter mais tempo, recursos e pessoal para pesquisar. O tempo influi ainda na relação com os alunos, em turmas muito grandes: A mi siempre me habría encantado tener un grupo reducido de alumnos para poder tratarlos per- sonalmente, sabiendo sus nombres y conociendo todas sus características [P32]. Algumas mudanças na organização também são sonhadas; sublinhamos o desejo de ter mais autonomia e mais professores (colegas). As fantasias em relação à formação e à carreira são tradicionais: ser bom profissional, investir mais na formação; um participante menciona um signo de um almejado enorme sucesso profissional: ganhar um Nobel. Contrastando com esses desejos, quase todos os sonhos relatados (Quadro 1b) eram “sonhos de angústia”, ou pesadelos, relacionados aos alunos (e à aula). Um sonho interessante: Es una pesadilla que he tenido un par de veces en la que entraba a una clase y no conocía a los alumnos (que yo procuro saber siempre sus nombres) y tengo pánico escénico [P23]. O tema desse sonho está relacionado com a fantasia relatada por esse participante: 100 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n. 1, pp. 93-110 Que la gente se implique más, tanto alumnos como profesores y que éstos... tengan un trato más personal y continuo con los alumnos a fin de motivarlos [P23]. Quadro 1b: Sonhos (categoria 1) Tema Conteúdos Interpretação Alunos/Aula Sonhos de angústia (pesadelos): não ser escutado em Alienação em relação ao aula, não estar preparado, ter pânico, não conhecer trabalho e aos alunos. Trabalho os alunos. Continuar o trabalho durante o sonho invade o mundo onírico Ambiente laboral Ser processado sem justificativa Insegurança; sentir-se vigiado Enquanto o desejo (fantasia) e a atitude conscientes desse participante eram de buscar uma relação mais pessoal com os alunos, o sonho aponta o contrário: não conhecer os alunos, estar distante deles, não saber como lidar com a aula. Um outro sonho ilustra de maneira distinta esse distanciamento em relação aos alunos e ao trabalho: Llegar a la clase sin los apuntes... pero también me he despertado con la angustia de tener que ir a una clase para la que no me sentía preparado o en la que no me escuchaban [P28]. Não ser ouvido, não conhecer os alunos, não estar preparado: os sonhos trazem situações e emoções antípodas àquelas desejadas nas fantasias. O contexto de trabalho no KA, com crônica aceleração do trabalho e falta de tempo, e um número diminuto de professores para um número elevado de alunos, parece ocasionar um distanciamento emocional ou alienação em relação ao trabalho docente e aos alunos. Em professores com muitos anos de experiência e estabilidade laboral, os sentimentos de angústia e despreparo perante o trabalho surgem como contraponto significativo às fantasias e à própria forma com que esses trabalhadores veem a si e a seu trabalho conscientemente. A alienação em relação ao trabalho aparece ainda no esquecimento das tarefas profissionais: um professor sonhou Que tenía un examen con los alumnos y no me presentaba, se me había olvidado [P300]. Interessante que essa alienação não apareça relacionada aos colegas – a não ser em uma resposta, bastante significativa: o desejo do professor era “tener ayuda” [P37], o que aparenta ser um exemplo radical de isolamento, ou alienação, em relação aos colegas e à direção. Outro sonho comum, que apareceu em todas as categorias de profissionais, é aquele em que o trabalhador continua a atividade laboral durante o sonho: ao invés de alienação, é como se a pessoa nunca parasse de trabalhar; o mundo do trabalho invade o mundo onírico. Em suma, as emoções expressas nos sonhos apontam para uma situação laboral tensa e carregada, de pressa, despreparo, isolamento. A tensão, cobrança e (presumível) insegurança constantes no trabalho no KA aparecem claras no seguinte sonho: Siempre tengo la pesadilla de que me abran un expediente injustificadamente [P299]. Categoria 2 (c2) Em suas fantasias (Quadro 2a), os professores com contrato instável repetiram questões laborais apontadas pela categoria 1, especialmente em relação ao tempo. Porém, a ênfase na importância dos alunos foi menor. Alguns gostariam que os alunos tivessem acesso a mais recursos, enquanto um professor expressou um desejo distinto: Me gustaría que los estudiantes fueran más participativos [P48]. Segundo nossa própria experiência como professor, essa fantasia talvez aponte para um sintoma conhecido da mercantilização da universidade e da individualização na cultura – 101 Trabalho e sonhos: desejos e pesadelos de professores e trabalhadores da saúde na era do capitalismo organizacional alunos que se comportam como consumidores passivos do conhecimento, clientes atomizados que não buscam uma construção coletiva do conhecimento (enquanto os professores são vistos como prestadores de serviço, funcionários). Quadro 2a: Fantasias (categoria 2) Tema Percepção Impacto psicossocial hipotético Tempo (Idem à categoria 1) Alienação em relação a alunos e colegas; ansiedade, burnout Pesquisa Maior qualidade e inovação; conflito com docência Insatisfação e tarefas burocráticas Trabalho Maior número de professores; trabalho estável; Burnout, insegurança, ansiedade (organização) melhor relação direção/empregados; manutenção da universidade pública, sem corporativismo Pessoal/Carreira Reconhecimento; incentivo, aplauso; melhor salário; crescimento de status e realização Alunos Mais participação por parte dos alunos Em comparação com a c1, os professores da c2 enfatizaram muito mais fantasias relacionadas à carreira, ao triunfo social, ao desenvolvimento de pesquisa – o que podemos considerar previsível, dado que a c1 já realizou essas fantasias, ao menos em parte. No entanto, o conflito entre o desejo de oferecer docência de qualidade e ao mesmo tempo ter de dedicar-se a pesquisa e tarefas burocráticas é mais ressaltado por esses professores. Eles percebem uma situação laboral de grande carga de trabalho, de desejo de ascensão profissional (mais reconhecimento, responsabilidade, promoção – como professores e pesquisadores), mas falta de tempo e incentivo para realizá-la, além de um clima organizacional difícil, de cobrança constante e divergências com a direção. Provavelmente por causa de sua situação laboral precária, essa categoria salientou muito mais aspectos negativos, ou de risco, do KA: gostariam que a universidade tivesse maior número de professores, a fim de diminuir sua carga laboral; gostariam de ter trabalho estável e melhor relação da direção com os empregados. A estabilidade é o desejo mais conspícuo: Que sea mi trabajo por toda la vida [P44]. Creo que mi sueño sería tener trabajo estable y acor- de al esfuerzo que he invertido [P54]. Por sua vez, a insegurança e a instabilidade de sua situação são associadas à percepção de que a universidade pública corre riscos – o que revela uma consciência da ação do KA e o desejo de ir contra essa tendência: Seguir en la universidad PUBLICA [P56]. Que el corporativismo y “estamentalismo” dejaran paso a una forma cooperativa y colaborativa de trabajo [P301]. Os sonhos dos professores c2 (Quadro 2b) foram ainda mais carregados emocionalmente que os da c1; quase todos eram sonhos de angústia. No entanto, enquanto os sonhos da c1 concentravam-se mais na relação com os alunos e com a aula, os da c2 também focavam a relação com os colegas, a pressão do tempo e da avaliação contínua no trabalho. Alguns desses sonhos ilustram a percepção do inconsciente sobre a realidade laboral desses professores: Sueños en la que se continua la actividad laboral desarrollada mientras se está despierto (redac- ción, lectura, corrección...) [P43]. A menudo he tenido sueños... en época de mucha presión sobre la faena donde hacía horarios la- borales de uns 14 o 15 horas diarias o quizá más, que entonces tenía como una obsesión por la 102

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Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2011, vol. 14, n 5 “To enjoy capitalism” – um bom exemplo do que Baudrillard (1998) chama de “fun morality”, o imperativo moral de consumir junto com o Psicologia e alquimia.
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