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Teoria social: Um guia para entender a sociedade contemporânea PDF

134 Pages·2017·1.2 MB·Portuguese
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William Outhwaite Teoria social Um guia para entender a sociedade contemporânea Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges À memória de Roy Bhaskar (1944-2014), teórico e camarada. Sumário Introdução 1. Origens 2. Capitalismo 3. Sociedade 4. Origens do capitalismo e teorias da ação social 5. Como a sociedade é possível? 6. A descoberta do inconsciente 7. Teoria social e política 8. Questão pendente Sugestões de leitura Índice remissivo Introdução SE VOCÊ ESTÁ INTERESSADO em questões políticas ou econômicas, ou sobre cultura, relações de gênero ou étnicas, a teoria social explica as relações entre elas. Talvez você goste de pensar nisso como “está tudo aí”. Tomemos a globalização, que transformou nosso mundo e tem sido um importante tema de discussão acadêmica e pública desde os anos 1990. As primeiras explicações enfatizavam os aspectos econômicos e as implicações políticas para Estados-nação, mas os sociólogos logo ressaltaram que a globalização da cultura era igualmente importante e, de maneira crucial, inter- relacionada com as outras dimensões. É possível escrever um livro sobre a globalização da produção, do comércio ou dos mercados financeiros, porém, se formos focalizar o mundo como um todo, como as teorias da globalização pretendiam fazer, não há sentido em fragmentá-lo em domínios econômico, político e cultural separados e tratá-los isoladamente. Em primeiro lugar, o que dois teóricos sociais em meados do século XX chamaram de “indústria da cultura” é exatamente isso: uma indústria cada vez mais global, empregando milhões de pessoas. Se o consumo cultural é uma questão de gosto, é também uma questão de dinheiro e de política (“soft power”, ou influência). Entre as causas do colapso do comunismo na Europa no fim dos anos 1980 estava a influência do rock ocidental e local e de movimentos relacionados ao punk. A teoria social é a melhor estrutura de que dispomos para pensar sobre essas relações. Tomemos outro termo que foi intensamente usado nos últimos trinta anos, “modernidade”. Um historiador da economia se concentrará na ascensão dos mercados e do trabalho assalariado na Europa; um cientista político se concentrará no crescimento das burocracias estatais e na representação política nos parlamentos; um sociólogo falará sobre a emergência de uma “sociedade industrial” ou, numa linguagem mais marxista, sobre capitalismo “avançado” ou “tardio”. Mas o que precisamos é de uma concepção mais ampla de modernidade, cobrindo todas essas dimensões. A modernidade, nesse sentido, é orientada para o futuro, focaliza-se no desenvolvimento de novas maneiras de produzir bens e organizar as relações sociais e políticas humanas. Foi isso que a teoria social forneceu nas últimas centenas de anos e em particular desde os anos 1980. Os teóricos sociais, portanto, formulam as grandes questões e retornam a elas repetidamente, de diferentes formas, em sucessivas gerações. A história da teoria social se aproxima mais da história da filosofia que de uma história da ciência, apresentando-a como uma sucessão de “descobertas”. Mas há paralelos com o que Thomas Kuhn, historiador da ciência do século XX, chamou de “paradigmas científicos”: realizações exemplares, técnicas ou conceituais, como a descoberta do oxigênio por Lavoisier em 1777, que transformou nossa compreensão da combustão e da respiração, e, ao fazê-lo, transformou a face da ciência e do conhecimento humano. Kuhn também usou a palavra “paradigma” para se referir a estruturas de explicação e pressupostos compartilhados – o que ele chamou por vezes de “matriz disciplinar”. Paradigmas do primeiro tipo tendem a levar aos do segundo. Podemos usar o termo “paradigma”, como fazemos neste livro, para falar de algumas tentativas explanatórias clássicas na teoria social, que contribuem para o desenvolvimento de estilos característicos de pensamento social e continuam a ser relevantes até hoje. Digo tentativas porque nenhuma delas é aceita sem questionamento, e a maioria, como veremos, foi suplantada em décadas posteriores. Mas não é isso que importa; estamos interessados nelas porque introduzem maneiras de explicar as coisas. Elas estabelecem programas teóricos e políticos. Por exemplo, ainda pensamos a desigualdade segundo termos moldados mais de 250 anos atrás. Hoje prestamos mais atenção a desigualdades de gênero e a diferenças globais (em vez de apenas nacionais) de riqueza e renda, contudo, ideias mais antigas de igualdade de oportunidade e a relação entre desigualdades naturais e sociais (e, cada vez mais, por razões óbvias, a crítica política da riqueza obscenamente excessiva) continuam no centro do pensamento sobre essas questões. Em suma, este livro explica por que a teoria social é uma parte essencial da compreensão do mundo. Muitos dos pensadores aqui debatidos se definiam ou foram definidos mais tarde como sociólogos (a palavra “sociologia” foi popularizada nos anos 1830 por Auguste Comte, que também inaugurou o termo “positivismo” para se referir ao estudo científico da natureza e da sociedade, e entrou em uso geral no princípio do século XX), mas a teoria social é uma família mais ampla, abrangendo, por exemplo, Hegel, Marx, Nietzsche, Foucault, talvez Freud e certamente Frantz Fanon, Edward Said e outros escritores que moldaram a teoria pós-colonial. (A expressão “teoria social” foi popularizada no Reino Unido em 1971 por Anthony Giddens, que reservava “sociologia” para trabalhos mais específicos, emergidos no final do século XIX e início do século XX e que se concentravam na sociedade industrial.) “Você leu isso primeiro aqui”: inovações e continuidades em teoria social “Os privilegiados realmente passam a se considerar uma espécie diferente.” ABADE SIEYÈS “O pior é quando temos os pobres para defender e os ricos para conter.” JEAN-JACQUES ROUSSEAU Estas citações não vêm de uma crítica social do século XXI. A primeira é de 1788, um ano antes da deflagração da Revolução Francesa, e a segunda é um pouco anterior, de 1755. Nosso pensamento sobre desigualdade, um dos tópicos do Capítulo 1, concentra-se hoje, mais uma vez, nos ultrarricos, o “1%”. Esboçarei as circunstâncias de então e de agora, mostrando como ideias que inspiraram revoluções séculos atrás continuam poderosamente relevantes. Continuidades desse tipo perpassam a teoria social. A inovação decisiva foi a ideia, que parece ter emergido na Europa e nos Estados Unidos nos séculos XVII e XVIII, de que as sociedades humanas podem ser com-preendidas como produtos humanos, moldadas por processos subjacentes, mas também passíveis de serem remodeladas por intervenção humana. A ideia de “conhecer as causas das coisas” é muito mais antiga (na Europa, a expressão remonta ao poeta romano Virgílio, pouco antes da era cristã), mas a ideia do social como um domínio distinto da realidade é nova. Outra novidade surgida por volta dessa época foi a ideia do que chamamos hoje de sistemas econômicos, operando de acordo com suas próprias leis, mas vigendo num contexto social e remodelando-o. No século XVIII, Adam Smith combinou o que concebemos atualmente como duas áreas de investigação muito diferentes: economia e filosofia moral. (Hoje, não muitas pessoas fazem ambas as coisas, e Amartya Sen é uma delas.) Para Karl Marx, um século após Adam Smith, a ênfase havia se deslocado para a análise do capitalismo como um sistema que seguia suas próprias leis e resistia à crítica moral. Marx também estabeleceu a ligação crucial entre classes e formas de produção, na qual posições num sistema de produção determinam as classes e os conflitos entre elas. Controvérsias em torno do capitalismo foram tema central da teoria social e são o tópico do Capítulo 2. O Capítulo 3 examina a sociologia evolucionista do contemporâneo de Marx (e seu vizinho no cemitério de Highgate, no norte de Londres) Herbert Spencer. A teoria evolucionista foi mais desenvolvida na França por Émile Durkheim. Durkheim pertenceu ao grupo de teóricos sociais que escreveram durante a virada do século XX e formam o núcleo da teoria social “clássica”. Sua concepção forte (alguns diriam forte demais) de sociedade é um ponto de referência central da teoria social moderna. O Capítulo 4 retorna ao tema do capitalismo, mas focalizando dessa vez suas precondições e consequências culturais. No início do século XX, Max Weber delineou o que pensava ser o impacto decisivo de uma versão do cristianismo protestante sobre a emergência do capitalismo moderno e ampliou isso numa teoria da “racionalização” expressa não apenas em cálculo econômico, mas também em sistemas legais e administrativos, particularmente na burocracia e na própria religião (por exemplo, na teologia). Embora fossem contemporâneos, Weber e Durkheim prestaram pouca atenção ao trabalho um do outro, mas formam os dois polos magnéticos da teoria social clássica, com o foco de Weber sobre a motivação da ação humana, em contraste com a ênfase de Durkheim sobre a qualidade determinante das influências sociais. O terceiro dos principais teóricos clássicos, Georg Simmel, que introduz o Capítulo 5, estava mais próximo do polo weberiano. Sua obra mais substancial versou também sobre a economia monetária, mas seus amplos interesses por fenômenos culturais e a vida cotidiana inspiraram muitos trabalhos atuais em sociologia e estudos culturais, incluindo a teoria “pós-moderna”, popular nos anos posteriores do século XX. O Capítulo 6 se afasta dos teóricos sociais clássicos e se volta para Sigmund Freud, cuja análise da psique mudou fundamentalmente nossa compreensão da humanidade e, em consequência, da cultura e da sociedade. São nossas atitudes e ações sociais e políticas moldadas por influências psicológicas subjacentes? Esse capítulo resume a obra de Freud e delineia suas implicações até o presente, por meio de figuras como Herbert Marcuse, um dos pensadores que inspiraram os movimentos de estudantes e da juventude do fim dos anos 1960. O Capítulo 7 explora as maneiras pelas quais alguns dos principais teóricos sociais tentaram explicar a política moderna. Por que os partidos socialistas são tão fracos nos Estados Unidos? Por que os líderes de partidos políticos, mesmo partidos socialistas, isolam-se tanto da massa de seus integrantes? Por que o fascismo obteve poder em alguns países europeus e não em outros? Debato a relação entre o social e o político com esses exemplos em mente. O Capítulo 8 trata de alguns temas bastante negligenciados na teoria social até bem pouco tempo atrás: gênero, relações internacionais e guerra, raça, colonialismo e crise ambiental.

Description:
Uma síntese admirável para entender a complexidade do mundo em que vivemos. Por que a religião é poderosa? De onde vem o capitalismo? Por que a sociedade é possível? A teoria social é uma ciência que formula e investiga grandes questões. Ferramenta inestimável, revela como diferentes disci
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