ebook img

Sobre Deus PDF

201 Pages·1·0.91 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Sobre Deus

Sobre Deus Mário Ferreira dos Santos Livro sobre Deus Mário Ferreira dos Santos Todos direitos reservados aos herdeiros do Autor Índice Prólogo 1º capítulo: Experiência mística e experiência natural......................pág. 7 2º capítulo:Idéia de Deus: teísmo, deísmo e ateísmo........................pág.13 3º capítulo: Origens da idéia de Deus e razões gerais do ateísmo.....pág.22 4º capítulo: Das provas da existência de Deus...................................pág.55 5º capítulo: O Universo: um Grande Pensamento............................pág.70 6º capítulo: Existência de Deus segundo Balmes..............................pág.77 7º capítulo: Das provas “a posteriori”...............................................pág.89 8º capítulo: Provas de Duns Scot......................................................pág.97 9º capítulo: Argumentos contra a existência de Deus.......................pág.106 10º capítulo: Os atributos metafísicos de Deus para os teístas..........pág.141 11º capítulo: Provas de São Boaventura sobre a existência de Deus.pág.159 12º capítulo: Discurso final...............................................................pág.170 13º capítulo: Análise dos atributos divinos.......................................pág.179 14º capítulo: Os atributos divinos em geral.......................................pág.196 15º capítulo: Os atributos de Deus.....................................................pág. 200 16º capítulo: A Ciência de Deus........................................................pág.204 17º capítulo: A exegese e a hermenêutica.........................................pág.210 18º capítulo: Natureza de Deus.........................................................pág.222 19º capítulo: Da existência de Deus e da eternidade de Deus...........pág.233 20º capítulo: Da Unidade de Deus.....................................................pág.239 21º capítulo: Da Perfeição de Deus...................................................pág.247 22º capítulo: Do Bem e da Bondade de Deus...................................pág.255 23º capítulo: Da Infinidade de Deus.................................................pág.259 24º capítulo: Da Existência de Deus nas Coisas...............................pág.265 1 Prólogo Embora muitos digam que em nosso século não se verifica um desenvolvimento do ateísmo com a mesma intensidade verificada no século XIX, não pensamos assim e os fatos vem corroborar a nosso favor. As grandes campanhas contra o ateísmo realizadas nos séculos anteriores, as condições históricas, a exploração ideológica, a divulgação da cultura mais em extensidade do que em intensidade e o excesso de especialismo, ao lado da invasão indevida de estetas na filosofia que a querem transformar num mesmo campo de disputas como o que transformaram o da estética, tudo isso, em suma, tem contribuído ao lado das condições históricas para que o ateísmo tivesse um desenvolvimento muito grande, se não em seu aspecto absoluto, porque não cremos neste ateísmo de caráter absoluto, pelo menos num aspecto suficientemente perigoso para perturbar o destino da própria humanidade. Nota-se, como teremos oportunidade de ver no corpo desta obra, que o que caracteriza o ateu é a sua incompleta, imperfeita e deficiente concepção de Deus. Ele sempre constrói uma idéia de Deus muito antropomórfica, muito aproximada ao que, comumente, é apresentado nas manifestações religiosas mais populares. Até certo ponto se justifica que interpretem assim, porque as religiões na sua propaganda, na sua catequese, na sua ação pastoral, têm apresentado Deus de formas tão antropomórficas, tão primárias, que é natural que aqueles que não tem um conhecimento mais profundo da teologia oponham-se a tais concepções e construam então concepções deístas, e algumas teístas, mas pelo menos contrária ao teísmo expresso, em geral, nas religiões predominantes. Esta obra inicia uma série sobre os temas que mais afligem o homem e que são sem dúvida alguma a causa do seu estado de angústia. Porque apesar dele ter atingido, graças à técnica e à ciência, um grau mais elevado de poder sobre as coisas, de bem-estar, e de poder aspirar à melhorias inegáveis na sua vida, ele se sente inquieto, inseguro. E, como conseqüência, esse estado de angústia abrangeu a todas as camadas sociais, desde aquelas que são as usufrutuárias dos benefícios sociais, como as que são as mais sacrificadas. O homem de hoje está enfermo em sua alma, e tão enfermo que quer negá-la inclusive. Podemos encontrar. na literatura moderna, homens que digam assim: "Como podemos crer num Deus que cria milhões e milhões de seres miseráveis para enviá-los aos suplícios eternos? Um Deus que é um verdadeiro tirano e o pior de todos os tiranos? " Um André Gide que chega a exclamar: "Chamei Deus a tudo quanto amo e eu quis amar todas as coisas; chamei Deus a natureza, um Deus sem caridade. Mas vosso Deus", referindo-se aos crentes, "não tem maior caridade que a que vós mesmos lhe emprestais, não 2 há nada que não seja inumano, menos o próprio homem". E Lenine concluiu que Deus nada mais é do que um complexo de idéias, produzidas pela prostração intelectual em que se vê consumida a humanidade pelos fenômenos da natureza e pela escravidão das classes. E assim podemos observar, que através dos tempos modernos, não são poucos os que levantam a sua voz para desmerecer a figura de Deus como o primeiro princípio de todas as coisas. E vão fortalecê-la, sobretudo, dentro do campo das idéias políticas; pois encontramos o desenvolvimento do ateísmo não só nos seguirdores, digamos, de esquerda, mas também de direita. Homens que representaram o que se chama a burguesia também o defenderam. Vemos como influiu, por exemplo, em a obra de Feuerbach, A Essência do Cristianismo, que o tornou de hegeliano ortodoxo num coletivista ateu. Vimos como os anarquistas do século XIX aceitaram, na sua quase totalidade, o ateísmo como se ele representasse a verdadeira e sublime concepção dos socialistas, ao mesmo tempo que todos os socialistas, por sua vez, atribuíam o ateísmo à burguesia. Mas se a burguesia precede aos socialistas e se ela for atéia, e se nela predomina o ateísmo, como poderia o socialismo, usando das mesmas armas vir lutar contra a burguesia, julgando que atacando a idéia de Deus poderia deste modo solapar a posição burguesa? Não há uma nítida contradição nestas afirmativas? Em fins do século passado, e no princípio deste, e até nos nossos dias, desenvolve-se uma campanha ateísta organizada. A propaganda anti-religiosa e atéia, por exemplo, organizada pela Rússia e pelos partidos comunistas do mundo inteiro, foi uma obra de vulto extraordinário. Em 1923 apareceu a obra de Jaroslavski sobre o ateísmo na Rússia em que ele afirma que todo o socialismo deve ser ateísta. Para Lenine: "A sociedade moderna se funda toda ela na exploração das grandes massas da classe obreira por uma pequena minoria pertencente à classe dos pequenos proprietários capitalistas. E qual é a forma de usar sobretudo esse domínio, essa exploração? Através da religião". A religião, era para ele, um meio, o instrumento mais completo e mais perfeito para poder dominar a classe trabalhadora e explorá-la. No entanto, antes de surgir Lenine, já Leão XIII Havia lançado o Rerum Novarum, o que vem provar a indevida afirmação. Não pretendemos, nestas obras, defender a Igreja Católica, defendemos sim a concepção religiosa, quer seja católica, quer seja de qualquer outra. Apontamos os erros nas concepções religiosas, onde eles estiverem, e justificamos as suas verdades dentro das possibilidades que dispusermos. Mas há em nossa obra uma intencionalidade importante que se deve salientar: é que as religiões não são um óbice ao desenvolvimento do ser humano, nem tampouco de elevá-lo nos mais altos estágios e evitar as explorações, porque através dos tempos, aqueles que estudam a história verão que foram as religiões as que mais lutaram em defesa dos pobres, as que mais lutaram em defesa dos oprimidos e também as que melhor organizaram alguma coisa em beneficio dos mais fracos. O domínio 3 de alguns homens sobre os outros decorre por outras razões e por outras causas que não podem ser explicadas apenas pelo aproveitamento da idéia religiosa para exercer esse domínio. É uma ingenuidade pensar-se que há homens dominados por outros que são seus dominadores, simplesmente porque aceitam esse domínio por um fundamento religioso. Se há exemplos, se há casos em que isso aconteça, não podemos pelo menos imputar ao cristianismo porque este jamais defendeu, sob nenhum aspecto, a exploração do homem sobre o homem. É doutrina genuinamente de Cristo a luta pela igualdade humana, tanto quanto é possível dentro das condições do homem, respeitando as diferenças naturais, mas nunca a ponto de que essas diferenças sirvam para justificar que uns vivam à custa do esforço de outros. Essa imputação não se deve fazer porque ela é injusta e historicamente falsa. Se houve, na Igreja, homens que puseram a sua inteligência a favor das classes dominantes ou dos senhores do momento, não se pode imputar essa atuação a todos os que compuseram a Igreja através dos tempos, não só à Igreja Católica como à qualquer outra das grandes religiões. A exploração humana se faz através do uso de outros instrumentos, muito embora se manejem alguns instrumentos religiosos para justificar o predomínio de uns sobre os outros, que se funda sempre na força organizada, no kratos político, sem o qual não é possível manter-se. Os exemplos que na história se apresentam de povos que se submeteram a outros, considerando-se mais elevados e que aceitaram a exploração do homem sobre o homem por princípios religiosos são em número tão diminuto e representam um aspecto tão excepcional que deles não se pode estabelecer a regra geral, porque a regra geral é o contrário: as religiões lutaram mais pela liberdade e pela igualdade humana do que qualquer outra idéia política ou qualquer ideologia. Agora, que haja interesses que estão acima das próprias ideologias, interesses secretos, as genuínas forças ocultas que desejam solapar a religião para poder fundar o seu império sobre tudo e sobre todos é outro problema, seríssimo e gravíssimo, que é difícil tratar e difícil de provar; porque estes, que sempre estão nos bastidores da história, são suficientemente solertes e astuciosos para não deixar provas que possam amanhã servir de instrumentos para denunciá-los. Mas, que há uma inteligência organizada no mundo atual, buscando destruir todos os fundamentos religiosos, todo princípio de piedade, todo respeito a um Ser Supremo, princípio e origem de todas as coisas, para com isso poder desligar os homens, impedir a assembléia dos homens, a eclésia, a união, o amor, para fazer com que cada um veja no outro seu inimigo, esse trabalho há, porque essa suprema divisão facilitará o domínio fácil de um pequeno grupo sobre toda a humanidade, porque terão enfraquecido os homens a ponto de que esse pequeno grupo, com poucos instrumentos, poderá dominar totalmente os outros para seu beneficio. Lutar portanto pela grandeza das religiões, pela idéia teísta, mostrar a improcedência das 4 acusações comuns que se tem feito à religião, julgamos de nosso dever, e esta seqüência de obras que se iniciam por este volume tem essa finalidade: de reunir, do pensamento humano, numa espécie de antologia, o que há de mais elevado, de mais perfeito, de mais sublime, de mais seguro, para servir de esteio para àqueles que, embora creiam, mas sentem qualquer vacilação, e também para auxiliar àqueles que perderam a sua fé para que a recuperem, e os que ainda não a alcançaram, para que possam alcançá- la. Esta é uma tarefa que escolhemos sabendo que é grandiosa e difícil, talvez superior as nossas forças, mas julgamos que é de nosso dever experimentar empreendê-la e levá-la a bom termo. O leitor, posteriormente, julgará se cumprimos ou não com esta finalidade. 5 1º capítulo - A experiência mística e a experiência natural Como mostramos no prólogo é o tema de ateísmo, hoje, de uma importância fundamental, porque não se pode negar o seu desenvolvimento, sobretudo neste século em que há verdadeiras organizações para. promoção e para a apresentação de razões a seu favor. Nesta obra encararemos este problema sob todos os ângulos e apresentaremos as razões e provas oferecidas no decorrer dos tempos, não só a favor, como também contra a idéia de Deus. Procuraremos ser o mais justos possíveis em. relação às opiniões, doutrinas e provas apresentadas, fazendo a crítica que se impõe, que julgamos justa, e dando todos os meios para que o próprio leitor possa orientar-se na escolha da sua posição. Em primeiro lugar necessitamos esclarecer o conceito de Deus: Deus (do gr. Theos, o que vê). Tomou esta palavra a significação de princípio de explicação de todas as coisas, da entidade superior, imanente ou transcendente ao mundo (cosmos), ou princípio ou fim, ou princípio enfim, ser simplicíssimo, potentíssimo, único ou não, pessoal ou impessoal, consciente ou inconsciente, fonte e origem de tudo, venerado, adorado, respeitado, amado nas religiões e nas diversas crenças. Deste modo, em toda a parte, onde está o homem, em seu pensamento e em suas especulações, a idéia de Deus aflora e exige explicações. É objeto de fé ou de razão, de temor ou de amor, mas para ele se dirigem as atenções humanas, não só para afirmar a. sua existência, como para negá-la. Exame do Tema de Deus - O nosso saber dos objetos varia segundo a funcionalidade do nosso espírito (nous). Na função da intelectualidade há: um saber da singularidade, que nos é dado pela intuição sensível, diretamente, imediato; e um saber mediato, discursivo, operatório, judicatório, que é o racional. A noesis, na intelectualidade, realiza-se com o objeto, e gnósis, é cum-noscere, con-hecer, a qual nos dá um conteúdo, um noema, imagem (imago). Este é singular, por referir-se ao singular, que é próprio da intuição sensível. Há, ademais, um noema racional. O conteúdo noemático é fáctico no primeiro caso; e eidético (indicando a generalidade), no segundo. A nóesis intelectual desdobra-se, portanto, em nóesis intuitiva e nóesis racional. Toda intuição oferece, num grau maior ou menor, uma nóesis racional, a qual a operação racional (com funções discursivas e judicatórias) reduz ao esquema abstrato-eidético, da razão. A intelectualidade funciona assim como um todo. Há um saber sensível, da sensibilidade, objetivo-subjetivo, pois é um saber com, um conhecer, 6 que é assimilado aos esquemas do sensório-motriz, do mesmo modo que são assimilados os conhecimentos da intelectualidade aos esquemas intelectuais. Esse saber da sensibilidade, ao tornar-se consciente, pode ser intelectualizado, e serve, portanto, de objeto de conhecimento à operação cognoscitiva intelectual. Há ainda um saber vivencial, páthico (de pathos), a afetividade, em que a polaridade sujeito + objeto se esfuma, para permitir uma maior fusão, na vivência, que é um viver com, um saber vivencial das coisas, mas um saber consigo mesmo, em que a vivência e a vivência de si mesma, em que sujeito e objeto se fusionam na frônese, ato de saber vivencial, páthico. Este saber que se revela, que se transmite através de símbolos, assim como o intelectual o faz através de conceitos, juízos, etc., nem sempre nos provoca confiança e dá uma evidência objetiva (de vidência, de ver, função que tanto influi sobre a razão), mas oferece uma potência, uma certeza vivencial, uma evidência subjetiva, que é mais uma certeza, com toda a sua gama afetiva. Assim como todo conhecimento da singularidade é intransmissível, pois os conceitos apenas poderão transmitir o geral e não o singular, o saber vivencial páthico é intransmissível em sua singularidade, e é "transmitido" pelo símbolo, que é um veículo para a. assimilação aos esquemas simbólicos, do intransmissível, do vivencial. Quanto ao conhecimento humano de Deus, surge a primeira pergunta teológica: Como conhecemos a Deus? Não temos um conhecimento sensível de Deus, uma intuição imediata sensível da divindade. Ele pode ser captado através dos símbolos, que são todas as coisas. Mas lembremo-nos que o símbolo, quando captado, não é sempre captado como tal. Para saber que algo é símbolo, é necessário saber que tem uma significação. Por isso muitos símbolos, não captados como tais, expressam apenas a sua natureza, valem de per si, nada significando senão a si mesmos, e não representando ao cognoscente o papel de quem está em lugar de... Ora, o símbolo não nos dá a presença atual do simbolizado, mas somente a presença virtual, pois não é ele o simbolizado, mas apenas contém nota ou notas do simbolizado, com o qual se análoga. Portanto, mesmo que se considere o existir como símbolo da divindade, não é o existir, como tal, a divindade, mas apenas um apontar desta. Mas, como todo símbolo é análogo ao simbolizado; há entre eles um ponto qualquer de identificação não muito remoto. E se não há, o símbolo não é símbolo, mas apenas um pseudo-símbolo. Por isso poder-se-ia perguntar se há um conhecimento simbólico de Deus através do sensível, já que não se admite a objetivação de Deus como cognoscível através dos esquemas do sensório- motriz. Neste caso, teríamos de dizer que, no plano da sensibilidade, como conjunto dos esquemas do 7 sensório-motriz, como funcionamento primário do que em biologia se chama organização, não há tal conhecimento. Resta apenas que o coloquemos onde ele pode ser colocado quanto à sua apreensão: na polaridade intelectualidade-afetividade. E outras sugestões surgem. Mas antes de analisá-las, examinemos as diversas opiniões que se oferecem sobre este magno tema teológico, que é o do conhecimento humano de Deus. Restariam assim dois caminhos para alcançar a Deus: o da intelectualidade e o da. afetividade. O primeiro permitiria um conhecimento racional ou intuitivo-empírico, e o segundo, apenas afetivo. Pascal, por exemplo, quando diz: "é o coração que sente Deus e não a razão; eis o que é a fé: Deus sensível ao coração e não à "razão", coloca-se na posição afetiva. Toda a vez que alguém afirma que o conhecimento de Deus pelo homem se processa pela afetividade, por uma experiência páthica, é classificado como partidário de uma experiência mística de Deus. Os termos mística e místico tem origem no verbo myein, estar fechado, daí myô, eu oculto, mystos, o que penetra no oculto, mystagogos, o que conduz ao oculto. De místico vem mistério (mysterion), o que permanece oculto, o que é segredo, o que não é revelado, que é o iniciado, o mystos, que começa a procurar o mistério. É verdade que, na linguagem comum, emprega-se o termo em outro sentido, e considera-se místico o que está afetivamente preso a uma idéia qualquer, a qual não é justificada por meios operatórios, racionais. Também se considera como tal a atitude que nega valor à realidade sensível, para devotá-lo totalmente a uma idéia, a um desejo, etc. Em sentido teológico, é místico o que tem um conhecimento direto e experimentalmente afetivo da divindade. É uma intuição, portanto, um captar direto da divindade, vivido; e não um conhecimento operatório, mediato, como o racional. Chama-se de teologia mística, a ciência, cujo objeto é a experiência mística da divindade, a qual estuda as comunicações diretas entre a alma humana e a divindade. O conceito de mística: O estético, em suma, nos é revelado através dos sentidos. Esta era a acepção clássica do termo, pois toda arte é um endereçar-se aos sentidos. Os meios de captação do mundo sensível são meios estéticos (ou estésicos, como se podem chamar hoje, desde que se dê ao termo estético o sentido que lhe dão os estudos sobre a arte). Pode-se ainda ampliar o conceito de estético, incluindo, em sua extensão, tudo quanto tem para nós uma presença atual e que, como tal, o captamos. 8 O símbolo, por exemplo, é uma presença atual, para nós, não porém o simbolizado por ele referido, que se nos oculta. O símbolo, enquanto objeto, pode ser objeto da intuição sensível, mas como tal é um significante. Ao saber que algo é símbolo, já se capta, de certo modo, o oculto, pois ele tem uma linguagem de referência significativa. A estética é, assim, uma mística, pois ela, em suas manifestações, procura penetrar nos símbolos. É uma mística do símbolo. Mas a mística é um aprofundar-se, cada vez mais, no simbolizado. A marcha através dos símbolos sensíveis ao simbolizado, o qual escapa, aos sentidos, é uma marcha mística. E uma visão mística é sempre um penetrar no oculto, no mysterion. É, assim, um sentir do mistério, é uma. estética do simbolizado. Com estes elementos, podemos examinar como se dá a experiência mística. Características da experiência mística: Na forma como é compreendida em geral, é antecedida pela passividade de quem a experimenta. Surgem naqueles que levam uma. vida de purificação, produto de uma ascese (exercício) de despojamento de tudo quanto é material, mundano, comum. Revelam tais experiências uma clareza e uma obscuridade, um penetrar por entre trevas, um clarear de sombras, mas sem luz. Falam os místicos em "luz invisível", "treva luminosa", e expressões semelhantes. Consistem mais em estados de alma do que em visões intelectuais; são mais afetivos, portanto. Outro aspecto que também se evidenciam entre os místicos é a força. de que dispõem. Em vez de fracos, são fortes, não temem os perigos, enfrentam-nos com humildade e segurança, pois confiam em Deus. Explicações da experiência, a mística: Todo aquele que não experimenta estados místicos tem naturalmente a tendência de não admiti-los. Falta-lhe a experiência viva da realidade mística para que ela se torne subjetivamente evidente. Como não é possível negar que os místicos conhecem estados especiais, deve-se procurar explicá-los. A solução mais simples é declarar que tais estados são meramente patológicos e mórbidos. Essa explicação, de tão fácil, não explica nada... Charcot e Janet classificavam o misticismo como histeria, o que não teve grande êxito científico, senão por algum tempo, graças às respostas precisas de Babinski, Janet, posteriormente, explicava os estados místicos pela psicastenia, e, desta maneira, o místico, quer moral, quer fisicamente, não passava de um deprimido constitucional, com o campo retraído ao monoidismo. Os freudistas viram no amor 9

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.