Em "Senhora dona do baile", Zélia Gattai retrata o período de exílio da autora e seu marido, o escritor Jorge Amado, quando ele teve os direitos políticos cassados por ser membro do Partido Comunista Brasileiro. Em 1948, Zélia deixou o Brasil com o filho João Jorge para encontrar-se com Jorge Amado na Europa, onde viveu durante cinco anos, participando intensamente da vida cultural européia, ao lado de personalidades como Pablo Neruda, Nicólas Guillén, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Aragón, Paul Éluard, Picasso, Ilya Eremburg, entre outros. O cotidiano do casal é repleto de aventuras pouco comparáveis às experiências dos turistas convencionais em terra estrangeira: eles conhecem personalidades da política e do cenário cultural internacional, vivenciam o entusiasmo da classe intelectual que ainda acredita piamente no Socialismo e encaram com coragem uma Europa em reconstrução após os estragos provocados pelo Nazismo. Com bom humor e uma dose de erudição, Zélia conduz o leitor por Lisboa, Paris, Praga e a antiga URSS. Apesar do encanto exercido pelas excentricidades culturais de cada lugar, o casal sofre com a saudade dos entes queridos deixados no Brasil e do próprio João Jorge, quando Zélia e Jorge precisam se separar do filho para cumprir compromissos em outros países. Embora a partida de ambos tenha sido motivada por contingências políticas, as amizades adquiridas nesses cinco anos e os diversos apelos pela paz que foram endossados pelo casal dão a impressão de que o exílio foi tão frutífero para a família Amado quanto para aqueles que os acompanharam em terra estrangeira.