NASCIMENTO -coverP 19-04-2006 3:52 Page I UNICEF Centro de Estudos Innocenti Insight Innocenti REGISTO DE NASCIMENTO E CONFLITOS ARMADOS Para todas as crianças Saúde,Educação,Igualdade,Protecção REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 1 Innocenti Insight REGISTO DE NASCIMENTO E CONFLITOS ARMADOS Apoio Comité Português para a UNICEF REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 2 Agradecimentos Esta investigação foi levada a cabo pelo Centro de Estudos Innocenti da UNICEF por Saudamini Siegrist e Michael O’Flaherty, sob a supervisão de Marta Santos Pais. Mizuho Okimoto assegurou um inestimável auxílio. Recebemos diversos comentários e ajuda de muitos outros colegas do Centro de Estudos Innocenti da UNICEF, entre os quais Clemencia Aramburu, Susan Bissell, Agatha Ciancarelli, Clarice da Silva e Paula, Joana Daniel, Jane Foy, Laura Martinez, Michael Miller, Francesca Moneti, Zaved Mahmood, Andrea Rossi e Chiara Tagliani. Claire Akehurst deu um apoio administrativo essencial. O estudo beneficiou dos conselhos e comentários de participantes na Consulta de Peritos sobre Registo de Nascimento e Conflitos Armados, que teve lugar no Centro Innocenti em Julho de 2003. Entre os especialistas, encontravam-se: Gopalan Balagopal, Matthias Behnke, Dawn Chatty, Francesca Coullare, Joanne Dunn, Kari Egge, Johanna Eriksson, Rita Fioravanzo, Carolyn Hamilton, Eva Larsson Bellander, Una McCauley, Elena Malaguti, Jorge Mejia, Joseph Moyersoen, Sarah Norton-Staal, Eveline Pressoir-Lofficial, Kimberly Roberson, Marta Santos Pais, Abubacar Sultan e Paola Viero. Devemos ainda um agradecimento especial a Violeta Gonzales-Diaz. Este estudo não teria sido possível sem os contributos substanciais dos escritórios da UNICEF nos países em desenvolvimento, e dos seus escritórios regionais, bem como da sede da UNICEF, e ainda dos colegas do sis- tema das Nações Unidas, em especial do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e de organizações não-governamentais (ONGs), designadamente PLAN International e Rädda Barnen. Estamos particularmente gratos pelo apoio financeiro concedido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação para o Desenvolvimento Italiano (Ministero degli Affari Esteri Cooperazione allo Sviluppo) no contexto da Rede Europeia para uma Agenda de Estudos sobre Crianças em Conflitos Armados, promovida pelo Centro de Estudos Innocenti da UNICEF em parceria com o Centro Nacional Italiano de Documentação e Análise sobre Infância e Adolescência (Istituto degli Innocenti), bem como pelo apoio financeiro fornecido pelo Comité Japonês para a UNICEF. Grafismo: Bernard & Co, Siena, Itália Foto: UNICEF/HQ92-175/ Roger Lemoyne © 2005 United Nations Children’s Fund (UNICEF) ISBN: 88-89129-27-1 2 Innocenti Insight REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 3 Centro de Estudos Innocenti da UNICEF O Centro de Estudos Innocenti da UNICEF, em Florença, Itália, foi criado em 1988 para reforçar a capacidade de investigação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e apoiar as suas actividade de sensibiliza- ção para a causa da criança em todo o mundo. O Centro (formalmente conhecido como Centro Internacional para o Desenvolvimento das Crianças) identifica e investiga actuais e futuras áreas de actuação da UNICEF. Tem como principais objectivos melhorar a forma como são encaradas, a nível internacional, as questões relacio- nadas com os direitos das crianças e ajudar a promover a aplicação efectiva da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, tanto nos países industrializados como nos países em vias de desenvolvimento. As publicações do Centro destinam-se a promover um debate global sobre questões relativas aos direitos da criança e incluem um vasto leque de opiniões. Deste modo, as publicações do Centro podem exprimir posições que não reflectem necessariamente as políticas ou abordagens da UNICEF relativamente aos temas abordados. As opiniões expressas são da responsabilidade dos seus autores, sendo publicadas pelo Centro no sentido de estimular o diálogo sobre os direitos da criança. O Centro colabora com a instituição sua anfitriã em Florença, o Istituto degli Innocenti, em áreas de trabalho seleccionadas. O funcionamento regular do Centro é financiado pelo Governo de Itália, sendo o apoio finan- ceiro para projectos específicos concedido também por outros governos, instituições internacionais e fontes privadas, nomeadamente os Comités Nacionais para a UNICEF. As opiniões expressas são dos respectivos autores, sendo publicadas pelo Centro a fim de estimular odiálogo sobre os direitos da criança. Centro de Pesquisa Innocenti da UNICEF (UNICEF Innocenti Research Centre) Piazza SS. Annunziata, 12 50122 Florença, Itália Tel: (+39) 055 20 330 Fax: (+39) 055 2033 220 Endereço electrónico geral: [email protected] Endereço electrónico para pedido de publicações: [email protected] Website: www.unicef.org/irc e www.unicef-irc.org O texto completo e documentos de apoio podem ser obtidos no sítio do Centro de Pesquisa Innocenti da UNICEF, em: www.unicef.org/irc e www.unicef-irc.org Insight Innocenti 3 REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 4 REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 5 Registo de Nascimento e Conflitos Armados Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 PRIMEIRA PARTE:A QUESTÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Capítulo 1. Registo de nascimento durante e após um conflito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.1 Construir um ambiente protector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 Registo de nascimento: Definição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3 Enquadramento Legal: Registo de nascimento e direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.4 Dimensão do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Capítulo 2. Desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.1 Antes do conflito armado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2 Colapso dos sistemas de registo de nascimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.3 Questões intergeracionais e sócio-culturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.4 Discriminação de género . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.5 Destruição ou perda de registos de nascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.6 Utilização indevida de registos de nascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.7 Falsos registos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.8 Insuficiência de recursos e vontade política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Capítulo 3. Implicações da ausência de registo em situações de conflito . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.1 Crianças refugiadas e deslocadas no interior do seu próprio país . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.2 Deslocação prolongada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3.3 Recrutamento de crianças nas forças armadas e em grupos armados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3.4 Desafios no restabelecimento da identidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.5 Desmobilização e reintegração de antigas crianças-soldado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.6 Crianças em conflito com a lei. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.7 As raparigas enfrentam desafios difíceis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.8 Riscos e desafios para crianças indígenas e pertencentes a minorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Insight Innocenti 5 REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 6 SEGUNDA PARTE:ACÇÕES E IMPACTOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Capítulo 4. Estabelecer e restabelecer sistemas de registo de nascimento. . . . . . . . . . . . . . 31 4.1 Registo de nascimento em acordos de paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.2 Reforma jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.3 Registo de nascimento em processos de descentralização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.4 Integração do registo de nascimento com a prestação de outros serviços sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.5 Assegurar a conservação segura de registos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.6 Sistemas móveis de registo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.7 Empenho de parceiros governamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.8 Timor-Leste: O nascimento de uma nação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.9 Papel das organizações regionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.10 O Comité dos Direitos da Criança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Capítulo 5. Mecanismos informais e provisórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 5.1 Mecanismos informais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 5.2 Coordenação de sistemas múltiplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 5.3 Papel das comunidades locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.4 Papel das entidades não-estatais no registo de crianças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Conclusões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 CAIXAS DE TEXTO Caixa de texto 1.1 – Os Artigos 7.º e 8.º da Convenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Caixa de texto 1.2 – Definição (Registo de Nascimento: o Direito a ter Direitos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 Caixa de texto 2.1 – Etiópia: sem sistema oficial de registo de nascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 Caixa de texto 2.2 – Registo de nascimento: oprimeiro passo para uma passagem segura além- fronteiras . . . .19 Caixa de texto 3.1 – Colômbia: registo denascimento para crianças deslocadas no interior doseupróprio país .25 Caixa de texto 4.1 – Guatemala: o processo de paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 Caixa de texto 4.2 – Sri Lanka: registo de nascimento e reforma legislativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Caixa de texto 4.3 – Afeganistão: registo denascimento e imunização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 Caixa de texto 4.4 – África Ocidental e Central: campanha de registo denascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 Caixa de texto 5.1 – Angola: registo de nascimento durante o conflito armado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Caixa de texto 5.2 – Registo de nascimento nos Territórios Palestinianos Ocupados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Caixa de texto 5.3 – Guiné: promoveroregistodenascimento entre crianças deslocadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44 Caixa de texto 5.4 – O registo de nascimento efectuado pela UNITA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 6 Insight Innocenti REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 7 PREFÁCIO A obrigação de proteger e auxiliar as crianças em registo de nascimento e outros documentos de iden- tempo de guerra é um princípio básico dos direitos tificação tornam-se essenciais. Enquanto decorriam humanos e do direito humanitário. Porém, para a sal- os esforços de localização, surgiram muitas ofertas vaguarda do direito das crianças à protecção e assis- de apoio bem-intencionado, vindas de várias partes tência, é essencial que as mesmas tenham uma iden- do mundo, que incluíram a manifestação de interes- tidade legal. se em adoptar crianças afectadas por esta emergên- cia. Mas, na realidade, o que o processo de identifi- O direito das crianças a serem registadas e o seu cação e registo levado a cabo nos países afectados direito a um nome e uma identidade estão claramen- veio a demonstrar foi que apenas uma pequena per- te enunciados na Convenção sobre os Direitos da centagem destas crianças tinha perdido os seus pais, Criança. O registo de nascimento é instrumental para e na maioria dos casos haviam sido acolhidas pelas salvaguardar os direitos humanos, uma vez que suas famílias alargadas e por amigos próximos das constitui a “prova” oficial da existência de uma crian- mesmas. Assim, uma das principais prioridades foi a ça. Essa documentação é crucial, sobretudo em tem- identificação das crianças e o seu registo logo que pos de conflito armado ou de instabilidade. A “invisi- possível, para combater o risco de tráfico de crianças bilidade” das crianças não-registadas aumenta a sua e prevenir qualquer tentativa de levar para fora do vulnerabilidade e o risco de as violações dos seus país crianças não-acompanhadas, bem como solu- direitos passarem despercebidas. Assegurar o regis- ções de adopção desnecessária ou situações de to de nascimento das crianças que se encontram exploração sexual ou de trabalho infantil. numa situação de conflito ou subsequente a um conflito é, pois, uma prioridade. A vulnerabilidade das crianças não-registadas em situações de conflito foi salientada por Graça Machel A urgência e importância do registo de nascimen- no seu estudo ímpar, intitulado O Impacto da Guerra to em situação de emergência ganhou uma trágica sobre as Crianças. Por outro lado, a Sessão Especial visibilidade quando, em Dezembro de 2004, as ondas das Nações Unidas sobre as Crianças, organizada em destruidoras do tsunami abalaram as costas da Índia, Nova Iorque em Maio de 2002, reconheceu como Indonésia, Sri Lanka, Tailândia, Maldivas, Malásia, prioritário o registo de nascimento universal, bem Mianmar, Seicheles e Somália. Milhares de pessoas como a responsabilidade dos governos de todo o encontraram a morte e centenas de milhar ficaram mundo na prossecução dessa meta. Em 2002, o sem casa, entre elas uma enorme percentagem de Innocenti Digest N.° 9, Registo de Nascimento: o mulheres e crianças. Neste quadro, tornou-se então Direito a ter Direitos, analisou questões-chave rela- imperativo promover a identificação, o registo e a cionadas com o registo de nascimento, dando já busca de familiares das crianças não-acompanhadas então visibilidade à importância desse registo em e separadas, em estreita cooperação com hospitais, situações de emergência. autoridades policiais e locais, e as próprias comuni- dades. Em situação de emergência, a reunificação da O registo de nascimento foi também identificado criança com a sua família ou membros da família como uma área de investigação prioritária pela Rede alargada é a melhor forma de garantir também a sua Europeia de instituições de investigação e de peritos protecção, segurança e assistência. Mas, para tal, o sobre crianças em conflitos armados (EuroChicoNet)1. Insight Innocenti Registo de Nascimento e Conflitos Armados 7 REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 8 O estudo promovido sobre este tema beneficiou, ao uma sondagem promovida junto dos escritórios da longo do processo da sua elaboração, dos conheci- UNICEF nos países em desenvolvimento, dos seus mentos dos parceiros da Rede. escritórios regionais, de parceiros do sistema das Nações Unidas e organizações não-governamen- As estratégias inovadoras documentadas na pre- tais (ONGs), recolhendo e analisando informação sente publicação mostram que, apesar dos desafios sobre iniciativas destinadas a promover o registo inerentes à concretização do registo universal de de nascimento em situações de conflito. nascimento em situações de conflito, o registo de crianças é possível e, na realidade, crucial para a pro- ● Uma reunião de peritos realizada em Florença em tecção dos direitos da criança, mesmo quando os Julho de 2003, na qual participaram especialistas e recursos escasseiam e quando se vive em situação responsáveis pela definição de políticas, a fim de de emergência. Estes exemplos constituem uma rever e analisar as conclusões iniciais da investiga- fonte de informação que pode ser adaptada para o ção desenvolvida. contexto de outros países. O estudo tem por objectivo realçar a colaboração Além de documentar a resposta dada por diversos e motivar os diversos agentes aos níveis nacional e programas, este estudo descreve os riscos que a ausên- internacional – governos, agências da ONU, ONGs e cia de registo acarreta para as crianças, sublinhando a comunidades – a tomarem medidas positivas para e importância do registo de nascimento na definição da com as crianças. O último capítulo inclui um conjun- identidade da criança incluindo a nível social, cultural, to de recomendações destinadas a melhorar o regis- político e nacional, bem como a sua relevância para to de nascimento em situações de emergência. uma cidadania plena e a participação numa sociedade Os esforços concertados da UNICEF com gover- estável em período de pós-guerra. nos, agências da ONU e parceiros da sociedade civil O estudo foi levado a cabo em três fases comple- destinados a assegurar o direito ao registo de nasci- mentares: mento a todas as crianças, é um passo essencial para a prestação de cuidados, para a protecção e salva- ● Análise da documentação existente, permitindo a guarda dos direitos das crianças mais vulneráveis identificação de problemas-chave, bem como de aos efeitos da guerra. protagonistas envolvidos em actividades relevantes; ● Compilação de dados elementares recolhidos Marta Santos Pais pelos actores que trabalham no terreno, através de Directora do Centro de Estudos Innocenti da UNICEF Nota 1 A Rede Europeia para uma Agenda de Investigações sobre as Crianças em Conflitos Armados (EuroChiCoNet) foi estabelecida pelo Centro de Estudos Innocenti da UNICEF em parceria com o Istituto degli Innocenti. A EuroChiCoNet contém uma base de dados de activi- dades de pesquisa que pode ser acedida em: www.childreninarmedconflict.org 8 Prefácio Insight Innocenti REGISTO 11-04-2006 14:21 Page 9 Primeira Parte A QUESTÃO
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