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Quando o sofrimento bater à sua porta PDF

160 Pages·2016·0.83 MB·Portuguese
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Quando o sofrimento bater à sua porta… é melhor abrir. Tristes ainda seremos por muito tempo, embora de uma nobre tristeza, nós, os que o sol e a lua todos os dias encontram no espelho do silêncio refletidos, neste longo exercício de alma. Cecília Meireles Para Maria das Dores Lasmar, mulher que tem dores no nome, mas esperança na alma. Ao Ricardo Augusto Ramalho, por ter encontrado o que estava perdido. Essência de vidro Q uando os nossos pés descalços se colocam diante das duras pedras do sofrimento... quando a fragilidade de nossa condição nos leva a trilhar o inevitável caminho das sombras... quando a vida nos revelar que somos portadores de uma essência de vidro... é importante que a gente se livre da pressa e da facilidade das respostas prontas... porque diante da dor sofrida, mais vale um silêncio, uma pausa, que uma palavra inoportuna. Primeiras palavras... S ofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas. Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido. Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, resultados de nossos desajustes, precariedades e falta de sabedoria. São os sofrimentos que nascem de nossa acomodação, quando por força do hábito nos acostumamos com o que temos de pior em nós mesmos. Perdemos a oportunidade de saborear a vida só porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Invertemos a ordem e a importância das coisas. Sofremos demais por aquilo que é de menos. E sofremos de menos por aquilo que seria realmente importante sofrer um pouco mais. Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece na nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação. Talvez assim descubramos um jeito de reconhecer as realidades que são essenciais em nossa vida. É só desvendarmos e elencarmos os maiores sofrimentos que já enfrentamos, e quais foram os frutos que deles nasceram. Nossos maiores valores costumam florescer a partir de nossos maiores sofrimentos, os mais agudos. Por isso se transformam em valores. O sofrimento parece conferir um selo de qualidade à vida, porque tem o dom de revesti-la de sacralidade, de retirá-la do comum e elevá-la à condição de sacrifício. Sacrifício e sofrimentos são faces de uma mesma realidade. O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo. Esta é a mística cristã a respeito do sofrimento humano. Não há nada nessa vida, por mais trágico que possa nos parecer, que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos que nos tornarão melhores. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixaremos demorar em nós. Spinoza escreveu: “Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas.” O filósofo tem razão. A alegria ou a tristeza só poderão continuar dentro de nós à medida que nos deixamos afetar por suas causas. É questão de escolha. Dura, eu sei. Difícil, reconheço. Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá-los de uma forma diferente. Não aceite todo este contexto de vida como causa já determinada para o seu fracasso. Não, não precisa ser assim. Deixe-se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho. Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. Daqui a pouco você já estará do outro lado; modificado, amadurecido. Certa vez, um velho sábio disse ao seu aluno que, ao longo de sua vida, ele descobriu ter dentro de si dois cães – um bravo e violento, e o outro manso, muito dócil. Diante daquela pequena história o aluno resolveu perguntar – E qual é o mais forte? O sábio respondeu – o que eu alimentar. O mesmo se dará conosco na lida com os sofrimentos da vida. Dentro de nós haverá sempre um embate estabelecido entre problema e solução. Vencerá aquele que nós decidirmos alimentar... Capítulo 01 As múltiplas faces do sofrimento N as estradas da vida, o sofrimento é uma passagem obrigatória. Causa de muitos dizeres, motivo de muitos motivos, o sofrimento humano figura nas mais diversas culturas como um dos assuntos mais recorrentes. Muitos ramos de conhecimento já se ocuparam dele. Ramos diferenciados, evidenciando suas inúmeras faces. O sofrimento é naturalmente interessante. Ele nos instiga a uma aproximação respeitosa, pois parece condensar boa parte do significado da vida. Compreender o sofrimento parece nos oferecer uma chave de leitura para todas as questões humanas, afinal ele perpassa toda a problemática da existência. Ele é o “lugar” onde reconhecemos nossa humanidade em sua crueza mais venturosa. A filosofia, desde sua matriz grega até os dias de hoje, empenhou-se profundamente em suas tentativas de compreender o sofrimento e suas causas mais profundas. A teologia sempre se esmerou em articular a problemática da Revelação de Deus, centro de suas investigações, com sua busca incansável por respostas a respeito do sofrimento da condição humana. A psicologia sempre se mostrou desejosa de fornecer caminhos que aliviassem o peso de nossas mazelas. O objetivo de sua pesquisa é favorecer ao humano uma estrutura psíquica um pouco mais harmoniosa, livrando-o das neuroses e o ajudando a conviver melhor com os limites que lhes são próprios. A medicina, enquanto capacitada para dissecar a morfologia do sofrimento, isto é, o corpo que padece, avançou territórios interessantíssimos na luta contra a dor. Ela trabalha com o corpo e sua condição de “matéria temporária”. O corpo é matéria limitada, isto é, ele é propenso aos limites e regras do meio em que está localizado. O corpo, quando exposto ao calor, sofrerá as conseqüências do aquecimento. Quando exposto ao frio, sofrerá as conseqüências do resfriamento. Somos vulneráveis, e esta vulnerabilidade é a porta de muitos sofrimentos. O corpo é o território da dor. É nele que o sofrimento e todas as suas faces se concretizam. Quando violentado por alguma causa, o corpo responde com a dor. A dor é uma resposta natural do corpo. Ela sinaliza para o limite que possuímos. É por isso que desde muito cedo aprendemos a driblar os nossos limites. É simples.

Description:
Em "Quando o sofrimento bater à sua porta", Pe. Fábio de Melo nos proporciona uma reflexão sobre as razões de nosso sofrimento e como transformá-lo em fonte de valores. A partir de vários relatos, ele expõe que o sofrimento humano está repleto de ensinamento; tudo dependerá de nosso ponto d
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