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quando amar é um “problema” PDF

47 Pages·2009·0.14 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA QUANDO AMAR É UM “PROBLEMA” Os significados de amar demais a partir do MADA JULIANA BEN BRIZOLA DA SILVA Porto Alegre 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA QUANDO AMAR É UM “PROBLEMA” Os significados de amar demais a partir do MADA JULIANA BEN BRIZOLA DA SILVA Monografia apresentada para a obtenção do título de bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Dr. Arlei Sander Damo Porto Alegre 2008 2 Às integrantes do grupo MADA, que com sua força, coragem e determinação lutam para vencer a dependência de relacionamento 3 AGRADECIMENTOS Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Sul por me possibilitar o acesso a um ensino superior público, gratuito e de qualidade e por me fornecer os subsídios necessários para a conclusão desta monografia. O incentivo, as críticas e os elogios do meu orientador, Prof. Arlei Damo, foram decisivos no processo do fazer etnográfico, bem como no meu desenvolvimento intelectual e acadêmico. O crédito, as expectativas e sugestões de alguns colegas, entre eles Bruno Ortiz, Cauê Machado e José Leonardo Ruivo, influíram positivamente na concepção desta etnografia e colaboraram para que eu acreditasse no meu potencial para realizá-la. Agradeço especialmente a Douglas Dickel, meu namorado, que, com o seu carinho, amor e compreensão, deu-me o suporte emocional necessário para a realização desta monografia. 4 RESUMO A presente monografia aborda o amor e as relações amorosas a partir de uma reflexão sobre o “problema de relacionamento”. Trata-se de uma etnografia que tem como principal objetivo identificar os diferentes significados do amor e os conflitos decorrentes da experiência amorosa a partir de uma análise dos rituais, das estratégias terapêuticas e do discurso das integrantes do grupo MADA – Mulheres que Amam Demais Anônimas. O valor conferido ao amor e o papel do sujeito como agente desse amor são problematizados tomando-se a ideologia individualista enquanto fundamental na construção da noção de pessoa no mundo contemporâneo. O recorte de gênero realizado pelo grupo, aliado a um ideal de mulher buscado pelas MADAs, também é objeto de análise na busca pelos significados de amar demais. Palavras-chaves: amor, mulher, relacionamento. 5 ABSTRACT This dissertation refers to love and relationships from a view point focusing on the “predicament of relationships”. This work is an ethnography which has as its main objective to identify the different signifiers of love and the conflicts arising from the experience of loving, based on an analysis of the habits, therapeutic strategies and the discourse of the members of MADA – Unknown Women who Love Too Much. The value associated to love and the role of the individual as an agent of this love is problematic. This is the case because it has an individualist ideology which is fundamental to construct the essence of a being in the contemporary world. The thematic of gender cared out by the group, combined with the ideal of women sought by members of MADA is also the object of analysis in the search of signifiers of love in excess. Key-words: love, woman, relationship. 6 “CORAÇÃO. Essa palavra vale por todas as espécies de movimentos e desejos, mas o que é constante, é que o coração se constitui em objeto de dom – seja ignorado, seja rejeitado”. Roland Barthes 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................9 1 O MADA A PARTIR DE SUA DINÂMICA E DE SEUS RITUAIS......................12 1.1 O encontro semanal: “continue voltando, o segredo está na próxima reunião”................................13 1.2 Traçando perfis e delimitando trajetórias..............................................................................................15 1.3 A relação pesquisador-pesquisado e as noções de engajamento e distanciamento............................16 2 A INVENÇÃO DO AMOR E A COMPLEXA PLURALIDADE CONTEMPORÂNEA.............................................................................................20 2.2 Do amor cortês ao amor líquido..............................................................................................................20 3 AMAR DEMAIS E O “PROBLEMA DE RELACIONAMENTO”........................28 3.1 Lúcia: a “menos louca”............................................................................................................................28 3.2 A relação intempestiva de Clara e Otávio..............................................................................................30 3.3 O centramento no “eu” e o ideal individualista.....................................................................................32 4 AMOR, FEMINISMO E SUBJETIVIDADE.........................................................38 4.1 Mulheres ideais: independentes, equilibradas e insubordináveis.........................................................38 4.2 A luta pela igualdade a partir de uma análise cultural da subordinação............................................39 4.3 O recorte de gênero do MADA, suas implicações e subjacências.........................................................41 4.4 Subjetividade, cultura e agency...............................................................................................................44 CONCLUSÃO.......................................................................................................46 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................47 8 INTRODUÇÃO Quando pensamos em amor, tendemos a pensar em prazer, realização e felicidade, atribuindo a esse sentimento apenas valores positivos. Amar parece ser uma experiência sublime, que conduz os indivíduos ao paraíso, embora por vezes os torne um tanto vulneráveis. O amor seguidamente é concebido como algo naturalmente humano, que simplesmente acontece, não escolhendo hora, lugar ou pessoa para surgir em nossas vidas. Ele é visto como um sentimento mágico que não obedece aos impulsos racionais do indivíduo, sendo incontrolável pela força da vontade. No entanto, a prática amorosa vem a desmentir radicalmente a idealização, pois amamos com sentimentos e emoções, mas também com razões e julgamentos. Ainda que seja comum a associação entre o amor e a realização pessoal, há indícios concretos de que o amor não é um valor em si mesmo. O amor, para “acontecer”, depende da combinação de muitos fatores, sendo eles avaliados pelo indivíduo antes e durante o processo de apaixonar-se. Não pretendo, com isso, afirmar que primeiramente levantamos uma ficha do alvo do amor e depois apertamos um botão em nós mesmos liberando ou barrando esse sentimento, mas sim sugerir que a proveniência (geográfica, racial, econômica, de classe) e as possíveis afinidades entre o casal estão intrinsecamente implicadas no desejo de amar o outro. Nós, seres humanos, aprendemos a amar dessa ou daquela maneira a partir das relações sociais que estabelecemos dentro da cultura em que vivemos, da qual somos produtos e produtores ao mesmo tempo. Dessa forma, a experiência de amar pode trazer alegria e felicidade, mas também pode gerar dor, sofrimento e tristeza. Esse é o tipo de amor cultivado pelas mulheres que procuram o grupo de auto-ajuda MADA – Mulheres que Amam Demais Anônimas. Para as integrantes do MADA, quando amar significa sofrer, é porque não estamos amando de maneira “saudável”, estamos amando “errado”, e essa forma de amar caracteriza a dependência amorosa ou o “problema de relacionamento”. 9 E o que significa amar o outro? Doar-se por inteiro sem pensar nas conseqüências? Priorizar as necessidades e desejos do outro em detrimento dos meus desejos e das minhas necessidades? Ou investir na relação amorosa preservando o meu status de indivíduo, independente, único e auto-suficiente? O que é um relacionamento “saudável”? Que valores e ideais estão presentes quando julgo que para construir um relacionamento “saudável” eu preciso me amar antes de amar o outro? Quais relações uma pessoa estabelece para concluir que não está amando na medida certa, que está amando demais? O que significa amar demais e quais as conseqüências do “problema de relacionamento”? Para responder a essas perguntas proponho uma incursão pelo universo do MADA, no qual muitas mulheres sofrem por depender dos mais variados tipos de relacionamento. Durante o período de campo, acompanhei a trajetória de aproximadamente doze mulheres, e a variedade de “problemas” permitiu-me criar três grupos de MADAs. No primeiro grupo encontram-se os casos mais recorrentes, que são denominados “problemas com homens”. O segundo é formado por mulheres que dependem de relacionamentos com seus familiares diretos: pais, filhos ou irmãos. No terceiro grupo estão os casos de mulheres que amam demais “coisas” – como o trabalho ou o estudo – ou seres inanimados – como as suas plantas, por exemplo. Devido à grande fluidez do grupo, optei por analisar quatro casos de mulheres que freqüentaram as reuniões por pelo menos cinco sessões. Três deles encaixam-se no primeiro grupo e o outro no segundo. Esta etnografia tem como objetivo principal apreender o olhar das mulheres que amam demais em relação ao amor que elas nutrem pelo outro ser. Ao analisar as dinâmicas e os rituais do grupo, as estratégias terapêuticas e o discurso das participantes, e confrontar todos esses elementos com a bilbliografia proposta, procurei identificar os diferentes significados do amor e os conflitos decorrentes da experiência amorosa. Inicialmente, apresentarei e analisarei as dinâmicas e os rituais do MADA, mostrando a importância do ritual na formação das identidades de grupo e apresentando-o enquanto expressão da tensão entre o estruturante e o estruturado1. Nesta primeira etapa também traçarei um perfil das MADAs e farei algumas considerações sobre a minha inserção em campo. 1 Conceitos de Bourdieu, desenvolvidos principalmente na obra “Razões práticas: sobre a teoria da ação”. 10

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Os significados de amar demais a partir do MADA cura, é possível de tratar e assim aprender a conviver com ela de forma “saudável”. Em.
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