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Quando a Vida Escolhe PDF

416 Pages·2015·1.12 MB·Portuguese
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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.site ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." Quando a vida escolhe Zibia Gasparetto: Ditado por Lucius PRÓLOGO Entardecia. A brisa forte do outono varria as alamedas, espalhando as folhas secas que caiam das árvores amarelecidas, e os raios de sol que se filtravam por entre as nuvens cinzentas, não conseguiam aquecer os raros transeuntes que caminhavam por entre as campas naquele domingo. Com um maço de flores entre as mãos, um cavalheiro bem vestido, revelando sua linhagem nobre, procurava um nome, lendo atentamente as inscrições das lápides. Finalmente, parou.”Aqui jaz Suzane Ferguson que deixou a Terra em 30 de setembro de 1906.” Seus olhos encheram-se de lágrimas. Pelo seu rosto amadurecido passou uma onda de emoção. Finalmente a encontrara. Finalmente, tinha notícias. Ela estava morta! Como sonhara com o momento do reencontro! Como buscara por toda parte sua figura amada! Tudo inútil. Quase vinte e cinco anos gastara nessa busca, e, agora, apenas encontrara uma lápide fria, onde a morte matava suas esperanças, e o coração oprimido apenas dizia: — Nunca mais! Nunca mais verei seu rosto amado, ouvirei seu riso cristalino, tomarei suas mãos, beijarei seus cabelos castanhos, abraçarei seu corpo querido sentindo seu coração bater junto ao meu. Era muito cruel, e ele curvou-se ao peso da sua dor. Colocou as flores sobre o túmulo e ajoelhou-se deixando que as lágrimas lavassem sua face livremente. Se ao menos ela soubesse o quanto ele a amava! Se ao menos pudesse ter-lhe dito o quanto havia sofrido e o quanto se arrependia de sua atitude rude, de sua leviandade, de sua ambição! Mas, agora tudo estava acabado. Suzane estava morta e nunca mais o ouviria, e ele não poderia abrir-lhe seu coração, falarlhe dos seus enganos e dos seus remorsos. Permaneceu ali, de joelhos, pensando, pensando desesperado. De que lhe valia agora todo o dinheiro que acumulara? De que lhe valia a posição, o poder, todas as coisas que ambicionara e pelas quais havia trocado o amor puro de Suzane, no casamento sem amor, a serviço do interesse e do qual só lhe restavam desilusão e desconforto? Ah! As lágrimas que ela havia chorado! Seus belos olhos imploraram que ele não a abandonasse, e ele, frio, quase indiferente, lhe propusera uma ligação extraconjugal, um lar onde ele iria quando seus compromissos sociais e com a esposa lhe permitissem. Vendo inúteis suas lágrimas, Suzane desapareceu às vésperas do seu casamento. A princípio, pensou que ela houvesse se afastado temporariamente. Afinal, ela o amava, tinham uma ligação íntima, ele a sustentava. Naturalmente, ela voltaria quando o dinheiro acabasse ou a saudade apertasse. Era até bom que ela desaparecesse por algum tempo. Não queria que sua nova posição, desposando uma moça de família tradicional e de grande projeção social, pudesse ser empanada pela sua ligação com Suzane. Afinal, Maria Helena acreditava que ele a amasse. Representara o papel com tal veemência que ninguém aventara a hipótese dele casar-se por interesse. Ele procedia de uma família de estirpe. Seus pais haviam pertencido à corte no Rio de Janeiro ao tempo do Império e haviam lhe legado seus bens que lhe possibilitavam manter uma boa aparência. José Luiz gostava do luxo. Vivia rodeado de tudo quanto era de melhor, adorava obras de arte, e sua bela casa no Rio de Janeiro era mobiliada com móveis franceses. Todos os utensílios, até suas roupas eram importados. Era recebido nas altas rodas e muito considerado pela sua sobriedade e sensatez. Contudo, José Luiz sabia que seus recursos eram poucos. Ele queria mais, muito mais. Maria Helena pareceu-lhe a mulher ideal para seus planos de poder. Seus pais usufruiam de projeção social, política e eram muito ricos. O pai dela, batalhador pela República, Deputado Federal, ocupava alto cargo de confiança do presidente Floriano Peixoto. José Luiz aspirava subir. Era advogado, estudara, porém, não acreditava que conseguisse projetar-se sem cartucho. Conhecera Suzane em seus tempos de estudante em São Paulo. Ela era brasileira, porém havia sido adotada por um casal de ingleses que a educaram muito bem. Falava inglês com naturalidade e sem sotaque. Seu pai adotivo era funcionário da Estrada de Ferro. Não tinham filhos e ao adotar Suzane recém—nascida, o fizeram por amor. Deram-lhe tudo quanto puderam. Ela era linda, inteligente, culta, educada. José Luiz sentiu-se logo atraido pelo seu ar brejeiro, pelo seu riso franco e cristalino, pelo seu rostinho doce e delicado. Amou-a profundamente. Apesar disso, esquivou-se sempre de um compromisso sério, alegando os estudos e a necessidade de graduar-se primeiro. Suzane entregou-se àquele amor de corpo e alma. Tinha certeza de que quando ele se formasse, se casariam. Ele não desmentia, entretanto, os pais de Suzane, apesar do conforto em que viviam e do nível de educação que possuíam, não eram ricos. Ele vivia do seu salário no emprego que, embora fosse muito bom, não lhe proporcionava projeção social ou política. José Luiz queria muito mais. Se casasse com Suzane, se transformaria em um advogado medíocre e pobre, para o resto da vida. Precisava cuidar do seu futuro. Por isso, quando ia ao Rio visitar os pais, procurava ambiciosamente alguém que preenchesse suas condições. Maria Helena foi ideal. Era bonita e fina. Olhos vivos, rosto expressivo. Morena, cabelos negros e lisos, corpo elegante, olhos escuros e brilhantes. Apaixonou-se por ele rapidamente, e José Luiz exultou. Do namoro ao noivado foi um pulo, e seus pais lisonjeados aprovavam com entusiasmo aquela união. Na sua formatura, todos viriam para S. Paulo assistir às solenidades, e José Luiz resolveu acabar sua ligação com Suzane. Era-lhe penoso esse momento, não queria que ela sofresse. Amava-a muito. Não desejava perder seu amor. Contava com o tempo para que a situação se arranjasse da melhor forma. Suzane o amava muito. Sofreria a princípio, mas , depois, haveria de aceitar. Viria vê-la sempre que pudesse. No futuro, quem sabe, talvez ela pudesse ir morar no Rio de Janeiro. Montaria uma bela casa, onde eles seriam felizes. Os pais de Suzane iriam voltar a Inglaterra dentro de pouco tempo. Ela lhe prometera ficar com ele. Nas vésperas da formatura, contou-lhe tudo. Sua ambição, seu noivado, seus projetos, tudo. Suzane chorou muito, não aceitou a situação como ele desejara. Disse-lhe que se ele se casasse, nunca mais a veria. Ele não acreditou. Ela o amava e haveria de reconsiderar. Porém, ela não voltou, desapareceu, e ele nunca mais a encontrou. Tinha-a procurado inutilmente. Soubera que haviam voltado a Inglaterra. Conseguiu uma viagem pretextando negócios e foi até lá. Não os encontrou. Colocou um agente a quem pagou regiamente para localizá-la, inutilmente. Parecia que a terra a havia tragado. As saudades doíam em seu coração. Ele tentou esquecer. Afinal, possuia tudo que queria. Posição, dinheiro, vida social. Maria Helena deu-lhe dois filhos sadios e inteligentes. Era atenciosa e dedicada. O que mais podia desejar? Porém, o riso de Suzane vinha-lhe à memória, seu rosto alegre e carinhoso aparecia-lhe em sonhos, onde as cenas de amor eram uma constante. José Luiz não conseguia esquecer. Os anos passaram e com eles, o tédio da vida mundana, a rotina de um casamento sem amor. José Luiz não conseguia continuar a representar com Maria Helena o papel de apaixonado. Cedo ela percebeu que ele não a amava. Discreta e educada, ferida em seus sentimentos, ela fechou-se ainda mais, tornando-se distante e fria com ele. E assim, seu relacionamento foi ficando apenas formal, e José Luiz procurava em outras ligações o amor, sem conseguir encontrar. Arrependeu-se de não haver desposado Suzane. Intensificou as buscas até que, por fim, localizou, naquele cemitério no Rio de Janeiro mesmo, a singela sepultura. Olhou o retrato oval encrustado na lápide onde Suzane aparecia sorrindo. Como pudera ser tão cego? Como pudera trocar o amor daquela criatura pelas ilusões mundanas? Mas era tarde. Agora, só lhe restava chorar. Ficou ali, amargurado, durante algum tempo. Quando se preparava para levantar-se, sentiu que uma mão suave lhe tocou levemente no ombro. Levantou-se. Uma jovem estava diante dele. Olhou-a admirado. Os mesmos olhos de Suzane, os mesmos cabelos castanhos e anelados, sentiu um choque. — Desculpe se o assustei. É que não o conheço e nunca o vi aqui. — Está emocionado. Chorou por ela. Diga-me, conheceu minha mãe? Ele sentiu-se aturdido. Ela era filha de Suzane. Então, ela havia se casado! Claro! Por que nunca pensara nisso? Uma onda de ciúme o acometeu. O amor de Suzane teria se acabado? Ele precisava saber. Era importante conhecer a verdade. Olhou o rostinho delicado tão parecido com o de Suzane e respondeu: — Sim. Conheci muito sua mãe. Faz muitos anos. Ela suspirou fundo. — Talvez então possa me explicar algumas coisas — disse pensativa. — Eu pensava exatamente a mesma coisa. — Precisamos conversar — tornou ela, séria. — Certamente. A tarde está fria. Aceitaria tomar um chá comigo? — Com prazer. Vejo que trouxe flores. Vamos arrumá-las no vaso. Depois, iremos. Com delicadeza e carinho ela dispôs as flores, enquanto ele esperava e apesar de toda emoção, José Luiz, de repente, sentiu uma sensação de paz. Eles não viram que o espírito de Suzane estava ali, luminoso e belo, olhando a cena com emoção. — Finalmente, meu Deus, — pensou ela com alegria — finalmente eles se encontraram. Seu coração em prece envolveu-os com muito amor, acompanhando-os quando saíram do cemitério e procuravam um local apropriado para conversar. CAPÍTULO 1 Sentados frente a frente em uma confeitaria elegante, olhavam-se com disfarçada curiosidade. José Luiz estava muito emocionado. O rosto corado e expressivo da moça lembrava muito o de Suzane, e ele sentia aumentar as saudades. — Disse que conheceu minha mãe... — Sim. Conheci muito e vendo-a tão parecida com ela, sinto-me emocionado. — Por quê? — Como se chama? — indagou interessado. — Luciana. — Meu nome é José Luiz. Sua mãe nunca o mencionou? — Não — respondeu ela, pensativa. — Compreendo. Por certo seu marido não compreenderia. Nós fomos namorados. — Mamãe nunca se casou. José Luiz sentiu um baque no coração. Uma súbita suspeita começou a despertar dentro dele. Precisava saber mais, queria saber tudo. Emocionado, colocou a mão sobre a dela apertando-a com força quando disse: — Luciana, por favor, preciso saber tudo. É importante que me conte sua vida, onde andaram todos esses anos. — Por quê? — inquiriu ela sentindo-se também envolvida por grande emoção. Pressentia que finalmente ia conhecer o drama de sua mãe. Seu passado, sua origem. — É preciso. Há quase vinte e cinco anos eu procuro Suzane desesperadamente. Só hoje, descobri que está morta há dez anos. Se ela não se casou... isto é... você... — Não sei o que dizer... talvez o senhor possa esclarecer-me. Ela nunca me falou sobre o passado. Meus avós diziam-me que não fizesse perguntas, que ela havia sofrido muito e precisava esquecer. — Quantos anos tem? — inquiriu ele, trêmulo. — Vinte e quatro — disse ela de sopro. — Por favor, se sabe de alguma coisa, conte-me. Sem poder conter-se mais, José Luiz disse-lhe com certa euforia: — É cedo para dizer, porém, tudo leva a crer... que você seja... — Que eu seja? — encorajou ela, vendo-o hesitar. — Minha filha! — concluiu ele apertando suas mãos com Ficaram calados alguns minutos, olhando-se sem coragem de falar. Depois, quando serenou, ela disse: — Deve ter boas razões para pensar assim. Por favor, conte-me tudo. Depois, direi o que sei. — Muito bem — concordou ele, fazendo uma pausa, esperando que o garçom dispusesse as iguarias sobre a mesa e lhes servisse o chá. Olhando o rosto emocionado de José Luiz, ela considerou: — Vamos tomar o chá. Ambos precisamos de um. Quero saber tudo, com detalhes. José Luiz sorveu alguns goles de chá e procurou acalmar-se. Depois, sentindo-se mais encorajado, contou tudo sobre seu amor com Suzane. Não omitiu nenhum detalhe. Ao contrário, foi duro consigo mesmo, como que penitenciando-se junto da filha, já que não podia fazê-lo diante de Suzane. Ela ouviu, sentindo as lágrimas rolarem pelas faces, pensando no sofrimento de

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Lancado originalmente em 1992, "Quando a vida escolhe" e um dos livros mais queridos pelos leitores de Zibia Gasparetto. E, para celebrar a marca de meio milhao de exemplares vendidos, a obra ganhou, em 2015, uma nova edicao, com capa e projeto grafico ineditos.Jose Luis abandonou o grande amor de s
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