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Psicopatas do Cotidiano PDF

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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.site ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." Ficha Técnica Copyright © 2015 Katia Mecler Copyright © 2015 Casa da Palavra Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora. Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Redação final: Leticia Helena Copidesque: Debora Fleck Revisão: Nina Lopes Capa: Leandro Dittz Fotos de capa: Wtamas, Subbotina Anna e Elnur / Shutterstock.com CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M435p Mecler, Katia Psicopatas do cotidiano : como reconhecer, como conviver, como se proteger / Katia Mecler. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Casa da Palavra, 2015. Inclui bibliografia ISBN 9788577345717 1. Psicopatas. 2. Psicologia. I. Título. 15-23776 CDD: 616.8582 CDU: 616.89-008.1 CASA DA PALAVRA PRODUÇÃO EDITORIAL Av. Calógeras, 6, 701 – Rio de Janeiro – RJ – 20030-070 21.2222-3167 21.2224-7461 [email protected] www.casadapalavra.com.br A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... Simplesmente, disse eu? Mas como é difícil. Mário Quintana Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. Antoine de Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe) In memorian ao meu pai, Abrahao Mecler PREFÁCIO A taxonomia das entidades clínicas em psiquiatria oferece um espectro amplo de dificuldades tanto doutrinárias quanto técnicas. Quando procuramos identificar, particularizar ou classificar os transtornos mentais, encontramos questões e problemas advindos da história da medicina e da psiquiatria, da ideologia, da maneira de pensar, do ambiente social, da cultura vigente e até das opções políticas. Tal se dá, entre outras razões, pela dificuldade de aplicação do modelo biomédico nos transtornos mentais. Na individuação das enfermidades ou doenças temos duas maneiras básicas de classificação: o modelo biomédico e o modelo psicossocial. O modelo biomédico exige para a taxonomia das enfermidades que possamos determinar com clareza e segurança qual a etiologia da doença, ou seja, qual sua causa morfopatológica ou fisiopatológica, causa esta que deve ser única para aquela doença. Deve ser estabelecida também a patogenia – o mecanismo pelo qual a causa produz a doença: como as alterações anatomopatológicas ou fisiopatológicas levam ao estabelecimento dos sinais, sintomas ou indícios clínicos da enfermidade. A história natural também deve ser instituída: como a doença vai evoluir e o que ela vai causar em seu padecente, as manifestações físicas, psíquicas e sociais. Esse modelo é plenamente aplicado nas doenças físicas ou somáticas. Tomemos como exemplo o diabetes. Sabemos claramente sua causa – alterações no metabolismo dos glicídios –, como tais alterações produzem os sintomas e como a doença evolui. Já com as doenças mentais, não temos tal facilidade. Com exceção das demências e das oligofrenias moderadas, graves e profundas, o modelo biomédico é aí de difícil aplicação. Tanto que tais entidades podem ser consideradas mais neurológicas que psiquiátricas. Nas psicoses, particularmente nas antigamente chamadas endógenas – esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva (transtorno bipolar do humor), ele pode ser aplicado, mas com adaptações e pressupostos, o que torna tal objetivo sujeito a contestação e dificuldades de verificação empírica. Mas um grande contingente de transtornos mentais – se assim podemos nomear tais entidades – fica inteiramente fora da aplicação do modelo biomédico. Estamos falando das neuroses e das psicopatias (transtornos de personalidade). Não é possível estabelecer uma etiologia definida e incontestável, a patogenia é inteiramente desconhecida, e a evolução, imprevisível. E então, por que razão são consideradas transtornos, doenças ou enfermidades? A solução, considerada por muitas correntes do pensamento contemporâneo como arbitrária, ideológica, desumana e totalitária, é a aplicação do modelo psicossocial. São transtornos porque assim o exigem a história das mentalidades, a sociedade, a cultura, os valores vigentes e – por que não? – os que detêm o poder. As psicopatias (transtornos de personalidade) pertencem a esse grupo. São “perturbados”, “transtornados”, “doentes” porque estão fora da norma sociocultural vigente, não funcionam como deles se espera (a família, o grupo, a comunidade, a sociedade), incomodam, criam problemas, são esquisitos e diferentes, infringem a lei e os costumes, não se adaptam, não produzem, não rendem e assim por diante. Tal contingente de pessoas “anormais” começou a ser identificado quando o capitalismo comercial e industrial passou a dominar a economia mundial. Na Idade Média eram considerados no máximo como marginais (à margem da sociedade): vagabundos, prostitutas, bandoleiros, mendigos e outros, mas não “doentes”. Agora, no entanto, era preciso que entrassem na ordem de produção. O capitalismo, em especial o industrial, não tolera aqueles que não produzem. O calvinismo, seita protestante fundada no início da reforma protestante, veio dar um colorido religioso a essa ideologia: a acumulação do capital e a riqueza eram provas da benevolência de Deus e da salvação eterna. No século XVIII, em suas etapas finais, o Iluminismo, a ilustração veio em socorro desses anormais e selecionou dentre eles os que poderiam ser considerados “doentes”. Assim, criou-se a categoria dos degenerados morais e mais tarde dos psicopatas. Hoje tanto a classificação internacional de doenças (a CID-10) quanto a classificação norte-americana de doenças mentais o incluem em seus itens e individualiza a categoria e subtipos. O livro de Katia Mecler é uma magnífica revisão do assunto, e o coloca ao alcance de todos os interessados, e não apenas médicos, psicólogos e demais profissionais de assistência humana. De leitura amena e agradável, vai traçando o perfil das psicopatias e, mais importante, fornecendo subsídios para que a completa compreensão do problema ajude os que trabalham na área ou convivem, na família, no trabalho e nos grupos sociais com essas pessoas “especiais”. Miguel Chalub Chefe do setor de perícias do Instituto de Perícias Heitor Carrilho, no Rio de Janeiro EMERGÊNCIA DE UM GRANDE HOSPITAL, MADRUGADA Paula, 27 anos, acaba de dar entrada na emergência. Sofreu um acidente ao dirigir bêbada e em alta velocidade. O motivo é o de sempre: brigou com o namorado, após flagrá-lo flertando com outras mulheres numa balada. Ela fez um escândalo e ele avisou que não aguentava mais seus altos e baixos, pondo fim ao relacionamento. A família da garota é avisada e chega ao hospital. O pai, Marcos, é executivo de uma multinacional. Extremamente metódico, detesta mudanças e está irritado por ter que sair da rotina de ver seu seriado favorito na madrugada de sábado para socorrer a filha. A mãe surge como um furacão. Aos 48 anos, Sandra, sensual e exuberante, faz da vida um palco. O fato de estar na recepção de um hospital não afeta seu jeito espalhafatoso. Grita por Paula e, com gestos teatrais, conta a todos sobre sua dedicação à família, que, segundo ela, não retribui com a mesma atenção. Diante da cena, a irmã gêmea de Paula, Fernanda, tenta passar pelo saguão sem ser notada. Herdou a beleza da família, mas, ao contrário da irmã inquieta e da mãe dramática, é tímida e sente-se rejeitada por todos. Dedica-se a escrever poemas e a levar uma vidinha caseira, sem grandes emoções. A família é recebida pelo médico Eduardo, o chefe da emergência. Jovem, boa-pinta, teve uma ascensão meteórica. Para os superiores, ele é o cara que consegue resultados rápidos e sem grandes esforços. Os subalternos, porém, não se acostumaram com seu jeito de culpar o grupo pelos erros e guardar os elogios só para si. A enfermeira Sônia aceita calada as humilhações. Afinal de contas, ela acredita que conseguir um emprego não é fácil, mesmo para alguém com um currículo tão impecável quanto o seu. E, aos 40 anos, ainda conseguiria atrair a atenção de um homem tão interessante quanto o doutor Eduardo. Assim, aceita os encontros às escondidas e faz vista grossa para suas escapadas. No hospital, sua única distração é conversar com a missionária Luz do Sol. Na certidão de nascimento, ela é Ana Cristina, mas adotou o nome místico após uma revelação. Ganha a vida como terapeuta holística, cria cinco gatos e, nas horas vagas, percorre as enfermarias oferecendo cura espiritual aos pacientes. Seu jeito excêntrico – cada dia da semana se veste com uma cor diferente – a tornou uma figura popular. O administrador do hospital, Osvaldo, não tira os olhos dela. Sempre vigilante, ele desconfia de tudo e de todos. Não gosta de brincadeiras e enxerga inimigos inclusive nas sombras. Entre os colegas, tem fama de encrenqueiro: implica até quando encontra um lápis fora do lugar e tem certeza de que quem não cumpre suas ordens está querendo prejudicá-lo. Fora do trabalho, também vive às turras com os vizinhos. Ultimamente, anda cismado com o novo laboratorista, Ronaldo, a quem, ironicamente, chama de homem-bomba. Barba por fazer, cara de poucos amigos – na verdade, não considera ter amigo algum –, Ronaldo adora o turno da madrugada, já que consegue passar vários plantões sem falar com ninguém. Sabe que os colegas o consideram esquisito, mas não liga. Mora sozinho e praticamente só sai de casa para trabalhar. Nas horas vagas, gosta de jogar videogames de guerra e de navegar em sites que pregam a decadência da raça humana. Esta madrugada, porém, a emergência está caótica e a enfermeira Sônia pede a Ronaldo que entregue o resultado de um exame diretamente ao doutor Eduardo. No corredor, o laboratorista se depara com Rodrigo. Nunca esqueceu aquele rosto. Foram colegas de escola. Rodrigo colava nas provas, trocava de namorada como quem troca de roupa (deixando uma legião de jovens viúvas), fazia bullying com ele – ainda é capaz de escutar os gritos de “ET” e “retardado” – e acabou sendo expulso por vender drogas. Mas a vida tem dessas coisas, e Rodrigo seguiu em frente. Sedutor e com uma incrível capacidade de convencer as pessoas a fazerem o que ele quer, arrumou um ótimo emprego. Até se envolveu num escândalo de corrupção, que, naturalmente, não deu em nada. E, lógico, está sempre rodeado de lindas mulheres, como Paula, a garota do acidente. Os dois se conheceram numa festa regada a sexo e drogas e vivem como cão e gato. Rodrigo está sempre em busca de novos prazeres e Paula entra em uma crise após a outra, até a reconciliação seguinte. Ficção ou realidade? Os personagens descritos acima se esbarram num hospital, mas poderiam estar num escritório, na pracinha da esquina, numa festa ou mesmo na casa de alguém. Bastam cinco minutos para você identificar a instável, o inflexível, a teatral, a insegura, o arrogante, a submissa, a lunática, o desconfiado, o misantropo e o transgressor. É claro que estas podem ser apenas características individuais, que não preenchem critérios para um diagnóstico psiquiátrico. Mas também podem estar presentes em pessoas que, por seu comportamento repetitivo, peculiar e capaz de gerar prejuízo, causam danos físicos e psicológicos a si mesmas ou aos que estão ao seu redor. Elas nos seduzem, manipulam, surpreendem, espantam, assustam, sufocam. Tudo em seu comportamento é exagerado: amor demais, carência demais, desconfiança demais, controle demais, raiva demais. Invariavelmente, passam a impressão de que alguma coisa está fora da ordem. E está mesmo. A partir do fim da adolescência, os indivíduos com essa natureza apresentam um jeito de ser caracterizado por um padrão de comportamento inflexível e repetitivo, que causa prejuízo significativo na maneira como se relacionam afetivamente, em sociedade, no trabalho ou na família. Podemos chamá-los de psicopatas do cotidiano. É preciso deixar claro que, neste livro, psicopatia se refere à atual classificação médico- psiquiátrica denominada “transtornos específicos da personalidade” Pessoas com esses transtornos, com frequência e sem perceber, causam intenso sofrimento a quem convive com elas. Elas não perdem o juízo da realidade ou sofrem com surtos, delírios e alucinações. A maneira como interagem com o mundo é que as torna de difícil convivência. Mas, atenção: ao contrário do senso comum dos últimos anos, popularizado na mídia e na cultura pop, o transtorno de personalidade não é uma condição necessariamente associada a crimes bárbaros e cruéis. Somos bombardeados, diariamente, com notícias sobre crimes sexuais, casos de assédio moral, assassinatos por motivo torpe ou fútil, violência doméstica, maus tratos a animais. O psicopata do cotidiano tanto pode ser um líder místico que convence seus seguidores ao suicídio coletivo quanto um garoto que depreda patrimônio público e posta foto de seu ato na internet. Mas seus traços de personalidade também aparecem nos motoristas que perdem a cabeça no trânsito, nos vizinhos que vão parar na delegacia após uma discussão no condomínio ou nos pais e nas mães que fazem chantagem emocional com os filhos até levá-los a tomar atitudes contrárias às suas vontades. Em maior ou menor grau, esses indivíduos deixam marcas em nossas vidas. Compreendê-los e aceitá-los parte de um simples princípio: eles são assim, não entendem o problema e se recusam a tratá-lo. No máximo, após um longo processo de autoconhecimento, conseguem entender o mecanismo de repetição de suas atitudes e minimizar seus efeitos. Nas redes sociais, porém, é comum encontrar sites, blogs e fóruns escritos e compartilhados por pessoas supostamente já diagnosticadas com algum transtorno de personalidade ou que se identificam com esse ou aquele traço. Em geral, são publicações que questionam o diagnóstico, põem em dúvida a eficácia do tratamento proposto ou difundem opiniões sobre o uso de medicamentos. Frases como “não tenho isso”, “o médico falou, mas não acredito”, “qual é o problema de ser um pouco assim ou assado?” se repetem em todos esses meios. Fica fácil compreender que mesmo quem já teve o problema identificado continua não aceitando sua condição. Pessoas que convivem com indivíduos que têm transtornos de personalidade também aproveitam a capilaridade da rede para dividir suas experiências e buscar apoio. Muitas se classificam como vítimas e fazem relatos dramáticos de agressões e abusos físicos e psicológicos. Este livro não substitui o diagnóstico clínico feito por um profissional especializado. Apenas aponta as características que levam as pessoas a agirem como se tivessem “um parafuso a menos”, na deliciosa definição que nossas avós davam ao que não se conseguia explicar cientificamente. Para

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