2015 Copyright © Ricardo Goldenberg, 2014 Capa e projeto gráfico de miolo da versão impressa Gabinete de Artes/Axel Sande CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Goldenberg, Ricardo G566p Psicologia das massas e análise do eu [recurso eletrônico]: multidão e solidão / Ricardo Goldenberg; organização Nina Saroldi. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. recurso digital Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web Apêndice Inclui bibliografia ISBN 978-85-200-1200-0 (recurso eletrônico) 1. Imagem (Psicologia). 2. Intimidade (Psicologia) - Aspectos sociais. 3. Marketing pessoal. 4. Mídia - Aspectos sociais. 5. Comunicação de massa - Aspectos sociais. 6. Livros eletrônicos. I. Saroldi, Nina. II. Título. III. Série. 15-21774 CDD: 302.23 CDU: 316.77 Todos os direitos reservados. É proibido reproduzir, armazenar ou transmitir partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito. Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Direitos desta edição adquiridos pela EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA Um selo da EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA. Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000 Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções. Atendimento e venda direta ao leitor: [email protected] ou (21) 2585-2002. Produzido no Brasil 2015 SUMÁRIO Apresentação da coleção Prefácio Introdução A propósito de um título Anatomia de um livro de Freud Capítulo primeiro Onde se questiona a oposição clássica entre individual e coletivo. Capítulo segundo Onde se contesta a tese de um instinto gregário, um herd instinct. Capítulo terceiro Onde se trata de massas organizadas. Capítulo quarto Onde se discutem as relações entre sugestão e uma curiosa substância denominada libido (e começam a ser elucidados fenômenos como o de A onda). Capítulo quinto Onde se analisa a estrutura de massas artificiais específicas — nomeadamente, a Igreja e o Exército —, com o intuito de revelar como a teoria edípica serve para demonstrar que o chefe é um sub-rogado do pai. Capítulo sexto Onde consta a observação sobre a recém-criada URSS, já comentada. E onde há uma não menos deliciosa nota a propósito da “ambivalência”, ou seja, do amor e do ódio experimentados em relação à mesma pessoa. Capítulo sétimo Onde finalmente se revela a que veio semelhante estudo do comportamento das multidões: fincar os fundamentos de uma teoria da identificação. E onde podemos ler a bela fórmula da melancolia: a sombra do objeto cai sobre o eu. Capítulo oitavo Onde se avança mais um passo na teoria do amor, comparando o enamoramento com o estado de influência conhecido como hipnose. Capítulo nono Onde se discute e se rebate a hipótese de um “instinto gregário”, uma gregariousness inata. E onde se explica o porquê da alegria geral com a Xuxa sendo tratada como uma (cidadã) qualquer. Capítulo décimo Onde se fundamenta a tese, algo mítica (ainda que o mito seja de um cientista, Darwin), de que a massa seria a versão atualizada de uma suposta “horda primordial”, e se conclui que “A psicologia da massa é a mais antiga psicologia do ser humano”. Capítulo décimo primeiro O derradeiro. Um grau no interior do eu. Apêndice Onde Freud se sente obrigado a se aprofundar em determinados conceitos em benefício do leitor. Olha eu! “Triste o saber que não beneficia o sábio” Anexos Um passeio pelo Seminário 1964: Ano de polemizar com Jean-Paul Sartre, jamais mencionado pelo nome. 1967: Ano dedicado a conjecturar uma lógica da fantasia. Em tempo: dançando nas ruas. Referências bibliográficas Cronologia de Sigmund Freud Outros títulos da coleção Para Ler Freud APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO Em 1939, morria em Londres Sigmund Freud. Hoje, passadas tantas décadas, cabe perguntar por que ler Freud e, mais ainda, qual a importância de lançar uma coleção cujo objetivo é despertar a curiosidade a respeito de sua obra. Será que vale a pena ler Freud porque ele criou um campo novo do saber, um ramo da psicologia situado entre a filosofia e a medicina, batizado de psicanálise? Será que o lemos porque ele criou, ou reinventou, conceitos como os de inconsciente e recalque, que ultrapassaram as fronteiras do campo psicanalítico e invadiram nosso imaginário, ao que tudo indica, definitivamente? Será que devemos ler o mestre de Viena porque, apesar de todos os recursos farmacológicos e de toda a ampla oferta de terapias no mercado atual, ainda há muitos que acreditam na existência da alma (ou de algo semelhante), e procuram o divã para tratar de suas dores? Será que vale ler Freud porque, como dizem os que compartilham sua língua- mãe, ele é um dos grandes estilistas da língua alemã, razão pela qual recebeu, inclusive, o prêmio Goethe? Será que seus casos clínicos ainda são lidos por curiosidade “histórico- mundana”, para conhecer as “bizarrices” da burguesia austríaca do fim do século XIX e do início do XX? Será que, em tempos narcisistas, competitivos e exibicionistas como os nossos, é reconfortante ler um investigador que não tem medo de confessar seus fracassos e que elabora suas teorias de modo sempre aberto à crítica? Será que Freud é lido porque é raro encontrar quem escreva como se conversasse com o leitor, fazendo dele, na verdade, um interlocutor? É verdade que, tanto tempo depois da morte de Freud, muita coisa mudou. Novas configurações familiares e culturais e o progresso da tecnociência, por exemplo, questionam suas teorias e põem em xeque, sob alguns aspectos, sua relevância. Todavia, chama a atenção o fato de, a despeito de todos os anestésicos — químicos ou não — que nos protegem do contato com nossas mazelas físicas e psíquicas, ainda haver gente que se disponha a deitar-se num divã e simplesmente falar, falar, repetir e elaborar, extraindo “a seco” um sentido de seu desejo para além das fórmulas prontas e dos consolos que o mundo consumista oferece — a partir de 1,99. Esta coleção se organiza em dois eixos: de um lado, volumes que se dedicam a apresentar um dos textos de Freud, selecionados segundo o critério de importância no âmbito da obra e, ao mesmo tempo, de seu interesse para a discussão de temas contemporâneos na psicanálise e fora dela. De outro, volumes temáticos — histeria, complexo de édipo, o amor e a fantasia, dentre outros —, que abordam, cada um, um espectro de textos que seriam empobrecidos se comentados em separado. No volume sobre a histeria, por exemplo, vários casos clínicos e artigos são abordados, procurando refazer o percurso do tema na obra de Freud. A cada autor foi solicitado que apresentasse de maneira didática o texto que lhe coube, contextualizando-o na obra, e que, num segundo momento, enveredasse pelas questões que ele suscita em nossos dias. Não necessariamente psicanalistas, todos têm grande envolvimento com a obra de Freud, para além das orientações institucionais ou políticas que dominam os meios psicanalíticos. Alguns já são bem conhecidos do leitor que se interessa por psicanálise; outros são professores de filosofia ou de áreas afins, que fazem uso da obra de Freud em seus respectivos campos do saber. Pediu-se, na contramão dos tempos narcisistas, que valorizassem Freud por si mesmo e encorajassem a leitura de sua obra, por meio da arte de escrever para os não iniciados. A editora Civilização Brasileira e eu pensamos em tudo isso ao planejarmos a coleção, mas a resposta à pergunta “Por que ler Freud?” é, na verdade, bem mais simples: porque é muito bom ler Freud. NINA SAROLDI Organizadora da coleção PREFÁCIO Desde a primeira vez que li Psicologia das massas e análise do eu a imagem que não me saía da cabeça, enquanto acompanhava a reflexão de Freud sobre o comportamento grupal, era a de uma torcida exaltada de futebol. Ao ler este livro de Ricardo Goldenberg sobre o texto de 1921, a imagem que mais insistia em aparecer era a de um show de rock, dos grandes, daqueles em que o astro aponta o microfone para a plateia e a deixa cantar em seu lugar. Difícil, depois de se debruçar sobre a reflexão de Freud sobre as massas — e a reflexão de Goldenberg sobre a de Freud — não associar o astro de rock a um líder totalitário em potencial. Se os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer entreouviam nos jingles do rádio, nos anos 1940 do século XX, a ordem dos ditadores, Goldenberg nos adverte acerca do poder — talvez tão explosivo quanto — de Mick Jagger sobre as meninas. Mas como nada em seu pensamento é óbvio, Goldenberg nos traz o ilustrativo relato do ataque que essas mesmas meninas fizeram a Keith Richards, mostrando que a relação de dependência mútua entre o líder e a massa pode sempre se reverter sem aviso prévio. Partindo das teses de Gustave Le Bon e de outros estudiosos como William McDougall, Freud avança na argumentação ao afirmar que sim, o homem é um animal de horda — possuidor de uma espécie de instinto gregário —, mas essa horda precisa de um líder, de um chefe autoconfiante e robustamente narcisista a ponto de rebaixar o espírito crítico e fomentar os efeitos de sugestão e de contágio da emoção entre os membros da massa. Mais que isso, o funcionamento dessa horda só se torna realmente compreensível quando se lança mão da noção de eu — dividido pelo inconsciente — que o próprio Freud inventou. É isso que lhe permite afirmar que o líder ocupa o lugar do ideal do eu para os liderados. Mick Jagger mostra a língua para o público, faz gestos bruscos com o microfone, pula, dança e pronto, nem precisa mais cantar.
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