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Princípios da filosofia do futuro PDF

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(cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO FUTURO Ludwig Feuerbach Tradutor: Artur Morão www.lusosofia.net (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) Covilhã,2008 FICHA TÉCNICA Título: PrincípiosdaFilosofiadoFuturo Autor: LudwigFeuerbach Tradutor: ArturMorão Colecção: TextosClássicosdeFilosofia Direcção: JoséRosa&ArturMorão DesigndaCapa: AntónioRodriguesTomé Composição&Paginação: JoséRosa UniversidadedaBeiraInterior Covilhã,2008 (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) Apresentação O núcleo essencial deste escrito de L. Feuerbach transparece, de forma sintética e acutilante, no princípio 51, sob a proposta de um novoimperativocategórico: “Sê apenas um homem que pensa; não penses como pensador, istoé,numafaculdadearrancadaàtotalidadedoserhumanoreal eparasiisolada;pensacomoservivoereal,expostoàsvagasvivi- ficanteserefrescantesdooceanodomundo;pensanaexistência,no mundocomomembrodomundo,enãonovaziodaabstracçãoco- mo uma mónada isolada, como monarca absoluto, como um deus indiferenteeexterioraomundo–podes,depois,estarcertodeque osteuspensamentossãounidadesdeseredepensar.” Este parágrafo insinua os motivos teóricos ou os filosofemas em virtude dos quais Feuerbach ganhou o seu lugar na história do pensamento: a dissolução da teologia em antropologia, portanto o esboço de um ateísmo teórico e consequente, o enlace do homem com a natureza, o consórcio entre razão e sensibilidade, o signifi- cado do corpo, a implicação do eu e dos outros no conhecimen- to, a convicção de que a realidade exige uma nova filosofia que não pense o concreto de forma abstracta, mas o abstracto de modo concreto. Os princípios da filosofia do futuro surgiram em 1843, logo após A essência do cristianismo (1841); distribuídos em 65 lemas, expostos com maior ou menor extensão, centram-se na denúncia doaprioriteológicodequasetodaaantigafilosofia,nacríticados pressupostos do pensamento europeu desde Descartes e, acima de tudo,nadissecaçãodoidealismoespeculativodeHegel. OverboincisivodeFeuerbach,curto,assertório,assazmonótono dopontodevistaliterário,nãosecansa,porisso,defustigarosoli- psismo gnoseológico e a “razão separada” dos modernos – é este, efectivamente, um tema interessante e, por vezes, nem sempre tão 3 (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) realçado como merece. Ao longo do seu caminho de análise e de acusação,vãoaindasurgindooutrostemas: arelaçãoentreconhec- imento e conversação na apreensão do ser, o valor da comunidade comocritériodaverdadeedauniversalidade,acaptaçãodomundo e do objecto através da mediação do tu, a presença do não-eu (do outro)emmim,eassimpordiante. Oseuateísmofoi,econtinuaaser,paramuitosinspirador;per- siste, no entanto, preso ao mesmo a priori da teologia, que foi objecto da sua denúncia. Feuerbach surge, assim, não só como um profundo hermeneuta da filosofia ocidental e do seu segredo ‘teológico’, mas também como um arauto inflamado, tonitruante e excepcional do processo teomórfico da modernidade que, claro nas suas motivações, confuso nos seus pretextos, se tem revelado imprevisível,ambivalenteetrágicoemmuitasdassuasconsequên- cias. ArturMorão 4 (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) Princípios da Filosofia do Futuro∗ (1843) Ludwig Feuerbach ∗PublicadoprimeiramentecomoescritoautónomonaSuíçaecomoseguinte Pró-logo:“Estesprincípioscontêmacontinuaçãoeaulteriorfundamentaçãodas minhas Teses para a reforma da filosofia, votadas ao exílio pela arbitrariedade irrefreada da censura alemã. Em conformidade com o primeiro manuscrito, visavam ser um livro completo; mas, quando encetei a redacção definitiva, apossou-se de mim – não sei como – o espírito de censura alemã e risquei de um modo bárbaro. Tudo o que esta censura indirecta deixou subsistir reduz- seaosseguintescadernos, quesãopoucos. Dei-lhesonomede“Princípiosda filosofiadofuturo”porqueotempopresenteemgeral,enquantoépocadeilusões refinadasedepreconceitosdebruxavelha,éincapazdecapiscareaindamenos deapreciar,justamenteemvirtudedasuasimplicidade,asverdadessimplesde queestesprincípiossãoabstraídos. Afilosofíadofuturotematarefaderecon- duzirafilosofíadoreinodas“almaspenadas”paraoreinodasalmasencarnadas, dasalmasvivas;deafazerdescerdabeatitudedeumpensamentodivinoesem necessidadesparaamisériahumana. Paraessefimdenadamaisprecisadoque deumentendimentohumanoedeumalinguagemhumana. Maspensar,falare agir de modo puramente humano só está concedido às gerações futuras. Hoje, ainda não se tata de exibir o homem, mas de o tirar da lama em que mergul- hou. Ofrutodestetrabalholimpoepenososãotambémestesprincípios. Asua tarefa era deduzir da filosofia do Absoluto, isto é, da teologia, a necessidade dafilosofíadohomem,istoé,daantropologiae,medianteacríticadafilosofía divina,fundamentaracríticadafilosofíahumana. Pressupõem,pois,paraasua 5 (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) 6 LudwigFeuerbach 1 A tarefa dos tempos modernos foi a realização e a humaniza- ção de Deus – a transformação e a resolução da teologia na an- tropologia. 2 O modo religioso ou prático desta humanização foi o Protes- tantismo. O Deus que é o homem, portanto o Deus humano, isto é, Cristo – é apenas o Deus do Protestantismo. O Protestantismo já não se preocupa, como o Catolicismo, com o que Deus é em si mesmo,masapenascomoqueEleéparaohomem;porisso,jánão tem como aquele nenhuma tendência especulativa ou contempla- tiva; já não é teologia - é essencialmente só cristologia, isto é, antropologiareligiosa. 3 O Protestantismo, no entanto, negava o Deus em si ou Deus como Deus – pois só o Deus em si é verdadeiramente Deus – de ummodopuramenteprático;noplanoteórico,deixava-osubsistir. Ele é; mas não é só para o homem, isto é, para o homem religioso – que Deus é um ser ultramundano, um ser que só algum dia se tornará objecto para o homem no céu. Mas o além da religião é o lado de cá da filosofia; a inexistência de objecto para a primeira constituijustamenteoobjectodasegunda. 4 A elaboração, a resolução racional ou teorética do Deus que para a religião é transcendente e inobjectivo é a filosofia especula- tiva. apreciação, umexactoconhecimentodostemposmodernos. Asconsequências destesprincípiosnãosefarãoesperar. Bruckberg,9deJulhode1843” www.lusosofia.net (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) PrincípiosdaFilosofiadoFuturo 7 5 A essência da filosofia especulativa nada mais é do que a es- sência de Deus racionalizada, realizada e actualizada. A filosofia especulativaéateologiaverdadeira,consequente,racional. 6 DeusenquantoDeus–comoserespiritualouabstracto,istoé, não humano, não sensível, acessível e objectivo só para a razão ou para a inteligência, nada mais é do que a essência da pró- pria razão; mas esta é representada pela teologia comum ou pelo teísmo mediante a imaginação como um ser autónomo, diferente, distinto da razão. É pois uma necessidade interna, sagrada, que com a razão se identifique finalmente a essência da razão distinta darazão;portanto,quesereconheça,realizeeactualizeoserdivino como a essência da razão. Nesta necessidade se funda o grande significadohistóricodafilosofiaespeculativa. A prova de que o ser divino é a essência da razão ou da inte- ligência reside em que as determinações ou propriedades de Deus – tanto quanto naturalmente estas são racionais ou espirituais – não são determinações da sensibilidade ou da imaginação, mas propriedadesdarazão. «Deus é o ser infinito, o ser sem quaisquer limitações.» Mas se Deus não tem fronteiras ou limites, também a razão não tem quaisquer fronteiras. Se, por exemplo, Deus é um ser que se ele- va acima das fronteiras da sensibilidade, também a razão igual- mente o é. Quem não pode pensar nenhuma outra existência a não ser a sensível, quem, pois, possui uma razão limitada pela sensi- bilidade, possui por isso mesmo também um Deus limitado pela sensibilidade. ArazãoquepensaDeuscomoumserilimitadopen- sa em Deus apenas a sua própria ilimitação. O que para a razão é o ser divino é também para ela o ser verdadeiramente racional – istoé,aessênciaquecorrespondeperfeitamenteàrazãoe,porisso mesmo,asatisfaz. Masaquiloemqueumsersesatisfaznadamais é do que a sua essência objectiva. Quem se compraze num poe- www.lusosofia.net (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105) 8 LudwigFeuerbach ta é ele próprio uma natureza poética; e quem acha complacência num filósofo é ele próprio uma natureza filosófica e só esta satis- fação torna objectiva a sua natureza para ele e para o outro. Mas a razão «não se detém nas coisas sensíveis, finitas; só se satisfaz no ser infinito» – por conseguinte, só neste ser é que se descortina a essênciadarazão. «Deus é o ser necessário.» Mas esta sua necessidade funda-se no facto de que ele é um ser racional e inteligente. O mundo, a matéria, não tem em si o fundamento de porque é que existe e é assim como é; é-lhe de todo indiferente ser ou não ser, ser assim oudeoutromodo.1 Pressupõe, pois, necessariamente como causa um outro ser e, claro está, um ser inteligente, autoconscíente e que age segundo razões e fins. Pois se a este outro ser se negar a inteligência surge de novo a questão pelo seu fundamento. A necessidade do Ser primeiroesupremofunda-se,portanto,nopressupostodequesóo intelectoéosersupremoeprimeiro,osernecessárioeverdadeiro. Assimcomoemgeralasdeterminaçõesmetafísicasouontoteológ- icas só têm verdade e realidade quando se reconduzem às deter- minações psicológicas ou, antes, antropológicas, assim também a necessidade do Ser divino na antiga metafísica ou ontoteologia só tem sentido e intelecto, verdade e realidade, na determinação psi- cológica ou antropológica de Deus como ser inteligente. O Ser necessário é o ser que necessariamente se deve pensar e absoluta- mente afirmar, o ser que de nenhum modo se pode negar ou elim- inar; mas apenas como um ser que a si mesmo se pensa. Por con- seguinte, no ser necessário, a razão prova e ostenta apenas a sua próprianecessidadeerealidade. «Deus é o ser incondicionado, universal – Deus não é isto e aquilo – imutável, eterno ou intemporal.» Mas a incondicionali- 1 Éevidentequeaqui,comoemtodososparágrafosqueenvolvemedizem respeito a temas históricos, eu falo e argumento não no meu sentido, mas no sentidodoobjectoinvocado;portanto,aqui,nosentidodoteísmo. www.lusosofia.net (cid:105) (cid:105) (cid:105) (cid:105)

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