FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill PPeeggaannddoo oo ttoouurroo ppeellooss cchhiiffrreess.. OOss eeffeeiittooss ddee mmeeddiiddaass ddee ccoonnttrroollee nnaa iinnddúússttrriiaa bbrraassiilleeiirraa ddee aarrmmaass ppeeqquueennaass[[**]] PPaabblloo DDrreeyyffuuss JJúúlliioo CCeessaarr PPuurrcceennaa 9 0 0 IInnttrroodduuççããoo 2 / o h n u OO Brasil enfrenta um dilema no que concerne à produção e ao comércio de j - armas pequenas e munição. Por um lado, exportações de 199 milhões de dólares l i s em 2007 o colocam como segundo exportador das Américas (EUA, em primeiro) e a r B potencialmente um dos grandes produtores de armas leve e munição (Dreyfus, - O Lessing e Purcena, 2008). Dos fabricantes brasileiros, a Forjas Taurus ou Taurus e S a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) consolidaram nichos de mercado nos C A Estados Unidos, América Latina e Europa. Ao mesmo tempo, o armamento leve L F militar produzido pela Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) –uma / empresa estatal– tem sido fornecido para as Forças Armadas de diversos países da s i América Latina (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). Por outro lado, de acordo com a i dados do Ministério da Saúde, o número de óbitos causados por armas de fogo c o (suicídios, homicídios e acidentes) vitimou, em 2003, 39.325 pessoas, felizmente, S esse número reduziu para 34.648 em 2006. Entretanto, essa (Ministério da Saúde s a i Brasileiro, 2007). Em termos absolutos esse número é mais alto do que o de outros c n países os quais também enfrentam violência relacionada a armas de fogo, como a ê i Colômbia, a Venezuela, El Salvador, a África do Sul e os Estados Unidos. (Bandeira C e Bourgois, 2006:16-17). / s o OO risco de morrer de ferimentos causados por armas de fogo no Brasil é 2,6 i a vezes maior do que em qualquer outro país, e a maioria dessas mortes (90%) é por ns E homicídio. Suicídios figuram 3,6%; 5,6% correspondem a mortes sem intenção e conhecida; e 0,8% são acidentes. No Brasil, 70% de homicídios são perpetrados s o utilizando armas de fogo (Ministério da Saúde Brasileiro, 2008b). Em 1982, as d u taxas de mortes relacionadas a armas de fogo eram de 7,2 por 100 mil habitantes, e t s em 2002 essas taxa havia aumentado para 21,8 mortes por 100 mil habitantes. Esse E e aumento foi ininterrupto e estável durante um período de 21 anos. O custo da i r é S 11 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill assistência médica em um hospital com ferimentos causados por armas de fogo ficou entre 36.129.756 e 38.926.899 dólares em 2002 (Phebo, 2005). VViolência envolvendo armas de fogo é ainda relacionada com altas taxas de crime, e é estimulado pelo tráfico de drogas o qual, por sua vez, tem suas raízes em uma situação geral de profunda desigualdade na sociedade – e áreas urbanas de tamanho médio e altamente populosas. A violência pode ser relacionada à má utilização das armas de fogo por seus legítimos portadores. A região Centro-Oeste do país está passando por um período de expansão de suas fronteiras agrícolas, as quais se aproximam de fronteiras com países produtores de drogas ilegais. Nos últimos 20 anos, nessa região, a taxa de mortalidade derivada de incidentes com armas de fogo aumentou em 57%. Na região Sudeste, onde há megalópoles (principalmente, nas capitais dos estados e as áreas que as circundam) as taxas aumentaram em 54,1% durante o mesmo período, impactadas seriamente pelos problemas do narcotráfico (Phebo, 2005). A violência proveniente do uso de armas de fogo, no Brasil, é, em grande parte, um problema urbano. As taxas de mortalidade mais altas como conseqüência de incidentes por armas de fogo estão concentradas, em média, em cidades com 100 mil habitantes, as quais passaram por um processo rápido e desorganizado de urbanização e de crescimento. (Small Arms Survey, 2007:233-236). OOs números sobre posse de armas de fogo no Brasil, explicam, então em parte, o problema da violência no país. De acordo com nossa pesquisa nacional, a única conduzida na questão, estimamos que há mais de 17 milhões de armas de fogo circulando no Brasil. Desse total, 90% delas (15.257.808) estão nas mãos de civis, e 10% (1.753.133) estão sob a posse do Estado (Forças Armadas e as polícias). Armas de fogo ilegais representam 50% (8.492.058) do montante total. Desse montante, 54% pertencem ao mercado informal (4.635,058), o que significa armas não-registradas nas mãos de supostos “cidadãos de bem”, e 46% estão nas mãos de criminosos (Dreyfus e de Sousa Nascimento, 2005, pp. 160-161). Armas pequenas produzidas no Brasil –especialmente pistolas– e armas automáticas de tipo não- militar são contrabandeadas para o Brasil, configuram a maioria das armas utilizadas em atividades criminosas. NNo estado brasileiro do Rio de Janeiro (taxa de homicídios por arma de fogo homicídio PAF– de 43,3 para cada cem mil habitantes em 2005), a polícia estadual apreendeu em situação ilegal 78 mil armas pequenas entre 1998 e 2004, isto é, uma média de 13 mil armas por ano. A Polícia Civil do estado de São Paulo (taxa de homicídios PAF de 16,3 para cada cem mil habitantes em 2005) informa, entre 2003 e 2006, a apreensão de 43.266 armas pequenas, ou uma média de 10.816 armas apreendidas por ano; e a polícia do Distrito Federal (Brasília) (taxa de homicídios PAF de 20,6 para cada cem mil habitantes em 2005) apreendeu 8.725 armas pequenas entre 2003 e 2006, numa média de 2.181 armas pequenas por ano. Nos três casos, existe um claro predomínio de armas curtas de produção brasileira entre as armas apreendidas. (Câmara dos Deputados, 2006:338-340)[[11]]. Isso vai de encontro com o que outrora foi o pensamento tradicional, em parte propagandeado pela indústria de armas pequenas, que os criminosos utilizam armas pequenas do 22 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill tipo militar estrangeiras para cometer crimes enquanto cidadãos de bem utilizam armas de fogo brasileiras registradas para sua legítima defesa. AA própria indústria brasileira de armas pequenas produz uma boa parte das armas que são responsáveis pelos índices astronômicos de violência armada do país. Como isso foi possível? Por causa de falhas no intercâmbio de informação entre agências de controle de armas pequenas e nos mecanismos de registro a indústria cresceu -como o touro selvagem, que pode ser representado pelo logo das Forjas Taurus- praticamente sem regulação dos anos 60 até fins da década de 90, quando a primeira lei federal abrangente de controle de armas foi aprovada. HHistoricamente, não houve um controle eficaz de armas pequenas no Brasil. A primeira regulação nacional no que tange a armas pequenas (um decreto do Ministro do Exército) foi elaborada em 1934 (com diretrizes regulatórias adotadas em 1936). Apesar de ter organizado e regulado a produção e o comércio exterior, o decreto não tratava diretamente de vendas domésticas ou registro de armas pequenas. Ele dava diretrizes vagas para o Ministério do Exército estabelecer arranjos concernentes ao registro com autoridades do governo dos estados. A compra e a utilização das armas de fogo por civis permaneceram desreguladas até 1980, quando o então Ministério do Exército aprovou uma regulamentação que estabelecia o número e a espécie de armas que civis com mais de 20 anos poderiam comprar e a elas estabeleceu um registro obrigatório. Todavia, armas pequenas foram registradas somente com a Polícia Civil de cada estado, sem nenhuma instituição nacional com autoridade para centralizar os dados das armas de fogos e de seus donos. Mesmo assim, isso foi um avanço em contrapartida com o momento anterior em que o registro de armas era opcional. A situação, somada a uma falta histórica de cooperação policial horizontal (dos estados entre si) e vertical (estado e governo federal), tornou o rastreio do movimento de armas pequenas importadas e produzidas impossível. OO aumento da violência elevou a questão do controle de armas ao topo da agenda de políticas públicas a qual foi, por sua vez, influenciada pela opinião pública e pelas ações de uma sociedade civil ativa e mobilizada. Durante o fim da década de 90 e no início da atual, uma série de mudanças jurídicas e de medidas políticas aumentou a regulação da indústria de armas pequenas abordando tópicos tais como controle do fluxo de informação na produção e no comércio; critérios para venda e uso de armas pequenas e munição; regulamentação para marcação; quantidades permitidas e exportação para países de risco. OO objetivo desse artigo é analisar quais são as principais características da indústria brasileira de armas pequenas assim como as principais medidas de controle adotadas nos últimos 10 anos e, então, observar como essas medidas de controle compeliram a indústria a adotar um comportamento mais responsável no que tange a exportações e, em alguns casos, redirecionar parte da sua produção para outras áreas, como maquinário industrial e equipamento de proteção e segurança. 33 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill IInnddúússttrriiaa ddee aarrmmaass ppeeqquueennaass ddoo BBrraassiill PPrroodduuççããoo OO Brasil é o maior produtor de armas pequenas da América Latina e o segundo maior das Américas, considerando volume de exportação (Em La Mira, 2008; Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). Isso coloca o país entre os maiores produtores do mundo (Small Arms Survey, 2006). Atualmente esse complexo industrial é formado por empresas privadas e estatais, entre elas: Taurus, CBC, IMBEL, Amadeo Rossi e E.R. Amantino. Em 2005, esses fabricantes produziram um volume de 158,8 milhões de dólares, os quais 69% eram destinados à exportação (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). EEmbora ressaltemos alguns valores da indústria brasileira, não é uma tarefa fácil encontrar dados primários sobre esse segmento industrial. A dificuldade de encontrar esses dados ou mesmo trabalhar com fontes confiáveis é bastante elevada, o que já foi amplamente debatido em outros trabalhos (Frank-Jones, 1992; Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008; Small Arms Survey, 2006; Dreyfus e Purcena, 2006). Algumas das razões para essa dificuldade é a alegação de confidencialidade das informações devido a questões de segurança nacional. Um exemplo dessa situação são exportações de pistolas, revólveres e cartuchos à bala do Brasil que inexistem ou são subestimadas (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008; Small Arms Survey, 2007; Dreyfus e Purcena, 2007, En La Mira, 2008). AAinda sobre a indústria brasileira de defesa, em geral, armas convencionais pesadas recebem mais atenção dos estudiosos, desconsiderando a importância da indústria de armas pequenas e principalmente o impacto da letalidade das armas de fogo em situações de violência armada urbana. Entretanto, cabe ressaltar que a carência de explicações teóricas não se restringe ao Brasil (Brauer, 2007). AApesar das limitações apontadas, existem importantes trabalhos sobre a situação da indústria brasileira de defesa (Franko-Jones, 1992; Proença Junior, 1993; Maldifassi e Abetti, 1994; Schwan-Baird, 1997). Esses trabalhos geralmente partem de uma abordagem da teoria política sobre a indústria bélica pesada, e apontam os desafios e obstáculos enfrentados por essa indústria no século passado; além de fazerem uma ampla descrição do campo. Recentemente, o periódico Strategic Evaluation (2007) teve uma iniciativa de significativa importância ao dedicar seu primeiro número para a indústria brasileira de defesa, revelando os desafios para o próximo milênio, assim como, demonstrando a relevância da indústria brasileira no cenário mundial. Para entender essa indústria é importante revelar os principais fabricantes. Sendo assim, apresentaremos brevemente cada empresa e o espaço por ela ocupado na economia brasileira. 44 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill PPrriinncciippaaiiss ffaabbrriiccaanntteess FForjas Taurus (Taurus) é uma grande produtora de revólveres. Foi fundada em Porto Alegre em 1937 como uma fabricante de ferramentas. No início dos anos 70, a maioria das ações da companhia foram vendidas para Smith & Wesson, S&W. Porém, em 1977, a empresa brasileira POLIMETAL retomou o controle acionário, assim, “re-nacionalizando” a empresa e adquirindo todo o know-how que havia sido transferido durante a gestão da S&W (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). AA Taurus continuou a se expandir, em 1980, comprando a subsidiária brasileira da Beretta. Com essa compra a Taurus incorporou mais maquinário e tecnologia, dando início a produção de pistolas licenciadas da Beretta (Model 92) e submetralhadoras 9 mm (M-12). Ambas as aquisições foram fundamentais para acumular a capacidade de produção e know-how dos quais a Taurus, hoje, desfruta (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). AA Taurus se tornou um nome internacionalmente reconhecido, particularmente nos Estados Unidos. A Forjas Taurus detêm Taurus Holding, que controla a Taurus International Manufacturing Inc. (TIMI), a subsidiária americana. Inaugurada em 1983, a TIMI ajudou a Taurus a consolidar sua posição no lucrativo mercado de armas americano. Em 1997, a Taurus comprou da Rossi as patentes, os modelos e os direitos de produção para suas armas curtas, o que a tornou a única fornecedora brasileira de pistolas e de revólveres para civis. Recentemente, a Taurus comprou ativos industriais da Rossi dedicado à produção de armas longas e temporariamente o licenciamento da marca Rossi. Segundo a Taurus, essa operação não significa compra definitiva da Rossi, já que a operação perdurará até 2020, ainda o valor da negociação ficou em BRL 12 milhões[[22]]. Ainda sobre a Forjas Taurus, a empresa tem uma parceria estratégica com a estatal chilena Fábricas y Maestranzas del Ejército (FAMAE) para produzir as submetralhadoras MT-40 .40 e a carabina .40 (CT40) no Brasil com partes do Brasil e do Chile (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). DDepois do breve histórico da empresa, em linhas esses são os números mais signifativos da Taurus, em 2006, teve um faturamento líquido de BRL 175,5 milhões e lucrou BRL 32,5 milhões de reais. (faturamento líquido de USD 80,5 milhões e lucros de USD 14,9 milhões de dólares). Em 2007, eles aumentaram ainda mais, pois a empresa teve um faturou BRL 236,4 milhões e o lucrou BRL 48,8 milhões (USD 80,5 milhões e USD 121,2 milhões, respectivamente); isso representou um crescimento de 35% nas vendas e 50% nos lucros. (CVM, 2007a). CCompanhia Brasileira de Cartuchos (CBC) é a única fabricante brasileira de munição para o mercado civil. Fundada em 1926 como Fábrica Nacional de Cartuchos e Munições Ltda., a empresa foi vendida em 1936 para a Remington Arms Company e para as Imperial Chemical Industries, o que trouxe nova tecnologia e capacidade de produção para a companhia. Com sua posição de fabricante de cartuchos consolidada, em 1960 começou a fabricar uma pequena linha de armas longas, a qual ela começou a exportar em 1966. A companhia foi re- 55 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill nacionalizada em 1980 com apoio do BNDES e da IMBEL e, em 1988, se tornou uma empresa de capital aberto (CVM, 2006b). EEm 2006 a empresa divulgou um faturamento líquido de BEL 238,8 milhões e lucros de BRL 14,6 milhões (faturamento USD 109,6 milhões e lucros de USD 6,7 milhões). Exportações foram a principal fonte dos rendimentos para a companhia e a produção de cartuchos representou 71% do faturamento. (CVM, 2006b). Em 2007, ela decidiu se retirar do mercado de capital aberto[[33]]. AA IMBEL é única empresa pública do setor, criada oficialmente em 1975, contudo, passou a operar em 1977 após a fusão de algumas fábricas militares surgidas no império e principalmente na Era Vargas. A empresa fabrica de armamentos até materiais de comunicações. A planta industrial dedicada a produzir armas de fogo está localizada em Itajubá, estado de Minas Gerais cuja construção remonta o ano de 1934 (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). Em 1985, a IMBEL estabeleceu uma parceria com a Springfield Armory (EUA) para o fornecimento de mais de 200 variações da pistola Colt .45 no mercado civil americano. Em 1998, as pistolas .45 da IMBEL foi adotado como a arma sobressalente oficial da equipe de resgate de reféns do FBI, fornecidas pela Springfield Armory. Atualmente, 65% da receita da fábrica de Itajubá é proveniente da venda de rifles e pistolas (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). AAté 2004, 30% das ações da CBC eram da IMBEL. E ela formou uma joint venture – South American Ordnance –com a “Royal Ordnance PLC.” (RO), uma subsidiária do “British Aerospace Defence Group”, e Schahin Participações, uma empresa brasileira. Além de fornecer munição de artilharia militar pesada para a Royal Ordnance, a empresa distribui os outros produtos pelo mundo, incluindo as armas pequenas, armamento leve, e munição[[44]]. As armas pequenas da IMBEL são utilizadas pelo Exército Brasileiro além ter sido exportadas para forças armadas de outros países da América do Sul (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008). EEm 2006, a companhia teve faturamento líquido de BRL 75 milhões e lucros líquidos de BRL 1,9 milhões (USD 34,5 milhões e USD 0,9 milhões, respectivamente); entretanto, em 2007, o faturamento da empresa caiu para BRL 57,9 milhões e mais uma perda de BRL 30,3 milhões (faturamento líquido de USD 29,6 milhões e lucros líquidos de USD 15,5 milhões) (IMBEL, 2008). Portanto, os rendimentos da empresa diminuíram em 23% enquanto o lucro da empresa caiu abruptamente -1,669%. AAmadeo Rossi (Rossi) em 1997, quando vendeu sua produção de armas curtas para a Taurus, embora tenha continuado a produzir espingardas e rifles, os quais configuraram 70% de suas vendas totais. Conforme mencionado anteriormente, a empresa fez uma negociação com, outrora, sua principal concorrente. No último ano que prestou informações ao mercado, 2001, já que era uma empresa de negociação na BOVESPA, a exemplo da Taurus e CBC; companhia teve um prejuízo de BRL 21 milhões em 2001[[55]]. Naquele ano, a Rossi exportou 77,3% da sua produção; 50% da sua produção foi transferida para Braztech Inc., sua distribuidora no mercado norte-americano (CVM, 2002b). 66 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill EE. R. Amantino & Cia. (Armas Boito) é o produtor da linha Boito de espingardas de caça, muito populares no estado natal da fabricante, o Rio Grande do Sul. A companhia fabrica os seguintes modelos: A-680, A-681, Era 2001, Miura I, Miura II, Pump BSA-5T-84, Reúna, e a espingarda Pistola B-300[[66]]. PPrroodduuççããoo ee vveennddaass UUma vez conhecidos os atores que constituem a indústria de armas pequena no Brasil, podemos tratar especificamente o quanto produziu e vendeu o país em termos de valores. Baseado nos dados coletados pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), usamos a Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA-Empresa), pois estão em consonância com classificações internacionais. Desse modo, pelo menos em tese, é possível comparar a indústria brasileira com estrangeiras. Isso poderia ocorrer porque nesse trabalho os dados estão baseados na versão Classificação Nacional de Atividades Econômicas –CNAE 1.0, (IBGE, 2007)[[77]]. Com isso, a classe 29.71 (armas de fogo e munições) compreende: a fabricação de armas de fogo (revólveres e pistolas, fuzis automáticos ou não, metralhadoras leves (portáteis), espingardas, carabinas e rifles para caça e esporte e semelhantes); a fabricação de munições para armas de fogo, inclusive para caça e esporte. Isto é: armas pequenas. A classe 29.72 (equipamento bélico pesado) compreende: a fabricação de equipamento bélico pesado (metralhadoras pesadas, armas e elementos de artilharia, canhões navais, aéreos, lança-bombas, foguetes, tanques e carros de combate, inclusive anfíbios e similares); a fabricação, carregamento e montagem de munições para equipamento bélico pesado (inclusive a produção de bombas, torpedos, minas, granadas, cargas de profundidade, foguete-bazuca e outros similares); a fabricação de material bélico e equipamentos militares não especificados ou não classificados. VVoltando a questão do tamanho da indústria brasileira, entre 1996 e 2005, o Brasil produziu em valores constantes BRL 3,9 bilhões de armamento, considerando apenas armas pequenas foram BRL 2,2 bilhões e de outros equipamentos militares BRL 0,7 bilhões (Gráfico 1). Entretanto, cabe ressaltar que para os anos 2002 e 2003, tanto para armas pequenas quanto para outros equipamentos militares não houve declaração dos dados, ambas estão agregadas no grupo 29.7 (armas, munições e equipamentos militares), Se compararmos o primeiro ano da série com o último, 1996 e 2005, a produção de armamento ficou estagnada. No entanto, em 2002, a indústria apresentou o maior volume de produção BRL 602 milhões em valores constantes. Ainda sobre o desempenho desse segmento industrial, a variação anual da produção foi média em 9%. MMas se considerarmos apenas a produção de armas pequenas, a indústria teve uma variação anual média negativa de - 0,5%, entre 1996 e 2005. Porém, esse resultado foi afetado provavelmente pelas ausências de dados dos anos 2002 e 2003. Cabe ressaltar que a participação média de armas pequenas foi de 78% no total produzido de armamento . E mesmo com ausência dos anos 2002 e 2003, que 77 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill representaram 25% do valor total, podemos inferir, diante da representação gráfica, que atualmente a produção de armas pequenas é mais relevante do setor de armamento segundo a definição apresentada pela CNAE. GGrrááffiiccoo 11.. BBrraassiill:: aarrmmaass ppeeqquueennaass ee oouuttrrooss eeqquuiippaammeennttooss mmiilliittaarreess.. PPrroodduuççããoo eemm mmiillhhõõeess ddee rreeaaiiss ((22000077 ccoonnssttaanntteess)),, 11999966--22000055 1.NNão há dados disponíveis para os anos de 2002 e 2003. Fonte: Elaborado a partir da base de dados: IBGE (1996-2005). Valores atualizados baseados no Índice Geral de Preços (IGP-DI) para 2007 (IPEA, 2008). NNo que diz respeito as vendas de armas pequenas e outros equipamentos militares realizadas pela indústria brasileira, percebemos que as tendências são parecidas com as encontradas na produção, mas com valores, geralmente, mais pronunciados. O ano de maior volume em vendas de armas pequenas e outros equipamentos militares é 2002, com BRL 860 milhões, um ano antes da promulgação do Estatuto do Desarmamento. Já para armas pequenas, o melhor ano é 2004 com BRL 500 milhões. Mais uma vez, os anos de 2002 e 2003 estão com dados agregados, portanto, esses podem ter superado 2004, principalmente, se levarmos em consideração as tendências das curvas apresentadas no gráfico 2. 88 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill GGrrááffiiccoo 22.. BBrraassiill:: vveennddaass ddee aarrmmaass ppeeqquueennaass ee oouuttrrooss eeqquuiippaammeennttooss mmiilliittaarreess eemm mmiillhhõõeess ddee rreeaaiiss ((22000077 ccoonnssttaannttee)),, 11999966 –– 22000055.. ¹ NNão há dados disponíveis para os anos de 2002 e 2003. Fonte: Elaborado a partir da base de dados: IBGE (1996-2005). Valores atualizados baseados no Índice Geral de Preços (IGP-DI) para 2007 (IPEA, 2008). SSendo assim, podemos ter uma idéia clara do tamanho desse mercado no Brasil, tanto termos de produção quanto em termos de vendas. Então, notamos que a indústria brasileira de armamento nos 10 anos observados ficou estagnada, com exceção de 2002. Agora, vamos observar essas vendas pelo lado dos fabricantes. NNo gráfico 3, temos as vendas de empresas produtoras de armas pequenas no Brasil, no qual somente a fabricante de armas Boito não é representada. Contudo, como se trata de uma empresa relativamente pequena, podemos afirmar que a indústria está, em grande parte, representada no gráfico 3. É cabível ressaltar ainda que são os valores das receitas líquidas que estão sendo considerados, portanto todos seus produtos e serviços serão incorporados, não somente suas vendas de armas pequenas. Embora, a Taurus informe o percentual de armas de fogo nas suas vendas, as demais empresas nem sempre têm essa informação. Sendo assim, decidimos avaliá-las pelo total vendido, até para podermos observar seu desempenho após as medidas de controle. Isso torna a avaliação dos resultados da empresa como um todo mais claros. OO melhor ano para Taurus foi 1994, quando vendeu BRL 248 milhões. Para CBC, o melhor ano foi 2006, quando vendeu BRL 258 milhões. E para Rossi, o melhor ano foi 1987, aliás, o único ano em que vendeu mais do que a Taurus: BRL 137 milhões, considerando o período entre 1983 - 2003. A 99 FFLLAACCSSOO -- BBrraassiill IMBEL, em 2006, vendeu BRL 81 milhões, em valores constantes, seu melhor ano, entre os três anos os quais temos informações, os três últimos anos. A IMBEL não tem obrigação declarar informações financeiras na CVM e nem na BOVESPA por ser uma empresa de capital fechado cujo controle pertence, atualmente, ao Ministério da Defesa. Contudo, ainda sim deve declarar essas informações em diários oficiais. Além da IMBEL e conforme já mencionamos, a Rossi e CBC deixaram de negociar suas ações na Bolsa de Valores. Isso dificulta, muito, o acesso a informações dessas três empresas. VVoltando ao gráfico 3, observamos que tanto a Taurus quanto a CBC dominam as vendas, principalmente, após 1997, quando a Rossi perde uma significativa fatia de mercado. Sobre a CBC e Taurus, devemos lembrar que CBC se dedica apenas a produzir principalmente munição e uma parte de rifles e espingardas. Enquanto que a Taurus tem diversas empresas coligadas dedicadas a produtos diversos, tais como: capacetes, ferramentas entre outros produtos (Dreyfus, Lessing e Purcena, 2008; Purcena, 2006 e Purcena, 2008). A IMBEL parece ocupar o espaço que pertenceu a Rossi, já momento de retração. AAinda sobre esse gráfico, não podemos inferir se a indústria cresceu ou diminui tendo em vista que não temos a participação de armas pequenas para todas as empresas no faturamento líquido, elas sequer são comparáveis em um mesmo ano. Ainda sim, esse gráfico é valido para perceber os movimentos de cada uma. GGrrááffiiccoo 33.. BBrraassiill:: ffaattuurraammeennttoo llííqquuiiddoo ppoorr eemmpprreessaa,, eemm mmiillhhõõeess ddee rreeaaiiss ((22000077 ccoonnssttaannttee)),, 11998833––22000077.. FFonte: Elaborado a partir das bases de dados: CVM (1983-1995a); CVM (1996-2006a); IMBEL (2008).Valores atualizados baseados no Índice Geral de Preços (IGP-DI) para 2007 (IPEA, 2008). 1100
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