PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO ROBERT H. GUNDRY Copyright © 1970 Zondervan Corporation Título do original: A Survey of the New Testament Traduzido da edição publicada pela Zondervan Publishing House - Grand Rapids, Michigan, EUA Direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Caixa Postal 21486, São Paulo, SP. 04602-970 1ª edição: 1978 Reimpressões: 1981; 1985; 1987; 1989; 1991; 1996; 1997 2ª edição: 1998 Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados etc.), a não ser em citações breves, com indicação de fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil Tradução • JOÃO MARQUES BENTES Capa • MELODY PIERATT Contracapa: Panorama do Novo Testamento é considerado pelos estudiosos um clássico e vem sendo usaddo no Brasil há mais de 20 anos como livro de referência em seminários e que oferecem cursos de introdução ao Novo testamento de alto nível. A riqueza de informações deste livro torna-o uma poderosa ferramenta de estudos neotestamentários. Por ele, o estudioso é colocado no ambiente em que se formaram os textos do Novo Testamento. Discussões francas e objetivas sobre a composição dos livros (local, autoria, data e autenticidade), sobre os primeiros destinatários e sobre o mundo político e religioso de então são vitais para uma compreensão bem centrada do texto sagrado. Destaque-se ainda o fato de que o autor inclui vasto material sobre o período intertestamentário. Mais de 100 fotos, mapas e gráficos tornam este livro ainda mais prático e valioso. CONTEÚDO Ilustrações Mapas Gráficos Prefácio Abordando o Novo Testamento PARTE I - O CENÁRIO: ANTECEDENTES POLÍTICOS, CULTURAIS E RELIGIOSOS 1 História Política Intertestamentária e do Novo Testamento 2 O Ambiente Secular do Novo Testamento 3 O Ambiente Religioso do Novo Testamento 4 O Cânon e o Texto do Novo Testamento PARTE II - O EVENTO CRUCIAL: A CARREIRA DE JESUS 5 A Vida de Jesus 6 Os Quatro Evangelhos 7 Introdução Panorâmica da Vida e do Ministério Público de Jesus 8 Estudo Harmonístico dos Evangelhos: Os Primórdios 9 O Grande Ministério Galileu 10 Ministério Posterior na Judéia e Peréia 11 O Desfecho PARTE III - CONSEQÜÊNCIAS TRIUNFAIS: DE JERUSALÉM A ROMA 12 Atos do Espírito de Cristo Mediante os Apóstolos, em Jerusalém e Cercanias 13 Atos do Espírito de Cristo por Toda Parte, por Meio de Paulo PARTE IV - A EXPLICAÇÃO E AS IMPLICAÇÕES: AS EPÍSTOLAS E O APOCALIPSE 14 As Primeiras Epístolas de Paulo 15 As Epístolas Principais de Paulo 16 As Epístolas Paulinas da Prisão 17 As Epístolas Pastorais de Paulo 18 Hebreus: Jesus, Nosso Grande Sumo Sacerdote 19 Epístolas Católicas ou Gerais 20 Apocalipse: Ele Vem Vindo 21 Em Retrospecto Índice Geral Índice das Passagens Tratadas no Estudo Harmonístico dos Evangelhos Ilustrações, Mapas, e Gráficos ILUSTRAÇÕES Alexandre o Grande, Museu Britânico Setuaginta, Matson Photo Service Antíoco Epifânio, Koninklijk Kabinet van Munten, Penningen en gesneden Stenen, Hague Modein, Matson Photo Service Jope, Matson Photo Service Ruínas Termais Hasmoneanas, Palestine Exploration Fund César Augusto, J.H. Kok Nero, Museu Britânico Cesaréia, Jack Lewis Itens da Rebelião de Bar Cochba, The Department of Antiquities, Jerusalém Via Romana, Matson Photo Service Moradias Palestinas, Three Lions Pátio Palestino, Matson Photo Service Vestuário Palestino, Matson Photo Service Estádio Romano, Levam Photo Service Teatro Romano de Amã, Levam Photo Service Delfos, Grécia, Levant Photo Service Santuário de Mitra, E.M. Blaiklock Eleusis, Grécia, Levant Photo Service O Rolo de !saías, American School of Oriental Research, Jerusalém A Sinagoga de Cafarnaum, John F. Walvoord Área do Templo, Jerusalém, Levam Photo Service Texto Hebraico, American School of Oriental Research, Jerusalém As Cavernas de Qumran, B. Van Elderen Qumran, Levam Photo Service Setuaginta, British Broadcasting Corporation Bíblia de Coverdale, British and Foreign Bible Society Fragmentos de Papiro, J. H. Kok Pella, Levam Photo Service Fragmento do Evangelho de João, John Rylands Library Belém, Levant Photo Service Nazaré, Consulate General of Israel O Rio Jordão, Levant Photo Service O Deserto da Judéia, Levam Photo Service Próximo do Poço de Jacó, Samaria, Matson Photo Service Cafarnaum. Three Lions O Tanque de Betesda, Levam Photo Service Campo de Trigo. Levam Photo Service Chifres de Hattin, Matson Photo Service Agricultor Palestino, Matson Photo Service Pescadores da Galiléia, Matson Photo Service Gerasa, Levant Photo Service Denário de Prata, Museu Britânico Estrada Jerusalém-Jericó, Levam Photo Service Moeda de Bronze da Palestina, Museu Britânico A Jericó do Novo Testamento, Levant Photo Service Jerusalém, Levam Photo Service Denário de César Augusto, Museu Britânico Lâmpadas da Palestina, Andrews University Getsêmani, Levam Photo Service O Calvário de Gordon, Matilda Alexander Igreja do Santo Sepulcro, Levant Photo Service Túmulo Palestino, Levant Photo Service A Estrada de Emaús, Levant Photo Service Os Portões Cilicianos, Levant Photo Service Monte das Oliveiras, Levam Photo Service Rua Direita, Damasco, Matson Photo Service Salamina, Levam Photo Service Antioquia da Psídia, B. Van Elderen Derbe, B. Van Elderen Filipos, Levam Photo Service Atenas, Levant Photo Service O Partenon, Atenas, Ralph W. Harris Templo de Apoio, Corinto, Levant Photo Service Éfeso, Levant Photo Service Teatro de Éfeso, Levam Photo Service Inscrição do Templo de Herodes, B. Van Elderen Aqueduto Perto de Cesaréia, Levam Photo Service Via Ápia, Levant Photo Service O Coliseu de Roma, Ralph W. Harris Arco de Tito, Levam Photo Service Cartas Escritas em Papiro, J.H. Kok Icônio, Levant Photo Service Arco de Galério, Tessalônica, Levant Photo Service Canal Perto de Corinto, Levant Photo Service Ruínas de Sinagoga Perto de Roma, Keystone Press Agency Portão de São Paulo, Roma, Levam Photo Service Colossos, Levant Photo Service Ribeiro Perto de Filipos, Levam Photo Service Ruínas de Babilónia, J. Ellwood Evans Forum de Roma, Levant Photo Service Patmos, British Broadcastin Corporation Pérgamo, Levam Photo Service Altar de Zeus, Staatliche Museen Zu Berlin Sardes, Levam Photo Service Hierápolis, Levant Photo Service Planície de Esdrelom, Matson Photo Service MAPAS Impérios Helênicos Reino Hasmoneano Império Romano Reinos Herodianos Área de Qumran Palestina ao Tempo de Jesus Viagens dos Primeiros anos de Paulo Primeira Viagem Missionária de Paulo Segunda Viagem Missionária de Paulo Terceira Viagem Missionária de Paulo Viagem de Paulo a Roma GRÁFICOS Lista dos Governadores Romanos da Judéia, 6 D.C. - 70 D.C. Revisão da História Posterop Veterotestamentária, Intertestamentária e Neotestamentária Genealogia Parcial da Família Herodiana Calendário Religioso dos Judeus Comparação dos Quatro Evangelhos Viagens Missionárias de Paulo: Sumário das Escalas e dos Eventos Principais em Sincronia com as Epístolas Paulinas Os Livros do Novo Testamento: Autores, Datas, Origens, Destinatários, Temas e Ênfases Prefácio Um compêndio que se proponha a fazer o levantamento do conteúdo do Novo Testamento deveria reunir em si os pontos mais salientes do pano de fundo, da introdução técnica e dos comentários acerca do Novo Testamento. Sem embargo, quase todas as obras que vistoriam o Novo Testamento sofrem a deficiência de parcos comentários sobre o texto bíblico. Daí resulta que estudos dessa natureza, amiúde, acabam por deixar de lado a leitura do manancial primário e mais importante - o próprio Novo Testamento. Trata-se de séria omissão, mormente porque muitos estudantes principiantes nunca leram o Novo Testamento de modo sistemático ou completo. Nesta vistoria, foi envidado o esforço para impelir o estudante a examinar o âmago do texto bíblico, mediante um contínuo diálogo com o mesmo, na forma de comentários e referências às porções escriturísticas de leitura pertinente. Por esse intermédio, visto poder acompanhar o fluxo de pensamento de seção para seção, o estudante vê-se capaz de obter o senso de progressão lógica. Outrossim, por esse meio também foi possível transferir do início para as seções finais do livro ao menos parte do material de pano de fundo a respeito da história intertestamentária, do judaísmo e de outros problemas, tudo o que parece tortuoso, difícil, para tantos estudiosos. Isso representa um método superior, visto que reduz a introdução desanimadoramente longa a um típico curso de nível colegial sobre vistoria neotestamentária, que melhor capacita o estudante a ver a relevância do material de pano de fundo como auxílio para interpretação do texto, e acima de tudo, que impede que o compêndio venha a suplantar o Novo Testamento. A bem da verdade, tal maneira de proceder forçosamente abrevia o exame da história intertestamentária e da história romana. Mas isso não faz diferença para o estudante iniciante, porquanto ao menos não obscurecemos o quadro principal por não nos demorarmos sobre os detalhes secundários a respeito das querelas da família dos Hasmoneanos, das intrigas políticas dentro da dinastia dos Herodes e de similares questões incidentais. Após o necessário material de introdução, os evangelhos são pesquisados tanto em separado quanto em harmonia, a fim de nos valermos das vantagens de ambas essas abordagens. A despeito do fato que não foram esses os primeiros livros do Novo Testamento a serem escritos, os evangelhos são considerados em primeiro lugar porque o seu assunto fornece a base para tudo quanto se lhe segue. Com o propósito de evitar a descontinuidade, o estudo do livro de Atos vem em seguida, sem interrupção. As epístolas de Paulo, Hebreus, as epístolas gerais e o Apocalipse aparecem em prosseguimento, seguindo uma aproximada ordem cronológica (até onde esta pode ser determinada), juntamente com indicações de seu entrosamento com episódios do livro de Atos. Do começo ao fim, os comentários sobre o texto bíblico (em adição às discussões de cunho introdutório) não servem meramente para sumariar ou passar em revista o que por si é auto-evidente, mas concentram a atenção sobre aquilo que não se faz prontamente claro para o leitor desabituado. Perguntas bem colocadas introduzem capítulos e seções, como artifícios didáticos que despertam a atitude de expectativa, que induzem o estudante a inquirir corretamente o material, dirigindo os seus pensamentos aos canais apropriados. Os cabeçalhos das seções e os tópicos postos à margem de parágrafos ou de grupos de parágrafos relacionados entre si, conservam o estudante bem orientado. Esboços sumariadores sistematizam o material repassado. Indagações tendentes a discussões mais profundas ajudam não só a passar em revista o material dado, mas também a utilizar o mesmo e aplicá-lo à vida contemporânea. Sugestões quanto a posteriores investigações (leitura colateral) incluem comentários e outras obras modelares, como antigas fontes informativas primárias, estudos acerca de tópicos variados e outra literatura pertinente. A perspectiva teológica e crítica deste compêndio é evangélica e ortodoxa. Em uma obra de levantamento, considerações de volume e a própria finalidade da obra eliminam a plena comprovação de pressuposições e de metodologia, além de uma mais completa crítica sobre pontos de vista contrários. Não obstante, fazemos menção freqüente a outras posições; e algumas vezes aparece alguma literatura não-ortodoxa, sempre indicada como tal, entre as sugestões sobre leituras colaterais. Os instrutores poderão guiar seus estudantes a avaliarem mais plenamente essas fontes suplementares. Na tradução portuguesa da obra temo-nos alicerçado sobre a versão de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil, da Sociedade Bíblica do Brasil, o que inevitavelmente influencia parte da terminologia teológica, embora tenhamos seguido as nuanças do pensamento do autor da presente obra em seu original inglês, sempre que isso se fez necessário para não haver distorções. Meu preito de gratidão aos professores F. F. Bruce, Clark Pinnock e Marchant King, que fizeram a leitura do manuscrito no seu todo ou em parte, oferecendo gentilmente sugestões para melhoria do mesmo, como igualmente à Sra. Christine Gouldy e à Srta. Jill Dayton, as quais contribuíram para aprimorar o estilo do original em inglês. As deficiências que restarem são de responsabilidade exclusiva do autor. Finalmente, meus alunos do Westmont College merecem o crédito pela inspiração que deram para que se coligisse e escrevesse este material. ROBERT H. GUNDRY Santa Bárbara, Califórnia. INTRODUÇÃO Abordando o Novo Testamento O Novo Testamento forma a Parte II da Bíblia. É ele uma antologia de vinte e sete livros de várias dimensões, mas tem somente um terço do volume da Parte I, o Antigo Testamento. (Antigo e Novo Testamento são designações cristãs, e não judaicas, pois os judeus só aceitam como Escritura os livros do Antigo Testamento.) Isso é compreensível, todavia, pois o Antigo Testamento cobre um período de milhares de anos de história, mas o Novo Testamento menos de um século. A fração do século I D. C., coberta pelo Novo Testamento, foi o período crucial durante o qual, em conformidade com as crenças cristãs, começaram a ter cumprimento as profecias messiânicas, foi realizado o divino plano da redenção dos homens, por intermédio do encarnado Filho de Deus, Jesus Cristo, e o novel povo de Deus, a Igreja, se formou e tudo isso estribado sobre o novo pacto, segundo o qual Deus se ofereceu para perdoar os pecados daqueles que crêem em Jesus Cristo, em virtude de Sua morte vicária. "Novo Testamento" quer dizer, de fato, "Novo Pacto", em contraste com a antiga aliança (de acordo com a qual Deus perdoava transgressões à vista de sacrifícios de animais, à guisa de antecipação provisória daquele verdadeiramente adequado sacrifício de Cristo). O vocábulo "testamento" transmite-nos a idéia de uma última vontade, e um testamento que só passa a ter efeito na eventualidade da morte do testador. Assim é que o novo pacto entrou em vigor em face da morte de Jesus (ver Hebreus 9:15-17). Escrita originalmente em grego, entre 45-95 D. C., a coleção dos livros do Novo Testamento é tradicionalmente atribuída aos apóstolos Pedro, João, Mateus e Paulo, bem como a outros antigos autores cristãos, João Marcos, Lucas, Tiago e Judas. Em nossas Bíblias modernas, os livros do Novo Testamento não estão arranjados na ordem cronológica em que foram escritos. Exemplificando, as primeiras epistolas de Paulo foram os primeiros livros do Novo Testamento a ser escritos (com a única exceção possível da epístola de Tiago), e não os evangelhos. E mesmo o arranjo das epístolas paulinas não segue a sua ordem cronológica, porquanto Gálatas (ou talvez I Tessalonicenses) foi a epístola escrita bem antes daquela dirigida aos Romanos, a qual figura em primeiro lugar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais longa das epístolas de Paulo; e entre os evangelhos, o de Marcos, não o de Mateus, parece ter sido aquele que primeiro foi escrito. A ordem em que esses livros aparecem, por conseqüência, é uma ordem lógica, derivada somente das tradições cristãs. Os evangelhos estão postos em primeiro lugar porque descrevem os eventos cruciais da carreira de Jesus. Entre os evangelhos, o de Mateus vem apropriadamente antes de todos devido à sua extensão e ao seu íntimo relacionamento com o Antigo Testamento, que o precede imediatamente. (Mateus amiudadas vezes cita o Antigo Testamento e principia com uma genealogia que retrocede ao mesmo.) Ato contínuo encontra-se a triunfal colheita da vida e do ministério de Jesus, no livro de Atos dos Apóstolos, uma envolvente narrativa do bem sucedido surgimento e expansão da Igreja na Palestina e daí por toda a Síria, Ásia Menor, Macedônia, Grécia e até lugares distantes como Roma, na Itália. (No ato mesmo de sua composição, o livro de Atos foi a segunda divisão de uma obra em dois volumes, Lucas-Atos.) Bastam-nos essas idéias quanto aos livros históricos do Novo Testamento. As epístolas e, finalmente, o livro de Apocalipse, explanam a significação teológica da história da redenção, além de extraírem dai certas implicações éticas. Entre as epístolas, as de Paulo ocupam o primeiro lugar - e entre elas, a ordem em que foram arranjadas segue primariamente a idéia da extensão decrescente, levando-se em conta a grande exceção formada pelas Epístolas Pastorais (I e II Timóteo e Tito), as quais antecedem a Filemom, a mais breve das epístolas paulinas que chegaram até nós. A mais longa das epístolas não-paulinas, aos Hebreus (cujo autor nos é desconhecido), aparece em seguida, depois da qual vêm as epístolas Católicas ou Gerais, escritas por Tiago, Pedro, Judas e João. E por fim, temos o livro que lança os olhos para o futuro retorno de Cristo, o Apocalipse, livro esse que leva o Novo Testamento a um mui apropriado clímax. Mas, por qual razão estudaríamos tão antigos documentos como esses contidos no Novo Testamento? A razão histórica disso é que, no Novo Testamento, descobrimos a explicação do fenômeno que é o cristianismo. E a razão cultural é que a influência do Novo Testamento tem permeado a civilização ocidental de tal maneira que ninguém poderia ser tido por bem educado a menos que conheça o conteúdo do Novo Testamento. E a razão teológica é que o Novo Testamento é aquela narrativa divinamente inspirada sobre a missão remidora de Jesus neste mundo, sendo ainda o padrão de crenças e de práticas da Igreja. E, finalmente, a razão devocional é que o Espírito Santo utilizase do Novo Testamento a fim de conduzir pessoas a um vivo e crescente relacionamento com Deus, através de Seu Filho, Jesus Cristo. Todas essas são razões suficientes! PARTE I - O Cenário Antecedentes Políticos, Culturais e Religiosos CAPÍTULO 1 - História Política Intertestamentária e do Novo Testamento Perguntas Normativas: - Que aconteceu no Oriente Próximo desde o fim do período do Antigo Testamento e dai até ao período intertestamentário e ao do Novo Testamento? - Qual era a situação dos judeus? - Quais desenvolvimentos culturais tiveram lugar? - Quais facções entre os judeus foram produzidas pelas pressões políticas, pelas modificações culturais e pelas questões religiosas? - Quais foram os líderes desses desenvolvimentos, e que contribuição tiveram eles para os sucessos históricos? O PERÍODO GREGO Alexandre o Grande A história do Antigo Testamento se encerrou com o cativeiro que a Assíria impôs ao reino do norte, Israel, com o subseqüente cativeiro babilônico do reino do sul, Judá, e com o regresso, à Palestina, de parte dos exilados, quando da hegemonia persa, nos séculos VI e V A.C. Os quatro séculos entre o final da história do Antigo Testamento e os primórdios da história do Novo Testamento compreendem o período intertestamentário. (ocasionalmente chamados "os quatrocentos anos de silêncio", devido ao hiato, nos registros bíblicos, e ao silenciamento da voz profética). Durante esse hiato é que Alexandre o Grande se tornou senhor do antigo Oriente Médio, ao infligir sucessivas derrotas aos persas, quando das batalhas de Granico (334 A. C.), Isso (333 A. C.) e Arbela (331 A. C.). Helenização A cultura grega, intitulada helenismo, há tempos se vinha propagando mediante o comércio e a colonização gregos, mas as conquistas de Alexandre proveram um impulso muito maior do que havia antes. O idioma grego tornou-se a língua franca, a língua comumente usada no comércio e na diplomacia. Ao aproximar-se a época do Novo Testamento, o grego era a língua comumente falada nas ruas até da própria Roma, onde o proletariado indígena falava o latim, mas onde a grande massa de escravos e de libertos falava o grego. Alexandre fundou setenta cidades, moldando-as conforme o estilo grego. Ele e os seus soldados contraíram matrimônios com mulheres orientais. E assim foram misturadas as culturas grega e oriental. Ante o falecimento de Alexandre, com a idade de trinta e três anos (323 A. C.), seus principais generais dividiram o império em quatro porções, duas das quais são importantes no pano-de-fundo do desenvolvimento histórico do Novo Testamento, a porção dos Ptolomeus e a dos Selêucidas. O império dos Ptolomeus centralizava-se no Egito, tendo Alexandria por capital. A dinastia governante naquela fatia do império veio a ser conhecida como os Ptolomeus. Cleópatra, que morreu no ano 30 A. C., foi o último membro da dinastia dos Ptolomeus. O império selêucida tinha por centro a Síria, e Antioquia era a sua capital. Alguns dentre a casa ali reinante receberam o apodo de Seleuco, mas diversos outros foram chamados Antíoco. Quando Pompeu tornou a Síria em província romana, em 64 A. C., chegou ao fim o império selêucida. Os Ptolomeus. Premida entre o Egito e a Síria, a Palestina tornou-se vitima das rivalidades entre os Ptolomeus e os Selêucidas. A princípio os Ptolomeus dominaram a Palestina por cento e vinte e dois anos (320-198 A. C.). Os judeus gozaram de boas condições gerais durante esse período. De acordo com uma antiga tradição, foi sob Ptolomeu Filadelfo (285-246 A. C.) que setenta e dois eruditos judeus começaram a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego, versão essa que se chamou Setuaginta. No começo foi feita a tradução do Pentateuco, e mais tarde foi feita a tradução das porções restantes do Antigo Testamento. A obra foi realizada no Egito, aparentemente em benefício de judeus que compreendiam o grego melhor que o hebraico; e, contrariamente à tradição, provavelmente foi efetuada por egípcios, e não por judeus palestinos. O numeral romano LXX (pois setenta é o número redondo mais próximo de setenta e dois) tornou-se o símbolo comum dessa versão do Antigo Testamento. Os Selêucidas. As tentativas dos Selêucidas para conquista da Palestina, quer por invasão quer por alianças matrimoniais, deram em fracasso, até que Antíoco III derrotou o Egito, em 198 A. C. Entre os judeus surgiram duas facções, "a casa de Onias" (pró-Egito) e "a casa de Tobias'" (pró-Síria). Antíoco IV ou Epifânio (175-163 A. C.), rei da Síria, substituiu ao sumo sacerdote judeu Onias III pelo irmão deste, Jasom, helenizante, o qual planejava transformar Jerusalém em uma cidade grega. Foi erigido um ginásio com uma pista de corridas adjacente. Ali rapazes judeus se exercitavam despidos, à moda grega, para ultraje dos judeus piedosos. As competições de corredores eram inauguradas com invocações feitas às divindades pagãs, e até sacerdotes judeus chegaram a participar de tais acontecimentos. O processo de helenização incluía ainda a freqüência aos teatros gregos, a adoção de vestes do estilo grego, a cirurgia que visava à remoção das marcas da circuncisão, e a mudança de nomes hebreus por gregos. E os judeus que se opunham à paganização de sua cultura eram chamados Hasidim, "os piedosos", o que a grosso modo equivale a puritanos. Antes de desfechar a invasão do Egito, Antioco Epifânio fez a substituição de Jasom, seu próprio escolhido para o sumo sacerdócio, por Menelau, um outro judeu helenizante, o qual oferecera a Antíoco um tributo mais elevado. É possível que Menelau nem tenha pertencido a alguma família sacerdotal. Mui naturalmente, os judeus piedosos se ressentiram da simonia, em que o sagrado ofício sumo sacerdotal foi dado a quem pagava mais. Apesar de alguns êxitos iniciais, a tentativa de Antíoco de anexar o Egito terminou falhando. A ambiciosa Roma não desejava que o império selêucida se tornasse mais forte. Fora de Alexandria, por conseguinte, um embaixador romano traçou um círculo no chão, em redor de Antíoco, e exigiu que antes de pisar fora do círculo ele prometesse abandonar o Egito com as suas tropas. Tendo aprendido a respeitar o poderio romano, quando fora refém por doze anos em Roma, tempos antes, Antíoco aquiesceu. Perseguição por Antíoco Epifânio. Entrementes, aos ouvidos de Jasom, o sumo sacerdote, chegaram rumores de que Antíoco fora morto no Egito. Retornando de imediato a Jerusalém, onde chegou vindo de seu refúgio na Transjordânia, Jasom retirou de Menelau o controle da cidade para si mesmo. O amargurado Antíoco, espicaçado pela derrota psicológica que sofrera às mãos dos romano, interpretou a atitude de Jasom como uma revolta, e enviou seus soldados para punirem os rebeldes e reintegrarem a Menelau no ofício sumo sacerdotal. Nesse processo, saquearam ao templo de Jerusalém e passaram ao fio da espada a muitos de seus habitantes. O próprio Antíoco regressou à Síria. Dois anos mais tarde (168 A.C.), enviou seu general, Apolônio, com um exército de vinte e dois mil homens para coletar tributo, tornar ilegal o judaísmo e estabelecer o paganismo à força, como um meio de consolidar o seu império e de refazer o seu tesouro. Os soldados saquearam Jerusalém, derrubaram suas casas e muralhas e incendiaram a cidade. Varões judeus foram mortos em bom número, mulheres e crianças foram escravizadas. Tornou-se ofensa capital circuncidar, observar o sábado, celebrar as festividades judaicas ou possuir cópias do Antigo Testamento. Muitos manuscritos do Antigo Testamento foram destruídos. Os sacrifícios pagãos tornaram-se compulsórios, tal como os cortejos em honra a Dionísio (ou Baco), o deus grego do vinho. Um altar consagrado a Zeus, e quiçá também uma estátua sua, foram erigidos no templo. Animais execrados pelos preceitos mosaicos foram sacrificados sobre o altar, e a prostituição "sagrada" passou a ser praticada no recinto do templo de Jerusalém.
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