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Os Espelhos na Arte Contemporânea Marta Alexandra Toscano PDF

398 Pages·2014·2.09 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES Imagem do Tempo: Os Espelhos na Arte Contemporânea Marta Alexandra Toscano DOUTORAMENTO EM BELAS-ARTES Especialidade de Ciências da Arte 2013 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES Imagem do Tempo: Os Espelhos na Arte Contemporânea Marta Alexandra Toscano DOUTORAMENTO EM BELAS-ARTES Especialidade de Ciências da Arte Tese orientada pela Professora Doutora Cristina Azevedo Tavares 2013 Do fundo remoto do corredor, espreitava-nos o espelho. Jorge Luis Borges AGRADECIMENTOS Agradeço à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que me permitiu trabalhar como bolseira neste projecto durante um determinado tempo. Estar-lhe-ei para sempre grata. Agradeço também a orientação da Professora Doutora Cristina Azevedo Tavares. Como é característico da sua natureza, soube ser crítica sem deixar de ser humana, paciente, respeitadora do meu percurso (e dos meus erros). A sabedoria antiga japonesa dizia: Caracol lento, lento, lento – sobe o Fuji. Logo imagino uma possível continuação para esse belo haiku: “Caracol/ rápido, rápido, rápido – resvala/ montanha abaixo.” Subida e queda neste caminho bipolar (que é um e o mesmo caminho, como diria um filósofo grego): foi bom trabalhar consigo, Professora! A todos os que, de alguma forma, cruzaram os seus reflexos com o meu, e tornaram todo este projecto não só mais alician te, como também mais motivador: aos artistas Ricardo Jacinto, Rui Calçada Bastos e Cecília Costa, que responderam com interesse a todas as minhas questões sobre o seu trabalho, e que me colocaram... novas questões, sobre as quais eu não tinha pensado!; ao Professor Carlos Augusto Ribeiro, que tive o prazer de escutar num pequeno curso sobre o tema do duplo realizado na Universidade Nova de Lisboa; aos bibliotecários da Gulbenkian e da Biblioteca Nacional, sempre amáveis; ao Dr. Nuno dos Serviços Académicos das Belas-Artes, que contornou toda a burocracia da «lei» com destreza exemplar; por fim, ao Carlos Suzana, ao Ricardo e ao Luís Toscano, ao Hélder e à Inês. Tenho apenas uma palavra para partilhar com todos: obrigada. V Síntese O objectivo deste trabalho é explorar o tema do espelho na arte contemporânea, e relacionar as obras analisadas com a dimensão tempo. A ideia-chave que decidimos perseguir é simples: o espelho visto como um poderoso artifício, o que em última instância trará acoplado a própria «artificialidade» do conceito identidade. Exploraremos o mito de Perseu, o espelho grego e o espelho barroco — âncoras fundamentais; tentaremos assinalar a passagem de uma época especular «dual» para uma época pós-especular, onde tudo se parece fundir. A problemática do duplo, mesmo assim, vem ao nosso encontro – e nós temos medo. Por fim, reflectimos sobre o tema do espelho na arte, onde para cada par de artistas escolhido fizemos corresponder uma determinada «ideia» de tempo. Conheceremos espelhos que evocam um perigo eminente, espelhos infinitos, espelhos glaciares, espelhos-viajantes, espelhos «controladores»... Sintetizando: são obras que têm, algures, um espelho, que fogem da auto- representação, que são impessoais, ardilosas, e que se relacionam de forma peculiar com o tempo. De certa forma, o espelho pode ser considerado como o mais «impossível» (e fascinante) dos objectos: máquina que tudo vê, mas que nunca se deixa ver. E o que é que acontece quando prevalece a inoperatividade, a falência ou a simples recusa da máquina em «ver»? A rigidez dos segundos, minutos e horas são esquecidos. Cronos deixa, apenas por breves instantes, de devorar cruelmente os filhos. Palavras-chave: espelho, tempo, artifício, arte contemporânea, olhar VII Abstract The aim of this work is to investigate the theme of the mirror in contemporary art, and to think about the way in which the examined art works can be related to the time dimension. The key-idea that we decided to follow is a very simple one: the mirror seen as a powerfull artifice, that ultimetely brings along with it the «artificiality» of the concept of identity in itself. We will explore the myth of Perseus, the greek and the baroque mirror — vital anchors; we will then try to characterize the passage from a «dual» specular epoch to a post-specular one, where everything seems to get indistinct. Still the problematic of the double runs into to us – and we are scared. Finally, we´ll think about mirrors in art, where for each pair of chosen artists we matched a particular idea of time. We will meet mirrors that recall eminent danger, infinite mirrors, glacier mirrors, travelling-mirrors, «controlling» mirrors... To summarize: the chosen works have, somewhere, a mirror, they run away from self- representation, they are inexpressive and astute, and they can be related in a fruithful manner to time. In a certain way, the mirror can be considered as the most «impossible» (and fascinating) of all objects: a machine that sees everything, but doesn´t allow to be seen. What happens when inoperativity prevails, and the machine fails or refuses to «see»? The harshness of seconds, minutes and hours are forgotten. Cronus stops, for brief instants, to cruelly devour his children. Key-Words: mirror, time, artifice, contemporary art, gaze IX ÍNDICE Agradecimentos V Síntese/Abstract VII INTRODUÇÃO: A ENTRADA NO ESPELHO 1 I PERCORRENDO O TEMPO 20 O Espelho de Perseu 20 No Espelho de Ulisses 44 O Espelho Intacto de Luís XIV 63 O Espelho e o Tempo 79 II O SONHO DE PLATÃO 91 A Dualidade Especular 91 Diálogo de Platão com a sua Sombra 105 O Pós-Especular: Espaços de Indistinção 109 III O DUPLO 112 A Prova do Espelho 114 Histórias de Duplos 120 Cenas de um Crime 130 XI O Duplo ao Espelho 135 Num Mundo de Cópias 139 O Cego de Diderot 143 O Mise-en-Abyme 146 IV O DISPOSITIVO DO ESPELHO 151 NA ARTE CONTEMPORÂNEA: Pensamentos de Intervalo Um ponto no Tempo 151 O “entre” das imagens 157 De Velázquez a Rebecca Horn – o instante 161 De Pistoletto a Ricardo Jacinto – o infinito 188 De Abramovic a Cecília Costa – a imobilidade 208 De Rui Calçada Bastos a R. Smithson – o movimento 224 De Louise Bourgeois a Hans Bellmer – a memória 243 EPÍLOGO: UM MUNDO DE REFLEXOS 267 REFLEXO Nº1 267 O Espelho de A-Z REFLEXO Nº 2 274 Para Acabar de Vez Com a Visão REFLEXO Nº 3 280 Fala o Espelho XIII ÍNDICE DE IMAGENS 281 IMAGENS 291 BILIOGRAFIA 326 CAPÍTULO I 326 O Espelho de Perseu 326 No Espelho de Ulisses 335 O Espelho Intacto de Luís XIV 340 O Espelho e o Tempo 342 CAPÍTULO II 345 CAPÍTULO III 349 CAPÍTULO IV 357 De Velázquez a Rebecca Horn - o instante 357 De Pistoletto a Ricardo Jacinto - o infinito 362 De Abramovic a Cecília Costa - a imobilidade 366 De Rui Calçada Bastos a R. Smithson - o movimento 369 De Louise Bourgeois a Hans Bellmer – a memória 376 ÍNDICE ONOMÁSTICO 382 XV INTRODUÇÃO: A ENTRADA NO ESPELHO I am silver and exact. I have no preconceptions. Whatever I see I swallow immediately Just as it is, unmisted by love or dislike. Sylvia Plath1 No que respeita a espelhos, todos deveríamos ser como Alice. É bem conhecida a história onde ela, num sonho que se abeira do pesadelo, acredita convictamente que um espelho não é só um objecto que cumpre uma determinada função — ser uma superfície polida que reflecte luz de forma eficiente —, mas uma ponte para algo mais: e portanto faz de conta que o vidro é macio como gaze e passa agilmente através dele, descobrindo, maravilhada, outro mundo, habitado por uma estranha dimensão de tempo e povoado com personagens muito singulares. Não deveremos também nós recuperar alguma desta sensatez infantil (servida numa bandeja onde impera o absurdo, a ingenuidade e o maravilhamento), e ver no espelho um objecto a ser amplamente explorado? E não nos confrontará ele, do alto da sua importância, com a mesma pergunta desdenhosa que a Lagarta dirige a Alice: — Quem és tu?2 Incapazes de suster a sua impertinência (ou de lhe dar uma resposta adequada), ignoramo-lo, e seguimos a corajosa Alice para dentro da sua superfície prateada, indo sempre, “sempre em frente sem parar: pois espelho é o espaço mais fundo que existe”3. Sem nos darmos conta, é o que já nos acontece todos os dias, quando vivemos a nossa imagem «virtual» como se fosse uma imagem «real». Magia? Não. 1 Sylvia Plath - The Mirror, p. 34. 2 L e w i s C a r o l l - A l i c e n o P a í s das Maravilhas, p. 49. 3 Clarice Lispector - Água Viva, p. 63. 1

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quanto a nós, em Hans Burgkmair and His Wife (1529), de Lucas. Furtenagel. 328 Veja-se também Ivan Gaskell -. The Image of Vanitas e o
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