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Os Celtas e o Espiritismo PDF

123 Pages·2010·2.38 MB·Portuguese
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Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita OS CELTAS E O ESPIRITISMO EUGENIO LARA Edição Digital: PENSE – Pensamento Social Espírita www.viasantos.com/pense Revisão: José Rodrigues Produção: Eugenio Lara Capa: Triskele, símbolo celta Setembro de 2010 1 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita  1. PREFÁCIO - DRUIDA OU “DE DEUS?” 3  2. PRÓLOGO 8  3. OS CELTAS 13  4. OS DRUIDAS 24  5. AS TRÍADES 35  6. O DRUIDA DE LORENA 46  7. O DRUIDA DE LYON 54  8. ALLAN KARDEC: CELTA OU NORMANDO? 68  9. DIA DOS MORTOS: DOS CELTAS AO KARDECISMO 84  10. O PROLEGÔMENOS E OS CELTAS 93  11. APONTAMENTOS FINAIS 100  BIBLIOGRAFIA 104 2 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita 1. PREFÁCIO DRUIDA OU “DE DEUS”? Dalmo Duque dos Santos (*) D e todas as perguntas que me fazem sobre espiritis- mo, a mais desafiadora é aquela que quer saber se a nossa doutrina é de Deus. Penso em todas as respostas possíveis, incluindo a primeira pergunta de O Livro dos Espíritos, mas nessas horas sempre me lembro dos drui- das: se Deus é tudo, o começo e o fim; é a natureza de todas as coisas; somos nós e tudo que existe no Universo; sim: o espiri- tismo é de Deus. Mas por que nós, os espíritas, nos interessamos pe- los druidas? Dependendo do interesse na busca do conhecimen- to, o druidismo, como todas as demais temáticas misterio- sas do tempo histórico, pode assumir diversos significados para o investigador espírita: o médico pode se interessar pelas suas práticas curativas, o jurista pelas suas normas éticas, o sociólogo pela sua rica variedade de manifesta- ções culturais no campo das crenças, dos valores e dos costumes. Da mesma forma, o investigador das artes gos- taria de compreender melhor a estética dos seus símbolos ou da também misteriosa arquitetura de pedras. Como historiador, me interessaria facilmente por qualquer uma dessas possibilidades, mas como educador 3 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita me chama particularmente atenção o caráter iniciático da escola druídica. Ser druida implicava numa série de ações e atitudes que estavam fora de cogitação para o homem celta comum. Era preciso ingressar num sistema espiritu- almente seletivo. Ser “De Deus” e cultivar os Carvalhos Sagrados ia muito além de garantir a sobrevivência do corpo e proteger-se contra os ataques dos inimigos vivos. Eles se interessavam pelos mortos que não estavam mor- tos. O druida tinha uma visão de mundo diferenciada, um olhar elitizado que só uma educação especial poderia dar conta e garantir sua continuidade. Daí a escola, um ambi- ente especial, a necessidade de apropriar-se de conheci- mentos incomuns, essenciais para preservar uma cultura que já era milenar no apogeu de sua existência social. Então, como um druida se tornava druida? Que co- nhecimentos eles dominavam e que uso eles faziam dessa ciência que, para a maioria, era oculta e secreta? Tal escola, como os demais elementos antropológi- cos desses grupos, nos revelaria não somente a concepção de mundo ou a cosmogonia dos celtas, mas principalmen- te as conexões históricas com outras culturas e que pode- riam explicar melhor as suas características e influências no tempo presente. Essa é a espinha dorsal deste curioso trabalho de pesquisa de Eugenio Lara. Ele quer saber como responder todas as perguntas que se fazem sobre esse tema, mas, sobretudo, quer explicar por que fazemos essas perguntas. 4 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita Fazendo isso, ele pretende sair do lugar comum da curio- sidade passiva e chegar ao ponto-chave da sua pesquisa. Existe alguma relação histórica entre espiritismo e celtismo? Essa é a principal questão que este ensaio levanta. Tal questão foi também uma das muitas que intrigou Al- lan Kardec nas suas reflexões sobre as raízes e múltiplas dimensões da Doutrina que ele sistematizou: o mundo dos espíritos que se abria no século 19 era o mesmo que era cultivado com grande naturalidade pelos gauleses e que era da esfera de domínio dos druidas? A técnica utilizada nas brincadeiras de mesas-girantes ou pelos médiuns para consultar os espíritos eram as mesmas utilizadas pelos sacerdotes druidas? A “roc” ou pedra falante dos gauleses era a mesma que apoiava a cesta de bico nas primeiras reuniões espíritas de Paris e em praticamente todas as grandes cidades do mundo naquela época? O druidismo é parte fundamental da história euro- péia pré-cristã, assim como o cristianismo foi no período subsequente ao domínio romano. Quando esse raciocínio é aplicado na história da França, o druidismo assume en- tão um significado mais fundamental ainda; trata-se, pois, do elemento que, de certa forma, dá identidade às mais remotas experiências sociais dos franceses. Os gauleses, povo que mais se identifica com o perfil francês, tinha no druidismo a sua base ideológica e sua principal fonte de conhecimento. Queriam conhecer as coisas desse e do ou- tro mundo. Não foi à-toa que os criadores de Asterix atri- 5 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita buíam ao seu sacerdote druida os poderes mais impres- sionantes para desafiar os invencíveis romanos. Se o espiritismo tivesse aparecido originalmente no Brasil, a mesma dúvida seria aplicada à visão de mundo da cultura animista, africana e indígena. Tanto é que, quando chega ao Brasil, o espiritismo foi imediatamente utilizado para dar nome aos fenômenos que aqui aconteci- am há séculos. Mais ainda: em muitos cultos afro- indígenas, a nomenclatura espírita foi institucionalizada, como forma de legitimar socialmente aquilo que na França era assunto da ciência e de filósofos. Quando se tornou uma ameaça ao clero, virou coisa socialmente baixa, de negros, índios e mestiços. Também na França, quando o espiritismo se estruturou como filosofia, deixando de ser brincadeira de mesa, passou então a ser visto como amea- ça ao conhecimento das religiões dogmáticas. Os inimigos logo trataram de associá-lo ao druidismo mítico do imagi- nário popular: a religião pagã que fazia sacrifícios huma- nos e disseminava a loucura coletiva. Todos os anos milhares de turistas que visitam o cemitério de Père-Lachaise, em Paris, ficam intrigados ao perceber que, das centenas de túmulos construídos de forma tradicional, um se destaca de todos os demais. É uma construção de pedras, um típico dólmen fúnebre dos celtas. É o túmulo de Allan Kardec, o mais visitado daque- le lugar e o que permanece constantemente ornamentado por flores. Alguns acham somente curioso. Outros tantos sabem que se trata de uma tradição celta. Poucos se dão conta de que o fundador do espiritismo adotou um pseu- 6 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita dônimo que justifica aquela arquitetura tão singular. E pouquíssimos sabem as verdadeiras razões daquela estra- nha edificação e também o significado da frase que foi gravada na parte superior daquele dólmen. Estes últimos são os leitores deste ensaio. Querem respostas. Mais do que isso, querem saber se estão fazendo as perguntas que deveriam ser feitas. Como os druidas, são curiosos natos. São de Deus. Boa leitura! (*) Dalmo Duque dos Santos, historiador, educador e escritor, é autor dos livros: Inteligência Espiritual, Você em Busca de Você Mesmo, História do Espiritismo e Transforme Seu Mundo Interior e Seja Feliz. 7 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita 2. PRÓLOGO A coincidência entre o que hoje nos dizem e as crenças das mais remotas eras é um fato significativo do mais elevado alcance. (Allan Kardec) A s relações existentes entre o pensamento filosófico do povo celta e a filosofia espírita é um dos temas muito pouco conhecidos e abordados pelos estudiosos do espiri- tismo. Desde Allan Kardec e Léon Denis, não há nenhuma obra que tenha se aprofundado neste assunto. No Brasil, o filósofo espírita Herculano Pires foi um dos poucos que analisou a questão, mas bem superfici- almente. Assim como Pedro Granja e Bezerra de Mene- zes. O historiador espírita Eduardo Carvalho Monteiro escreveu, em 1996, o livro Allan Kardec (O Druida Reen- carnado) sem, contudo, se aprofundar no tema. Estudio- sos do assunto como Mauro Quintella e Gláucio Grijó têm produzido artigos a respeito. No entanto, a produção cultural espírita ainda se ressente de uma maior aborda- gem sobre o tema. No prefácio explicativo do livro Léon Denis na Intimidade, de Claire Baumard, o escritor e tradu- tor Wallace Leal V. Rodrigues faz um breve estudo acerca da tradição céltica, a partir do texto de Allan Kardec, O Espiritismo Entre os Druidas, publicado na Revista Espírita (abril de 1858) e do livro póstumo O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, de Léon Denis, recheado ainda por al- gumas informações históricas. Tanto a Revista Espírita como este último livro de Denis, escrito em 1927, já verti- 8 Os Celtas e o Espiritismo u Eugenio Lara u PENSE - Pensamento Social Espírita do para o português (1995), eram na época pouco acessí- veis. Wallace escreveu o citado prefácio em 1981. O Gênio Céltico, numa primeira leitura, aparenta ser uma obra definitiva sobre o tema. Entretanto, Léon Denis dá muito mais vazão ao seu patriotismo, ao seu espírito nacionalista e poético do que a uma abordagem mais filosó- fica. Segundo ele, o resgate da alma celta seria um contra- ponto necessário ao espírito latino que permeia o caráter francês, desde que o imperador Júlio César subjugou a Gá- lia (52 a.C). “Todas as grandes e nobres facetas do caráter nacional, herdamos dos gauleses. A generosidade, a simpa- tia pelos fracos e oprimidos nos veem deles.” 1 Já Allan Kardec, em seu estudo sobre os druidas, procura estabele- cer alguns paralelismos doutrinários, tentando identificar no evolucionismo druídico, possíveis correlações com o evolucionismo espírita. Para quem considera essa questão irrelevante, é opor- tuno lembrar que o professor Hippolyte Léon Denizard Ri- vail, fundador do espiritismo, assumiu o pseudônimo Allan Kardec na autoria de suas obras espíritas, nome este supos- tamente retirado de uma de suas encarnações como sacerdo- te druida. Segundo revelações de seus guias, ele provavel- mente teria vivido entre os gauleses, povo de origem celta e natural da Gália antiga, ou na antiga Bretanha armoricana, antes de reencarnar como o reformador tcheco Jan Huss (1369-1415). Seu túmulo foi construído no formato de um dólmen, monumento erroneamente atribuído aos druidas, 1 Léon DENIS, O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, p.35. 9

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e atitudes que estavam fora de cogitação para o homem péia pré-cristã, assim como o cristianismo foi no período . dos por historiadores sérios como Jean Markale, Robert. Ambelain e Ward Rutherford, demonstram que, apesar da mente vinculada a Moisés e Jesus de Nazaré, representan-.
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