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Origens da Filosofia Burguesa da História PDF

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EDITORIAL P(ftESENÇA ORIGENS DA FILOSOFIA BURGUESA DA HISTORIA MAX HORKHEIMER ORIGENS DA FILOSOFIA BURGUESA. DA , HISTORIA li I EDITORIAL PRESENCA INTRODUÇÃO por Alfred Schmidt Enquanto toda a filosofia social apresentar como seu resultado final algumas teses •. . encontra-se ainda muito imperfeita; não precisamos tanto de meros resultados, ~as muito mais do trabalho de investigação («Studium»). Os re sultados de nada servem sem o desenvolvimento que os pro duziu - já o sabemos desde Hegel - e os resultados são ainda piores que inúteis, quando se estabelecem para sempre e se não deixam retransformar em premissas. Friedrich Engels, 1844 em Deutsch-Franzõsischen Ja hrbücher Torna-se cada vez mais evidente nos argumentos contra e a favor da actual discussão sobre aquilo que, como teoria crítica, influenciou a autoconsciencialização do movimento de protesto es Título original: tudantil, sobretudo no nosso país, que mesmo aos olhos de alguns ANFÃNGE DER BüRGERLICHEN GESCHICHTSPHILOSOPHIE © Copyright by S. Fischer Verlag GmbH, Frankfurt am Main, 1970 dos seus apoiantes, a história desta teoria se apresenta pmito pouco clara. A tendência, da consciência dominante, de rejeitar desde logo Tradução de Maria Margarida Morgado como meramente arquivável o pensamento histórico, estende-se tam Ilustração da capa de Rui Ligeiro bém aos outros. Na maior parte dos casos a sua argumentação parece Reservados todos os direitos bem mais fraca do que seria de esperar à luz das realizações objec para a língua portuguesa à tivas da Escola _de-Frankfurt. Renova-se então e sempre a discussão EDITORIAL PRESENÇA, LDA. entre ~QE!<?logQS q~ çrientação .analítica e. a0:Iternativa empirismo- Rua Augusto Gil. 35-A - 1000 LISBOA 7 -especulação, há muito considerada equívoca, sobretudo porque os hoje a teoria crítica, qual a importância dos seus problemas e dou mais jovens defensores da dialética ainda não conseguiram definir trina poderia ser formulada mais concretamente do que até aqui o foi. adequadamente a sua relação com a filosofia, nomeadament~ Jt Que uma breve introdução se limite a esboçar levemente a hegeliana. m:_oblemática ..! i~o~fico:histórica exposta nestes trabalhos e nem se De grande pertinência seria então a nóvel investigação dos atreva a discuti-la, é compreensível. Contudo, o leitor que agora primeiros escritos de Horkheimer, o verdadeiro fundador da escola, começa a estudar Horkheimer precisa ser alertado para certos pontos que conjugam, em ~~ct tradição marxista, com o retomar da dia- fundamentais. lética, a mais mordaz crítica ao idealismo heg~liano çom os - o gue a·v·- o -, Horkheimer nunca apresenta as suas .i deias sob uma forma • •. .·· .\., .►-' .. ,··- ' ¾é extramamente actual--:.. métodos das ciências do espíritô;('Uma codificada (o que é uma característica da totalidade da sua obra), coisa sabemos com certeza: que estas obras se afastam muito menos desligadas dos objectos do seu interesse, mas sempre de um modo do plano seu rival de inimizada «filosófica» da ciência do que ou crítico e Jelacionadas com o presente do material histórico. É por tros trabalhos posteriores do homem de Frankfurt, surgidos aliás isso que encara sempre a história da filosofia sob o aspecto de uma noutras circunstâncias. Se Horkheimer pretendia, no início dos anos .f ilosofia da história. Esta obra demonstra de modo paradigmático 30, realçar a necessidade de uma mais rígida investigação dos factos como deveria ser uma história da filosofia escrita segundo os prin em relação às construções vazias da filosofia social de então, durante cípios do materialismo em função dos seus métodos. Nunca aquela os anos 50 e 60 tornava-se necessário, face à superioridade dos mé disporia de um esquema de interpretação acabado e que se manteria todos empíricos na sociologia, insistir na vitória da necessidade im abstracto-idêntico (como é o caso na maior parte da literatura mar preterível de um pensamento teórico específico. Isto poderia, por xista), pois seria enriquecida a nível do conteúdo, quer dizer, modifi sua vez - como o provam as controvérsias com Adornoser assaz cada em relação ao objecto «representado». mal compreendido, como se a consciencialização crítica, que não Falemos então resumidamente do contributo do conceito de capitula perante limitações sociológicas ou do trabalho, conduzisse ~i~t,?ria de Horkheimer para o do conhecimento. Se a sua execução é encarada como um momento produzido (e produtor) do conflito a uma «sociologia de visão do mundo» empiricamente não legiti _e_ntre a natureza e a sociedade torna-se impossível desenvolver uma mada. O que não se poderia aplicar a Adorno, permanentemepte 1 «teoria do conhecimento» que erradamente, se julga no mundo real, orientado, através de uma auto-reflexão do empirismo, no sentido capaz de se situar de uma vez por todas acima da relação sujeito de assegurar de tudo o direito deste ao conhecimento «concreto». -9bjecto; porque o «ser espiritual do homem» permanece «refugiado Por tudo isto recomenda-se hoje que se deite um segundo olhar no processo de vida do corpo social, ao qual pertence e que deter aos primeiros trabalhos de Horkheimer. Principalmente por duas mina a sua actividade. A realidade não é nem uma coisa compacta, razões: Neles se exprime globalmente, com maior força do que em nem a consciência de um espelho em branco, . . . que pode ser em outras publicações posteriores da escola, o equilíbrio próprio dos baciado ou limpo por sábios.' Mas toda a realidade ·é idêntica ao empíricos em relação à teoria, consequência da crítica ao idealismo,. processo de vida da humanid~cle, no qual nem a natureza nem a que já mencionámos. A outra razão é que estas Q!?ras pode!!!__!QI .. de ... sociedade, nem mesmo as suas relações se mantém inalteráveis:»(1) · grande ajuda para situar historicamente a teoria crítica como uma interpretação específica do marxismo, produzida por circunstâncias, (1) «Afãnge der bürgerlichen Geschichtsphilosophie» ( Primórdios da únicas. À luz de um tal posicionamento, a pergunta sobre o que é Filosofia burguesa da história), p. 55. 8 9 Que o conhecimento não exprime qualquer razão imutável .das coi tura lógica dos conceitos ambiciosos, nem a pretensão de validade sas, mas que como momento do todo social de Hegel está na base justificam uma diferença radical dos dois grupos de ciências ... »(4 ) da «fúria de desaparecer» não justifica, como expõe Horkheimer, A separação da i:iatureza e da história tem de ser produzida pelo qualquer relativismo - abstracto -, mas a necessidade de um filo próprio J>rocesso histórico da vida do homem. Enquanto este per sofar: «A confiança num pensamento rigoroso e preciso e a cons manecer envolvido na mera natureza, é--lhe mais adequado adoptar ciência da dependência de conteúdo e estrutura do conhecimento um método crítico «explicativo» do que um «compreensivo» - não se excluem, antes se completam. Que a razão da sua eternidade exactamente porque nele já se dá lugar a uma praxis mutável, a nunca possa ser consciente, que um conhecimento pertence a uma um «humanismo activo»(5), que representa um mundo mais razoável. época determinada, mas que nunca é válido para todo o futuro histórico, que a reserva da dependência temporal nem sequer atinge o conhecimento que determina - este paradoxo não anula a verdade desta afirmação. Pois faz parte da essência do verdadeiro conheci mento nunca ser Bmitado,»(2) Um conhecimento do qual é consequência, para Horkheimer, não Só a crítica de cada metafísica precocemente «interpretativa», identificadora de sujeito e objectô, como também a crítica de cada tentativa - como sempre disfarçada <<materialisticamente» - de li bertar a história panteisticamente como «ser substancial e indivisí vel»(ª), em que em vez de se compreender o distanciamento dos produtores do seu produto este distanciamento se torna inexplicável - Caso falhe a crença de que os factos históricos são oriundos de um espírito trans-individual, torna-se desde logo questionável a separa ção metodológica entre as ciências da natureza e as do espírito: «A investigação empírica de fenómenos históricos (scilicet a teoria marxista) orienta-se para uma descrição o mais exacta possível e, em última instância, para o conhecimento de leis e tendências, à semelhança da investigação que se faz nas áreas de natureza trans cendental . . . Das ciências da natureza, mortas ou vivas, não há uma forma que aponte para a mera «exactidão (Richtigkeit)>> e uma outra que, ao contrário, aponte para a «verdade (Wahreit)», a física apenas para a vida prática, e a história, a antropologia e a sociologia, por seu lado, para a ideia de uma realidade mais elevada. Nem a estru- (4) «Hegel und das Problem der Metaphysik» (Hegel e o Problema da Metafisica), p. 94. (2) Ibid., p. 57. (5) «Montaigne und die Funktion der Skepsis» (Montaigne e a função (3) Ibid., p. 69. do cepticismo), tomo II, p. 139. 10 11 PREFACIO Esta obra é um conjunto de estudos, escritos no intuito de uma melhor auto-compreensão. Não ambiciona portanto conseguir novos contributos /ilosóficos para a investigação. É opinião do autor que t,ambém a reflexão que actualmente se faz sobre a história está contida num lato contexto histórico, cujas raízes mergulham mais fundo que no presente. Foi aspecto que levou o autor a inves tigar as primitivas f armas de maior relevância de alguns dos pontos de vista tradicionais presentemente aparentemente pertinentes para a compreensão da situação problemática da filosofia da história - para com eles aprender algo de objectivamente útil. Há porém grande mérito na publicação deste trabalho. Embora não se desenvolva o ponto de vista filosófico-histórico do autor na sua totalidade, expõem-se e ·discutem-se, contudo, em consequência do objectivo originalmente proposto, os problemas nos seus traços mais gerais em função do presente. Para as análises da concepção psicológica da história, desen volvida a propósito de Maquiavel, ganham assim maior significado não só as teorias modernas da história influenciadas pela psicologia, mas também as questões da antropologia filosófica. As objecções à concepçãode Maquiavel dirigem-se essencial mente ao conceito de sociedade) é dela que se fala no discurso de Hobbes sobre a Doutrina do Direito Natural As suas ideias-chave estão ainda contidas em muitas teorias jurídicas e estaduais da actua~ lidade. E também o problema da Ideologia, uma determinada na luta social, já levantado no sistema de Hobbes, está actualmente no cerne dos discursos filosóficos e sociol6gicos. A ideologia produz as aparências, enquanto que a utopia pro duz, por seu lado, o sonho de uma, existência «verdadeira» e justa. A ideologia intervem implicitamente em todos os juízas filosóficos da sociedade humana. A ideologia e a utopia anseiam por ser com preendidas como atitudes de grupos sociais provenientes da realidaile social total. Vico adaptou para tema principal da sua «Nova Ciência» a necessária dependência das esferas culturais em relação ao processo MAQUIAVEL E A CONCEPÇÃO PSICOLÓGICA DA HISTÓRIA de desenvolvimento da humanidade. E o seu mais importante con tributo é a maneira como considera ,a mitologia o espelho das relações As oases das ciências da natureza da época moderna foram políticas. Actualmente sente-se uma renovação 'do interesse filosófico lançadas do Renascimento. Compete a esta ciência estabelecer, com pela mitologia, não apenas no sentido de uma forma de consciência a ajuda de experiências sistematizadas, as regras para, consoante os ideológica, mas, também, com igual impacto, na procura da essência seus desejos e através do seu conhecimento, poder provocar ou evitar do pensamento primitivo. certos efeitos; por outras palavras, para dominar o mais amplamente Os problemas da filosofia aqui tratados não têm apenas em possível a natureza. Enquanto o comportamento intelectual do homem comum uma mesma interpretação actual; apresentam-se também medieval se orienta sobretudo no sentido de reconhecer um sentido sob a mesma forma de que aqui falamos - originados de uma e um objectivo do mundo e da vida, tendo-se assim esgotado na mesma situação: nomeadamente da sociedade burguesa que se con exegese da revelação, como nas autoridades re11g1,0S<:ts e solida ~ se liberta das correntes do sistema feudal. E relacionam-se o homem do Renascimento, em vez de procurar os objectivos no também necessariamente com as faltas, desejos, carências, e con além, investigáveis na tradição, começa a pôr questões sobre as tradições específicas dessa sociedade. Por isso aqui são caracterizadas causas neste lado de passíveis de ser comprovadas observação como questões da «filosofia da história burguesa».» sensível. Frankfurt am Main, em Janeiro de 1930. Esta nova ciência está portanto ligada a uma forte convicção de que existe uma certa uniformidade no curso da natureza. Obser Max Hbrckheimer vações do tipo de: um corpo em queda livre adquire uma certa velocidade ou a combinação de duas substâncias dá a uma v ..... ~.., •. ,... terceira, cujas características são diferentes das dos seus componentes, ou o acto de tomar um remédio afasta certos f en6111enos de into xicação, só são de utilidade para a sociedade, quando são passíveis Em relação às NOTAS: Tendo em vista o objectivo proposto neste pre fácio, as notas foram reduzidas a um mínimo indispensável, não se encon de se repetirem igualmente no futuro, quer dizer, quando a fórmula trando portanto aqui notas bibliográficas sobre as obras de filosofia da história para a força da gravidade continua a ser a mesma, quando a com dos nossos autores. Poderão ser consultadas nos diversos livros de bolso de História da doutrina do estado e da filosofia. No mesmo sentido se evitou binação das duas substâncias dá sempre o mesmo resultado e quando também, regra geral, fazer citações de edições originais, utilizando-se sobretudo aquele remédio repele também em casos posteriores a intoxicação. as traduções mais acessíveis. 14 15 Pode-se considerar de modo muito vago esta semelhança dos fenó, da uniformidade no futuro na medida em que consideramos que o menos futuros aos passados, podemos até dar grande realce às dissi futuro corresponderá ao passado; o problema é que ao fazê-lo, pres militudes individuais de cada caso particular e sublinhar a possibi supõe-se o que está a· ser posto em causa. Esta hipótese levantada lidade de influências perturbadoras e a mutabilidade das condições: não pode ser comprovada nem por uma lei natural, nem por um o valor das leis da natureza, às quais tão grande relevo foi dado na juízo de tipo matemático; porque a matemática aborda puras possi nova ciência fundada no Renascimento, depende da repetição futura bilidades, enquanto que na hipótese de uniformidade se está a afirmar de tais casos, em relação aos quais as leis se devem manter válidas; algo àcerca do mundo real. É sem dúvida do conhecimento geral quer dizer, dependente da possibilidade de aplicação das leis.(1) Na que sem este pressuposto, o conceito específico de natureza, como nova ciência do Renascimento surge a possibilidade de leis naturais foi concebido na época moderna pelas ciências da natureza mate e com ela do domínio da natureza, logicamente dependente do pres mático-mecânicas, seria impossível. A ciência da sociedade ,burguesa suposto de que os fenómenos da natureza ocorrem regularmente. está indissoluvelmente ligada, no seu aparecimento, ao desenvolvi A convicção de que existe uma uniformidade está na base de mento técnico e industrial. Esta ciência não pode ser compreendida uma especialização da Física e da Química, da introdução da mate sem se considerar a relação de domínio da sociedade sobre a natureza. mática nestas ciências, no aparecimento de uma antropologia e de Mas a sociedade não se baseia apenas no domínio da natureza uma medicina científicas. A ciência, ela própria não é comprovável em sentido restrito, nem só na descoberta de novos métodos de ~ro cientificamente, sendo simplesmente um projecto hipotético. No po c:lução, na construção de máquinas ou na obtenção de um certo nível sitivismo do século XIX fez-se um esforço para a apresentar como sanitário, mas também e sobretudo no domínio dos homens sobre os, um fenómeno da experiência, através da justificação de se ter che próprios homens.~, E à totalidade dos caminhos que conduzem a esse,. gado à conclusão por uma observação geral que tais uniformidades fim e dos meios que o permitem manter dá-se o nome de política. ocorriam e que se podiam comprovar em qualquer ponto do tempo, A grandeza de .M aquiavel reside no facto de ter reconhecido, no que um fenómeno ocorrido de uma determinada maneira constan limiar da nova· sociedade, a possibilidade de uma\.dência da política, temente e por toda a parte antes deste ponto no tempo, também equivalente nos seus princípios à física e à psicologia modernas e de continuava a ocorrer do mesmo modo depois dele, pelo que estava ter enunciado os seus traços gerais de um modo simples e rigoroso. provada indutivamente a hipótese da uniformidade.(2 Pouca impor ) Não se trata aqui de analisar quão consciente Maquiavel estava desta tância se dá porém ao facto de este tipo de raciocínio só ter força analogia, ou quais as motivações que sofreu, vindas da leitura de comprovatória, quando se pressupõe à partida a premissa a demons obras de escritores clâssicos ou investigadores seus contemporâneos: trar. A uniformidade da natureza no passado s6 justifica a premissa a sua intenção está à vista. Na sociedade real os homens são domi nados por outros homens; o conhecimento de como se chega ao poder e do que há a fazer para se o manter, consegue-se através da (1) A formulação de leis da natureza, cuja aplicação futura é proble observação e de uma investigação sistemática dos factos. Esta e mática, possui naturalmente para a nova ciênciá um certo valor. Mas este ba nenhuma outra é a única interpretação possível - à excepção das seia-se na possibilidade de se encontrarem novas leis, cuja aplicação não seja suas tentativas artísticas - das obras de Maquiavel e sobretudo da tão limitada. (2) John Stuart Mill (Sistema de Lógica dedutiva e indutiva (?), tradu sua obra principal: Drei Bücher Diskurse über die ersten zehn zido para o alemão por J. Schrel, Braunschweig 1869, 1.ª parte, página 363, Bücher des Titus Livius (Três livros de disc_ursos sobre os primeiros designa esta hipótese como um «exemplo de indução» . dez livros de Tito Lívio) e ainda da sua conhecida obra Der Fürst 16 t 17 (O príncipe) que se pode considerar como um excerto autónomo cura nela as .e ternas regras segundo as quais os homens se deixam da sua obra principal-, mas também da sua notâvel Geschichte von dominar. Florenz (História de Florença).(ª) Logicamente não se deveria dissociar a preposição de uni Em busca do seu objectivo, o cientista tem de descobrir regras, formidade dos acontecimentos desta intenção cl~ Mª<ill:ͪY~l. Se os em geral, fenómenos directamente perceptíveis. A excepção de cer grupos humanos de cada estado não reagirem no presente e no fu ·ª· tos problemas da astronomia, da geologia e de alguns outros ramos turo semelhança do passado, se as paixões dos homens, às quais do seu campo de conhecimento, o cientista encontra-se em situação se prendem essas reacções não se mantiverem as mesmas, então de poder explicar os objectos da sua observação com todo o por todas as obras de Maquiavel teriam iludido os objectivos do seu menor desejado. Pode, regra geral, fazer experiências com os fe autor, a sua própria ciência não passaria então, para ele, de um nómenos, pois os seus conceitos e teses baseiam-se em grande parte mero sonho. Esta abordagem pragmática dá também forma externa numa experiência pessoal ou pelo menos numa experiência sensível, às obras de Maquiavel. Quem folhear a sua obra principal, os Dis em princípio recorrente. A física e a química, bem como a psicologia cursos, notará que os capítulos começam geralmente com a repro e a medicina, encontram os seus objectos de observação no presente dução de um facto narrado por Lívio, a partir do qual se constrói e dispõem de uma certa margem para as experiências arbitrárias a então - geralmente com base em mais exemplos tirados da história fazer. O material da ciência de Maquiavel ocupa-se, pelo contrário, recente ou menos recente - uma tese mais generalizada. Na obra sobretudo do passado. Como alto funcionário de Florença, à época Q Príncipe põem-se em evidência diversas questões políticas de· es um dos estados mais progressistas, Maquiavel pôde evidentemente pecial relevância para a condição de um príncipe, abordadas em observar os acontecimentos políticos importantes dentro e fora de cada pequeno capítulo, regra geral, com base em exemplos. A Histó Itália; com a sua queda e enquanto se esforçava por recuperar o ria de Florença é uma obra única e exemplar: trata-se de uma co prestígio perdido, desenrolaram-se sob os seus olhos movimentos lectânea de recordações colocadas ao serviço da política futura. sociais de não pequenas consequências. As suas obras são testemunho A afirmação de que os homens são, na essência, iguais, en da grande precisão e fidelidade com que acompanhou a sua época. contra-se formulada nos Discursos do seguinte modo: «os homens Contudo são, na essência, portadoras de uma orientação histórica. estão pelo nascimento, vida e morte sempre submetidos à mesma Para o investigador político, a par dos exemplos do presente, há a lei.»(') A teoria da igualdade da natureza humana marca toda a considerar os do passado, dos quais se podem deduzir as leis gerais. obra de Maquiavel. «Pela observação de acontecimentos passados e Quando Maquiavel analisa a história de Roma à luz de Lívio, pro- recentes», diz-nos na sua obra principal(5), «reconhece-se facilmente que sempre dominaram os mesmos desejos e as mesmas determi nações nos corações de todos os estados e de todos os povos. Por tanto, quem analisar cuidadosamente o passado, pode com facilidade (8) I tre libri dé Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio (1531), prever os acontecimentos futuros em cada estado e utilizar os mes alemão: Discorsi, Politische Bebrachtungen über die alte italienische Geschichte (Discursos, Análises politicas da história italiana antiga), Berlin 1922, em baixo mos meios que os seus antepassados usaram; ou caso não os encontre, citada como Discorsi,· Il Príncipe (O Príncipe) (1532), a versão alemã foi sobre pode descobrir novos meios, com base na semelhança dos aconte- tudo divulgada na edição da Reclam: Machiavelhs Buch vom Fürsten (O Livro de Maquiavel sobre o Príncipe), Leipzig O. J., em baixo abreviado para Fürst (Príncipe),· Deli' istoiré Fiorentine (1532) citado do quarto tomo das Obras (4) Discorsi, p. 37. Completas, München 1925, como Obras IV. (IS) Ibid, p. 83. 18 19

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