III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR OLIVEIRA JUNKY: CHICLETE COM BANANA E A SÁTIRA AO ROCK BRASILEIRO DA DÉCADA DE 80 Jefferson Lima - UDESC Bolsista Capes [email protected] INTRODUÇÃO O Brasil, durante a segunda metade da década de 1980, vê descortinar uma nova onda de cultura jovem. Este grupo de jovens apresenta um conjunto de visões pessoais que estavam muito mais centradas em um discurso niilista, do que necessariamente um ideal revolucionário ou de mudanças políticas, situação tão presente na década anterior. Quadrinhos, música, televisão, o próprio cinema nacional, estavam impregnados com esse pensamento, com uma visão do jovem e para o jovem. Jovem da praia, jovem urbano paulista, uma nova casta jovem ligada as questões das grandes capitais. É, nesse emaranhado de mudanças, que acaba eclodindo uma das revistas, encabeçada pela linguagem das histórias em quadrinhos, mais instigantes sobre o pensamento jovem da década, a revista Chiclete com Banana. Com a proposta de demonstrar, através sua critica acida e deboche, uma visão sobre o cotidiano dos grupos juvenis, travando um diálogo próximo com as representações culturais, e midiáticas, que o jovem brasileiro da década de 80 acaba consumindo, sejam elas musicais, do cotidiano, entre outras. A revista Chiclete com Banana, publicada pela Circo Editorial, que teve uma existência relativamente curta (apenas 24 números,publicados, porém, em intervalos irregulares por quase uma década), mas cujo impacto foi bastante significativo na expressão dos sentimentos e modismos da juventude da década de 80 – notadamente o principal foco de grande parte das histórias que se passavam nela. A revista era composta por um time notável de quadrinistas, cujos principais eram Glauco, Laerte e Angeli, pertencentes a uma geração que se inspirava diretamente nos quadrinhos da contracultura, como os de Robert Crumb e a caótica coletânea da Zap Comix americana, apresentando, inclusive, na diagramação da revista (em papel jornal, e utilizando, basicamente, tons de preto para a construção da impressão dos quadrinhos e textos) e em seu discurso uma relação direta com a contra cultura, ou também chamada de underground. 1532 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Na contra mão, do underground, as principais vertentes do rock brasileiro, principalmente as denominadas por alguns escritores como Brock, acaba sendo atrelada ao conjunto denominado cultura de massa, tocando em rádios do Brasil inteiro, tendo além da repercursão nacional, um apelo de consumo, e consumismo, muito mais forte. Tal movimento traz um novo paradigma sobre características particulares deste período, a idéia passada pelas gravadoras de que, o Brock, foi porta-voz e disseminador do pensamento e cotidiano de uma geração inteira. A principal discussão deste trabalho foca na crítica presente em um arco de histórias presentes na revista chiclete com banana, mais especificamente as revistas 20 a 22 que trazem a personagem Oliveira Junky, apresentando uma sátira ao mercado fonográfico, o que nos demonstra que o Brock não fora realmente a voz de toda a sua geração. Essa mesma juventude, que vê traços do seu cotidiano nestas mídias (Hq e Rock), acaba abrindo um novo espaço para o entendimento de seu período, na realidade temos aqui um conjunto de documentos interessantíssimos para o pensamento histórico, a música e as histórias em quadrinhos. Nossa proposta não é discutir a música a fundo, mas sim traços da relação mercadologia do Brock dos anos 80 e a indústria fonografia. Não generalizando, claro, pois nem todas as bandas e músicos detinham um mesmo posicionamento, na realidade o que deve ser pensando aqui é a relação do mercado com seu publico consumidor, e quais artífices são usados para tornar a música em um material de venda. E traçar como a personagem Oliveira Junky acaba demonstrando o estereótipo pensado pelo quadrinista Angeli, e dessa maneira traz características sobre o kitsch de algumas vertentes do Brock. OS QUADRINHOS COMO FONTE: A REVISTA CHICLETE COM BANANA Para entendermos a possibilidade de utilizar os quadrinhos como fontes históricas, devemos necessariamente recorrer a um pouco de sua História no Brasil. A primeira revista reconhecidamente de quadrinhos, no país, foi publicada em 1939, como título de Gibi. A palavra significava "moleque", "menino", e seu conteúdo apresentava história variadas, baseadas em mistérios, aventuras, ou em simples entretenimento. Gradativamente a palavra foi adquirindo o caráter genérico de revista de quadrinhos, e foi em parte responsável também pela infantilização deste gênero literário; os quadrinhos passaram a ser entendidos como uma literatura menor, restritas a infância e a adolescência, e ainda, passiveis mesmo de censura, posto serem 1533 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR considerados, ocasionalmente, como textos desprovidos de conteúdos educacionais e pedagógicos adequados. (CIRNE, 2002, p.13). A infantilização dos quadrinhos determinou ainda suas formas de consumo em nossa sociedade: tanto o formato da revista (reduzido, a 1/2 de folha A4) como a presença maciça de heróis americanizados promoveram sua difusão no mercado literário de modo intenso, mas circunscreveram severamente as temáticas e a profundidade das historias. Mesmo as Hq's nacionais, surgidas na década de 70, tais como a Turma do Pererê (de Ziraldo) ou da Mônica (de Mauricio de Souza), seguiam o padrão das historias infantis. (AIZEN, 2002 p. 34). Algumas exceções, tal como o jornal O Pasquim, apresentavam quadrinhos politizados e críticos, mas que serviam de modo secundário na constituição dos conteúdos do mesmo; do mesmo modo, a editora EBAL lançou uma serie de adaptações de grandes obras da literatura brasileira para os quadrinhos - estas, contudo, já tinham uma temática definida a priori, e seu objetivo era a popularização da literatura clássica. Por fim, os quadrinhos eróticos de Carlos Zéfiro apelavam diretamente a pornografia, e são únicos possivelmente considerados “underground”. Esta condição demonstra, ainda que indiretamente, que a literatura dos quadrinhos já correspondia a uma demanda social: a de propiciar, para as camadas da infância e da adolescência, uma leitura desprovida de sentidos críticos ou politizados, impedindo-a de construir opiniões sobre as ideologias dominantes. Neste ponto, a critica dos conservadores aos quadrinhos - como uma leitura pouco edificante e não didática - faz um certo sentido, embora não pelos motivos corretos. Por estas razoes, o surgimento da Chiclete com Banana tornou-se um paradigma nas produções nacionais, apresentando temáticas jovens carregadas, contudo, de assuntos tidos como "adultos" - sexo, violência, culturas alternativas, critica ácida a mass media, etc. A proposta da revista centrava-se numa atitude inovadora: a de apresentar, ou mesmo revelar, bem humoradamente, questões sociais e culturais desconhecidas do grande publico, expressadas pelo mesmo "undergroud". Seguindo essa tendência mundial, os quadrinhos brasileiros para adultos se tornaram muito populares a partir dos anos oitenta, ocupando um grande espaço no mercado. Quadrinhos que costumavam ser ignorados por editores, tornaram-se populares e rentáveis. Esse novo processo pode ser atribuído a duas razões principais: primeiramente pode ser feita uma relação com o fim do período de ditadura militar que já estava no poder por cerca de 20 anos, nesse momento pôde ser observado um indicativo de um processo de democratização que contribuiu para um sentimento geral de liberdade entre os artistas, produtores e consumidores. (SILVA, 2002, p. 2). 1534 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Neste momento, portanto, a presença destes discursos nos quadrinhos revela sua importância como fonte histórica; eles acompanham a trajetória destas ebulições sociais e intelectuais diretamente em seu contexto histórico, bem como se transmitem por meio de uma linguagem que buscava dialogar com seus principais consumidores, a juventude, sequiosa de identificar-se com os grupos e as tribos narradas em suas Tiras. Temos, assim, uma série de aberturas instigantes na leitura destes quadrinhos, que sejam: a compreensão sobre o desenvolvimento e a constituição dos discursos alternativos, seus modos de expressão e linguagem e ainda, o impacto que os mesmos provocam na formação de opinião nesta época. Não devemos subestimar o papel intelectual desta revista, embora ela pudesse ser entendida como um produto de entretenimento; Chiclete com Banana se percebeu como um importante ferramenta para vincular discursos e idéias, embora se desvinculasse de qualquer tipo de politização ou partidarismo. Do mesmo modo, ao invertermos esta leitura, perceberemos que a revista nos aponta, de modo indexado, os elementos desta juventude, por meio das referencias as musicas, vestimentas, atitudes das quais compartilhavam, enfim, a taxionomia morfológica destes grupos, tratados critica e ironicamente, mas que se apresentam como segmentos atuantes da sociedade urbana. É notável pensar, portanto, que uma fonte significativa de informações sobre a juventude desta época pode ser obtida numa revista de quadrinhos - e mesmo que seja necessário avaliar, com cuidado, as possíveis distorções ou exageros provocados pelo humorismo, devemos pensar que os discursos presentes na linguagem gráfica são tão passíveis de manipulação quanto o de qualquer texto escrito tais como os vinculados em jornais ou revistas daquela década. Chiclete com Banana permitiu, no Brasil, o surgimento de uma discussão em torno das funções críticas que a linguagem dos quadrinhos pode cumprir. Hoje, a regularidade com que os quadrinhos são tratados como um recurso didático válido deve, em muito, as possibilidades abertas pela revista, cuja circulação intensa, ainda que irregular, demonstrou que sua receptividade foi bastante significativa, e que sua forma de abordar os temas sociais era bastante atraente. (ABRAHÃO, 1977, p. 137- 171). “Estima-se que foram impressos em torno de 50 mil exemplares de cada revista, com vendas regulares de 35 a 40 mil exemplares, o que pode ser considerado um sucesso literário”. (SILVA, 2002, p. 27). O uso desta linguagem gráfica para abordar assuntos sociais foi extremamente bem sucedida, e hoje o mundo dos quadrinhos observa o surgimento de várias Tiras ou volumes dedicados a temas históricos (tal como Chibata, de Olindo Gadelha e Hemeterio, publicada em 2008, acerca da revolta dos marinheiros de 1910). 1535 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Se aceitarmos a possibilidade que os quadrinhos nos ofertam como uma fonte válida de estudo, precisamos, na seqüência, compreender que a formulação dos discursos nela presentes contém também um sentido, que deve ser analisado. Nadilson dos Santos, em seu Fantasias e cotidiano nas Histórias em Quadrinhos (2002), um estudo significativo sobre a Chiclete com Banana, defende a tese de que a revista propunha uma série de expressões criticas a sociedade, manifestas justamente na construção de personagens e temáticas de cunho alternativo; O que se quer destacar é que as temáticas desenvolvidas na década de 80 remetem, sobretudo, à crítica ao cotidiano urbano das grandes cidades. Os seus autores vão se valer do humor como uma das armas mais eficazes para criticar os aspectos da realidade social que os desagradam. Seu universo de referência na elaboração de suas fantasias é a experiência do cotidiano urbano. Suas personagens representam pessoas que se encontram no dia-a-dia de um grande centro urbano. (SILVA, 2002, p. 29). Por estas razões, quando nos propusemos a delimitar o corpus textual de análise – no caso as Tiras de Oliveira – entendemos que seria interessante rastrear aquelas, justamente, que parecem indicar de modo claro estes conteúdos relacionados ao Brock. No entanto, Waldomiro Vergueiro (2003) aponta que a possível rebeldia da revista expressava, no fundo, apenas uma forma de descontentamento superficial com a ideologia sendo, na verdade, um produto de consumo literário como outro qualquer. Seus conteúdos, ditos alternativos, seriam apenas manifestações periféricas dos problemas centrais da sociedade, e que o apelo mercadológico da revista mostrava que seus editores não se preocupavam, necessariamente, com qualquer forma de subversão social. Criticando o trabalho de Nadilson Silva, ele afirma que: De uma maneira geral, mais do que qualquer outra coisa, Fantasias e cotidiano nas histórias em quadrinhos parece ser o resultado do trabalho de um estudioso apaixonado por seu objeto de pesquisa. Em momento algum do livro o autor consegue ou pretende esconder sua predileção especial pelo tipo de história em quadrinhos que está estudando. Nesse sentido, vai além - e com muitos méritos, diga-se de passagem - daqueles pesquisadores que procuram debruçar-se sobre os quadrinhos de forma neutra e buscam distanciar-se objetivamente do objeto analisado, [,,,] . No entanto, o pesquisador não parece sair totalmente incólume de sua proximidade com o objeto de pesquisa. É apenas essa proximidade que pode explicar, por exemplo, a assimilação, em seu texto acadêmico, de um discurso de caráter mais coloquial, até mesmo de termos de gosto duvidoso, utilizado pelo quadrinista Angeli na revista Chiclete com Banana. (VERGUEIRO, 2003, p. 256) Esta critica nos parece pertinente apenas em certa medida: afinal, a delimitação do objeto de estudo necessita, necessariamente, de um envolvimento, tanto quanto do 1536 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR conhecimento dos conteúdos a serem tratados – posto que a revista se apresentou como um veículo de vendagem razoável, entendemos que os editores da revista souberam captar os anseios do público ao qual se dirigiam. Na verdade, a continuidade da revista dependia, justamente, das suas possibilidades de vendagem, mas não se deve confundir as necessidade de mercado com uma conseqüente alteração de conteúdo. Compreendemos, por fim, que se estendermos estas possibilidades teóricas à leitura do gênero Hq como um todo, podemos realizar uma série de inferências históricas e sociológicas na elaboração dos discursos presentes numa Tira ou numa historia completa. A abordagem sistêmica dos quadrinhos pode nos revelar uma serie de valores culturais, fatores ideológicos subjacentes aos discursos, formação de estereótipos e modelos sociais, entre outros, que nos ampliam o leque de possibilidades de interpretação de uma determinada questão histórica em foco. Mais especificamente, neste trabalho, a análise sobre o rock brasileiro da década de 80, também intitulado Brock. O ROCK BRASILEIRO DA DÉCADA DE 1980 – BROCK A música brasileira, mais especificamente o rock, traz uma miríade de influências e informações que vão alem dos ritmos nacionais. Este ensaio visa traçar um panorama geral sobre o rock brasileiro, e principalmente, apresentar o movimento Brock, que surge no Brasil durante a década de 80. Ao analisar quais suas diferenças em relação aos outros movimentos musicais que utilizaram da linguagem musical do rock, mas em nada se assemelham a essa manifestação cultural presente no Brock. O estilo musical intitulado rock é encontrado em canções anteriores ao movimento do Brock, mas o que acabara sendo seu diferencial é seu apelo comercial e mercadológico. A primeira canção, a utilizar está estética, foi a versão em português da musica Rock around the Clock, composta por Bill Halley e His Comets, lançada em 1955 pela cantora Nora Ney, seguida por versões de interpretes da musica popular como Cauby Peixoto, Celly e 2010 Tony Campleo, entre outros. A diferença entre os primeiros interpretes de rock no Brasil, e o movimento Brock - alem da composição – vem da ausência de um movimento mercadológico, ou estético com característica do rock a caráter. Todos os interpretes pré Jovem Guarda não se atrelam a um estilo musical especifico, cantam diversos estilos diferentes, indo do samba-canção, passando por boleros e marchinhas de carnaval. Após as primeiras musicas de rock durante a década de 50, o Brasil vê surgir nos anos 60 a Jovem Guarda. Seu estouro de vendas, de proporções mercadológicas e ideológicas semelhantes ao Brock, os jovens da década de 60, embalados ao som de Roberto e Erasmo 1537 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Carlos, Wanderléa, Martinha, Wanderley Cardoso, Eduardo Araujo, entre outros, encontram na Rede Record e seu programa Jovem Guardauma nova ferramenta junto a juventude interessada no iê-iê-iê brasileiro. A Jovem Guarda, tal qual o Brock, ia de encontro à diversão dos jovens, mas não trazia a contestação ou política, não cometamos anacronismos, cada qual fora responsável em seu momento pela diversão empregada a juventude urbana de seu tempo. É necessário abrir um espaço para Os Mutantes, pois foram um caso a parte do rock nacional, tiveram representatividade internacional, mas se encontravam muito mais ligados a idéia psicodélica que permeava o fim dos anos 60. Eram extremamente ligados ao experimentalismo, em uma vertente próxima ao rock psicodélico que se faria no início dos anos 70, tendo em Rita Lee, após sua saída dos Mutantes, uma das primeiras artistas ligadas ao rock seja na estética musical e nas atitudes pessoais. É durante a década de 70 que temos os primeiros grandes nomes do rock brasileiro, alem de Rita Lee, citada acima, Raul Seixas e Secos e Molhados. Uma de suas várias características musicais, temos a junção de elementos do rock, como guitarras elétricas, baixo elétricos e etc. e sons tradicionalistas, como o fado, nos Secos e Molhados, e o Baião, com Raul Seixas. Além destes existem ainda grandes nomes surgindo num circuito underground, nomes como: Casa das Maquinas, O Terço, Made in Brazil, entre outros, trazem o rock brasileiro a novos patamares, abrindo caminho para o que será chamado de Brock. Atribui-se a década de 80 a popularização do rock brasileiro, ou Brock, alcunha criada por Arthur Dapieve. Um ponto deve ser levado em consideração para compreender a grande acessibilidade ao mercado consumidor do período, entendamos como mercado consumidor a juventude brasileira da década. A facilidade de disseminação ao grande público acabou ocorrendo por conta das inovações tecnológicas e facilidade de acesso as mesmas: a utilização do rádio, além do advento da televisão, mas a grande ferramenta para a distribuição, e audição das bandas do rock nacional foram as rádios de freqüência FM. Uma destas rádios FM foi a grande auxiliadora do Brock, a Fluminense FM: Em primeiro de março de 1982, nascia a Fluminense FM, a MALDITA, inteiramente voltada para o rock. Vale lembrar que sua finalidade foi ser totalmente diferente das FMs de hit-parade , não apenas pelo fato de tocar bandas de rock, mas também ter locução, linguagem, programação, filosofia e mentalidade que nada tinham a ver com as chamadas "rádios jovens". Além disso, também tocava blues e a MPB tinha alguma relação com o rock. (FIGUEIREDO, 2011, p.2) 1538 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Ao notar a importância da Fluminense FM outras rádios seguiram seus passos, seja em São Paulo, Rio Grande do Sul, outros tantos estados. Mais do que fabricado, o rock nacional dos anos 80 foi descoberto pelas gravadoras. Contudo, pelo menos outros duas manifestações existiram e chegaram a testar junto a gravadoras e outras mídias: a vanguarda ou nova música paulista e o punk. “A nova música ou vanguarda paulistana foi uma série de artistas e grupos que constituiram-se num circuito paralelo de MPB universitária”. (GROPPO, 1996, p.206). Indo na contramão do que muitos industriais da música acreditariam, o Brock não se utilizava de uma antiga concepção ou cartilha para se formar, vendo que a vanguarda não fora um fenômeno de vendas, nem tão pouco se aproximava ao mercado fonográfico, a idéia principal que a mesma traz a esse trabalho se mostra em um viés interessante e nos ajuda a desvendar a relação entre o mercado musical e a indústria fonográfica. Ivan Lins, Guilherme Arantes, Arrigo Barnabé entre outros, que procuravam o segundo passo da MPB, mas mantinham galgado o preconceito a nova onda do pop-rock nacional. Já os punks, apesar de filiados a uma linguagem cultural moderna e mundial, o pop- rock, pertenciam a segmentos da população que, as intenções das grandes gravadoras e da mídia, “não eram fundamentais naquele momento - as classes baixas- dado o seu poder de consumo limitado, principalmente numa economia que cada vez mais primava pelas distâncias de renda entre as classes sociais”. (GROPPO, 1996, p. 211) Punk é música de pobre, e por isso, não tem nada de intelectualismo surrealista dos Beatles e seus vôos pela música de compositores de vanguarda como Stockhausen. Punk parte de um velho argumento da classe trabalhadora inglesa de que não se pode ter educação sem dinheiro. Por isso, dispensa a parafernália eletrônica da maioria dos grupos de rock, A música é simples e as letras abordam sempre problemas sociais (KEMP, 1993, p. 31 e 32) Vejamos então como o punk se distancia da new wave não apenas no aspecto sonoro (sem adornos como sintetizadores, ou letras mais açucaradas), mas também como proposta musical e social, fortemente ligado ao cenário musical popularesco dos menores estratos da sociedade, por diversas vezes é retratado como parte do underground, principalmente no eixo Rio - São Paulo. Um dado interessante sobre o movimento Punk foi o movimento de Brasília, onde a maioria dos jovens que escutavam e conheciam o punk eram de famílias abastadas ou filhos de embaixadores. Em relação ao punk de Brasília nos interessa muito mais intensa disseminação, através de seus fanzines rústicos, ou também pelo auxilio de pequenas gravadoras e selos que propiciaram sua disseminação, “Eram moleques falando para 1539 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR moleques, pregando a ruptura que os artistas profissionais não tinha coragem de pregar”. (DAPIEVE, 1995, p.52). Para além de tudo isso o punk se solidificou como o grito marginal de garotos procurando uma identidade, neste ponto se assemelham aos mesmos garotos que surfavam na praia e escutavam o novo som do verão, a new wave. Um bom exemplo do que vem a ser a New Wave é a fala de Alexandre: Quando a MTV americana entrou no ar (em 1º de agosto de 1981 ( ... )) ela ajudou a solidificar visualmente o que viria a ser conhecido como new wave. Para os rapazes, camisas de gola dupla erguida, cabelos imponentes eternamente "molhados", ar cool, jaquetas repletas de zíperes, ternos de ombreiras e estreitas gravatas de crochê; para as moças, mangas morcego, batons pinks e pencas de colares; para todos, cortes de cabelo assimétricos, cores cítricas e xadrez, muito xadrez. Musicalmente, a new wave zombava da tecnologia processando vozes e utilizando sintetizadores até as raias do caricatural, uma quizumba difícil de rotular, entre a disco music e o calipso, entre o jive e o sambão, e ainda assim com ares de rock”(ALEXANDRE, 2002, p. 76). Aqui se encontram a maior parte dos músicos do Brock, sejam eles cantores solos como Ritchie e Lulu Santos, ou empipocados em bandas dos mais variados formatos: no rock de guitarra do Barão Vermelho ou na sonoridade mais praia e bermudão da Blitz, todos se encontravam (seja estética ou musicalmente) nesse grande emaranhado que seria a new wave brasileira. A New Wave foi o maior movimento do Brock dado seu apelo junto a juventude de classe media, seja por sua linguagem pop-rock, ou por sua estética "modernete" , trazia em si a juventude como consumidora do rock nacional. O que estiliza o início do Brock são as roupas coloridas e a facilidade de absorção do rock feito no Rio de Janeiro. O rock nacional como citado a cima se calca basicamente na assimilação do que acontece fora do Brasil e consecutivamente de sua aproximação do gosto nacional, algo como um rock internacional com a boa pitada do sotaque brasileiro, no caso do Brock e da new wave brasileira não seria diferente. Bandas como Gang 90 e as Absurdetes, Eduardo Dusek e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Lulu Santos, Ritchie, são responsáveis pela incitação a New Wave e a criação do que estaremos chamando a seguir do próprio Brock dos anos 80, sua ligação com o rock é clara e visível, sua indumentária é basicamente calcada na New Wave, mas ainda lhes falta a abertura das grandes gravadoras, o grande boom mercadológico, o real domínio da grande massa consumidora, a aquisição da classe média brasileira. É aqui que temos a entrada da primeira banda à estourar como o fenômeno jovem da década, os percussores do que viria a ser a miscelânea de gêneros do rock nacional. “Os waves faziam pop-rock elementar, às 1540 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR vezes alegre e bobinho, mas sempre ganchudo, como o próprio B-52s ou o próprio Police” (ALEXANDRE, 2002, p.75) Assim temos a estética do Brock, um agregado multicolor, com seus terninhos com ombreiras, mostram essa primeira faze do Brock, sendo seguidos logo após pela invasão carioca, com bandas como Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha e as Abóboras Selvagens, Paralamas do Sucesso, levando a formação de bandas mais coesas, com a idéia mais crível de sonoridade própria, cada um desses ainda que calcados na Wave traziam suas próprias sonoridades especificas, como o caso do Barão Vermelho que trazia influencia mais Rock’n roll do que seus companheiros do Rio de Janeiro. Enquanto o Rio se materializava como o Rock mais praieiro, despreocupado, São Paulo e Brasília já despendiam um rock menos festivo, mais semelhante ao seu status de megalópole e capital nacional. Ambas trariam uma noção maior quanto a participação de movimentos diferenciados do rock New Wave (ainda que o início do Titãs com Sonífera Ilha seja um Ska basicamente descomprometido e após a dissolução do Aborto Elétrico e sua configuração na Legião Urbana e Capital Inicial, com músicas distantes da sonoridade punk), fora em São Paulo e Brasília que o movimento Punk, e consecutivamente o movimento dos Carecas (no caso de São Paulo), adentrou ao núcleo das bandas similares a New Wave, e encontrou assim sua maneira de participar ainda que brevemente do Brock paulista: Bandas punks também foram convidadas a freqüentar o circuito do rock paulista, como os Inocentes e Ratos de Porão. Até as principais bandas do rock brasiliense mantiveram um contato estreito com o rock paulista e inclusive realizaram shows em seu circuito. (GROPPO, 1996, p. 239). Notamos como a formação do mercado do rock nos anos 80, e de suas vertentes, acabaram criando o chamado Brock, e como sua estética acabou contribuindo para o fortalecimento do mercado musical junto ao jovem consumidor. Foi através do Brock que o jovem brasileiro enxergou o rock nacional, não apenas como uma música a ser consumida, mas também como um estilo de vida e de ligações sociais. Mas nem todos os jovens se enquadravam quanto consumidores e apreciadores do rock nacional, para demonstrar a sátira relacionada ao que foi o Brock, temos na publicação da revista Chiclete com banana a personagem Oliveira Junky, que demonstra muito bem a visão de alguns jovens sobre o que seria esse Brock. 1541
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