UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL CARLOS JOKUBAUSKAS CORAL O último Avis: D. Antônio, o antonismo e a crise dinástica portuguesa (1540-1640) SÃO PAULO 2010 CARLOS JOKUBAUSKAS CORAL O último Avis: D. Antônio, o antonismo e a crise dinástica portuguesa (1540-1640) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História. Orientador: Profa. Dra. Ana Paula Torres Megiani. SÃO PAULO 2010 2 Aos meus pais, Carlos Coral & Genoefa Jokubauskas Coral 3 Agradecimentos Esta pesquisa contou com o apoio de uma bolsa de estudos, concedida pelo Instituto Camões e pela Cátedra Jaime Cortesão da FFLCH-USP, para a realização de investigações em Portugal entre dezembro 2009 e janeiro 2010. Agradeço às duas instituições pelo apoio e confiança que tornaram possível o aprimoramento desta pesquisa. Em Portugal, tive a orientação da Profa. Dra. Mafalda Soares da Cunha (Universidade de Évora) que além de me guiar pelos arquivos portugueses, gentilmente cedeu suas impressões, sugestões e, especialmente, o seu tempo que foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Esta pesquisa esteve vinculada ao Projeto Temático FAPESP: “Dimensões do Império Português”, coordenado pela Profa. Dra. Laura de Mello e Souza, que proporcionou ao longo dos anos um espaço rico em debates e reflexões para seus participantes. Ao longo dos anos, a pesquisa foi enriquecida graças às muitas observações, sugestões, comentários e críticas dos professores Profa. Dra. Irís Kantor, Prof. Dr. Luís Filipe Silvério Lima, Prof. Dr. Modesto Florenzano, Profa. Dra. Vera Lucia Amaral Ferlini e a Profa. Dra. Laura de Mello e Souza (após muitos anos, depois do início desta pesquisa, tomei conhecimento que a iniciativa de realizar um novo estudo sobre D. Antônio partiu de sua pessoa). Fora da academia, este trabalho não teria sido possível sem a ajuda da minha família e sua obstinada crença no valor da educação, assim como a de numerosos amigos, mas que aqui faço menção especial a três: Alfredo Roberto de Oliveira Jr., Rafael Vieira Valente e Luís Henrique Jorge que, do começo ao fim, estiveram ao meu lado. Por último, a minha orientadora Profa. Dra. Ana Paula Torres Megiani, pessoa pelo qual nutro profundo respeito e gratidão por ter me acompanhado ao longo de tantos anos. Como professor, aprendi a reconhecer e admirar a sua disposição em acreditar no potencial dos alunos e a sua paciência e rigor na difícil tarefa de auxiliá-los em seu amadurecimento intelectual. Foi um grande privilégio ter sido seu aluno. 4 Tu, Natureza, és minha deusa; a ti É que sirvo. Por que havia eu De respeitar a praga do costume E ficar pobre em razão só de leis, Por ser um ano ou pouco mais moço Que meu irmão? Bastardo? Inferior? As minhas proporções são tão corretas, Minha mente tão fina, boa a forma, Quanto o produto da madame honesta. Por que chamam-nos baixos e bastardos, Nós, que no prazer natural da luxúria Somos compostos com mais força e viço Do que os leitos exaustos, tediosos, Que geram tribo inteira de idiotas, Concebidos em meio de um cochilo? Pois legítimo Edgar, eu preciso Das tuas terras. O amor paterno É igual pro legítimo e o bastardo. É uma boa palavra essa: “legítimo”! Pois se esta carta prosperar, legítimo, E eu futricar bastante, Edmund, o baixo, Cobre o legítimo. Cresço e prospero. E agora, aja Deus pelos bastardos! (SHAKESPEARE, William. Rei Lear. Trad. São Paulo: Abril, 2010, p.264-265) 5 SUMÁRIO: Lista de mapas e tabelas 9 Abreviaturas 10 Resumo/ Abstract 11 Introdução 12 Um sentido para o fim 12 Quem foi D. Antônio? 15 Aspectos gerais desta dissertação 18 Capítulo I D. Antônio e o antonismo na crise dinástica portuguesa 19 1.1. O sentido do antonismo para a compreensão da União das 20 Coroas Ibéricas 1.2. O antonismo e a nova leitura sobre a União das Coroas 22 Ibéricas 1.2.1. Um ponto dentro de uma série: a leitura de Vitorino Magalhães 23 Godinho 1.2.2. O povo e suas ideologias 25 1.2.3. Paradigmas 26 1.2.4. A loucura dos populares 29 1.3. A multiplicidade de significados 31 1.3.1. D. Antônio foi um herói da pátria? 32 1.3.2. A rebelião portuguesa 40 1.3.3. A Restauração e D. Antônio 47 1.3.4. A Historiografia oitocentista 51 1.4. Superando a crise dinástica 55 Capítulo II Representar o infante D. Luís 56 2.1. O uso do nome do infante D. Luís nos discursos antonistas 57 2.2. O infante D. Luís 60 2.3. A Historiografia sobre o infante D. Luís (Séculos XVI - XIX) 64 2.4. O perfeito cortesão português 70 2.5. A corte do infante D. Luís 75 2.6. Os projetos políticos da corte do infante D. Luís 86 2.7. A tentativa de casamento com a princesa D. Maria 90 2.8. A continuidade da corte do infante D. Luís e o antonismo 94 Capítulo III A trajetória de D. Antônio, prior do Crato (1531-1578) 97 3.1. “E agora, aja Deus pelos bastardos!” 98 3.2. O papel dos ilegítimos na família real portuguêsa (1531 – 1537) 100 3.3. Sob a tutela dos Jerônimos (1537-1547) 104 3.4. O infante D. Luís busca a salvação 108 3.5. No mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1548-1551) 114 6 3.6. A ascensão da Companhia de Jesus e os novos projetos do 120 infante D. Luís 3.7. D. Antônio entre os jesuítas (1551-1555) 123 3.8. Os planos post-mortem do infante D. Luís 127 3.9. Os planos de D. Antônio 129 3.10. Parecer o que não é: A legitimação de D. Antônio (1555-1557) 133 3.11. D. Antônio contra os regentes (1557-1565) 137 3.12. Na corte espanhola (1565-1568) 144 3.13. Na corte de D. Sebastião (1568-1578) 146 3.14. D. Antônio contra os jesuítas 152 Capítulo IV O antonismo 156 4.1. Por uma nova delimitação do fenômeno antonista 157 4.2. Duração 158 4.3. Composição social 163 4.3.1. O povo 163 4.3.2. A nobreza 166 4.3.3. O clero 167 4.3.3.1. Roma e o alto clero 167 4.3.3.2. As ordens religiosas 169 4.3.3.3. O clero universitário 170 4.3.4. Escravos 172 4.3.5. Os cristãos-novos 174 4.4. Dinâmicas internas 175 4.4.1. A violência dos populares e a tensão interna do antonismo 175 4.4.2. O círculo de pensadores do antonismo 178 4.4.2.1. Damião de Góis 179 4.4.2.2. Francisco de Holanda 180 4.4.2.3. Frei José Teixeira 181 4.4.2.4. D. João de Castro 183 4.4.2.5. Frei Miguel dos Santos 184 4.4.2.6. Frei Diogo Carlos 185 4.4.2.7. Antônio de Sena 185 4.4.2.8. Luís Correa 186 4.4.2.9. Heitor Pinto 186 4.4.2.10. Frei Luís Sotomaior 187 4.4.2.11. Pedro Alpoim 189 4.4.2.12. Manuel da Fonseca Nóbrega 190 4.4.2.13. Paio Rodrigues de Vilarinho 190 4.5. O pensamento do antonismo 192 4.5.1. O sangue dos antepassados 193 4.5.2. A pátria no discurso antonista 195 4.5.3. A identidade portuguesa: a personificação de Portugal como 199 sujeito coletivo 4.5.3.1 Identidade Idem: Ser um bom e leal português 202 4.5.3.2 Identidade Ipsen: A historiografia portuguesa e o momento 204 decisório (1580) 4.5.4. Bem versus Mal 209 7 4.5.5. A doutrina da eleição popular e a exclusão feminina 212 4.5.6. Países Baixos e a hegemonia de Castela 214 4.6.7. O antonismo e a Restauração 216 Conclusão 219 Bibliografia 223 8 LISTA DE MAPAS Mapa I Senhorios dos infantes D. Fernando, D. Luís e Ordem do 84 Hospital (Crato): LISTA DE TABELAS Tabela I Dimensões de casas senhoriais (Século XVI) 76 Tabela II Domínios do Infante D. Luís por volta de 1527 77 Tabela III Domínios do priorado do Crato (Ordem de São João do 78 Hospital “Hospitalários”) Tabela IV Domínios do infante D. Fernando 82 Tabela V: Divisão de moradores da corte do Infante D. Luís 85 9 ABREVIATURAS: ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo BNL Biblioteca Nacional de Lisboa Co.Do.In Colección de Documentos Inéditos para la Historia de España Cod. Código Doc. Documento Ms. Manuscrito 10
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