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O sepulcro megalítico dos Godinhos PDF

25 Pages·2015·10.42 MB·Portuguese
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O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos e significados no âmbito do Megalitismo alentejano *Município de Redondo Rui Mataloto* Rui Boaventura**, *** **UNIARQ, Diana Nukushina** Universidade de Lisboa Pedro Valério**** ***Fundação para a José Inverno* Ciência e Tecnologia Rui Monge Soares** ****Centro de Ciências Micael Rodrigues***** e Tecnologias Nuclea- Francisca Beija***** res, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa *****Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Forjarán mi destino Las piedras del camino Nino Bravo, Un beso y una flor, 1972 Ao Sr. Victorino Inverno, para quem os Godinhos não têm segredos… Resumo Apresentam-se aqui os resultados da intervenção no sepulcro megalítico dos Godinhos (Redondo), inserindo-o nas dinâmicas funerárias e populacionais regionais dos IV e III milénios a.n.e. Foca- -se ainda a atenção sobre alguns dos achados, nomeadamente acerca dos geométricos, com- parando-os com aqueles de outros sepulcros conhecidos como Cabeço da Areia (Montemor-o- -Novo) e Rabuje 5 (Monforte). Destaca-se um provável ato fundacional na mamoa do sepulcro com três esferas pétreas. Finalmente, elabora-se acerca do significado da reutilização de finais do III milénio, onde se destaca um elemento áureo. Abstract The results of the intervention at the megalithic tomb of Godinhos (Redondo) are presented here. These are discussed within the regional human occupation, namely its funerary and settlement dynamics during the 4th and 3rd millennia BCE. Also, spacial focus is given to some findings, partic- ularly the trapezoid microliths, compared with those collected in other tombs such as Cabeço da Areia and Rabuje 5. To be noted is the very likely foundation act in the tomb mound with three rock spheres. Finally, the reuse of the tomb in the late 3rd millennium is motif for some reflections, namely about a golden element. 55 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 55 27-10-2015 10:46:32 Rui Mataloto |Rui Boaventura | Diana Nukushina | Pedro Valério | José Inverno | Rui Monge Soares | Micael Rodrigues | Francisca Beija Fig. 1 – Antas da 1. O sepulcro dos Godinhos: precedentes e Candieira, Thesouras motivos de uma intervenção (Colmeeiro 1) e das Vidigueiras (adaptado O concelho do Redondo, apesar de estar de Silva, 1878b). estreitamente ligado às origens do conheci- mento histórico sobre os sepulcros megalíticos alentejanos (comummente designados por antas), nunca foi uma área objeto de estudo aturado e/ou programa de escavações des- tas estruturas funerárias. A primeira menção, ainda que indireta, a uma anta no Redondo surge-nos no testamento de Catarina Pires Folgada, de 1408 (Moreira & Calado, 2010), que deu origem a uma insti- tuição de solidariedade, posteriormente inte- grada na Santa Casa da Misericórdia. Neste documento, refere-se a Herdade de Valdan- ta, que ainda hoje marca toponimicamente a Anta de Valdanta (Código Nacional de Sítio As referências a vestígios arqueológicos publi- (CNS) – 1941), ali existente. cadas na Chronica dos Eremitas da Serra de Nos finais do século XVI, mais exatamente em Ossa (Frei Henrique de Santo António, 1745), 1571, Frei Martinho, em carta redigida aquan- obra de teor claramente apologético, já de do da presença de D. Sebastião no Convento meados do séc. XVIII, baseiam-se unicamente de São Paulo, na Serra d’Ossa, refere a exis- na suposta carta de Frei Martinho, à qual se tência de duas antas e dos povoados onde Vi- acrescenta apenas a alusão a mais uma anta, riato, na sua opinião, se teria refugiado. nas proximidades do Convento. Gabriel Pereira, ilustre investigador eborense, Viriato esperou ao exército Romano, e dahi des- na sequência das suas deambulações arqueo- ceo a dar-lhe batalha: como se manifesta tam- lógicas nos arredores de Évora, acabou por bém das muitas Antas, que estavão ainda em identificar e dar a conhecer outros monumentos nossos tempos ao redor, e fraldas desta serra, arqueológicos no concelho do Redondo (Pereira, cujos sitios conservão os nomes das ditas Antas. 1879). Primeiramente, em 1877, deu conta Dentro da cerca do nosso Convento da Serra es- no número 47 da revista “Universo Illustrado” teve huma, que eu ainda alcancei, tão grande, da inusitada Anta da Candieira (CNS-609; que o Reitor, que então era do dito Convento, Pereira, 1877), com um orifício no esteio de mandou contra o meu voto derrubar para se cabeceira (Fig. 1). A esta juntou no ano seguinte aproveitar da muita pedra, que tinha, ficando ahi as Antas da Quinta da Vidigueira (CNS-749) de prezente a cova, donde se tirarão as pedras; e da Herdade das Thesouras/Tesouras (CNS- e juntamente sinal das cinzas, e carvoens de fogo, 747), cuja informação e desenhos, produzidos com que se fazião os sacrificios; e da outra, que por si, foram divulgados por J. Possidónio da estava fora da cerca persevera huma porta da Silva no Boletim da Associação dos Arquitec- mesma cerca que se chama a porta da Anta. E tos e Arqueólogos Portugueses (Silva, 1878a). estas Antas he certo, que erão as aras, ou altares, Porém, dada a importância então atribuída ao em que os vencedores passada a batalha offere- caso da Candieira, Silva enviou uma pequena cião sacrificio a seus Deoses em gratificação da notícia com aquelas imagens para o “Congrès vitória alcançada ou antes, para os terem propi- Internacional des Sciences Anthropologiques” de cios na guerra. (Frei Martinho de São Paulo apud 1878, em França, cuja apresentação foi lida e Henrique de Santo António, 1745, p. 82). comentada por Émile Cartailhac (Silva, 1878b). Ainda em 1886, quando E. Cartailhac publicou Segundo alguns autores (Corrêa, 1947, p. 119), Les Ages Préhistoriques de l’Espagne et Portugal, esta será uma das mais antigas descrições de este autor manteve algum destaque na Anta da monumentos megalíticos que se conhece em ter- Candieira, que entretanto visitara em 1880, ritório português. provavelmente pelo interesse despertado pelas Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 56 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 56 27-10-2015 10:46:33 O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos e significados no âmbito do Megalitismo alentejano nótulas de G. Pereira e J. P. da Silva. Porém, intensa recolha de informações acerca de sítios nesse trabalho, recusou a hipótese do afamado e de espólios arqueológicos a nível nacional, e esteio de cabeceira com orifício ser contempo- em áreas próximas do concelho do Redondo, râneo da construção do sepulcro, remetendo a como no Santuário de Endovélico, onde inclusi- sua autoria para algum eremita que teria uti- vamente escavou, este autor desenvolveu uma lizado a estrutura como cabana (Cartailhac, ação diminuta neste concelho. A sua passa- 1886, pp. 171–172), o que nos parece, ainda gem pelo concelho limitou-se, aparentemente, hoje, plausível. à observação das Antas da Candieira e da No final do século passado, a Anta da Can- Silveira Grande (CNS-1908), a quando da dieira serviu como argumento pró e contra, com sua visita ao Monte da Ribeira, onde registou diversos matizes, na discussão sobre a funcio- alguns vestígios romanos relacionados (Vascon- nalidade dos sepulcros megalíticos. Assim, se celos, 1916, p.192), por certo, com a villa do para Cartailhac o edifício da Candieira e o Azinhalinho. seu orifício eram dois episódios separados, cor- Em meados dos anos 1940, Georg e Vera Leis- respondendo a funções sepulcral e de habita- ner visitaram as antas então já conhecidas, ção, para outros autores o referido orifício era Vidigueira, Thesouras e Candieira, tendo pro- apontado como prova cabal da função des- cedido ao desenho das suas plantas, que viriam tas estruturas como simples “choças” de pas- a publicar em 1949, pela primeira vez, na tores. Este último ponto de vista era advogado revista A Cidade de Évora (Leisner, 1949). No pelo Padre Espanca, erudito e estudioso regio- caso da Anta das Thesouras, redesignaram-na nal, interessado em questões da antiguidade e como “Colmieiro 1 / Anta 1 do Colmieiro11” conhecedor daquela anta, mas que refutava (Leisner, 1949, p. 43) ou “Colmieira 1 / Anta 1 totalmente a existência da Pré-História humana da Herdade da Colmieira 1” ( Leisner & Leis- (Espanca, 1894). ner, 1959), por se localizar dentro daquela Também José Leite de Vasconcelos opinou acer- herdade. Mas também, seguindo E. Cartai- ca da questão perfurante, ainda que de forma lhac (1886, p. 173), que a designara por “Col- mais moderada. Apesar de ser claramente a meira”. A Anta de Tesouras que os alemães 1 Este texto foi escrito favor da função funerária das estruturas me- então referem, não corresponde à de Thesou- em português de Portugal pré-Acordo galíticas, este autor, na sua obra Religiões da ras, mas sim àquela designada posteriormente Ortográfico de 1992. Lusitânia, ao invés de E. Cartailhac e em favor por Dessouras (sem CNS; Calado & Mataloto, Porém, foi posterior- de G. Pereira, defendeu a grande antiguida- 2001, n.º 439-D.39), junto ao Monte homónimo. mente alterado por imposição editorial, de do orifício do esteio de cabeceira da Anta Na sequência da sua estadia, o casal alemão situação que somos da Candieira, reforçando a argumentação com acabou por reconhecer cerca de 13 novos se- obrigados a aceitar, paralelos extrapeninsulares, bem como com pulcros megalíticos no concelho do Redondo, ainda que discor- dando, a bem da a insuficiência à data do inventário de antas quase todos presentes um pouco por toda a divulgação científica (Vasconcelos, 1897, pp. 318–323). sua metade norte. Durante esta visita prolon- e do conhecimento. Perante o exposto, cremos que se compreende gada ao concelho, talvez cerca de um mês, o Seguir-se-á neste tra- balho a designação a inclusão da Anta da Candieira na lista de casal terá ficado alojado no Monte da Quinta que vem sendo usada “Monumentos Prehistoricos” proposto no “Rela- da Vidigueira, tendo a sua presença marcado na revisão global dos tório e mappas de edificios que devem ser clas- a memória de alguns, hoje ainda residentes na sepulcros megalíti- cos do sul do país, sificados como monumentos nacionaes, apre- aldeia do Freixo, caso do senhor Victorino In- efetuada no âmbito sentados ao governo pela Real Associação dos verno que, com grande exatidão, nos descreve do projeto MEGA- Architectos e Archeologos Portuguezes, em con- a presença “exótica” de um casal alto, vestido GEO. Esta proposta procura conduzir a formidade da portaria do ministerio das obras de roupas claras, que percorria o campo de uma uniformização publicas de 24 de outubro de 1880” (Barbosa, bicicleta, sempre acompanhados por um estojo das designações dos 1881), realçada como “notavel pelo furo que e um “caderninho onde tomavam muitas notas”. sepulcros, ainda que derive, em muitas si- tem a pedra da camara” (AAP, 1881, p. 139). Após a visita do casal Leisner, os estudos do tuações, na alteração A maioria dos monumentos listados, nomea- Megalitismo do Redondo desaparecem por da designação inicial. damente as três antas do Redondo, encontra- completo, vindo a ser retomada a identifica- Por norma, sempre que existe mais que -se, 29 anos depois, classificada como Monu- ção de sepulcros megalíticos apenas muito um sepulcro associado mento Nacional pelo Decreto de 16 de junho mais tarde, nos finais da década de 1980, a um topónimo, de 1910. na sequência de diversas prospeções levadas segue-se um número de ordem de 1 a n. Apesar de J. L. Vasconcelos ter realizado uma a efeito pelo Grupo de Defesa do Patrimó- 57 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 57 27-10-2015 10:46:33 Rui Mataloto |Rui Boaventura | Diana Nukushina | Pedro Valério | José Inverno | Rui Monge Soares | Micael Rodrigues | Francisca Beija nio GEO, posteriormente integradas e publica- das na Carta Arqueológica do Redondo, cujos trabalhos permitiram a identificação de um novo conjunto de sepulcros (Calado & Mata- loto, 2001). Os trabalhos de prospeção conti- nuados após este projeto permitiram ampliar ainda mais o universo de sepulcros conhecido, atingindo atualmente mais de meia centena de monumentos. Destes escavaram-se parcialmente, já neste século, apenas dois, o sepulcro do Caladinho (CNS-3132), parcialmente publicado (Mata- loto & Rocha, 2007) e a Anta da Vidigueira (Mataloto & Boaventura, 2010). Entretanto deu-se início ao estudo da Anta da Quinta do Freixo 4 / Anta 4 da Quinta do Freixo (CNS- seria facilmente integrável em futuros percur- Fig. 2 – Vista do 19030) e efetuado sondagens na anta da sos pedestres, que se pretendia implementar no sepulcro dos Godi- nhos depois da lim- Candieira. âmbito do EcoMuseu de Redondo. peza inicial. O pouco que se conhecia do Megalitismo do A Anta dos Godinhos foi identificada em Redondo, e da margem sul da Serra d’Ossa, 1996 e dada a conhecer no âmbito da Car- resumia-se largamente à observação das ar- ta Arqueológica de Redondo, onde recebeu o quiteturas e putativas sequências cronológicas nome de código 439-D.23 (Calado & Matalo- associáveis. Neste sentido, a Anta dos Godi- to, 2001, p. 39), não dispondo ainda de CNS. nhos (Fig. 2) desde logo despertou o nosso Este sepulcro localiza-se na CMP 439 (Fig. 3), interesse pela sua arquitetura simples e de re- com as seguintes coordenadas geográficas duzidas dimensões, aparentemente associável WGS 84: 38°42’9.69”N/7°36’54.36”W. ao início do fenómeno megalítico (Gonçalves, 1992; Rocha, 2005; Boaventura, 2009). Este facto, associado à escassez de meios dispo- 2. A intervenção: níveis, propiciava a intervenção numa estrutura meios, método e condicionantes que permitisse resultados cientificamente rele- vantes num curto espaço de tempo. Decidiu-se, Em termos metodológicos, optou-se pela então, efetuar a escavação deste sepulcro, que metodologia Open Area, com registo em Fig. 3– O sepulcro dos Godinhos em extrato da CMP 439 - 1:25 000. Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 58 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 58 27-10-2015 10:46:39 O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos e significados no âmbito do Megalitismo alentejano individualização em unidade estratigráfica, por esta representar em si o gesto de depo- sição, ou remobilização, de um recipiente. A área de intervenção centrou-se na estru- tura central do monumento, construindo-se uma quadrícula axializada por aquele, com 5 m x 4 m, alargando-se posteriormente em 8 m2 (2 m x 4 m) para norte e 2 m2 (1 m x 2 m) para poente, por forma a melhor docu- mentarmos a interessante estrutura tumular, entretanto exposta. Os trabalhos iniciaram-se pela remobiliza- ção de uma grande laje, provavelmente uma tampa de cobertura, disposta em cutelo no limite nascente da câmara, com meios exclu- sivamente manuais, com recurso a cordas e rolos de madeira, proporcionando uma apro- ximação experimental ao esforço implicado na execução da mesma (Fig. 5). No final dos trabalhos, procedeu-se à estabilização e enchimento da câmara com pedras e terra, após diferenciarmos o fundo do monumento com rede de sombreamento. 3. Os olhos com que se vê: caminhos e paisagem A paisagem não existe, é aquilo que nós faze- mos dela, é o modo como a vamos construindo e desmontando à nossa passagem, numa atitude Fig. 4 – Vista do planta e fotografia de cada unidade estra- profundamente existencialista (Ingold, 1993). grupo de trabalho e tigráfica, seguindo os preceitos definidos por A conspicuidade é introduzida pelo indivíduo das 3 gerações de E. Harris (1979). Apenas para as presenças e pela comunidade com que partilha valores e Invernos, bons conhe- cedores dos Godinhos de menor dimensão, resultantes de deposição memórias. Este é um aspeto estruturante para se intencional no interior da câmara, caso dos compreender o sepulcro dos Godinhos e o modo Fig. 5– Trabalhos de pequenos instrumentos líticos, se optou pelo como construímos a paisagem em torno dele. remoção manual da provável tampa do registo tridimensional, sempre integrados nas O sepulcro dos Godinhos implanta-se num sepulcro. respetivas unidades estratigráficas. A difi- pequeno cabeço da margem direita da ribeira culdade de individualização deposicional de São Bento, integrado no extenso patamar destas realidades, facilmente permeáveis a que antecede as principais elevações da Serra pequenas alterações tafonómicas difíceis de d’Ossa pelo lado sul. A fisionomia do território controlar, dada a perda da sua componente é bastante complexa, marcada por um intenso em materiais perecíveis, dificulta a definição ondular de solos pobres de gnaisses, recor- do ato de deposição como unidade estrati- tados pontualmente por profundos vales de gráfica, pelo que se prefere optar pela sua ribeiras, hoje intensamente arborizados por um integração numa UE de tipo depósito com montado fechado de sobro. registo tridimensional, para maior aproxi- O acesso ao sítio pode efetuar-se de dois mação ao possível gesto de deposição do modos distintos (Fig. 6): um a partir da aldeia mesmo. Já no caso dos recipientes cerâmi- do Freixo, situada no limite sul do patamar, cos completos, ou aglomerações de artefac- percorrendo-se caminhos que discorrem por tos líticos, menos propensos a movimentações um território marcado pelo ondular ritmado, tafonómicas não-humanas preferiu-se a sua mas pouco contrastante, dos cerros, que nos 59 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 59 27-10-2015 10:46:44 Rui Mataloto |Rui Boaventura | Diana Nukushina | Pedro Valério | José Inverno | Rui Monge Soares | Micael Rodrigues | Francisca Beija criam uma paisagem vaga, onde a conspicui- dade é difícil. O segundo acesso pode efetuar- -se através do Monte do Pinheiro, situado para nascente do sepulcro dos Godinhos, seguindo um velho caminho natural. Este desenvolve- -se, justamente, por onde a planície mais entra na margem da serra, estreitando o patamar e conduzindo os caminhantes à portela das Cortes, uma das mais importantes da serra, na travessia sul-norte e vice-versa. O sepul- cro megalítico dos Godinhos surge-nos, então, sobranceiro a este velho caminho, numa ele- vação, ganhando um destaque paisagístico absolutamente inusitado para quem se apro- xima pelo lado poente, sobretudo se assumir- mos um coberto arbóreo mais esparso e menos elevado. Deste modo, cremos que a implanta- ção do sepulcro se faz, em grande medida, em função do caminho e da sua posição entre dois territórios e duas paisagens unidas por um eixo estruturante de transitabilidade. Neste sentido, a estrutura funerária dos Godinhos integra-se numa tradição local, fortemente arreigada ao Megalitismo do Freixo onde, tal como a pró- pria povoação, os sepulcros foram implantados na transição entre a planície e o patamar da serra, quiçá configurando espaços interligados, física e mentalmente, de Vivos e de Mortos. A Anta do Pinheiro (CNS-2102), de estrutura aparentemente mais evoluída, com corredor granito e dois de gnaisse)2, antecedida por um Fig. 6 – O sepulcro longo, câmara poligonal, mamoa e kerb bem corredor/portal, virado a sudeste, meramente dos Godinhos na rede de povoamento e definido, situa-se a algo mais de 1 km a sudeste indicado por dois pequenos monólitos oblongos, funerária da margem sobre cerro dominante, sobranceira ao mesmo ambos de granito, cravados ao alto (Fig. 7). Uma sul da Serra d’Ossa, caminho natural onde a planície se afunila para laje de granito de maiores dimensões, prova- nos IV/III milénios a.n.e. Assinalam-se dar passo ao patamar. Uma vez mais, é aqui, velmente componente da cobertura, [45], surgia dois dos caminhos nesta zona de transição, que se concentra o con- disposta em cutelo, fazendo antever violações naturais de travessia junto da Herdade das Casas com, pelo menos, de tempo indeterminado. Outra laje em cutelo, da serra. seis sepulcros megalíticos (Calado & Mataloto, de gnaisse, poderia corresponder a um lintel, 2001), notando-se, igualmente, uma intensa também ele derrubado. marcação do espaço através de painéis com A câmara apresenta um esteio de cabeceira, covinhas distribuídos por grandes, mas também [5], que se encontrava claramente inclinado pequenos, afloramentos graníticos, dotando para o exterior, mas com a base ainda próxima possivelmente toda a paisagem de forte simbo- da posição original. Do lado norte, a câmara 2 A caracterização lismo para os viandantes. De todo, este contexto é delimitada por dois pequenos esteios, [6] e geológica aprofun- é indissociável do sepulcro que estamos a estu- [7], cravados em cutelo. O lado sul encontra-se, dada das lajes desta anta e a sua res- dar, carecendo esta leitura, todavia, de mais no entanto, delimitado apenas por um esteio, petiva proveniência aturada documentação de correlação. [4], igualmente em cutelo, mais comprido que são alvo de estudo alto. Em frente de ambos e a marcar a entrada, detalhado no âmbito do projeto MEGA- encontram-se dois blocos cravados ao alto, [8] GEO (PTDC /EPH- 4. Arquitetura e estratigrafia e [9], esboçando um corredor curto ou simples- ARQ/3971/2012), mente um portal. pelo que esta classificação deve ser Em termos arquitetónicos, o sepulcro é composto Uma mamoa composta por espessa camada de encarada de forma por uma câmara cistóide de 4 esteios (dois de terra argilosa, bastante avermelhada e com- preliminar. Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 60 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 60 27-10-2015 10:46:46 O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos e significados no âmbito do Megalitismo alentejano ao esteio [6] e outro adjacente ao limite sul do esteio [5], estando, no entanto, ambos na área mais afastada da entrada do sepulcro, e clara- mente na base da estratigrafia, devendo corres- ponder a um primeiro momento de utilização, em que, putativamente, alguns indivíduos, provavel- mente poucos, terão sido ali inumados. Sobre esta estratigrafia dever-se-á ter efe- tuado a utilização mais tardia, constituindo a unidade [30] o interface de utilização sobre o qual terá sido depositado o putativo féretro, do qual nada se conservou. Sobre esta nova utilização colocou-se uma camada de pedras de pequeno calibre, [27], e várias outras uni- dades com terras avermelhadas, argilosas, com Fig. 7 – Vista geral pacta, envolvia o monumento, ficando menos mais ou menos pedras, fechando o acesso ao da área de escava- espessa na zona fronteira. Na base desta, no monumento com a colocação de uma laje de ção do sepulcro dos lado exterior ao esteio de cabeceira, docu- gnaisse ao alto, [3]. Esta alteração não deixa Godinhos, antes do mentou-se um interessante depósito composto de remeter para as múltiplas situações conheci- final dos trabalhos. por três pequenas pedras esféricas de quart- das de compartimentações do espaço funerá- zito, quartzo e uma rocha granitóide, [44], que rio no interior das câmaras megalíticas conhe- comentaremos melhor adiante. Sobre a estru- cidas em sepulcros do sul do país em momentos tura argilosa da mamoa, nas áreas escavadas, avançados do III milénio a.n.e. Por outro lado, a verificou-se, principalmente na periferia, uma configuração sub-retangular da câmara, refor- coroa, de largura variável, de pedras peque- çada pela presença desta laje de delimitação nas de xisto e gnaisses, que se adensava junto estreita as semelhanças com as grandes cistas da entrada do sepulcro que, todavia, dei- conhecidas em toda a fachada atlântica no xava desimpedida. Efetivamente, esta cons- período em causa. Não cremos que a disposi- trução mantém-se afastada da estrutura cen- ção em que encontrámos quer o esteio de cabe- tral do monumento exceto junto dos pequenos ceira quer a tampa de cobertura seja resul- esteios do portal ou corredor curto, como que tado desta utilização, o que não obsta a que reforçando o conjunto cénico do acesso, even- estes possam ter sido também remobilizados. tualmente fechado pela laje [22], de gnaisse, As ações posteriores, nomeadamente a mobili- encontrada quase deitada defronte da zação do esteio de cabeceira e da tampa, não entrada do sepulcro. Esta poderá ser interpre- deixaram traços cronológicos. Todavia, dado o tada como uma possível pedra de soleira ou, estado de conservação dos achados, e apesar mais provavelmente, como uma porta pétrea, da clara mobilização dos maiores blocos do cravada defronte dela, mas entretanto caída monumento, a afetação foi mínima em profun- ou desviada em momento posterior à sua fun- didade, verificando-se a presença do espólio ção original. de acompanhamento/oferenda in situ, cremos. A sequência estratigráfica é relativamente sim- Tal facto não obsta a que possam ter existido ples e sequencial, mas não isenta de problemas ações pontuais de remobilização, as quais po- específicos (Fig. 8). No geral, cremos documen- derão explicar a recolha de um pequeno geo- tar dois momentos distintos de uso do interior. métrico no exterior do contentor pétreo. Um primeiro momento, aparentemente subse- Este sepulcro, ainda que passível de se integrar quente à fase de construção, é composto por nos momentos mais antigos do Megalitismo regio- um conjunto de unidades que em pouco diferem nal, apresenta já uma arquitetura de certo modo das restantes, ao estarem marcadas por terras complexa, mas longe da padronização caracte- bastante avermelhadas, com frequente casca- rística de momentos mais avançados. A câmara lho miúdo local, que se adensa junto ao subs- apresenta uma estrutura simples, subretangular trato. No seio destas unidades registaram-se e aberta, com portal, construída em blocos de duas deposições de vasos cerâmicos, [33] e [34]. dimensão relativamente reduzida, com parale- Estes encontravam-se em locais distintos, um junto los em sepulcros bem conhecidos como Areias 61 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 61 27-10-2015 10:46:49 Rui Mataloto |Rui Boaventura | Diana Nukushina | Pedro Valério | José Inverno | Rui Monge Soares | Micael Rodrigues | Francisca Beija 10 (CNS-20684; Leisner & Leisner, 1959) ou o Fig. 8 – Matriz da Cabeço da Areia (CNS-26655; Heleno, 1933, intervenção no sepul- cro dos Godinhos. p. 24; Rocha, 2005, vol. 2, p. 316)3. Todavia, a presença de uma mamoa bem estruturada, que parece realçar a frontaria do sepulcro, a par de um possível ritual fundacional, como se verá, deixa entender que a simplicidade estrutural e simbólica era apenas aparente. Na realidade, ainda que a tónica deva ser colocada na relativa falta de padronização dos sepulcros desta fase mais antiga, enquanto estádio embrionário do futuro Megalitismo ortostático, começam a poder esboçar-se algu- mas tendências interessantes, que convinha indagar mais aprofundadamente no futuro, caso da escolha frequente de um grande esteio para um dos lados, norte ou sul indistintamente, enquanto no oposto se utilizam dois de menores dimensões, como se pode atestar em Godinhos, Cabeço da Areia e em Areias 10, mas também no sepulcro de Chãs 1, situado a meia dúzia de quilómetros para poente do primeiro. A par desta escolha surge igualmente a definição da área de entrada por um “portal”, isto é, dois pequenos blocos cravados ao alto demarcando o acesso à cripta. 5. Construção para os mortos, monumento para os vivos: os usos do sepulcro dos Godinhos 3 L. Rocha considera Esta leitura da estratigrafia em dois momentos esta estrutura uma sepultura fechada de uso do sepulcro dos Godinhos, e à falta de (Rocha, 2005, p. 124), elementos radiométricos datantes4, não é irre- ao invés do que o vogável, na justa medida em que as cerâmicas em posições estratigráficas posteriores. Assim, próprio Manuel Heleno afirmava. De facto, ob- enquadradas na primeira fase de utilização em seguida, ensaiar-se-á uma análise crono- servando atentamente pertencem, de um ponto de vista formal, ao de- funcional das realidades atribuíveis à primeira as imagens disponíveis, signado “fundo comum” neolítico, constituindo, ocupação, comentando o respetivo contexto e tendo em considera- ção as observações de então, elementos bastante difíceis de posicio- (Fig. 9). Foram identificados três trapézios (dois Manuel Heleno, pensa- nar cronologicamente. inteiros e um putativamente fragmentado) na mos que este se deve escavação das U.E. 2, 10 e 35. As duas primeiras integrar nos sepulcros abertos, de planta sub- unidades correspondem a estratos superficiais -retangular, tal como 5.1. A ocupação neolítica da mamoa e câmara, respetivamente, pelo os Godinhos, ainda que a sua presença resulta, com muita que apresentasse uma “porta fortificada”, mas A ocupação neolítica do sepulcro dos Godinhos probabilidade, de remeximentos posteriores. sem corredor (Heleno, foi documentada principalmente no conjunto de Já a Unidade [35] corresponde a um nível 1933, p. 24). unidades registado junto à base de enchimento de base do enchimento, estratigraficamente 4 O recipiente God[33] da câmara, indicada em matriz como 1.ª fase coetâneo das duas deposições cerâmicas. Em exibia, incrustado de ocupação. Todavia, nem todos os elementos termos tecno-tipológicos, os dois trapézios na sua estrutura, um que reportamos a esta fase neolítica foram inteiros são assimétricos, embora a diferença nódulo de carvão, mas a tentativa de datação recuperados neste conjunto estratigráfico, métrica entre as duas truncaturas seja reduzida. deste revelou-se surgindo elementos atribuíveis a este momento O retoque é abrupto e direto, formando infrutífera. Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 62 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 62 27-10-2015 10:46:51 O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos e significados no âmbito do Megalitismo alentejano se acrescenta a exclusividade de geométricos entre as armaduras e a praticamente ausente componente lamino-lamelar, confere um carácter cultural de relativa antiguidade a este monumento no contexto do Megalitismo regional. O domínio quase exclusivo de trapézios, sobre- tudo assimétricos, entre os geométricos surgidos em contextos funerários do Neolítico Médio e Final, encontra-se verificado na região alen- tejana (Leisner, 1985). A presença maioritária destas formas está atestada em vários sepul- cros megalíticos, em concreto nos concelhos de Estremoz, Arraiolos, Mora, Coruche e Monte- mor-o-Novo (Rocha, 2005, p. 163). Segundo o estudo realizado por L. Rocha sobre o Me- galitismo alentejano (Rocha, 2005, p. 163), os geométricos encontram-se presentes em todos os tipos arquitetónicos de antas, mas são mais fre- quentes nas “sepulturas abertas”, seguidas das antas de corredor curto (Rocha, 2005, p. 162) — perspetiva que o pequeno sepulcro dos Go- dinhos vem reforçar. Os trapézios surgem tam- bém nas antas da região de Lisboa, também aqui maioritariamente assimétricos (Boaventura, 2009, p. 228). Recentemente, no Baixo Alentejo, a presença dominante de trapézios assimétri- cos tem sido notada em contextos funerários de grutas artificiais e em fossas, como no Sepul- cro 1 da Sobreira de Cima, Vidigueira (CNS- 26331; Carvalho, 2013) e em Outeiro Alto 2, Serpa (CNS-31241; Valera & Filipe, 2012). Em algumas peças encontraram-se preservados vestígios da substância de encabamento, levan- Fig. 9 – Conjunto truncaturas retas, e as secções são trapezoidais. do a crer na função de ponta de projétil (Dias, lítico e cerâmico As larguras máximas, que correspondem 2008; Valera & Filipe, 2012, p. 34; Valera, neolítico recuperado às larguras originais dos suportes, atingem, 2013, pp. 55, 114). no sepulcro dos Godinhos. no maior exemplar, os 14 mm, enquanto os No sepulcro dos Godinhos temos, também, restantes apresentam uma largura de apenas um fragmento de trapézio apenas com uma 11 e 12 mm, muito perto do limite máximo truncatura retocada, de delineação reta. A habitualmente considerado para as lamelas presença de trapézios de forma aparentemente (12 mm). Os comprimentos, nos dois exemplares “retangular”, mas apresentando apenas inteiros, atingem os 26 mm e os 15,2 mm. uma truncatura retocada, parece ser algo Do conjunto artefactual lítico deste monumento recorrente em sepulcros megalíticos do Sul de encontra-se praticamente ausente a componente Portugal, situação visível no espólio lítico da lamino-lamelar, contabilizando-se apenas um pequena Anta do Cabeço da Areia (Figs. 10 e pequeno fragmento de lamela proveniente 11), bem como, segundo os registos gráficos de da U.E. 2. A escassez desta componente em V. Leisner (1985), das antas centro-alentejanas monumentos arquitetonicamente mais simples Talha 3 (CNS-1789), Outeiro de Santa Clara da região alentejana foi apontada no estudo (CNS-1414), Lobeira de Baixo 3 (CNS-26581), realizado por Rocha (2005, p. 169). Azinhal 3 ou Vale de Covas (CNS-17174), Globalmente, o escasso espólio lítico Deserto 5 (CNS-26553), Filtreira 1 ou Fuletreira recuperado no sepulcro dos Godinhos, a que (CNS-1690), Besteiros 3 (CNS-19861), 63 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 63 27-10-2015 10:46:52 Rui Mataloto |Rui Boaventura | Diana Nukushina | Pedro Valério | José Inverno | Rui Monge Soares | Micael Rodrigues | Francisca Beija Rouco (CNS-26582) e Poço de S. Geraldo 2 (CNS-19403). Estas peças surgem, também, na Estremadura, por exemplo, na gruta do Lugar do Canto (CNS-2623; Cardoso & Carvalho, 2008). A sua frequência leva-nos a formular a hipótese de que poderão não corresponder a fragmentos de trapézios, mas antes a peças inteiras em que a fratura que conforma o ângulo reto foi intencionalmente deixada em bruto. Ao nível da componente de pedra lascada, o surgimento de geométricos na Anta dos Godinhos, a par da ausência de pontas de seta — situação sistemática nas antas pequenas alentejanas (Rocha, 2005, p. 214) — aponta, numa perspetiva clássica, para uma cronologia relativamente antiga deste sepulcro no contexto do Megalitismo alentejano e do modelo evolutivo que tem sido defendido desde as propostas de Manuel Heleno. Segundo este, os monumentos de pequena autor admite, cremos que terá existido uma Fig. 10 – Fotografia dimensão, sem corredor e espólios simples sequência cronológica mais fina que marcou a da escavação do sepulcro do Cabeço e “arcaicos” (machados de secção redonda sucessão destas tradições votivas (Boaventura, da Areia (1933) (Ar- e quadrangular, com corpo picotado ou por 2009; Boaventura & Mataloto, 2013, p. 85), quivo Fotográfico do polir, geométricos e escassa cerâmica — que se substituem no tempo, não invalidando, Museu Nacional de Arqueologia - espólio espólio detetado na escavação dos Godinhos) obviamente, uma ligeira contemporaneidade, Manuel Heleno). antecedem os monumentos mais recentes, de impossível de aprisionar devidamente nos maior dimensão e marcados pela deposição intervalos do radiocarbono. Fig. 11 – Conjunto ar- tefactual recuperado de placas de xisto e pontas de seta (Rocha, Neste sentido, e ao invés de A. Valera, cremos no sepulcro do Cabe- 2005, p. 110). Esta perspetiva sequencial que os dados arqueométricos da Sobreira ço da Areia; planta e aditiva dos espólios, não tendo sido de Cima, em particular dos sepulcros 1 e 3 do sepulcro com base no esquiço elaborado contraditada, foi recentemente, em parte, (Valera, 2013, p. 41), permitem integrar os por Manuel Heleno posta em causa, argumentando-se que dentro respetivos conjuntos votivos funerários, em (1933, Caderno 11, da segunda metade do IV milénio a.n.e. boa medida, dentro do terceiro quartel do IV p. 26) se assiste a uma progressiva diversificação milénio a.n.e. Estes seriam, então, justamente dos espólios, mantendo-se em paralelo dois anteriores, segundo cremos, à fase aditiva onde pacotes votivos distintos, um mais conservador, a cerâmica se torna frequente e as pontas de sem pontas de seta nem cerâmica e outro mais seta e ídolos-placa se integram nos reportórios diverso onde estes elementos, e as placas de votivos, como defendemos anteriormente, com xisto, surgem (Valera, 2013, p. 116). Como base, entre outras, nas datações obtidas em em outro local avançámos, e como o próprio monumentos como Rabuje 5 (CNS-11706) ou Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 55–79 64 RPA_vol-18-2.7_posGrafica.indd 64 27-10-2015 10:46:53

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anta no Redondo surge-nos no testamento de. Catarina Pires THOMAS, Julian S. (2005) - Ceremonies of the horsemen? From megalithic tombs
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