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O Resgate da Verdade PDF PDF

112 Pages·2013·17.7 MB·Portuguese
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EXPEDIENTE Edição Ministério Jovem Divisão Sul-Americana Autores Douglas Reis Luiz Gustavo Assis Matheus Cardoso Michelson Borges Revisão Departamento de Tradução DSA Arte e Diagramação DSA. Media Center Capa Kassandra Vargas Impressão e Acabamento Casa Publicadora Brasileira Ano 2014 ÍNDICE 1. Quem se importa com a cosmovisão?................................................ 5 2. Existe verdade absoluta?.................................................................... 9 3. Deus, deuses ou imaginação?.............................................................13 4. Quem precisa de “certo ou errado”?.................................................. 18 5. E quando o mal vem “de cima”?....................................................... 22 6. Creio, logo penso............................................................................... 26 7. Bíblia: o livro mais perigoso de todas as épocas............................... 30 8. Papel aceita tudo?.............................................................................. 34 9. Janela para o futuro............................................................................ 38 10. Sintonia perfeita................................................................................. 42 11. Quem é Jesus e o que isso importa?...................................................46 12. Ovos de chocolate ou uma tumba vazia? ........................................... 50 13. Salvos de quê..................................................................................... 54 14. O remédio divino para a doença humana........................................... 58 15. Equilíbrio perfeito.............................................................................. 62 16. Uma fatia da eternidade..................................................................... 66 17. A hora de trocar de roupa................................................................... 70 18. A vida como ela deve ser................................................................... 74 19. A cidade maravilhosa de Deus........................................................... 78 20. Imortalidade condicional da alma...................................................... 82 21. Deus em toda a história...................................................................... 86 22. O QG da graça....................................................................................90 23. Qual o veredito?................................................................................. 94 24. Deus ainda fala................................................................................... 99 25. O melhor de todos os sócios...............................................................104 26. Compromisso com a Verdade.............................................................109 O resgate da verdade No fim do século 18, um soldado de Napoleão des- cobriu um tesouro arqueológico que, de tão importante, seria tido como um dos marcos da arqueologia moder- na. A Pedra de Roseta, fragmento de estela do Egito Antigo, traz o texto de um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade de Mênfis, em nome do rei Ptolomeu V. Detalhe: o texto foi escrito em três versões, com três tipos diferentes de escrita – hieroglífica, demóti- ca e grega. Graças a isso, o estudioso Jean-François Champollion pôde traduzir a escrita egípcia, abrindo aos olhos do mundo toda a cultura dos faraós, até então praticamente desconhecida. A tradução da Pedra de Roseta mostra que preci- samos de “balizas” para nos orientar e “ferramentas” para entender o mundo que nos rodeia. Os complicados caracteres egípcios eram misteriosos e indecifráveis até que Champollion mostrou a coerência deles. De forma semelhante, as cosmovisões são como dicionários (al- guns as comparam a óculos) que usamos para decifrar/ interpretar a realidade. Mas dicionários definem pala- vras. São o que são e pronto, concorde você ou não com as definições. Se você quiser definir uma lanterna com a palavra caneta, sinta-se à vontade. Mas isso não corresponderá à realidade convencionada. Neste estudo, propomos uma cosmovisão que, devidamente compreendida, o ajudará a fazer uma lei- tura interessante do mundo. Não apenas interessante: coerente, lógica e, sobretudo, carregada de esperança. Conforme escreveu o filósofo e matemático Blaise Pas- cal, “que os homens aprendam pelo menos qual a fé que rejeitam antes de rejeitá-la”. Talvez não seja esse o seu caso, mas fica o desafio: analise tudo o que está es- crito aqui e siga as evidências até onde elas o levarem. Michelson Borges Fui levado às pressas para o hospital. Sentia dores na região ab- dominal e nem sequer disfarçava os urros. O primeiro médico que me viu não teve dúvidas e diagnos- ticou: pedras nos rins – que, segun- do alguns, causam dores mais for- tes que as do parto. Confesso que, até ali, eu nem me dera conta da re- levância dos meus rins (conquanto eles funcionassem, continuariam quase completamente irrelevan- tes). Não conheço pessoas que se importem com suas amídalas ou seu apêndice, antes que eles infla- mem e tornem necessária a inter- venção cirúrgica! Algumas coisas são como es- ses órgãos citados – se funcionam dentro da normalidade, passam in- cógnitas. Apenas em meio a uma crise despertam nosso interesse (de vez em quando, sou dolorosa- mente lembrado de que meus rins existem…). O mesmo raciocínio se aplica ao padrão que orienta nossas escolhas: ele está lá, mas não nos damos conta. Quem se importa com a cosmovisão As razões por trás da razão O sociólogo polonês Zigmunt Bauman observa que poucas pessoas seriam capazes de identificar, de forma objetiva, os princípios que seguem na vida co- tidiana.[1] Apesar disso, todos nós temos respostas para as grandes perguntas que fazem parte da vida. Não se trata de respostas abstratas, mas de orienta- ções à vivência diária, assuntos que envolvem desde escolhas aparentemente pouco importantes a questões morais significativas. Nesse sentido, Heidegger diz que todos somos filósofos – não por profissão, porém no sentido de que existimos e buscamos resposta para nossa existência.[2] Embora haja inúmeras formas de entender assuntos como Deus, nosso propósito no mundo, o que acontece depois que morremos, etc., há poucos pa- drões básicos de respostas a essas indagações e outras similares. Dizemos que cada conjunto de respostas forma uma grade conceitual, chamada cosmovisão ou visão de mundo (do alemão weltanschauung). Já foi dito que a cosmovisão é “a suposição fundamental que forma o pensamento e o comportamento das pessoas” [3] ou a “capacidade humana de perceber a realidade sensível”[4], ou seja, de interpretar o mundo que nos cerca. A cosmovisão influencia o comportamento, as decisões, os valores, os jul- gamentos e a percepção das pessoas. Portanto, estamos falando de algo que está embutido em cada ser humano, embora muitos sequer saibam definir uma cosmovisão. Entretanto, todas as pessoas possuem uma orientação mental vi- sível em sua vida prática. Logo, elas possuem uma cosmovisão.[5] É fundamental dialogar com pessoas portadoras de uma cosmovisão dis- tinta em termos significativos para elas: “Cada ser humano é nutrido dentro de um contexto cultural. Indivíduos e comunidades interpretam o mundo por meio desse contexto. Eles avaliam novas ideias, crenças e valores por meio de sua própria cosmovisão prévia. Se somos incapazes de mostrar o evangelho [...] em termos que são inteligíveis para eles, estamos falhando em dar às pes- soas oportunidade de ouvir, entender e aceitar a Palavra de Deus.”[6] Visões em conflito Ainda assim, o choque entre visões de mundo conflitantes é inevitável, porque em um mundo plural, como o nosso, constantemente interagimos com pessoas que possuem grades conceituais distintas, razão de haver mal-entendi- dos, divergências, conflitos ou desentendimentos mais sérios. Às vezes, determinada cosmovisão ultrapassa limites de famílias, clãs e países, influenciando grande massa de pessoas. Nesse ponto, tal visão de mundo chega ao patamar de espírito do tempo (zeitgeist). Essa visão de mundo mais disseminada passa a exercer controle sobre as demais, influenciando-as e restringindo-as.[7] O Resgate da Verdade 6 Quem se importa com a cosmovisão Para entender bem como isso ocorre, pense na seguinte situação: o bairro X de uma grande metrópole é famoso por seu comércio. Depois de alguns anos de desenvolvimento urbano, surge um shopping center ali. O potencial comer- cial do shopping é capaz de sufocar as lojas menores, ao mesmo tempo em que será capaz de agregar em suas dependências lojas maiores que possuam perfil compatível com sua proposta. De forma similar, o espírito da época saberá agregar visões de mundo compatíveis com sua proposta, enquanto acabará encurralando no ostracismo aquelas cosmovisões que se lhe opõem. Você pode notar que algumas perguntas “ficaram no ar”: Como avaliar uma cosmovisão? Até que ponto consigo identificar minha própria visão de mundo? É possível determinar qual visão de mundo é a melhor, ou tudo não passa de mera perspectiva? É sobre isso que falaremos no próximo estudo. [DR] Perguntas para discussão: 1. Faça um teste simples: escreva em um papel o que você entende sobre Deus. A seguir, faça a mesma pergunta a dois ou três amigos, escrevendo também as respostas deles. Ao fim, compare o que cada um respondeu, notando semelhanças e singularidades. 2. Pense na época em que vivemos. Como você definiria a cosmovisão do- minante (espírito da época)? A partir do modo como a maioria das pessoas pensa e age, cite três ou mais características do período em que vivemos. Saiba mais: • Douglas Reis, Marcados Pelo Futuro: Vivendo na expectativa do retorno de nosso Senhor (Niterói, RJ: Assim Diz o Senhor, 2011). • Francis Schaeffer, O Deus Que Se Revela (São Paulo: Cultura Cristã, 2002). • Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de seu cativeiro cultural (Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006). O Resgate da Verdade 7 Quem se importa com a cosmovisão Notas: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 1. Zygmunt Bauman, Ética Pós-moderna (São Paulo: Paulus, 1997), p. 41. 2. Martin Heidegger, Introdução à Filosofia (São Paulo: Martins Fontes, 2009), p. 3, 4. No dizer de Francis Schaeffer, “a filosofia é universal em seu escopo. Nenhum ser humano é capaz de viver sem uma visão de mundo; por isso, não há ser humano que não seja um filósofo” (Francis Schaeffer, O Deus Que Se Revela, p. 42). “Pessoas em toda parte assumem respostas a estas questões [metafísicas] e depois prosseguem em sua vida diária agindo com base naquelas suposições. Não há como fugir das decisões metafísicas [as quais lidam com estruturas para interpretar o mundo], a menos que alguém escolha vegetar – e até mesmo essa decisão seria metafísica sobre a natureza e função da humanidade” (George Knight, Filosofia e Educação: Uma introdução de uma perspectiva cristã [Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária adventista – Unaspress, 2001], p. 18. 3. Chaltal J. Klingbeil, “Iglesia y cultura ¿amigas o enemigas?”, in Gerald A. Klingbeil, Martin G. Klingbeil e Miguel Ángel Núñes, Pensar la Iglesia Hoy: Hacia una eclesiología adventista (Libertador San Martín, Entre Rios, Argentina: Editorial Universidad Adventista del Plata, 2002), p. 353. 4. Fabiano de Almeida Oliveira, “Reflexões críticas sobre Weltanschauung: uma análise do processo de for- mação e compartilhamento de cosmovisões numa perspectiva teo-referente”, Fides Reformata, v. 13, nº 1 (2008), p. 33. 5. Para uma reflexão mais detalhada sobre a cosmovisão, veja Douglas Reis, Marcados Pelo Futuro: Vivendo na expectativa do retorno de nosso Senhor, especialmente o capítulo “Crer primeiro, depois ver para crer mais”. 6. Barry D. Oliver, “Can or should Seventh-day Adventist belief be adapted to culture?”, in Jon L. Dybdahl (ed.), Adventist Mission in the 21st Century: The joys and challenges of presenting Jesus to a diverse world (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association,1998), p. 75. 7. Fabiano de Almeida Oliveira, ibid., p. 45. O Resgate da Verdade 8 A popular série Dexter tem como personagem principal um especialista em análise de sangue que atua junto ao Departamento de Polícia de Miami. Dexter Morgan leva uma vida pacata ao lado da namorada divorciada e tra- balhando no mesmo departamento que a irmã adotiva, uma investigadora. Ao mesmo tempo, Dexter é um serial killer que executa outros assassinos que não puderam ser condenados pela lei. A todo instante, o personagem tem que dis- simular a fim de garantir sua sobrevivência. Como psicopata, Dexter não sente emoções, perdas ou remorsos, mas tem que manter as aparências e cumprir diversos papéis sociais, fazendo-se passar por um sujeito comum – o que, em verdade, não deixa de ser um anseio dele. Talvez o sucesso da série esteja justamente em sugerir que, de certa forma, todos nos vemos confusos, em busca de nosso próprio eu, inseguros diante de papéis con- traditórios. Nossa época é marcada pela incerteza. Ela é chamada de pós-moderni- dade, caracterizando-se por uma negação do racionalismo autoconfiante do período anterior, a modernidade. Como chegamos a esta fase do pensamento humano? Existe verdade absoluta Certamente, Friedrich Nietzsche deu fundamental contribuição para que isso ocorresse. Sem dúvida, ao “anunciar a morte de Deus, Nietzsche nomeia a ruptura que a modernidade introduziu na história da cultura com o desapa- recimento dos valores absolutos, das essências e do fundamento divino”, con- clui a escritora Anelise Pacheco.[1] Com sua negação de valores absolutos,[2] Nietzsche abre as portas para pensadores autenticamente pós-modernos, como Michel Foucault e Jacques Derrida. Se Nietzsche atirou a primeira pedra con- tra o edifício, eles terminaram de demoli-lo. Entretanto, esses pensadores não puderam mascarar algumas incoerências que carregavam. Não dá para viver assim Michel Foucault dizia que a verdade era apenas uma ficção defendida por aqueles que mantinham o poder. Para ele, não havia algo como certo ou erra- do – a própria moral era obra dos poderosos. Entretanto, ele mesmo chegou a participar de lutas sociais.[3] Ademais, quando convocado por uma comissão para estudar o sistema penitenciário francês, Foucault se viu num terrível dile- ma: Como punir os estupradores? O filósofo sustentava total liberdade quanto à sexualidade. Mas, se manifestações sexuais não podem ser legisladas, o que dizer do estupro? Infelizmente, Foucault não conseguiu fugir da armadilha causada pelo impasse originado por sua filosofia.[4] Outro expoente pós-moderno, Jacques Derrida, advogava a livre interpre- tação da linguagem, tanto a escrita quanto a falada. Assim, uma interpretação textual jamais pode chegar a conclusão alguma![5] Contudo, Jacques Derrida se sentiu injustiçado em um debate com John Searle por achar que em alguns pontos Searle havia interpretado mal seu pensamento. Isso o forçou a abando- nar sua defesa da livre-interpretação.[6] Para onde nos conduz o pensamento pós-moderno? Ele hostiliza a verdade revelada; valoriza a interpretação em detrimento do conhecimento; relativiza a verdade (enfatizando a verdade comunitária, aceita por consenso geral); e se restringe à transitoriedade, admitindo uma maleabilidade nos princípios. Por conta de seu antirrealismo, o pós-modernismo enfrenta dificuldades, porque, na prática, se torna impossível vivê-lo coerentemente: “Os pós-moder- nos continuam a rejeitar a ilusão modernista – negam que os modelos moder- nistas representem a realidade – mas, por uma questão prática, admitem que os modelos continuam a servir como ‘ficções úteis’ na vida cotidiana.”[7] Na prática, como alguém já notou, “qualquer tentativa de persuadir alguém a ado- tar o relativismo assume o absolutismo”.[8] Podemos resumir a incoerência do pós-modernismo da maneira como segue: O Resgate da Verdade 10

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