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O príncipe Maximiliano de Wide-Neuwied e sua viagem ao Brasil PDF

140 Pages·2008·4.73 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL CHRISTINA ROSTWOROWSKI DA COSTA O Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e sua Viagem ao Brasil (1815-1817)   São Paulo 2008 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL O Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e sua Viagem ao Brasil (1815-1817)   Christina Rostworowski da Costa Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em História. Orientador: Profa. Dra. Maria Helena Pereira Toledo Machado São Paulo 2008 Quod est inferius est sicut id quod est superius. Et quod est superius, est, sicut id quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius. À minha avó, Cecily Rostworowski, por tudo que nos une. Ja kocham cie. Resumo Esta dissertação de mestrado tem como enfoque o livro Viagem ao Brasil, escrito pelo Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, bem como as imagens, gravuras e aquarelas produzidas pelo príncipe por conta da viagem. Entre 1815 e 1817, o príncipe percorreu os atuais estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Esta viagem resultou no diário publicado na Alemanha em 1820 e em diversos outros países e línguas nos anos subseqüentes. O diário de Maximiliano poderia ter sido relegado, como tantos outros diários produzidos no século XIX sobre o “exótico” Novo Mundo, mas sua descrição minuciosa da história natural do país e o tratamento pitoresco conferido à população – que hora serve para confirmar os estereótipos de Maximiliano, hora para justificar a originalidade de seus escritos – chamam a atenção do leitor através da presença de Guack, índio Botocudo que dispensa as funções de acompanhante, tradutor e, sobretudo, interlocutor indispensável no contato de Maximiliano com o território “desconhecido e inexplorado”. Contudo, por meio do papel de Guack na narrativa pode-se perceber que o território percorrido por Maximiliano é tudo menos desconhecido ou inexplorado, e sua população certamente não é “virgem” ou “intocada”. A análise concentra-se na criação da denominação “Botocudo”, nas estratégias usadas pelos nativos em seu constante contato com os portugueses, os escravos oriundos da África e mesmo entre os diversos grupos indígenas, e quão pouco consciente Maximiliano parece ser no que diz respeito à realidade que o cerca, na produção do diário, pinturas e aquarelas a serem apreciados pelos europeus. Palavras chave: Príncipe Maximiliano de Wied Neuwied; índios Botocudos; literatura de viagem; Brasil século XIX; Guack. Abstract This thesis focuses on the diary written by Prince Maximilian von Wied Neuwied, based on his journey in Brazil. Throughout the years of 1815 to 1817, the prince traveled across the current Brazilian states of Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais and Bahia. His two-year journey resulted in a diary, published in Germany in 1820 and in several other countries and languages during the following years. Even though it could have been yet another journal amidst the hundreds produced in the nineteenth century concerning the “exotic” New World, its thorough description of the country’s natural history and its picturesque approach to its population – which at times are either brought about to confirm Maximilian’s stereotypes and previous readings on Brazil, and at other times, to justify the originality of his writings – catches the reader’s eyes for the subtle presence of Guack, an Indian from the so-called Botocudo tribe who plays a crucial role in the journey both as Maximilian’s accompanier, translator, and above all, indispensable interlocutor in the acquaintance with what Maximilian refers to as this “unknown, unexplored territory”. Yet it is by means of Guack’s role in the narrative that one is inevitably driven to see that the territory Maximilian visits is anything but unknown or unexplored, and its population is anything but virgin and untouched. The analysis focuses on the creation of the Botocudo label, which can be traced as early as the sixteenth century, the strategies used by the natives in their constant contact with the Portuguese, the African slaves and even amongst themselves, and how aloof Maximilian seems to be regarding the reality surrounding him while producing his diary, paintings and images for his European counterparts. Keywords: Prince Maximilian von Wied Neuwied; Botocudo Indians; travel writing; nineteenth century Brazil; Guack. Agradecimentos Ao ingressar no Mestrado, tinha como certo que se tratava de um projeto exclusivamente meu. Jamais teria conseguido escrever este texto sozinha, e portanto, não poderia deixar de agradecer: À Voca, que me ensinou a amar história desde pequenininha, e por ter ficado ao meu lado em todos os momentos da minha vida – este trabalho não poderia deixar de ser para ela; Aos meus pais, Isabella e Augusto, a quem tanto puxei – meu pai, no gosto pelos estudos, minha mãe, pela vontade de desbravar novos caminhos; Aos meus ‘pais postiços’, Argemiro e Salete, que me ajudaram a ser mais tolerante e companheira; À minha irmã, Anna Cecilia, que por não agüentar mais me ouvir falar sobre o Maximiliano, me ensinou a ser mais sucinta em minha fala (assim espero); Aos meus amigos e primos, que sempre souberam me tirar de casa na hora certa; Ao Thiago Lima Nicodemo, parceiro de longa data e para toda a vida, que me ajudou a enxergar a minha paixão, moldar a minha verdade e enfrentar as intempéries, e a quem devo muitas das minhas conquistas; À Tia Dag, sempre por perto, tão querida; À Isabel Pereira, que me ajudou a organizar a minha mente perdida em minhas próprias confusões e elucubrações; À Profa. Dra. Maria Helena P. T. Machado, por sua orientação sempre segura, presente, paciente, estimulante, e sobretudo, por ter me ‘apresentado’ ao Maximiliano; À Profa. Dra. Laura de Mello e Souza, que me acompanha desde a graduação e que me ofereceu a oportunidade de assisti-la como monitora; Ao Prof. Dr. John M. Monteiro, por sua leitura crítica e generosidade; Ao Prof. Dr. Ulpiano Bezerra de Menezes, com a mais profunda admiração de quem o enxerga como mentor, no sentido grego da palavra, por sua presença desde quando eu “corria de calças curtas pelo Departamento”, em suas palavras; À Profa. Dra. Raquel Glezer, pela amizade, apoio e pelo exemplo de amor e respeito pela universidade pública, e por me ensinar a acreditar mais nas pessoas; Aos Profs. Drs. Nelson Schapochnik e Paulo Iumatti, pela amizade e “aulas”, formais ou informais; Aos Profs. Drs. Michael G. Noll e Harry Liebersohn, que estudaram a viagem de Maximiliano aos Estados Unidos, e que se disponibilizaram a ajudar-me durante minha empreitada; À CAPES, que financiou a minha pesquisa durante dois anos; e, finalmente, Aos colegas do Departamento, que dividem comigo as angústias de conseguir transformar uma pesquisa em algo tangível, escrito. Vasculhar a vida de Maximiliano e Guack acabou produzindo uma forte empatia que não é, em absoluto, paradoxal a um dos aspectos centrais do trabalho do historiador – de reconstituir estas pulsações individuais, jogando luz em contextos mais amplos, sejam eles culturais, econômicos ou sociais. Esses dois sujeitos históricos, enquanto seres humanos, não podem deixar de figurar em meus agradecimentos; estou certa de que suas pegadas e meus caminhos ainda vão se cruzar. Sumário Introdução ...................................................................................................................... 1 Capítulo 1: A viagem, os antecedentes e a região visitada ........................................ 9 1.2 As edições do diário de Maximiliano ...................................................................................... 15 1.3 A sistematização da natureza em Viagem ao Brasil: os outros grupos e os Botocudos ......... 20 1.4 Maximiliano, Guack e os Botocudos: construção de afinidades ............................................. 24 Capítulo 2: O caminho percorrido no Brasil .............................................................. 33 2.2 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. I – “Travessia da Inglaterra ao Rio de Janeiro”............... 35 2.3 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. II – “Estadia no Rio de Janeiro”...................................... 38 2.4 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. III – “Viagem do Rio de Janeiro a Cabo Frio”............................................................................................................................................... 44 2.5 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. IV – “Viagem de Cabo Frio a Vila de São Salvador dos Campos dos Goitacazes” ............................................................................................................... 50 2.6 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. V – “Estadia na Vila de São Salvador e Visita aos Puris em São Fidélis” ............................................................................................................................. 51 2.7 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. V – “Viagem da Vila de São Salvador ao Rio Espírito Santo” ............................................................................................................................................ 55 2.8 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. VII – “Estadia na Capitania e Viagem ao Rio Doce”...... 58 2.9 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. VIII – “Viagem do Rio Doce a Caravelas, ao Rio Alcobaça e volta ao Morro D’Arara, à margem do Mucuri” ........................................................ 61 2.10 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. IX – “Estadia em Morro d’Arara, Mucuri, Viçosa e Caravelas, até a partida para Belmonte – de 5 de fevereiro a 23 de julho de 1816”...................... 64 2.11 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. X – “Viagem de Caravelas ao Rio Grande de Belmonte” ................................................................................................................................... 66 Capítulo 3: Novos rumos da viagem – Maximiliano e sua percepção dos Botocudos: a presença de Guack ................................................................................. 69 3.1 Viagem ao Brasil – Tomo I – Cap. XI – “Estadia no Rio Grande de Belmonte e Entre os Botocudos” .................................................................................................................................... 70 3.2 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. I – “Algumas palavras sobre os Botocudos”.................................................................................................................................... 79 Capítulo 4: Últimas paragens e o retorno à Europa ................................................ 92 4.1 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. II – “Viagem do Rio Grande de Belmonte ao Rio Ilhéus” ........................................................................................................................................... 93 4.2 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. III – “Viagem de Vila dos Ilhéus a São Pedro de Alcântara, último povoado rio acima – preparativos para a viagem pelo sertão, através das matas”............................................................................................................................................. 96 4.3 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. IV – “Viagem através das matas virgens de São Pedro de Alcântara até Barra da Vareda, no sertão”................................................................................ 98 4.4 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. V – “Estadia em Barra da Vareda e viagem até os confins da capitania de Minas Gerais”........................................................................................... 101 4.5 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. VI – “Viagem das Fronteiras de Minas Gerais ao Arraial da Conquista” .................................................................................................................... 103 4.6 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. VII – “Viagem de Conquista à Capital da Bahia e estadia nessa cidade” ..................................................................................................................... 106 4.7 Viagem ao Brasil – Tomo II – Cap. II – “Regresso à Europa” ............................................... 109 4.8 Viagem ao Brasil – Tomo II – “Apêndice” ............................................................................. 111 Considerações Finais ..................................................................................................... 113 Fontes e Bibliografia ................................................................................................. 116 Introdução O interesse em aprofundar-me na pesquisa sobre literatura de viagem, e mais especificamente, sobre a viagem do Príncipe Maximiliano ao Brasil, deu-se ainda ao longo dos últimos semestres da graduação. À época, havia começado a pesquisar a construção da identidade nacional italiana através do olhar estrangeiro, sobretudo a partir da perspectiva dos autores alemães que escreveram sobre a Itália durante o século XIX. Estes autores muitas vezes escreviam com base nas viagens realizadas como parte do processo de formação, conhecidas como Grand Tour, empreendidas pela elite européia do período. Apesar de viagens à America não fazerem parte do Grand Tour no início do século XIX1, foi através do contato com os autores alemães que pude perceber que havia também uma determinada consolidação de imagens do Brasil na Europa baseada neste mesmo mecanismo, ou seja, através de viagens, sobretudo de cunho naturalista ou de exploração científica – o que também ocorria no caso dos viajantes do Grand Tour. Ao pesquisar os viajantes que passaram pelo Brasil durante o século XIX, constatei que muitos relatos continham imagens, descrições, roteiros e conceitos semelhantes, e que ademais, era possível identificar os escritos de um autor no relato do outro, que portanto havia uma circulação significativa desta literatura entre a elite letrada européia. Neste período, freqüentei o curso de História do Cotidiano ministrado pela Profa. Maria Helena Machado, durante o qual tive a oportunidade de estabelecer diálogos mais profundos com a professora. Por sugestão sua, levantei informações biobibliográficas a respeito do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e seus escritos sobre o Brasil. Assim como outros viajantes do início do século XIX, Maximiliano estava familiarizado com os textos escritos por seus contemporâneos sobre viagens à América, e tinha formação acadêmica na Universidade de Goettingen, centro de produção de conhecimento proeminente na Prússia à época2. Diferentemente de seus contemporâneos, contudo, o diário de viagem intitulado Reise nach Brasilien in den 1 No final do século XIX, há uma disseminação maior das viagens de formação na elite européia, quando então a América, sobretudo os Estados Unidos, passa a figurar como parte do Grand Tour, principalmente em virtude dos romances e diários de viagem de cunho aventureiro escritos sobre o novo continente. Cf. LEED, Eric J. La mente del viaggiatore. Dall’Odissea al turismo globale. Bologna: Società Editrice Il Mulino, 2007. 2 Cf. Ringer, Fritz K. O Declínio dos Mandarins Alemães. São Paulo: Edusp, 2000. 1 Jahren 1815 bis 18173 contém a minuciosa descrição da estadia do Príncipe entre os índios Botocudo, constituindo uma espécie de primórdio dos estudos etnológicos que seriam realizados no Brasil. Ademais, a região do vale do Rio Doce, na qual vivem a maior parte dos índios visitados por Maximiliano, foi alvo de constante disputa entre colonos, índios e a coroa portuguesa durante as primeiras décadas do século XIX, além de ter despertado o interesse estrangeiro por conta de seus minérios e pela possibilidade destes serem escoados pelo próprio rio4. Figura 1. O príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied. c. 1860. Disponível [online] em http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Wied-Neuwied_Maximilian_zu_1782-1867.png. Desde a década de 1960, os relatos de viagem vêm sendo analisados por historiadores, antropólogos e demais áreas das ciências humanas dentro do contexto da busca pela “descolonização do conhecimento”, em grande parte decorrente da descolonização dos impérios europeus na África. Esta perspectiva parte do pressuposto que as tentativas de dominação européia na América, África e Ásia ao longo dos séculos XIX e XX – em suma, o imperialismo – não se limitaram ao âmbito econômico e 3 NEUWIED, Prinz Maximilian von Wied. Reise nach brasilien in den jahren 1815 bis 1817 von Maximilian Prinz zu Wied-Neuwied. Mit zwei und zwanzig Kupfern, neunzehn Vignetten und drei Karten. Frankfurt: Heinrich Ludwig Bronner, 1820. 4 Cf. ESPINDOLA, Haruf Salem. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005.; LANGFUR, Hal. Uncertain Refuge: frontier formation and the origins of the Botocudo War in late colonial Brazil. Hispanic American Historical Review, vol. 82, no. 2 (2002), p. 215-256.; e MATTOS, Isabel Missagaia de. Civilização e Revolta. Os Botocudos e a catequese na província de Minas. Bauru, SP: EDUSC, 2003. 2

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proximidades do Rio Doce, de suma importância na dinâmica comercial. Além da . 155.; Beitraege zur naturgeschichte von brasilien. Weimar:
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