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O Pensamento Antigo: História da Filosofia Greco-Romana I PDF

161 Pages·1971·13.758 MB·Portuguese
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Ù L BO frO M A m b ìt u c jo u C) PENSAMENTO ANTIGO RODOLFO MONDOLFO nasceu em Senigalia (Itália) em 1877. Estudou na Universidade de Florença onde se formou 'Ai' £/' X em Filosofia em 1899. Foi catedrático de História da Filosofia em várias Uni­ N-U' ¡^ 5r , versidades italianas. Compelido pelo regime fascista a ^ V« exilar-se, transferiu-se para a Argen­ r,p ^ :f tina, ocupando cátedras nas Universi­ dades de Córdoba e de Tucuman. Man­ teve cursos em outras Universidades , , y ; K t ^ A t / x </' argentinas e de outros paises ameri­ 'yW ' V -' \< P canos até 1945, quando lhe foi devol­ vida a cátedra de Bologna que ocupara ‘ ^ . t f „ % ;,a \ de 1913 a 1938. O govèrno helénico condecorou-o por suas obras de filosofia grega e a ff Ml Academia de Lince, de Roma, outor­ gou-lhe em 1949, o Prêmio Nacional. Em 1952 foi nomeado “Professor emérito”. w ?§■? As obras de Mondolfo atingem cer­ çr; ca de 400 e tratam de temas de socio­ logia, pedagogia, ética, metodologia, e v n scbretudo de história da filosofia anti­ ... ga, renascentista e moderna. Há vinte f\f w J anos, dedica-se especialmente ao estu­ do da filosofia grega. í - ... Neste livro, O Pensamento Antigo, encontramos exposta, com o vigor que caracteriza o autor, a história do pen­ $ > o a yyç samento, desde o surgir da reflexão fi­ losófica na Grécia até o neoplatonismo e o cristianismo em Roma, concluindo com uma tábua cronológica abrangen­ do o extenso período que vai do século X a.C. ao século VI de nossa era. Completa o livro, valiosa bibliogra­ fia atualizada pelo autor. vy \\ -rì/ %9>p ¡m h ñ /< .. '^ncaüL<> d a J ¿ iU U c ~ d f U i u Y ' " 1 1 PENSAMENTO ANTIGO HISTÓRIA DA FILOSOFIA GRECO-ROMANA RODOLFO MONDOLFO lM E F s HISTÓRIA DA FILOSOFIA GRECO-ROMANA I & EDITORA MESTRE JOU São Paulo Primeira edição em italiano ......... 1927 Terceira edição em italiano ......... 1961 Primeira edição em espanhol ......... 1942 Quarta edição em espanhol ......... 1959 Primeira edição em português ......... 1984 Segunda edição em português ......... 1966 Terceira edição em português ......... 1971 PREFÁCIO Nossa bibliografia filosófica é tão pobre que aos editores, no que se refere a traduções, se impõe cuidadosa seleção, a Título okiginal : fim de que o pouco que se faz se faça ao menos com a esco­ lha do que há de melhor e mais adequado às nossas necessi­ IL PENSIERO ANTICO dades. Quanto a êste livro de Rodolfo Mondolfo, não há dú­ vida, a escolha foi muito acertada. Já bem conhecido entre nós em sua edição argentina da Editora Losada, sempre o recomendamos aos nossos alunos da Faculdade de Filosofia como um bom livro de iniciação em estudos da Filosofia antiga. Os autores de manuais de História da Filosofia se encon­ Tradução de : tram, na verdade, diante de problemas difíceis. Os manuais são úteis, são necessários. Como, porém, fazer um resumo LVCURGO GOMES DA MOTTA do que escreveram os filósofos, sem trair o seu pensamento, sem pô-lo em esquemas pobres e entediantes, e até sem afeiçoá-los aos pontos de vista do próprio autor? Mesmo os mais conscienciosos e objetivos sabem que, em resumo, não é possível pôr seus leitores no ambiente cultural em que viveram os filósofos. Assim, os manuais, ainda os melhores, são mais informativos do que formativos. Raramente se en­ contrará entre êles algum que seja capaz de estimular a mente dos jovens para a Filosofia, pois que, em regra, ofe­ recem aos leitores frias abstrações em lugar do pensamento vivo e tantas vêzes dramático dos grandes pensadores. Rodolfo Mondolfo procura escapar a êsses perigos, ao menos em parte, apresentando o pensamento dos filósofos em textos dos próprios filósofos, escolhidos com grande cui­ Direitos reservaiddooss ppaarraa ttooddooss ooss ppaaíísseess ddee llííin gua portuguêsa dado e competência. É claro que tal seleção também poderá ser feita de modo a justificar determinadas interpretações. ppeellaa Em um livro de iniciação, porém, êsse perigo não será grande. EEDDIITTÔÔRRAA MMEESSTTRREE JJOOUU Trata-se de selecionar na obra dos filósofos, ou nos fragmen­ Rua Guaiippáá,, 551188 —— VViillaa LLeeooppoollddiinnaa ((AAllttoo da Lapa) tos que dêles nos restam, os textos mais significativos, mais São Paulo interessantes, aquêles que justificam as apresentações tra­ dicionais, ou mostram em que sentido devem ser corrigidas. De qualquer modo, há pelo menos a vantagem de pôr o leitor INTRODUÇÃO diretamente em contato com os filósofos. No Manual de Rodolfo Mondolfo distingue-se, até pela feição tipográfica, entre o que o filósofo disse e aquilo que o historiador lhe atribui. Assim, procurou o ilustre Áutor aliar a um primeiro AS ORIGENS E OS ELEMENTOS PREPARATÓRIOS contato com os textos uma indispensável orientação inicia­ DA FILOSOFIA GREGA dora, que se faz de duas maneiras: l.o) A sistematização dos textos em capítulos que têm I. O problema das origens das culturas orientais: as noções como assunto os grandes temas de cada filósofo. científicas e os conceitos especulativos orientais. Por exemplo, os textos de Platão se subordinam aos seguintes títulos: I. — O conhecimento; II. — [A História da Filosofia Grega encontra-se, em seu início, frente ao O ser e o mundo das idéias; III. — Deus e o mun­ discutidíssimo problema das origens, que se refere particularmente às re­ lações da Ciência e da Filosofia helénicas com a anterior sabedoria oriental. do; IV. — O homem e a alma; V. — O bem e a As grandes civilizações orientais, mesopotâmicas (isto é, sumérica e caldaica virtude; VI. — A lei e o Estado. ou assírio-babilônica, iraniana, egípcia, fenícia etc.), com as quais já havia estado em relações diretas ou indiretas a civilização pré-helênica (egéia ou 2.°) Entre os textos ou conjunto de textos que tratam creto-micênia), exerceram influxos, por todos reconhecidos, também sôbre de determinado assunto, o autor intercala notas a cultura helénica em vários campos, da técnica e da arte aos mitos e às de caráter explicativo, assinalando o sentido e a idéias religiosas. Já Heródoto, Platão, Aristóteles, Eudemo e Estrabão^ importância que têm na obra do filósofo estudado faziam provir dos caldeus, egípcios e fenícios, ciências cultivadas depois pelos gregos, como a Astronomia, a Geometria, a Aritmética; e Platão fazia, e no quadro geral da História da Filosofia. gabar pelo velho sacerdote egípcio a antigüidade da sua sabedoria em com­ paração com a infância da grega]. O resultado é compensador. O aspecto um tanto frag­ mentário que resulta do método de exposição escolhido e de Os gregos aprenderam com os babilônios o uso do qua­ sobra corrigido hão só pela já assinalada sistematizaçao em drante solar, o gnômon e as doze partes do dia (Heródoto, capítulos, como também pela elegância da linguagem nas II, 109). Constituídas já tôdas as artes (aplicadas às neces­ traduções e de sua simplicidade e clareza nos comentai ios sidades e ao conforto da vida), passou-se à descoberta das aos textos. _ ciências que não eram dirigidas nem ao prazer nem às ne­ Em suma, ótimo livro de introdução ao pensamento cessidades da existência; primeiramente, nos países onde antigo, tanto para os estudantes universitários, como a títu­ havia quem desfrutasse o ócio das ocupações intelectuais. lo de obra de vulgarização filosófica. _ ^ _ Por isso, criaram-se no Egito antes de em qualquer outro Assinalemos, finalmente, que esta tradução é mais ^ uma lugar, as disciplinas matemáticas, porque aí era concedido homenagem ao ilustre filósofo e historiador, que fuginao ao êsse conforto à classe sacerdotal (Aristóteles, Metafísica, “fascismo”, veio para a Argentina, onde há muitos anos vive, I, 1, 981 5). oferecendo à nação irmã uma colaboração preciosa como professor em suas universidades e à América espanhola e O primeiro a observar estas cousas (astronômicas) foi portuguêsa, uma série de importantes obras filosóficas. um estrangeiro (bárbaro). Pois um antigo país gerou os primeiros observadores dessas cousas que, pela beleza da es­ Livio Teixeira tação estival de que o Egito e a Síria gozam com prodigali­ dade, notavam, por assim dizer, sempre visíveis, tôdas as estréias, como os que habitavam partes do mundo sempre •de Heliópolis), quer através da luta entre as potências opostas do caos e afastadas das nuvens e da chuva. E desde então (essas no­ da ordem, das trevas e da luz, da morte e da vida, do ódio e do amor ções astronômicas) chegaram a tôdas as partes e também (Seíft e Horus, no Egito; Tiamar e Marãuk, na Babilônia); 4) a visão de uma conexão e simpatia universal, que une todos os sêres da natureza; aqui (na Grécia), provadas desde tempos imemoriais e infi­ 5) a noção de uma necessidade ou lei que a todos governe, e a concepção nitos. .. Mas fixemos que aquilo que nós, os gregos, adqui­ desta lei como retorno cíclico universal que se completa no grande ano rimos dos estrangeiros (bárbaros) foi finalmente aperfeiçoa­ cósmico, com uma volta periódica de tôdas as cousas; 6) a idéia de um do por nós (Epígnomis platônico: escrito provavelmente por ■dualismo entre corpo mortal e alma imortal e a preocupação do além-tú- mulo e do juízo dos mortos que se liga (como aparece no Livro dos Mortos Filipe de Opunte, 987 a, 987 e). egípcio) ao desenvolvimento das exigências éticas da justiça e da pure­ Oh! Sólon, Sólon!; vós, os gregos, sois sempre crian­ za moral. ças ... Não tendes ciência, que, por efeito do tempo, chegou São todos elementos fecundos de desenvolvimentos filosóficos, fáceis de transmitir na roupagem do mito, sob a qual se difundiram, de uma a outra, a ser antiga... Neste país (Egito)... o que é transmitido nas antigas culturas orientais. Como escreveu um autorizado orientalista se considera que seja o mais antigo que existe (Platão, Tini., •contemporâneo (G. Furlani, O poema da criação: Enuma Elis, Bolonha, 1934, 22 b; 23). pág. 19), “nos últimos decênios começou-se a compreender que todo o Orien­ te antigo teve sempre uma civilização discretamente uniforme, formada de [Mas, a uma derivação da Ciência e da Filosofia gregas da oriental inumeráveis e complicadíssimos contatos, intensos e contínuos, entre as seis (afirmada especialmente pelo helenismo tardio e por alguns orientalistas -ou sete civilizações, da islamítica à egípcia, das micrasiáticas à sumérica”. modernos), a crítica histórica do século XIX objetou que a cultura orien­ Através de contatos diretos ou indiretos, elementos importantes destas cul­ tal não podia dar aos gregos aquilo que ela própria não tinha, isto é, o turas, da técnica aos mitos, já se haviam transmitido à civilização pré-helê- •espírito científico e o processo lógico da pesquisa. A Astronomia caldaica nica; e tornam-se a transmitir à grega. E não deixa de ter significação o permanecia, com tôdas as suas observações e registros seculares, simples fato de terem a Ciência e a Cultura gregas nascido e se afirmado primei­ Astrologia, cujo fim essencial era o horóscopo; a Geometria egípcia, limi­ ramente nas colônias da Ásia Menor e na época (entre os séculos VII e VI) tada a uma técnica de medidas para fins práticos, espécie de Agrimensura; em que Mileto, Samos, Éfeso etc. tinham intensificado as suas relações di­ a Matemática do Egito e da Caldéia, limitadas a cálculos empíricos, sem retas com o Egito e indiretas com a Mesopotâmia e o Irã, especialmente elevar-se às exigências lógicas da demonstração, representariam um estádio através da Fenícia e da Lídia. pré-científico, que o gênio grego logo superou por virtude própria, tornan­ Apresentamos aqui, em breves citações, algumas provas das cosmogonias do-se criador da Ciência e da Filosofia. Todavia, estudos mais recentes reva­ e teorias cósmicas orientais: duas relativas à derivação do cosmos, de um lorizaram em parte a Ciência mesopotâmica e egípcia, reconhecendo, junto •caos aquoso primordial (como no mito grego de Oceano e na Cosmologia à técnica dirigida a fins práticos utilitários, também, às vêzes, um interêsse de Tales) na Cosmogonia babilónica e na egípcia; a outra relativa à idéia científico desinteressado, uma tendência à generalidade e um encaminhamen­ •do grande ano, em que, periodicamente, se desenvolveria o ciclo cósmico]. to à racionalidade. E junto a êste início de pesquisa científica (reconhecido entre os babilônios especialmente na Matemática, e entre os egípcios na Quando a parte de cima não era (ainda) chamada Céu, Medicina) admite-se também, nas culturas orientais, dentro da especulação — a parte de baixo, a (Terra) firme, não tinha (ainda) um religiosa, a existência e a formação de conceitos, envoltos, é verdade, em formas míticas, mas capazes de desenvolvimentos filosóficos. Lembremos nome, — Apsu primeiro, o seu gerador, — Mummu e Tiamat, os principais' 1)A idéia da unidade universal, afirmada entre egípcios e a geratriz de tôdas elas — suas águas misturavam-se entre mesopotâmicos sob a forma de unidade divina, em vagas formas de pan­ si — não se havia (ainda) construído habitações (para os teísmo ("o Deus dos inumeráveis nomes, que cria os próprios membros, que são os Deuses”; “o Uno, único, pai dos pais, mãe das mães”; “soma das Deuses), — e a estepe ainda não era visível, — quando (ain­ existências e dos sêres”, de que surge todo devir, que logo reflui a êle; da) nenhum Deus tinha sido criado, — e (ainda) não ti­ •2) a Cosmogonia concebida, nas suas várias exposições, como passagem da nham nome, e os destinos não haviam sido determinados a unidade caótica indistinta primordial à distinção dos sêres, como passagem nenhum, — os Deuses foram procriados no meio dêles... •do caos (caos aquoso: Tiamat, em Babilônia, Nun, no Egito) e das trevas à ordem e à luz (com Marãuk, na Babilônia, Ra ou Rie, no Egito); ¿J as {Enuma Elis, poema babilónico da criação: exórdio). diferentes explicações dadas ao processo cosmogónico quer pela potencia intrínseca do mesmo princípio originário (como na Babilonia Tiamat ma [Apsu é o abismo primordial, Mummu, o ruído das águas, Tiamat, o •da totalidade, criadora de tôdas as cousas”), quer pela intervenção de um Oceano universal, que formam juntos o Caos aquoso originário, antes de espírito sôbre a matéria que contém os germes de todos os seres (como nascer e ter nome algum outro Deus. Continua depois a história do nasci­ Aton Ra, o espírito que sobrenada as águas de Nun, na Cosmogonia g p mento dos outros Deuses (sêres e fôrças cósmicas) e de formação do cos­ ,a sua atividade intelectual, anterior ao surgir das primeiras escolas filosó­ mos e depois a grande luta entre as divindades primordiais ou fôrças do· ficas, mostram um vivo fermentar de pensamento, que ia preparando o caos tenebroso e as divindades ou fôrças da luz e da ordem cósmica, que desenvolvimento da Filosofia: a qual, por outro lado, no seu significado mais termina com a vitória destas últimas]. geral, de reflexão do homem sôbre si mesmo, a vida e o mundo, é tão antiga como a humanidade pensante]. No comêço era Nun, massa liqüida primordial, em cuja infinita profundidade flutuavam confusos os germes de tô- É característico do filósofo êsse estado de ânimo: o ma­ das as cousas. Quando o Sol começou a brilhar, a Terra foi ravilhoso, porque outro não é o princípio da Filosofia; e aplainada e as águas separadas em duas massas distintas: aquêle que disse ser íris (a Filosofia) filha de Thaumante uma gerou os rios e o Oceano; a outra, suspensa no ar, for­ (a maravilha), parece que não estabeleceu mal a genealogia mou a abóbada celeste, as águas do alto, nas quais, astros (Platão, Teeteto, 155 d). e Deuses, transportados por uma corrente eterna, se puse­ A maravilha sempre foi, antes como agora, a causa pela ram a navegar (Maspero, Hist. anc. des peuples de l Oi ient qual os homens começaram a filosofar: a princípio perma­ 27, de antigos papiros egípcios). necendo surpresos pelas dificuldades mais comuns; depois, a pouco e pouco, avançando mais, propuseram problemas ro Sol Atum Rie, é o espirito que sobe acima das águas e dá lugar à geração da primeira tríade cósmica, de que se origina depois a eneada di­ cada vez mais importantes, como por exemplo os que gira­ vina" dos elementos e das potências cósmicas]. vam em tôrno dos fenômenos da Lua, do Sol e dos astros, e finalmente os relativos à gênese do todo (Universo). Ora, Beroso (babilônio), que interpretou Belo, disse que o quem duvida e se maravilha, crê ignorar. E por isso, sob grande ano cósmico se completa pelo curso das estréias, e um certo aspecto, também o amante do mito é filósofo: uma afirma-o com tal segurança, como para determinar o mo­ vez que o mito se compõe de maravilhas (Aristóteles, Meta­ mento da conflagração e do dilúvio (Sêneca). física, I, 2, 982 b). ro grande ano cósmico, que é o período em que se completa o ciclo b) A primeira forma da reflexão: o mito e o seu paren­ do eterno retôrno dos giros cósmicos, tem o seu estio na conflagraçao, o tesco com a Filosofia. A unidade primordial imediata entre seu inverno no dilúvio universal. Beroso, sacerdote caldeu do III seculo a.C. eco de antigas tradições da Babilônia, calculava-o em 432 mil anos os problemas humanos e problemas cósmicos. — O amante (Cfr. Fragm. historie, graec., fr. 4 de Beroso); mas os autores gregos cal­ do mito é de certo modo também um filósofo, uma vez que culavam-no entre 10 e 30 mil anos, no máximo]. o mito se compõe de maravilhas. (Aristóteles, loc. cit.). Por tradição os antigos, ou melhor, os antiquíssimos, (teólogos), transmitiram a nós, seus descendentes, na forma do mito, 2. Os elementos preparatórios na reflexão religiosa e moral que os astros são Deuses e que o divino abrange tôda a na­ dos gregos. tureza ... Costuma-se dizer que os Deuses têm forma hu­ mana, ou se transformam em semelhantes a outros sêres a) O nascimento da reflexão e da pesquisa da maravi­ viventes... Porém, pondo-se de lado tudo o mais, e conser­ lha (consciência de não compreender ou consciência dos pro­ vando-se o essencial, isto é, se se acreditou que as substân­ blemas) : cias primeiras eram Deuses, poderia pensar-se que isto foi dito por inspiração divina, e, provavelmente de tôda Árte e [Conquanto os gregos pudessem auferir, das culturas orientais, numero­ Filosofia... perdidas (nas catástrofes cósmicas cíclicas), sos e fecundos elementos de conhecimento e estímulos de reilexao, nao estas opiniões conservaram-se até agora, quase como relíquia obstante, êles, que eram impelidos, na sua mesma atividade de mercadores e colonizadores (como Aristóteles, na Constituição dos Atenienses, cap. XI, (da mais antiga sabedoria). E, assim, as opiniões dos pais disse de Sólon), pelo duplo desejo “de comerciar e de ver”, tmham na sua e dos primeiros progenitores manifestaram-se na mesma curiosidade inata e característica, um estímulo eficacíssimo para a criaçao medida (Aristóteles, Metafísica, XII, 8, 1074 b). da Ciência e da Filosofia. E os documentos e as notícias que temos sobre das; e já havia sido visto claramente por Platão, quando notava que os. Há alguns que crêem que,_tambem os mais ant^s, que elementos naturais são personificados pelos cosmólogos, que concebem as­ viveram muito antes da geraçao atual e 03 Pr^ e a res. suas relações recíprocas como matrimônios, gerações e lutas, governadas, ar, tenham pensado do mesmo e de pelas fôrças opostas do Amor e do Ódio. “Parece-me que cada um dêles (os filósofos que querem definir quais e· peito da natureza, uma vez que fizeram pelos quantas são as cousas) nos relata uma espécie de mito, como se fôssemos- Tétis os progenitores da geraçao £ ramento dos Deu- meninos: um, que os sêres são três e que algumas vêzes se combatem entre poetas Estígia, apresentaram -m com ^ juramento é a si, e outras vêzes, tornando-se amigos, convidam-nos para assistir às suas· núpcias e nascimentos e educação da prole. Outro, que são dois (úmido L : « » . I. 3, 983 í». e sêco ou quente e frio), une-os e desposa-os. A estirpe dos eleatas entre­ nós, que começa em Xenofonte, ou até antes, conta-nos os seus mitos, como se o que se chama “tôdas as cousas” fôsse uma cousa só. Certas musas jónicas (Heráclito) depõem, e algumas sicilianas posteriores a elas (Empe­ cípio deste S™ 1 0 *“ ¿d0 Hesiodo ou qualquer outro, se docles), concordam em pensar que seja mais seguro entrelaçar um mito· com outro, e dizer que o ser é múltiplo e um, e que é conservado unido· pelo ódio e pelo amor” (Sofista, 242 c). Deve-se acrescentar a estas observações que não só as cosmogonías fi­ losóficas se modelam em parte sôbre as precedentes teogonias míticas, do­ minadas pelas relações de geração e luta, mas que o mesmo conceito de­ cosmos é tirado do mundo humano (a acomodação, a ordem da dança, a, ordem dos exércitos) para ser aplicado a natureza, e que a idéia de lei natural é, no comêço, uma idéia de justiça (Dike), com a pena de Talião ™ s% ue?reSSsaTent?e “ doS os imortais” - manilestando para tôdas as infrações: ou seja, que tôda visão unitária da natureza é f ñ e 'S d a t nos sêres, d u m a causa que mova e una as apenas uma projeção da visão da polis (sociedade e estado dos homens) cousas (Aristóteles, Metafísica, I, 4, 984). no universo. A primeira reflexão sôbre a natureza apóia-se e une-se à re­ flexão sôbre o mundo humano, que deve tê-la precedido para poder fome- cer-lhe os próprios quadros e conceitos diretivos]. [A forma mítica e a n tro p o « ^ S o S l T M o s .r — .ta. « e le s Jé estav. pi™»»*« »»­ 3. Os primeiros problemas relativos ao universo. [Tendo presentes as observações já feitas, sôbre a dependência inicial grande importancia sob um outro ;asp«<3 . q problemas hu­ da primeira reflexão a respeito da natureza da precedente reflexão sôbre o· mas cósmicos são concebld°s, as normas dêstes, com a personifi- mundo humano, podemos, sem inconvenientes, seguir a ordem costumeira, manos, isto é, acham-se modelados s - dag guas reiações como se na exposição, e examinar as meditações relativas ao universo antes das que cação dos elementos naturais e P e regem as relações entre os se referem ao homem. Esta é uma ordem lógica de exposição, que não· estivessem governado%PealaSfe“ !entemente) que, ao contemplar e procurar quer significar ordem cronológica de apresentação histórica], homens. O que significa (evidenteme:n > q , ( do mesmo modo compreender a natureza, o Pe— ito “ ^ L m a n o : ou seja, que a re­ I. O PROBLEMA DAS ORIGENS CÓSMICAS EM HOMERO possa usar) os conceitos relat reflexão sôbre o mundo natural, flexão sôbre o mundo humano p entrelaçou e se apoiou naquele, — Oceano gerador dos Deuses, e Tétis mãe (Ilíada,, que por isso, no seu Pr™eir° surgir _da bagta para desorientar as E esta observação, tao evidente qu q , rafia)j de que a atenção XIV, 201 e 302). convicções tradicionais (lugar-comum mUndo humano, do homem se volte para a natureza fisn°a> " íf 3¿ fa transf0rmar-se em [A lenda de Oceano progenitor de todos os Deuses — isto é, das deri­ e por isso a Filosofia começa c o m o ^ Em realidade, a vações do cosmos de um princípio aquoso — leva-nos novamente à civilização Antropologia, sòmente em uma to; e (0 que não é menos pré-helênica (egéia), de que Homero representa o eco. Trata-se do mito já. precedência da forma mitológica dem°ns £ u aparecimento conserva comum a tôdas as antigas civilizações orientais — babilónica, egípcia, he­ braica, fenícia etc. — a cujas provas, relativas à Babilônia e ao Egito, já nos referimos. A interpretação cosmogônica do mito, como se viu já havia sido- confirmada na Grécia, antes de Aristóteles. 5S ” ã* í . p tr f S"como aparece nas p » * » . « * » ■** •■Há quem creia que também os mais antigos que viverami muite, antes [A êste relato da geração dos Deuses, que continua em lon°a série e pretende ser história da geração de todos os sêres cósmicos, sesue ém Hesiodo a narração das lutas ferozes que surgem entre as divindades hostis: e Tétis os progenitores da geração e a agua, — d a ^ ^ que quer ser história dos tremendos conflitos entre as grandes fôrças cós­ "Estígia” apresentaram como juramento dos Deuses, isto , micas. Estas teomaquias terminam com a vitória de Zeus, isto é, das fôrças venerada, ou seja, a mais antiga de tôdas”. » * c a I 983 ^ :Entre^ da ordem e da luminosidade do cosmos. Nas descrições, que acompanham “alguns” de que fala Aristóteles, e Tétis a mãe, também o relato da luta, são expressas idéias cosmológicas que influíram sôbre vez Homero disse que Oceano e geradordos Deuses^ e Tetis, * várias concepções dos filósofos naturalistas posteriores. Daremos alguns exemplos], Hesiodo em algum ° das belas ondas, foi o primeiro que * _ ^ íülelta„ rrâtiln 402 b). Tétis, - sua irmã nascida da, m e s m a j n a ^ q pen;amento de Ho- &) A Terra, o Céu, o Tártaro. — “O Céu está tão dis­ Também M emo c®sel^ a 0 neoplotônico Damáscio mais tarde tante da Terra como o Tártaro nebuloso se acha afastado mero sobre a origem das coubat,, ui„rfornn h« nue Homero comece desta. Precipitando-se, pois, do Céu, um bólide de bronze objetava: a Noite é uma por Oceano e Tetis, porque paieo h «DOÍS se absteve de come- durante nove noites e nove dias, chegaria à Terra somente no décimo; por sua vez, precipitando-se da Terra, o mesmo “ da6 ingratidão^'contra T S e , que se abisma”. « , XXV, 261). bólide chegaria ao Tartaro no fim de nove noites e de nove Ma~ gr r a - te é também chamada: dias. Em tôrno dêste acha-se estendida uma barreira de “domadora dos Deuses e dos homens (2o9)]. bronze; ao seu redor,a noite distende a sua tríplice faixa de sombras na estrada; mais acima estão as raízes da Terra e do mar imenso” (Teogonia, 720 e ss.). IX. PROBLEMAS DO COSMOS EM HESÍODO [Aqui se vê uma concepção de vastidão do cosmos que aparece tanto a) As origem·, o ser vrirmrdM {Caos) ? mais grandiosa quando se pensa no valor místico de números perfeitos atribuídos ao 9.» e ao 10.° dias de queda e de chegada do bólide que se precipita do Céu à Terra ou da Terra ao Tártaro. Estas concepções teogô- nicas influirão sôbre a visão do infinito nos cosmólogos pré-soeráticos: a idéia, pois, da raiz da Terra e do mar, que se estende ao Tártaro, dará a Xenófanes o estímulo para afirmar que as raízes da Terra se prolongam por baixo ao infinito, para assim eliminar o Tártaro], c) A persistência do Caos nos confins, como continente domina no coraçao de todos os moi do cosmos: a tempestuosiãade do Caos, preparação da idéia lho prudente. De Caos nasceram Erebo e a negra _wo« do ciclo de formações e dissoluções dos cosmos. — Ali, além (Nix) ; e da Noite foram gerados o E tere o Dia (Ei ) de tôdas as cousas, acham-se as fontes e os limites da Terra pois ela os concebeu ao unir-se com Éieba E pnmeuo escura, e do Tártaro nebuloso e do mar infinito e do Céu Terra gerou, semelhante a si propna em grandeza o Ce« estrelado; fontes e limites terríveis, tenebrosos, que os Deu­ estrelado (Urano), para que tudo cobrisse, paia qu ^ ses odeiam: é o grande Abismo (casma); e não bastaria ain­ morada segura para os Deuses ditosos. E g _ _ P d&g da todo um período astronômico para que as cousas che­ grandes Montes, habitações agraaaveis dos Deus s , gassem a tocar o fundo, após haverem transposto as suas Ninfas, que habitam as montanhas cheias dy vaies. C<jnce portas a princípio, mas daqui para ali seriam levadas por beu depois Ponto, o mar indomável e estenl que ao mtu- tremendas tempestades, prodígio espantoso também para os mescer-se, se lança furioso, sem (o concurso) de amoroso Deuses imortais; e as terríveis moradas da Noite tenebrosa amplexo. (Teogonia, 113 e ss.). estão cobertas de nuvens profundas. (Teogonia, 736 e ss.)

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