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O Mito Moderno da Natureza Intocada PDF

162 Pages·2001·0.86 MB·Portuguese
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Orelha da Capa: O Mito Moderno da Natureza Intocada trata das relações simbólicas e do imaginário entre o homem e a natureza, tendo como centro da análise as áreas naturais protegidas. No mundo em que a civilização urbano-industrial desenvolveu conhecimentos científicos, tecnologias e também meios poderosos de devastação da natureza, rompendo antigas alianças que ligavam o homem à natureza, os mitos ainda continuam vivos. Um desses mitos modernos, originário dos países industrializados, se refere às áreas naturais protegidas, consideradas pelo ecologismo preservacionista como o paraíso, um espaço desabitado, e que a natureza deve ser conservada virgem e intocada. Sucede que esse mito se confronta com outros mitos e simbologias que as populações tradicionais moradoras de parques nacionais protegidos (indígenas, pescadores artesanais, ribeirinhos) têm em relação ao mundo natural. Esse trabalho é também fruto de pesquisas e reflexões sobre o papel da diversidade sócio-cultural e diversidade biológica na afirmação da necessidade de se encontrar uma relação mais harmoniosa entre o homem moderno e a natureza. Capa: J. M. Rugendas, "Forêt vierge pres Manqueritipa, dans la province de Rio de Janeiro", in Malerische Reise in Brasilien, 1835. Orelha da 4° capa: Antonio Carlos Sant'Ana Diegues é professor da Universidade de São Paulo, no Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental e no Departamento de Economia e Sociologia Rural da ESALQ. É também coordenador científico do NUPAUB — Núcleo de Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas do Brasil, da Universidade de São Paulo. Trabalhou vários anos na ONU, em Genebra e em Roma, onde através de contínuas viagens à Ásia, África e América Latina obteve amplo conhecimento das condições ambientais e das populações humanas desses continentes. Como diretor do NUPAUB, organizou vários projetos de pesquisa de caráter interdisciplinar nas regiões litorâneas, Pantanal e Amazônia, em colaboração com várias universidades brasileiras e organizações internacionais. É autor de vários livros, entre os quais Pescadores, Camponeses e Trabalhadores do Mar (Ática, 1983), O Nosso Lugar Virou Parque (NUPAUB, 1994), Povos e Mares (NUPAUB, 1995) e Ecologia Humana e Planejamento em Áreas Costeiras (NUPAUB, 1996). 4° capa: O mito moderno da natureza intocada trata das relações entre o ser humano e o mundo natural neste final de século, marcado por processos globais que têm levado a uma crescente degradação ambiental. Nesse contexto, as sociedades ocidentais, e sobretudo parte dos movimentos ambientalistas, têm criado mitos e representações simbólicas que têm por objetivo estabelecer ilhas intocadas de florestas, os parques e reservas naturais onde a natureza pudesse ser admirada e reverenciada. O livro analisa as várias concepções sobre o mundo natural, o papel das culturas e os debates atuais sobre as formas mais adequadas de proteger a diversidade biológica e a sócio-cultural. visite nosso site www.hucitec.com.br EDITORA HUCITEC NUPAUB — Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras—USP Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo Comissão Editorial do NUPAUB Yvan Breton (Université Lavai, Canadá), Patrick Dugan (UICN, Suíça), AzizAb'Saber (IEA-USP), Lourdes Furtado (Museu Emílio Goeldi), Alex F. Mello (Universidade Federal do Pará), Paulo Sodero (ESALQ-USP), Paulo Freire Vieira (Universidade Federal de Santa Catarina), Waldir Mantovani (USP), Simone Maldonado (Universidade Federal da Paraíba), Antonio Carlos Diegues (coordenador - USP). Endereço NUPAUB Rua do Anfiteatro, 181 - Colméia - Favo 6 Universidade de São Paulo - Butantã 05508-900 São Paulo - SP - Brasil Tel: 00-55 (11) 818 3425 Fax: 00-55 (11) 813 5819 www.nupaub.usp e-mail: [email protected] ANTONIO CARLOS SANTANA DIEGUES Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo O MITO MODERNO DA NATUREZA INTOCADA 3.a EDIÇÃO EDITORA HUCITEC NÚCLEO DE APOIO À PESQUISA SOBRE POPULAÇÕES HUMANAS E ÁREAS ÚMIDAS BRASILEIRAS/USP São Paulo, 2001 © Direitos autorais, 1996, de Antonio Carlos Sant'Ana Diegues. Direitos de publicação reservados pela Editora Hucitec Ltda., Rua Gil Eanes, 713 - 04601-042 São Paulo, Brasil. Telefones: (11)240-9318. Vendas: (11)543-5810. Fac-símile: (11)530-5938. E- mail: [email protected] Home-page: www.hucitec.com.br Foi feito o depósito legal. A primeira edição deste livro, de 1.300 exemplares, foi publicada, em 1994, pelo NUPAUB-USP — Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras, da Universidade de São Paulo. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Sandra Regina Vitzel Domingues) D559mi Diegues, Antonio Carlos Santana O mito moderno da natureza intocada / Antonio Carlos Santana Diegues. — 3.a ed. — São Paulo : Hucitec Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras, USP, 2000. Bibliografia: p. 161. ISBN 85-271-0345-1 1. Ecologia 2. Ecologia - Aspectos políticos 3. Natureza Preservação 4. Proteção Ambiental I. Título. CDD - 574.5 304.2 Índice para catálogo sistemático: 1.Ecologia: Meio Ambiente 574.5 2.Política Ambiental: Ecologia: Sociologia 304.2 3.Preservação Ambiental: Natureza 574.5 4.Ecologia: Proteção Ambiental 574.5 Para João e Ana Paula, fruto de sonhos antigos e que, crianças, ainda brincam com unicórnios azuis nos parques do mundo. Sumário PREFÁCIO.........................................................................11 INTRODUÇÃO....................................................................13 1.O SURGIMENTO DO MOVIMENTO PARA A CRIAÇÃO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS NOS ESTADOS UNIDOS E SUAS BASES IDEOLÓGICAS 23 • HISTORIA DA NOÇÃO DO MUNDO SELVAGEM (WILDERNESS) 23 • Conservacionismo dos Recursos Naturais versus Preservacionismo nos Estados Unidos..........................................................28 - A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS....................29 - O PRESERVACIONISMO....................................................30 2.DA CRÍTICA À EXPORTAÇÃO DO MODELO DE PARQUES NACIONAIS NORTE-AMERICANOS ........................................................ 35 3.ESCOLAS ATUAIS DE PENSAMENTO ECOLÓGICO E A QUESTÃO DAS ÁREAS PROTEGIDAS...................................39 •A ECOLOGIA PROFUNDA (DEEP ECOLOGY)......................44 • ECOLOGIA SOCIAL..........................................................45 • ECO-SOCIALISMO/MARXISMO.........................................47 4.OS MITOS BIOANTROPOMÓRFICOS, OS NEOMITOS E O MUNDO NATURAL 53 • Os MITOS BIOANTROPOMÓRFICOS.................................54 • Os MITOS MODERNOS: OS NEOMITOS...........................57 • A CONTEMPORANEIDADE DOS MITOS BIOANTROPOMÓRFICOS E DOS NEOMITOS..............................................................61 5. AS REPRESENTAÇÕES DO MUNDO NATURAL, O ESPAÇO PÚBLICO, O ESPAÇO DOS "COMUNITÁRIOS" E O SABER TRADICIONAL............................................................... 63 • As REPRESENTAÇÕES DO MUNDO NATURAL E AS CULTURAS TRADICIONAIS.................................................63 • As REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO: O ESPAÇO PÚBLICO, O ESPAÇO DOS "COMUNITÁRIOS" NAS ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS.....65 • A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, OS SABERES E O PODER...............................................................................69 6.AS POPULAÇÕES TRADICIONAIS: CONCEITOS E AMBIGÜIDADES...........................................................75 •Os CONCEITOS DE CULTURA EM SUA RELAÇÃO COM A NATUREZA EM ALGUMAS ABORDAGENS ANTROPOLÓGICAS...............75 - A ECOLOGIA CULTURAL...................................................75 - A ANTROPOLOGIA ECOLÓGICA.........................................76 - AETNOCIÊNCIA.................................................................78 - A ANTROPOLOGIA NEOMARXISTA (OU ECONÔMICA)..........78 •CULTURAS E POPULAÇÕES TRADICIONAIS.......................80 •As DEFINIÇÕES DAS CULTURAS TRADICIONAIS...............87 •CULTURAS TRADICIONAIS E MUDANÇAS SOCIAIS............91 7. HISTÓRICO DA NOÇÃO DE PARQUES NACIONAIS E O SURGIMENTO DAS PREOCUPAÇÕES COM AS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DE MORADORES 99 8. PARQUES NACIONAIS E CONSERVAÇÃO NO BRASIL......111 9. O SURGIMENTO DA PREOCUPAÇÃO COM AS POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO BRASIL ............................................... 125 •A PROTEÇÃO DA NATUREZA E OS NOVOS MOVIMENTOS ECOLÓGICOS BRASILEIROS...................................................................125 - Os PRESERVACIONISTAS................................................125 - O AMBIENTALISMO COMBATIVO E DENUNCIADOR..........126 - O ECOLOGISMO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS..................130 • As AGRESSÕES DOS MODOS DE VIDA TRADICIONAL E AS AMEAÇAS DE • DESORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA E CULTURAL................130 • Os TIPOS DE MOVIMENTO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS ÁREAS PROTEGIDAS........................................................136 -MOVIMENTOS AUTÔNOMOS LOCALIZADOS SEM INSERÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS AMPLOS..............................................................137 a) MOVIMENTOS LOCAIS ESPONTÂNEOS..................................................137 b) MOVIMENTOS LOCAIS TUTELADOS PELO ESTADO................................138 c) MOVIMENTOS LOCAIS COM ALIANÇAS INCIPIENTES COM ONGS...........142 -MOVIMENTOS LOCAIS COM INSERÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS AMPLOS: AS RESERVAS EXTRATIVISTAS....................................................146 10. POPULAÇÕES TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE............................149 11. CONCLUSÕES..................................................................................157 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................161 Prefácio O MODELO de criação de áreas naturais protegidas, nos Estados Unidos, a partir de meados do século XIX, se constitui numa das políticas conservacionistas mais utilizadas pelos países do Terceiro Mundo. Parte da ideologia preservacionista subjacente ao estabelecimento dessas áreas protegidas está baseada na visão do homem como necessariamente destruidor da natureza. Os preservacionistas americanos, partindo do contexto de rápida expansão urbano-industrial dos Estados Unidos, propunham "ilhas" de conservação ambiental, de grande beleza cênica, onde o homem da cidade pudesse apreciar e reverenciar a natureza selvagem. Desse modo, as áreas naturais protegidas se constituíram em propriedade ou espaços públicos. A transposição desses espaços naturais vazios em que não se permite a presença de moradores, entrou em conflito com a realidade dos países tropicais, cujas florestas eram habitadas por populações indígenas e outros grupos tradicionais que desenvolveram formas de apropriação comunal dos espaços e recursos naturais. Mediante grande conhecimento do mundo natural, essas populações foram capazes de criar engenhosos sistemas de manejo da fauna e da flora, protegendo, conservando e até potencializando a diversidade biológica. Existe nesses países grande diversidade sócio-cultural responsável por séculos de manejo do mundo natural, que tem garantido a diversidade biológica. A imposição de neomitos (a natureza selvagem intocada) e de espaços públicos sobre os espaços dos "comunitários" e sobre os mitos bioantropomórficos (o homem como parte da natureza) tem gerado conflitos graves. Em muitos casos, eles têm acarretado a expulsão dos moradores tradicionais de seus territórios ancestrais, como exige a legislação referente às unidades de conservação restritivas. Na maioria das vezes, essas leis restringem o exercício das atividades tradicionais de extrativismo, caça e pesca dentro das áreas protegidas. Mais recentemente, no Brasil, sobretudo após o período autoritário — quan- 11

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