ebook img

O mistério do ser ante a dor e a morte PDF

101 Pages·2011·0.32 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview O mistério do ser ante a dor e a morte

J. Herculano Pires O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte Uma visão atual da problemática existencial à luz da Filosofia, da Religião e da Ciência J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 2 Título: O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte Autor: J. Herculano Pires 3ª Edição – 1996 – 3.000 exemplares Capa: Ícaro Revisão: Demetre Abraão Nami Direitos desta edição reservados à Editora Paidéia Ltda., segundo os dispositivos legais. Pedidos à: Editora Paidéia Ltda. Rua Dr. Bacelar, 505 - V. Clementino CEP: 04026-001 - São Paulo - SP - Brasil C.G.G.: 48.054.506/0001-00 Inscrição Estadual: 109.772.113 Tel. (11) 5549-3053 - Fax (11) 5182-5836 Site: www.editorapaideia.com.br J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 3 Para Samuel Balababian que desceu entre os supostos destroços da Arca de Noé, no Monte Ararat, foi escravo dos beduínos no deserto, barbeiro em Buenos Aires e barbeiro nos Diários Associados de São Paulo, na Rua 7 de Abril, onde me contava anedotas armênias, e um dia me per- guntou: “Por que temos de sofrer tanto neste mundo e morrer sem ter conseguido nada?” Se Samuel não entendeu esta resposta, estaremos quites, pois muita coisa que ele me contou, na língua da Torre de Babel, mis- turando árabe, armênio, espanhol e português, eu também não entendi. O principal é que no rosto envelhecido e cansado de Samuel, tocado pela sombra da morte, passou um sopro de alegria quando eu lhe disse que a sua pergunta me levara a escrever um livro. J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 4 Índice O que todos devemos saber..........................................................5 1. Os Capatazes de Deus............................................................9 2. Os Mecanismos do Sensível.................................................14 3. Do Sensível ao Inteligível....................................................21 4. O Mundo sem Dor................................................................31 5. A Lagosta de Sartre..............................................................37 6. Os Caminhos Incertos da Experiência..................................43 7. As Revoluções Conceptuais.................................................49 8. Os Caminhos Escusos da Moral...........................................55 9. O Controle Ético da Moral...................................................61 10. A Síntese Estética da Consciência......................................67 11. Os Perigos da Consciência Prática.....................................74 12. O Ser Moral........................................................................83 13. A Certeza da Vida Após a Morte........................................90 Ficha de Identificação Literária..................................................99 J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 5 O que todos devemos saber O avanço do conhecimento nos últimos dois séculos, e parti- cularmente neste século, deu-nos, pela primeira vez no mundo, os dados necessários para o esclarecimento científico da problemáti- ca existencial, ou seja, da natureza e da condição do homem. O desenvolvimento da razão e, conseqüentemente, das técnicas de pesquisa abriu-nos possibilidades decisivas de uma penetração mais profunda no mistério de nós mesmos. Libertamo-nos da sistemática filosófica e do emaranhado contraditório das proposi- ções teológicas, para encararmos o problema do homem com realismo, sem os temores e os embaraços da superstição e da religião. Mas a pesada herança dos milênios de obscurantismo, alimentados pela magia primitiva, pelo temor do sagrado, pela nebulosidade dos conceitos formais sobre as coisas e os seres, tudo isso em conflito com a mentalidade mitológica, as concep- ções materialistas, a ferocidade das instituições religiosas, gerava um pandemônio que não podia levar a nada. Todos tinham e não tinha razão, mas vencia a sem-razão dos mais poderosos. Atualmente, apesar dos pesares, a metodologia científica e as técnicas romperam as antigas barreiras, graças aos resultados positivos de suas atividades, criando condições mais favoráveis a um tratamento objetivo do problema do homem. Nossa visão atual oferece mais opções racionais para uma tomada de posição realis- ta e liberta de perturbações da metafísica fideísta. Acentuou-se nas massas a tendência pelas descobertas científicas e definiu-se a existência de uma elite do saber que dispõe de recursos para afugentar as fascinações da mentira piedosa. Queremos hoje a verdade provada e não apenas o carimbo oficial dos supostos J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 6 donos da infalibilidade consagrada pela evidente falibilidade humana. Essa é a razão de voltarmos, neste livro, às teses antigas sobre o homem e particularmente sobre os temas de Léon Denis em seu livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Não repisamos esses temas, mas procuramos desenvolvê-los mais amplamente na perspectiva filosófica e científica dos nossos dias. A posição de Denis, ligada aos fins do século passado e prin- cípios deste século, é ainda bem recente. Mas o aceleramento cultural de hoje encurtou as fases, antes seculares, da complemen- tação de dados substanciais em diversos rumos da problemática. Não se trata, pois, de uma revisão arbitrária de obra clássica e consagrada culturalmente, que continua válida e necessária, na sua inteireza de pensamento e linguagem, mas de um desenvolvi- mento também necessário dos temas do grande pensador da Lore- na, que teria hoje novos dados para enfrentar Voltaire na quase polêmica de que o poeta Gaston Luce, contemporâneo de ambos, nos dá numa rápida informação em seu livro Vida e Obra de Léon Denis. Os leitores de Denis verão que não nos ativemos ao seu esquema e nem tentamos reformular as suas proposições. Procu- ramos apenas ajustar a sua temática à realidade dos nossos dias. Valemo-nos de nossa afinidade com Denis e sua obra para conti- nuar tratando do assunto, com a maior amplitude possível, no desenvolvimento atual da cultura. Essa é uma exigência do nosso tempo, considerada como indispensável em todos os ramos do conhecimento. Cada fase do desenvolvimento cultural cria novo clima e oferece maiores possibilidades para o trabalho intelectual. As obras clássicas correspondem às diversas fases do passado e são consideradas completas em si mesmas, obras feitas e intocá- veis na sua dignidade de testemunhas da grandeza do seu tempo. É crime desfigurá-las a pretexto de atualizá-las, como fazem hoje as religiões cristãs em suas novas edições da Bíblia. Essa violação J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 7 criminosa (crime moral e crime cultural ao mesmo tempo) só ocorre, por estranho que pareça, justamente nas áreas religiosas, que consideram sagradas as obras da revelação. Ignorância e interesse imediatista de venda e de proselitismo são as molas dessa criminalidade religiosa. Mas não se pode negar a cada épo- ca o direito e o dever de elaborar as suas próprias obras, que testemunharão as condições culturais de seu tempo. No tocante ao problema que enfrentamos neste livro, a neces- sidade de uma atualização epistemológica se impõe, no aprovei- tamento das novas condições surgidas para o melhor e mais com- pleto conhecimento do problema à luz dos novos dados obtidos pela pesquisa histórica e cultural em geral. Ante o avanço científico e filosófico da atualidade, com re- flexos profundos no plano religioso, a concepção geral do mundo, a mundividência especulativa ou dogmática do homem comum, negativa ou positiva, ampliou-se nas perspectivas cósmicas. Mate- rialistas e espiritualistas, racionalistas e fideístas, romperam a estreiteza de suas convicções acanhadas. Uma nova revolução copérnica explodiu no interior das bastilhas, das Igrejas e por trás das muralhas do Kremlin. Por toda a Terra, como num desafogo de milênios, a mente popular e a das elites abriram-se sofrega- mente para a percepção do ilimitado. O curioso é que essa abertu- ra ocorreu sobre os destroços da segunda conflagração mundial, num misto generalizado de temor e esperanças. Essa virada do finito para o infinito confirmou a validade das utopias, segundo a tese de Karl Mannheim. A descoberta científica da percepção extra-sensorial comprovou a capacidade humana de antecipar mentalmente as realidades futuras. Fomos obrigados – literalmen- te obrigados – a aceitar uma nova cosmovisão, em que o homem não mais aparece como o bicho da terra, tão pequeno, de Camões, mas a Fênix egípcia de asas misteriosas, que vence o tempo, o espaço e a morte. Todas as nossas idéias sobre a realidade nossa e J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 8 do mundo foram postas em cheque. A matéria foi virada no aves- so pela descoberta da antimatéria, perdeu sua solidez em troca da fluidez, que considerávamos uma heresia científica, e o espaço físico e imutável dispersou-se na multiplicidade dos hiperespaços. Somente os alérgicos ao futuro, na expressão de Remy Chauvin, continuaram a bater no peito, como beatos inconversíveis, repe- tindo os credos de um passado sombrio. Como na teoria aristotéli- ca de potência e ato, basta-nos abrir as pálpebras após o sono para que a visão da alvorada nos atualize na realidade nova. Os que quiserem continuar de olhos fechados poderão fazê-lo, como toupeiras que se recusam a sair da cova. A liberdade do homem só é limitada por ele mesmo. O seu próprio despertar depende do seu desejo ou não de ver o raiar do Sol. Estimular nos leitores esse desejo é a principal finalidade deste livro provocado por um velho armênio de espírito jovem, curtido nas dores do mundo. J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 9 1. Os Capatazes de Deus As explicações religiosas sobre a dor e a morte apóiam-se até hoje em conceitos mitológicos provenientes da mais alta Antigüi- dade. Originam-se da idéia primitiva e, portanto, simplória da criação do mundo pelos deuses. Esses deuses, por sua vez, não passam de criaturas humanas divinizadas, que regem o mundo em que vivemos e todo o Universo através de poderes mágicos que se manifestam na realidade sensível em forma de decretos irrevogá- veis. Caímos assim nas garras de um fatalismo totalitário, do qual não podemos escapar de maneira alguma. Nascemos, vivemos e morremos como peixes de um aquário ou como os galináceos de um vasto galinheiro, criados apenas para o corte impiedoso dos interessados em lucros. A vontade humana não conta. Os deuses nos criam, alimentam e devoram. Somos animais de corte que se contentam com as rações e as vítimas inferiores que nos permitem caçar. O máximo que podemos fazer é suplicar de mãos postas que os deuses não se esqueçam de nos dar as rações e de tratar- nos de maneira benigna. Dispomos do recurso das súplicas e da obediência, dos ritos de submissão, dos louvores obrigatórios aos deuses para, pelo menos, conseguirmos algumas concessões be- névolas dos poderosos, mas sempre na certeza de que iremos para o sacrifício mais cedo ou mais tarde. Contamos também com a proteção possível de alguns capatazes generosos, que podem aliviar-nos quando quiserem. Com o advento do Monoteísmo, da crença de um Deus Su- premo único, nossa miserável condição subumana não melhorou muito. O Senhor implacável jamais concordou em conceder-nos a alforria. Continuamos presos como os negros nas senzalas e ten- J. Herculano Pires – O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte 10 tamos revoltas inúteis, que só serviram para aumentar as nossas dores. O Deus Supremo é irascível e pode irritar-se com as nossas pretensões. O chicote da dor está sempre erguido sobre os nossos lombos e a morte sempre à espreita para nos ceifar. Os raios de Júpiter podem cair sobre as nossas cabeças a qualquer momento, sem sabermos por que motivo. Deus não precisa de motivos e não se preocupa com arrazoados de espécie alguma. Apesar dessa irredutível e trágica visão da vida, continuamos a viver, pois gostamos de estar vivos e detestamos a morte. A dor mais insuportável se torna suportável quando nos lembramos das ameaças dos capatazes de Deus sobre as penas eternas. A idéia de uma eternidade de dores nos perturba e preferimos esperar vivos a hora do corte. Só os que se desesperam e não encontram alívio algum na vida acabam apelando para a morte. Desse impasse resultou a rebelião das senzalas no plano mental, com as tentati- vas de golpe de Estado da Filosofia e das Ciências. O Positivismo, o Materialismo, o Pragmatismo e outros ismos da mesma espécie tentaram abrir algumas brechas de liberdade nas muralhas da vida, para libertá-la. Mas caíram numa situação desesperadora, pois tiraram dos homens as poucas esperanças que lhes restavam. O Buda e o Cristo chefiaram revoltas mais aceitáveis. Mas o Buda apelava para a fuga e o Cristo pareceu suspeito, por se dizer Filho de Deus. Os capatazes puseram a boca no mundo, com ameaças terríveis para os que se bandeassem para o lado inimigo. Era perigoso arriscar um olho para quem só possuía dois. Surgiram os místicos do terceiro olho, mas os homens sensatos desconfiaram de uma cilada, em virtude da própria posição esquiva desse olho estepe. Na própria Bíblia hebraica que os capatazes diziam, com au- toridade indiscutível, ser a Palavra de Deus, figurava o pacto de Noé com Iavé (o Deus dos Judeus), povo esperto firmado logo após o Dilúvio. Nesse pacto estava clara a posição de Deus, que

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.