Agradecimentos especiais a: -Sergio e Silvia Cintra. Meus pais. Pelo apoio em tudo que faço, carinho, bom humor, pela Monark amarela aro 16’ e pela vida! -Cornelia. Parceira, fotógrafa, designer e companheira de tantas viagens. -Flávio Castilho. Primo, amigo do peito, que me ajudou a dar o pontapé inicial mais importante que já dei. Olá, ciclista! Meu nome é Fernando Castilho Cintra. Sou autor do blog Aventrillha.com.br para mountain bikers e cicloviajantes. Comecei no mountain bike com uma Sundown prateada aro 26 (tenho ela até hoje) e fiz minha primeira cicloviagem aos 14 anos de idade, com meu pai, que sempre foi um grande incentivador das minhas pedaladas. Naquela ocasião, fomos da nossa cidade natal, Atibaia, até o distrito de Monte Verde. Fizemos o percurso em dois dias pedalando por volta de 70km no primeiro dia e mais 50km no outro. Com um cardápio à base de Coca- Cola quente sem gás e presunto fora da geladeira há dois dias, chegamos a Monte Verde aos trapos. Parecia que havíamos cruzado um oceano a nado. Depois de muitas outras cicloviagens, realizei uma grande pedalada em 2013, quando cruzei o leste europeu de bicicleta sozinho, numa viagem de 1650km entre a Lituânia e a Romênia em 14 dias de pedal e 19 dias ao todo. Eu ia descobrindo o sabor de uma cicloviagem independente! “Peraí! Cicloviagem independente? Como assim?” Sim, independente. Independência: condição da pessoa livre, de quem não deve obediência a alguém; estado do que não depende; caráter da pessoa que não segue ideias determinadas, regras preestabelecidas Ou seja, quando quero te influenciar a ser um cicloviajante independente, não quero te empurrar a fazer uma viagem sozinho. Pelo contrário! Uma viagem independente fica incrível com a boa companhia de seu marido, esposa, filhos, irmãos, amigos… ir sozinho ou acompanhado é só uma escolha. Quando me refiro a independência, quero dizer que você não precisa seguir um caminho já existente para fazer sua viagem. Sim, o Caminho da Fé, a Estrada Real, o Caminho de Santiago de Compostela e tantos outros são deslumbrantes e belos. Mas será que esses são os únicos trajetos que ligam o ponto A ao ponto B? Não podemos ser mais criativos? Também me refiro ao fato de não ter que passar meses planejando sua rota, sua alimentação, seu dinheiro. Conto aos meus leitores que naquela viagem pelo leste europeu eu tive apenas uma semana entre dizer “vou fazer essa viagem” e o dia em que saí de casa de bike. Além disso, possuía algo em torno de 500 reais para 20 dias na estrada. Foi um planejamento muito rápido, porém sabendo que poderia fugir dos padrões do cicloturismo convencional que a grande maioria pratica. É isso que gosto de chamar de uma cicloviagem independente. “Mas qual caminho escolher? Por onde passarei? Quanto custará? Onde vou dormir? Que tipo de bicicleta eu preciso ter? Será que meu físico dá conta?” Se você está sentindo aquele calor da empolgação, da motivação desordenada, que nos empurra a algo maior mesmo quando não sabemos exatamente o que fazer, você chegou ao livro certo! Em suma, esse livro é para você que deseja: -Fazer uma cicloviagem de uma semana a um ou mais meses de duração; -Escolher e configurar sua bicicleta para a viagem; -Aprender como encontrar acomodação de graça ou quase de graça; -Aprender o que levar em sua bagagem dependendo de quantos dias ficar na estrada; -Lições de mecânica para cicloviagens que podem te livrar de muita dor de cabeça; -Descobrir o tipo de comida a levar no pedal; -Como lidar com a criminalidade e voltar para casa intacto. Planejaremos juntos sua cicloviagem para que ela seja memorável, fantástica e independente. Vamos começar! Neste capítulo conheceremos algumas ferramentas muito úteis para planejar rotas em cicloviagens. Aqui também entraremos em alguns temas – como criminalidade - que abordaremos mais a fundo em outros capítulos do livro. Começaremos nossa jornada na preparação de uma cicloviagem com as seguintes perguntas: “Quanto tempo tenho disponível para essa cicloviagem?” “Quanto tempo eu consigo pedalar diariamente?” Algumas escolhas ou fatos de nossas vidas não nos permitem simplesmente pegar a magrela e ir mundo afora pedalando. Portanto, determinaremos aqui, baseado em quanto tempo você tem para a cicloviagem, sua rota, quanto pedalar por dia e quantos dias ficar na estrada. Vamos lá: Talvez você tenha chegado a esse guia com uma ideia fixa de percorrer o Caminho da Fé ou a Estrada Real. E eu devo dizer: também já fiz trechos das duas. Cheguei em Aparecida algumas vezes e também em Paraty. Sem dúvida são rotas são incríveis e de alto grau de dificuldade. Recentemente, contudo, vim a saber que ocorreria uma espécie de desafio ciclístico para percorrer o Caminho da Fé em 24hrs, saindo de Águas da Prata e terminando em Aparecida. Aproximadamente 300km. Se por um lado conseguir completar esse desafio é um feito incrível do ponto de vista do condicionamento físico, isso também mostra quanto a real ideia or trás das rotas de cicloturismo começou a perder sua razão de ser. Pra ser sincero, quando ouço que alguém realizará o Caminho da Fé, imagino mais ou menos algo como a foto. Turistas num lugar belíssimo, a Torre de Pisa, fazendo coisas que todos fazem – tentando tirar uma foto segurando a torre: Por que não conseguimos ser um pouco mais originais? Será que é só isso que nos resta? Traçar uma rota que já tem nome e que milhares de ciclistas já percorreram? Será que não conseguimos ser mais cicloviajantes e menos cicloturistas? Veja bem. Não há absolutamente nada de errado em fazer uma rota de peregrinação famosa, devo frisar. Porém tenho uma notícia: escrevo esse livro para cicloviajantes. Não para cicloturistas. Escrevo para quem quer sair do script, desbravar caminhos que poucos passaram, descobrir coisas que ninguém descobriu, utilizar a bicicleta da mesma forma que Pedro Álvares Cabral utilizou a caravela. E a seguir apresento a primeira ferramenta que te auxiliará nesse processo de “descobrimento”. Numbeo O site Numbeo.org é uma ferramenta fenomenal e ainda muito pouco utilizada em nosso país. Ele compila diversas informações que os habitantes de uma cidade fornecem sobre o local onde vivem, como o preço dos produtos no supermercado, a qualidade do sistema de saúde e até mesmo a sensação de segurança das pessoas ao andar na rua. Aqui você pode fazer as mais diversas análises e comparações. Dá para saber o que os habitantes de Campinas acham de andar sozinho a noite na rua, quanto custa o preço do leite em Curitiba, a poluição de Buenos Aires e até mesmo ver se é Santiago no Chile ou Lima no Peru que possui a cerveja mais barata. Aqui no Brasil a plataforma ainda é subutilizada e fica bastante restrita aos grandes centros urbanos. Porém dá pra ter uma noção da região pela qual você passará e, como comentei, entender como a população se sente em relação à criminalidade no local, tornando o Numbeo uma boa ferramenta para esse tipo de análise também: Sim, infelizmente o vermelho não é um bom sinal, e nossas capitais estão quase da cor roxa. E acredito que a maioria tema sair para uma cicloviagem por medo da criminalidade. Pois saiba que isso não é tão crítico quanto você imagina, como veremos a seguir: Traçando rotas seguras Assim como em todos os países do mundo, no Brasil há uma enorme correlação entre urbanização e violência. Aqui em nosso país - e em outros países em desenvolvimento - isso tem sua explicação no tráfico de drogas, que traz armas de fogo em grande quantidade e estimula furtos e roubos por usuários. Sem me ater a questão sociológica por trás do fenômeno da criminalidade no Brasil, devo dizer que sim, aqui é perigoso. E muitas vezes, quando contando que pedalei pelo leste europeu, eu escutei comentários como “se fosse no Brasil teria sido roubado” e isso simplesmente não é 100% verídico. Do mesmo modo que há áreas dominadas pelo crime, há também regiões inteiras que não presenciaram um homicídio sequer em décadas. Lugares onde os habtantes deixam suas portas destrancadas, andam sem medo à noite e vivem de maneira muito diferente da qual se vive nos centros urbanos. Eu passei por apuros relativos à criminalidade piores na Europa que no Brasil durante minhas cicloviagens. Isso porque o pior perigo quando se trata de definir sua rota não é um bairro sinistro ou uma cidade obscura. O pior perigo é nossa falta de conhecimento em relação ao lugar que passamos. Via de regra, quando desenhar uma cicloviagem no Brasil, eu me atentaria a: >EVITAR CENTROS URBANOS Não passaria nem perto. Na verdade, não só evitaria entrar em capitais e grandes cidades como também evitaria toda a região metropolitana. >EVITAR RODOVIAS Grande parte dos assaltos acontecem em rodovias. No estado de São Paulo alguns ciclistas treinam nas rodovias até mesmo com escoltas. Todo final de semana se ouve uma história ou outra de ciclistas assaltados na Anhanguera, Bandeirantes, Fernão Dias ou Dutra. >CONVERSAR COM CICLISTAS DA REGIÃO Converse com ciclistas e habitantes da região onde vai passar. Hoje com os grupos de Facebook e Whatsapp tudo ficou muito mais fácil. Claro, mesmo que ele more em um local seguro ainda há chances de você ouvir “nunca se sabe”. Afinal, brasileiro que vive em centro urbano pode se mudar para o Deserto do Saara que ainda vai trancar a porta e a janela à noite. Se você quiser se aprofundar na questão de criminalidade e segurança para traçar sua rota, outra ótima opção é o Wikitravel: Wikitravel O site Wikitravel.org, ferramenta mais conhecida, é a bíblia do viajante. Lá estão catalogados milhares de destinos em dezenas de idiomas diferentes. No Wikitravel você encontra todo tipo de informação: atrações naturais, condição das estradas, pousadas, albergues, criminalidade e perigos naturais. Isso tudo não só referente a cidades ou países, mas também a destinos específicos como parques nacionais. Quer saber sobre a segurança de se pedalar pelas Cataratas do Iguaçú? Ou quem sabe a condição das estradas que ligam Brasília até o Pantanal? Talvez você queira saber sobre a segurança de se pedalar nas estradas do Equador? Tudo isso pode ser encontrado nessa maravilhosa enciclopédia que é o Wikitravel. Apenas vá lá e explore o site. Agora falaremos mais da criação da rota em si e ferramentas muito úteis que você deve usar para traçar sua rota. Ferramentas do Google A não ser que você tenha vivido numa caverna nos últimos 10 anos, você já utilizou ou pelo menos ouviu falar do Google Maps. Muito provavelmente você já calculou uma distância ou viu estradas na ferramenta. O que talvez a maioria das pessoas não faça é somar o potencial do Google Maps com o Google Street View. Antes mesmo de analisar o relevo de meu trajeto, eu confiro o Google Street View - que muito provavelmente você também já deve ter ouvido falar. Muitas estradas aqui no Brasil ainda não se encontram fotografadas pelo Google, porém quando a estrada está no Street View, eu sinto sua utilidade em meu planejamento especialmente de três maneiras:
Description: