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O Fim da História da Arte PDF

225 Pages·2012·4.3 MB·Portuguese
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HAN S B E LTI N G O F I M DA H I STÓ R I A DA AR T E tradução Rodnei Nascimento 9 prefácio parte ii “o fim da história da arte?” parte i 201 Experiência artística atual e pesquisa histórica da arte a modernidade no espelho do presente – 205 A história da arte na arte atual: despedidas e encontros sobre mídias, teorias e museus 215 A história da arte como esquema narrativo 25 Epílogo da arte ou da história da arte? 223 Vasari e Hegel: início e fim da velha historiografia da arte 33 O fim da história da arte e a cultura atual 235 Ciência da arte e vanguarda 51 O comentário de arte como problema da história da arte 243 Antigos e novos métodos da pesquisa em arte: regras de 61 A herança indesejada da modernidade: estilo e história uma disciplina 75 O culto tardio da modernidade: Documenta e 265 História da arte ou obra de arte? Arte Ocidental 279 História das mídias e história da arte 85 Arte ocidental: a intervenção dos Estados Unidos na 291 A “história” da arte moderna como invenção modernidade do pós-guerra 305 Modernidade e presente na pós-história 101 Europa: Ocidente e Oriente na divisão da história da arte 327 “Os livros de Próspero” 115 Arte universal e minorias: uma nova geografia da história da arte 339 Imagens 131 No espelho da cultura de massas: a rebelião da arte 393 Bibliografia contra a história da arte 429 Sobre o autor 147 O tempo na arte multimídia e o tempo da história 435 Créditos das imagens 173 A história da arte no novo museu: a busca por uma 437 Índice onomástico fisionomia própria PrEfácIo O fim da história da arte não é mais capaz de impressionar quem já se habituou à questão do fim da arte e, além do mais, constata o sucesso com que nos últimos tempos a história da arte, tanto como objeto cultural quanto como disciplina acadê- mica, foi disseminada mesmo entre camadas populares, isso sem mencionar o boom das exposições de arte. Com igual ra- zão, poderíamos falar também de uma “vitória da história da arte”, sem dúvida uma vitória à maneira de Pirro, que, assim como toda autoridade longamente estabelecida, conferiu a ela certo dogmatismo. O que se mostrou é que um apego científico à ordem não está preparado justamente para a arte caótica do século xx e que o pretenso universalismo da história da arte é um equívoco ocidental. O ambiente atual, no qual as imagens técnicas instituem uma nova confusão, altera a imagem da história da arte, surgida em determinado momento para uma finalidade precisamente delimitada. Por isso, não é absoluta- mente um sinal de extravagância querer fazer um balanço e eleger um posto de observação para examinar o fim de um 11 modo de pensamento em prática não apenas na ciência espe- “fim” não significa que “tudo acabou”, mas exorta a uma mu- cializada como também na arte. dança no discurso, já que o objeto mudou e não se ajusta mais O discurso sobre o fim de algo é certamente uma forma aos seus antigos enquadramentos. oportuna de introduzir hoje um argumento que, com tal res- Há muito tornou-se moda empreender uma arqueologia salva, está protegido contra seu próprio páthos. Assim, esse da própria disciplina e dos seus métodos históricos – e essa discurso é também uma maneira de falar que visa aproximar- historização da própria corporação mostra que alcançamos -se do objeto e transformá-lo num problema. Dito de outro condições alexandrinas, nas quais ela é reunida e examinada. modo, a restrição presente no fim da história da arte oferece a A aproximação do fim do século foi uma oportunidade para desejada oportunidade de tratar da história da arte com certo um novo exame da arte e também de todas as narrativas com distanciamento e sob o seguinte lema: “O rei está morto, viva que a descrevemos. Mas nem mesmo se esperou essa data, co- o rei!”. No entanto, já o pequeno número de historiadores da locando-se há muito tempo em circulação palavras de ordem arte oferece uma garantia suficiente de que o tema que eles sobre o fim e decidindo-se o fim da modernidade apenas para transformaram em profissão não terá fim, e isso é semelhante poder começar algo novo mais uma vez e poder dar um nome nas demais ciências humanas. Ainda assim vejo motivo sufi- à imagem modificada da história. Mesmo a lembrança do úl- ciente para conceder importância ao problema, se levarmos timo fin de siècle, com semelhantes fogos de artifício de ideias a sério a ideia originária que está presente no conceito de gastas, ainda não está suficientemente apagada para combater uma “história da arte”: a ideia, a saber, de restituir uma his- o temor de uma repetição. Assim, também se recorre esporadi- tória efetiva e trazer à luz o seu sentido. No conceito está pre- camente a fórmulas sonoras e vazias acerca do fim do século, sente tanto o significado de uma imagem como a compreensão como se não faltasse ao pensamento moderno exatamente de um enquadramento: o acontecimento artístico, como ima- a capacidade de lembrar de tal período e olhar retrospecti- gem, no enquadramento apresentado pela história escrita da vamente para além da borda da modernidade. No entanto, a arte. A arte se ajustou ao enquadramento da história da arte declaração de que o nosso conceito de arte é um produto dos tanto quanto esta se adequou a ela. Hoje poderíamos, portanto, tempos modernos deveria inibir o prazer em formular luga- em vez do fim, falar de uma perda de enquadramento, que res-comuns precipitadamente. O fim permanente pertence ao tem como consequência a dissolução da imagem, visto que ela ritmo de aceleração do breve ciclo da assim chamada moder- não é mais delimitada pelo seu enquadramento. O discurso do nidade. Talvez, diferentemente do que se pensa, seja apenas 12 13 o fim de um episódio no turno tranquilo de um percurso A modificação que primeiro salta à vista nesta nova versão é a histórico mais longo. supressão do sinal de interrogação que anteriormente havia O autor que se atreveu a ir tão longe parece cair agora na no título. O que naquela época era ainda uma pergunta tornou- armadilha do título de seu próprio livro. Por isso, por precau- -se certeza para mim nos últimos anos. O leitor apressado per- ção, seja feita a observação de que falo do fim de determinado guntará agora por que e exigirá, além disso, um punhado de artefato, chamado história da arte, no sentido do fim de regras novas teses que diferenciem a presente revisão do texto antigo. do jogo, mas tomo por premissa que o jogo prosseguirá de Mas devo aqui pedir-lhe paciência e, se a tiver, remetê-lo ao outra maneira. De qualquer maneira, o tema não pode ser tra- novo texto que foi redigido para esta edição. Não se trata de tado de modo conclusivo e com o auxílio de demonstrações algumas palavras de ordem convincentes, mas de juízos e ob- triunfantes, pois se encontra em processo contínuo de trans- servações que precisam de espaço onde se desenvolver e que, formação interna e externa. Assim, também me torno arqueó- além disso, são tão provisórias como, afinal, é provisório tudo logo do meu próprio objeto, na medida em que parto de uma o que hoje vem à baila. Gostaria de dizer, contudo, algo sobre a revisão do meu precário ensaio dos anos iniciais que passei gênese do antigo e do novo ensaio. Quanto mais o novo ensaio em Munique. Tratava-se então de uma aula inaugural que em- avançava, mais me via obrigado a reescrever o antigo. A dife- preendi num gesto de revolta contra tradições falsamente rença reside em que no texto antigo permaneço no quadro dos geridas. O título provocou mal-entendidos, razão pela qual argumentos anteriores, mas o preencho de maneira diferente acrescentei na edição italiana o subtítulo Liberdade da arte, a e não coloco mais a ciência da arte no centro. Certas coisas saber, em oposição a uma história da arte linear. A descrição da que queria dizer naquela época, só hoje consigo fundamentar disciplina também causou irritação, pois não era meu objetivo, de maneira satisfatória. No novo texto, ao contrário, trata- e agora menos do que antes, uma crítica abrangente da ciência -se de novas experiências e novos temas, tais como Oriente ou do método. Hoje meu interesse crítico cultural encontrasse e Ocidente, o museu atual e as mídias, as quais conheci mais mais nas condições que formam a sociedade e as instituições. de perto em Karlsruhe. O diálogo interno que mantenho co- Digamos ainda de outro modo: o título do livro oferece apenas migo mesmo como historiador da arte e como contemporâneo um mote que me dá a liberdade de formular reflexões total- tomou a forma de texto nos dois ensaios. mente pessoais sobre a situação da história da arte e da arte A segunda modificação sofrida por esta edição está na parte que de modo algum tratam apenas da questão do fim. iconográfica, que não existia na edição antiga. Ela exibe o tema 14 15 num caos de imagens que querem falar por si mesmas e não O texto reescrito começa com um balanço dos débitos e crédi- são destinadas somente a ilustrar o texto. Sua miscelânea é o tos a partir do qual compreendo a situação presente em total reverso exato de uma história da arte coerente e, justamente contraste com a assim chamada modernidade. Nele consigo por isso, representativa do estado de coisas. Talvez resulte às hoje formular a tese do fim da história mais claramente do que vezes mais convincente do que o próprio texto, em todo caso há dez anos, depois que o transcurso de uma evolução, que na- de maneira mais intuitiva, já que o texto se encontra sempre quela época apenas se iniciava, se deixou ver melhor em seu na contradição entre um discurso acadêmico e um mundo em conjunto. Desde então surgiu também uma discussão sobre mudança que não se deixa reproduzir verdadeiramente nesse essa tese à qual posso agora retornar (em diálogo, por exemplo, discurso. Aqui deparei subitamente com um dilema que não com Arthur Danto). O papel do comentário sobre a arte, que caiu consiste apenas na coexistência da ciência da arte e da arte nas mãos dos críticos de arte e dos artistas, apresenta a melhor atual, mas mostra o estado da nossa cultura científica, que oportunidade para diferenciá-lo da forma narrativa da história confere validade a si mediante teses e raciocínios num mundo da arte de velho tipo. A lembrança do estilo e da história tem sobre o qual já não tem mais nenhum poder. As ciências sempre o sentido de perseguir a ciência da arte até as ideias e as ideo- procuraram oferecer ao espírito do tempo as fórmulas adequa- logias da modernidade clássica que essa ciência ainda preserva das nas quais ele deve se reencontrar e tomar consciência de como artigo de fé. A periodização que tenho em mente com a si. Todavia, se formos honestos, o célebre discurso acadêmico denominação “culto tardio da modernidade” move-se cons- satisfaz apenas a si mesmo. Ou será que esse discurso não quer cientemente fora da evolução interna da arte, pois foram datas convencer insistentemente o mundo não acadêmico que este exteriores, como o fim da guerra, que modelaram a consciência depende dele, embora a realidade pareça diferente? Do fin- da situação da arte e do andamento da história da arte. gimento acadêmico, a cultura de massas e o mundo da mídia No centro do novo texto está uma trilogia de grandes assimilam apenas palavras isoladas, para consumi-las rapida- temas que não são propriamente temas da história da arte mente como informações culturais em busca de sua própria e, não obstante, alteraram a história da arte e continuarão a clientela. No caso da arte, o discurso ultrapassa de antemão o alterá-la. Somente durante a redação é que tomei consciência cenário acadêmico, motivo pelo qual o tema tem resistido ulti- do nexo interno do texto. Cronologicamente, começo com o mamente à ordem de um método científico. tema da arte ocidental, depois que os Estados Unidos assumi- ram a condução do cenário artístico no pós-guerra, ao passo 16 17 que hoje se adota ali cada vez mais uma atitude de distância anteriores são desenvolvidas. Este começa com a miragem em relação à Europa. A Europa, contudo, por meio da temática experimentada pela ideia de história da arte na arte atual e recém-surgida sobre Oriente e Ocidente – para a qual ainda não reconduz essa ideia, num passo seguinte, aos seus primórdios. existe uma resposta da história da arte –, repentinamente está Após Hegel, a história da arte desprendeu-se dessas origens mais uma vez referida a si mesma, depois que pareceu ter es- para seu próprio prejuízo e com isso provocou imediatamente capado a essa divisão na “parceria do Ocidente”. A arte univer- a reação dos seus críticos, dentre os quais Quatremère de sal emerge finalmente como a quimera de uma cultura global Quincy que, em minha opinião, desempenhou um papel hoje pela qual a história da arte é desafiada como um produto da desconhecido. O tema da ciência da arte e da vanguarda, cuja cultura europeia. Em contrapartida, as minorias reclamam coexistência comporta traços decididamente paradoxais, tam- sua participação numa história da arte de identidade coletiva bém propicia que se conquiste, a partir de uma visão retros- em que não se veem representadas. pectiva da história, a liberdade de uma nova posição sobre a A conclusão deste novo texto é formada, por sua vez, por história da arte. Por isso, e do mesmo modo, o exame que as três outros temas cujo sentido é conhecido de todos. A proble- regras do jogo de uma disciplina experimentam não é visto mática do high and low conduz ao centro da nossa situação cul- como exercício obrigatório da história da ciência, mas como tural, depois que a história da arte, como tradição, tornou-se proposta de desmascarar nos intérpretes da história da arte aqui não o símbolo, mas a imagem negativa da atividade artís- os problemas temporalmente condicionados e não confundi- tica. A arte multimídia, seja como instalação seja como vídeo, -los por mais tempo com artigos de fé indispensáveis. suscita questões inteiramente novas com as suas estruturas A realidade da obra de arte, que encontra seu lugar no cen- material e temporal que não estão mais no horizonte do dis- tro deste segundo texto, é pouco afetada pelo tema do fim da curso habitual da história da arte. Os museus de arte contem- história da arte, pois obra de arte e história da arte encontram- porânea transformam-se, como instituições, cada vez mais em -se numa contradição insolúvel. Mas como o conceito de obra palcos para espetáculos artísticos inusitados e oferecem por está disponível na arte atual, segue-se consequentemente uma isso o melhor discernimento do processo interno da cultura consideração sobre a história das mídias e da história da arte, que descrevi há dez anos como “fim da história da arte”. as quais por enquanto têm diferentes temas e constituem dife- O texto antigo não foi apenas completamente reescrito, rentes disciplinas, o que hoje, depois de minhas experiências mas também ampliado com um novo capítulo em que as teses em Karlsruhe, posso ver melhor do que antes, quando intro- 18 19

Description:
Este livro traz dois ensaios onde Hans Belting - um dos maiores pensadores das artes visuais da atualidade - articula questões centrais para a reflexão sobre a história da arte. Para o autor, é preciso reformular a "ciência das artes" para uma abordagem que evite o maior pecado de um historiado
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