ebook img

O erotismo PDF

177 Pages·1987·1.302 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview O erotismo

1 GEORGES BATAILLE o erotismo TraduçãodeAntonioCarlosViana 2 OInterditoeaTransgressão Os seres que se reproduzem e os seres reproduzidos são distintos, separados por um abismo, por uma fascinante descontinuidade. No entanto, jogados nessa aventura ininteligívelqueéavida,todostêmanostalgiadacontinuidadeperdida.Oerotismo,uma das formas humanas da atividade sexual de reprodução, nos leva ao reencontro dessa continuidade:aoseunirem,ascélulasreprodutorasformamumnovoser,apartirdamorte destascélulas. É tambéma morte que, na origemdo homem, manifesta este esforço de liberação. Masodesejodematarquestionatodaaorganizaçãodascomunidadessociais,fundadasno trabalho e na razão. Dai o nascimento dos interditos, aos quais se acrescenta a sua superaçãonecessária:astransgressõesaosinterditos. A essência do erotismo é, assim, ser a transgressão por excelência, dado que ele é resultadodaatividadesexualhumanaenquantoprazere,aomesmotempo,consciênciado interdito. Etnólogo confessadamente apaixonado, filósofo que quer superar os limites da ciênciaassumidapelafilosofia,GeorgesBatailleencontraemseuobjeto—oerotismo— a chave para desvendar o aspecto mais fundamental e determinante da natureza humana. Aquele ponto em que o homem é ao mesmo tempo social e animal, humano e inumano, alémdesimesmo. OsEditores 3 (ISBN-2-7073-0253-8) ISBN-85-254-0173- capa:Caulos revisão:SuelyBastoseJoséRenatoDeitos tradução:AntônioCarlosViana B329e Bataille,Georges Oerotismo/GeorgesBataille; traduçãodeAntonioCarlosViana.—PortoAlegre:L&PM,1987. 260p;21cm. 1.Sexualidade-Psicologia.2.Sexualidade-Antropologia.I.Tlitulo. CDD155.31 574.36 CDU577.8(042.3) 159.922.1(042.3) Catalogaçãoelaboradapor IzabelAlvesMerlo,Bibliotecária,CRB10/329. ©1957byLesÉditionsdeMinuit TodososdireitosdestaediçãoreservadosàL&PMEditoresS/A RuaNovaIorque,306-90.450-PortoAlegre-RSe RuadoTriunfo,177-01212-SãoPaulo-SP ImpressonoBrasilPrimaverade1987 4 Sumário Prefácio...................................................................................................................7 Introdução............................................................................................................10 PrimeiraParteOinterditoeatransgressão.........................................................19 CapítuloIOerotismonaexperiênciainterior.................................................20 CapítuloIIOinterditoligadoàmorte..............................................................27 CapítuloIIIOinterditoligadoàreprodução....................................................33 CapítuloIVAafinidadedareproduçãoedamorte.........................................37 CapítuloVAtransgressão................................................................................42 CapítuloVIOassassínio,acaçaeaguerra......................................................47 CapítuloVIIOcrimeeosacrificio....................................................................54 CapítuloVIIIDosacrifícioreligiosoaoerotismo..............................................59 CapítuloIXApletorasexualeamorte............................................................62 CapítuloXAtransgressãonocasamentoenaorgia.......................................72 CapítuloXIOcristianismo................................................................................77 CapítuloXIIOobjetododesejo:aprostituição...............................................85 CapítuloXIIIAbeleza.......................................................................................92 SegundaParteEstudosdiversossobreoerotismo..............................................97 EstudoIKinsey,aescóriaeotrabalho............................................................98 EstudoIIOhomemsoberanodeSade..........................................................108 EstudoIIISadeeohomemnormal................................................................116 EstudoVIOenigmadoincesto......................................................................129 EstudoVMísticaesensualidade...................................................................144 EstudoVIAsantidade,oerotismoeasolidão..............................................163 EstudoVIIPrefáciode"MachineEdwarda"..................................................171 Conclusão............................................................................................................175 5 AMichelLeiris 6 Prefácio Oespíritohumanoestáexpostoàsmaissurpreendentesinjunções.Constantemente eletemeasimesmo.Seusmovimentoseróticosoapavoram.Asantaafasta-secomterror dosensual:elaignoraaunidadedaspaixõesinconfessáveisdesteúltimocomassuas. Entretanto, é possível procurar a coesão do espírito humano, cujas possibilidades vãodasantaaosensual. Aposiçãoemquemecolocopermiteperceberacoordenaçãodessaspossibilidades opostas. Não tento reduzi-las umas às outras, mas esforço-me para apreender, para lá de cadapossibilidadenegadoraentreelas,umaúltimapossibilidadedeconvergência. Não creio que o homem tenha alguma chance de jogar um pouco de luz sobre as coisasque o assustamantesde dominá-las. Não que ele deva ter esperança de ummundo ondenãoexistirámaisrazãoparatermedo,ondeoerotismoeamorteseacharãonoplano dos encadeamentos de uma mecânica. Mas o homem pode ultrapassar o que o assusta, podeencará-lodefrente. Ele escapa por esse preço à estranha falta de conhecimento de si mesmo que até agoraodefiniu. Nadamaisfaçoqueseguirumcaminhoqueoutros,antesdemim,fizeramavançar. Bemantesda obra que hoje publico, o erotismo deixara de ser encarado como um assuntoqueum"homemsério"nãopodiatratarsemarriscarasuareputação. Hámuitotempooshomensfalamabertaelongamentedoerotismo.Assim,pois,o assunto de que trato é conhecido. Não quispesquisar na diversidade dos fatosdescritos a coesão.Tenteidardeumconjuntodecomportamentosumquadrocoerente. Esta pesquisa de um conjunto coerente opõe meu esforço aos esforços da ciência. Aciênciaestudaumaquestãoisolada.Elaacumulaostrabalhosespecializados.Creioque oerotismotemparaoshomensumsentidoqueaabordagemcientíficanãopodealcançar. Oerotismosópodeserobjetodeestudose,emsuaabordagem,forohomemoabordado. Especialmente, ele não pode ser abordado independentemente da história do trabalho, independentementedahistóriadasreligiões. Por isso, os capítulos deste livro se afastam freqüentemente da realidade sexual. Não dei atenção, por outro lado, a questões que algumas vezes não parecerão menos importantesqueaquelasdequefalei. Sacrifiquei tudo à pesquisa de um ponto de vista de onde sobressaía a unidade do espíritohumano. 7 Esta obra se compõe de duas partes. Na primeira, expus sistematicamente, em sua coesão,osdiferentesaspectosdavidahumanaencaradasoboângulodoerotismo. Reuni, na segunda, estudos independentes onde abordei a mesma questão. A unidadedoconjuntoéinegável.Nasduaspartestrata-seda mesmapesquisa.Oscapítulos daprimeiraparteeosdiversosestudosindependentesdesenvolveram-sesimultaneamente, entreaguerraeoanoemcurso.Masesta maneiradeprocedertemumdefeito.Nãopude evitar as repetições. Particularmente, às vezes retomei de uma outra forma, na primeira parte, temas tratados na segunda. Esta maneira me pareceu menos maçante, tanto que ela respondeaoaspectogeraldaobra.Umaquestãotomadaaquiemseparadoenglobasempre toda a questão. Num sentido, este livro se reduz a uma panorâmica da vida humana, retomadaconstantementeapartirdeumpontodevistadiferente. Com os olhos voltados para uma tal panorâmica, nada me reteve tanto quanto a possibilidade de reencontrar numa perspectiva geral a imagem que me obcecou a adolescência, a de Deus. Certamente não estou voltando à fé de minha juventude. Mas neste mundo abandonado que freqüentamos, a paixão humana só tem um objeto. As vias pelas quais o abordamos variam. Este objeto tem os aspectos mais variados, mas só penetramososeusentidosepercebemossuacoesãoprofunda. Insistonofatodeque,nestaobra,osimpulsosdareligiãocristãeosdavidaerótica aparecememsuaunidade. Não poderia ter escrito este livro se tivesse de elaborar sozinho os problemas que ele me colocava. Quero aqui dizer que meu esforço foi precedido pelo Miroir de la Tauromachi e, de Michel Leiris, onde o erotismo é abordado como uma experiência ligada à vida, não como objeto de uma ciência, mas da paixão, mais profundamente, de umacontemplaçãopoética. É especialmente por causa do Miroir, que Michel Leiris escreveu às vesperas da guerra,queestelivrolheédedicado. Alémdisso,devo-lheaquiagradeceraassistênciaquemedeunomomentoemque, doente, encontrei-me impossibilitado de me ocupar pessoalmente das fotografias que ilustrammeutexto. Direi aqui até que ponto continuo comovido pelo apoio solícito, eficaz, que um grande número de meus amigos me deu naquela ocasião, ao se encarregarem, no mesmo sentido,deobterparamimosdocumentosnecessáriosaosmeusobjetivos. Citarei aqui os nomes de: Jacques-André Boissard, Henri Dussat, Théodore Fraenkel, Max-Pol Fouchet, Jacques Lacan, André Masson, Roger Parry, Patrick Waldberg,BlancheWiehn. Não conheço o sr. Falk, Robert Giraud, nem o admirável fotógrafo Pierre Verger, aosquaisdevoigualmenteumapartedessadocumentação. Não tenho dúvida de que o objeto mesmo de meus estudos, o sentimento de exigência a que meu livro responde não sejam essencialmente causa da boa vontade dessaspessoas. 8 Ainda não citei o nome de meu mais velho amigo Alfred Metraux. É que eu deveria falar especialmente, por ocasião da ajuda Liac ele me deu, de tudo quanto lhe devo. Não só ele me introduziu, desde os anos que se seguiram à Primeira Guerra, no campo da antropologia e da história das religiões, mas também sua autoridade inconteste me fez sentir seguro — solidamente seguro — quando expus a questão decisiva do interditoedatransgressão. 9 Introdução Doerotismoépossíveldizerqueeleéaaprovaçãodavidaaténamorte.Parafalar a verdade, isto não é uma definição, mas eu penso que esta fórmula dá o sentido do erotismo melhorqueumaoutra.Sesetratassededefiniçãoprecisa,serianecessáriopartir certamente da atividade sexual de reprodução da qual o erotismo é uma forma particular. A atividade sexual de reprodução é comum aos animais sexuados e aos homens, mas, aparentemente, só os homens fizeram de sua atividade sexual uma atividade erótica, e o que diferencia o erotismo da atividade sexual simples é uma procura psicológica independente do fim natural encontrado na reprodução e na preocupação das crianças. Abandonando essa definição elementar, voltarei imediatamente à fórmula que propus inicialmente, segundo a qual o erotismo é a aprovação da vida até na morte. Com efeito, se bemque a atividade erótica seja inicialmente uma exuberância da vida, o objeto dessa procura psicológica, independente, como eu o disse, da preocupação de reprodução da vida, não é estranho à morte. Existe aí um paradoxo tão grande que, sem mais demora, tentareidar uma aparência de razão de ser à minha afirmação atravésde duascitaçõesde Sade: "Infelizmente,nãohánadamaisseguroqueosecreto,enãoháumlibertino queestejaumpoucodentrodovícioquenãosaibaquantooassassíniotem depodersobreossentidos..." Numaoutrafrasemaissingularelediz: "Nãohámelhormeioparasefamiliarizarcomamortedoqueassociá-laa umaidéialibertina". Eu falei de uma aparência de razão de ser. Com efeito, o pensamento de Sade poderia ser uma aberração. De qualquer maneira, mesmo se é verdade que a tendência a que ele se refere não é tão rara na natureza humana, trata-se de sensualidade aberrante. Resta,entretanto,umarelaçãoentreamorteeaexcitaçãosexual.Avisãoouaimaginação do assassínio podemdar, pelo menos a doentes, o desejo do prazer sexual. Não podemos nos limitar a dizer que a doença é a causa dessa relação. Admito pessoalmente que uma verdadeserevela noparadoxodeSade.Essaverdadenãoérestritaaohorizontedovício: acredito mesmo que ela pode ser a base de nossas representações da vida e da morte. Acredito, enfim, que não podemos refletir sobre o ser independentemente dessa verdade. Oser,comfreqüência,parecedadoaohomemforadosmovimentosdapaixão.Eeudirei mesmoquenuncadevemosimaginá-loforadessesmovimentos. Escuso-medepartiragoradeumaconsideraçãofilosófica. 10

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.