UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA FACULDADE DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Valter Mattos da Costa O Canto da Sereia ―A Influência Pós-moderna na Historiografia Fluminense do Antigo Regime nos Trópicos‖ Niterói – RJ 2014 Valter Mattos da Costa O Canto da Sereia ―A Influência Pós-Moderna na Historiografia Fluminense do Antigo Regime nos Trópicos‖ Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História. Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Saraiva. Niterói - RJ 2014 ii Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá C837 Costa, Valter Mattos da. O canto da sereia: a influência pós-moderna na historiografia fluminense do Antigo Regime nos trópicos / Valter Mattos da Costa. – 2014. 238 f. Orientador: Luiz Fernando Saraiva. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2014. Bibliografia: f. 218-227. 1. Brasil. 2. Período colonial, 1500-1822. 3. Historiografia. 4. Antigo regime. 5. Pós-modernidade. 6. Brasil; aspecto econômico. 7. Século XX. I. Saraiva, Luiz Fernando. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. III. Título. CDD 981.03 iii Valter Mattos da Costa O Canto da Sereia ―A Influência Pós-Moderna na Historiografia Fluminense do Antigo Regime nos Trópicos‖ Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Fernando Saraiva ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Virginia Maria Gomes de Mattos Fontes ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Pedro Henrique P. Campos Niterói - RJ 2014 iv Sereias serão tua primeira prova. Elas encantam todos aqueles que porventura passam por elas. Quem inadvertidamente se entregar ao canto delas nunca mais retornará ao lar, nunca mais cairá nos braços da mulher, não verá as crianças nunca mais. Elas enfeitiçam os que passam acomodadas num prado. Em torno, montes de cadáveres em decomposição, peles presas a ossos. Evita as rochas. Tampa com cera os ouvidos dos teus companheiros para não caírem na armadilha sonora. Se, entretanto, quiseres o mel do concerto delas, ordena que te amarrem de pés e mãos ereto no mastro. Que o nó seja duplo. Entrega-te, então, ao prazer de ouvi-las. Se, por acaso, pedires que te afrouxem as cordas, ordena-lhes que as apertem ainda mais. (E assim o fez Ulisses, seguindo os conselhos de Circe. HOMERO. Odisseia. Canto XII: “Las Sirenas Escila y Caribdis. Las Isla del Sol. Ogigia”) v À Luiza, minha Avó; que me deu carinho de mãe – saudades... À Vicentina, minha Mãe; que tanto fez para que eu estudasse em uma infância sem luxo. Ao Anibal, meu Pai; provedor de meu início enquanto gente. À Rejane, minha Mulher e meu eterno Amor; a quem devo todo o apoio. Ao João Vinícius, meu Primogênito; que sempre soube ser melhor como filho do que eu como pai. À Maria Beatriz, minha filha caçula, minha eterna Princesinha e futura psicóloga. À Pietra, minha primeira neta. À Rosana, minha cunhada; por ter nos dado como presente a sua Vitória. vi Agradecimentos Agradecemos a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estiveram presente, nos ajudando, nesta nossa curta formação acadêmica, e que ainda está em curso. Em especial os professores: Bernardo Kocher Carlos Gabriel Gladys Ribeiro Humberto Machado Ilmar de Mattos Leandro Konder Luiz Fernando Saraiva Marcelo Badaró Norberto Ferreras Sônia Mendonça Sônia Rebel Suely Deslandes Théo Pinheiro Virgínia Fontes Maria de Fátima Gouvêa (in memorian). Mesmo correndo o risco de cometer alguma injustiça, gostaríamos ainda, deste plantel acima, destacar com mais veemência: o Bernardo, nosso primeiro orientador de tempos de graduação; o Gabriel, que sempre dirigiu-nos palavras elogiosas que muito nos incentivaram; o Saraiva, pela coragem de ter aceitado orientar um trabalho tão, digamos, ―espinhoso‖; e a Virgínia, pela generosidade – que com certeza deu-lhe muito trabalho – de ter nos guiados em quase todos os detalhes do texto final, forma e conteúdo (inclusive, a contribuição destes dois últimos professores nos criou a convicção, pelo menos no nosso caso, de que um texto acadêmico não tem um único autor); Também somos muito gratos ao conjunto de funcionário da Secretaria do Departamento de História da UFF, pela solicitude que sempre me ofereceram. Igualmente, não poderíamos nos esquecer de agradecer, de forma também muito especial, à nossa Professora do antigo Segundo Grau, a Sônia, que nos anos de 1981 a 1983 ajudou-nos a fortalecer nossa paixão pela História. vii Resumo: Dissertação de Mestrado, em Historiografia (cujas principais fontes são bibliográficas), que procurou traçar nexos causais entre o contexto das décadas de 80 e 90 do século XX e a produção historiográfica, entendida em conjunto, de importantes historiadores domiciliados no Estado do Rio de Janeiro: João Fragoso, Manolo Florentino, Maria de Fátima Gouvêa e Maria Fernanda Bicalho (especializados, principalmente, em Brasil colônia), cuja formação acadêmica e início de suas carreiras se deram exatamente neste contexto. Estes historiadores foram concebidos como formando o grupo historiográfico (não se tratando de uma ―escola historiográfica‖) denominado por este trabalho como ―O Antigo Regime nos Trópicos‖ (ART) – em alusão ao título de famoso livro organizado por três deles (Fragoso, Gouvêa e Bicalho). Este contexto citado foi entendido como de predominância da pós-modernidade entre alguns ambientes intelectuais, sobretudo do Ocidente. Ainda que estes historiadores não se definam como sendo pós-modernos, e de fato, conforme se defende nesta dissertação, não são historiadores pós-modernos, advoga-se aqui que suas teorias receberam influências de tendências e posturas típicas da pós-modernidade, presentes muitas vezes, por exemplo, no que ficou conhecido, dentre outras coisas, como ―a história das mentalidades‖ ou a história cultural influenciada por uma antropologia de cunho mais culturalista etc. Em busca de se realizar tais objetivos, foram analisadas as características tanto do contexto pós-moderno quanto das teorias pós-modernas mais importantes (como o radical descrédito para com as perspectivas dadas pelas metateorias etc.), tendo como apoio autores marxistas que já aprofundaram importantes discussões sobre o tema (principalmente David Harvey, Fredric Jameson, Ciro Flamarion Cardoso, Eric Hobsbawm e Perry Anderson). Igualmente, boa parte dos trabalhos dos quatro autores citados como compondo o ART foi cuidadosamente pesquisada, o que proporcionou a identificação das relações entre esta produção e as influências pós-modernas. Um ponto importante da dissertação é o entendimento de que esta relação de influência foi dialética; isto é, que não se trata de um simples determinismo entre estrutura (os contextos em questão) e superestrutura (a produção do ART) específicas. Existiram motivações, tal como define Bourdieu, externas (estruturais) e internas (as subjetividades individuais) na produção simbólica dos historiadores que neste trabalho são objetos de estudo. Deve-se acrescentar que no que diz respeito às influências externas dos citados contextos, Josep Fontana e sua teoria da história, para se historicizar uma produção historiográfica, serviram de importante apoio. É necessário também esclarecer que não se trata da reprodução de um rol de tudo que os historiadores do ART produziram; o estudo historiográfico-bibliográfico foi qualitativo e não quantitativo. O principal critério para utilização qualitativa desta produção foi priorizar seus estudos econômicos, pois se entende que o grosso das críticas realizadas pelo ART foi direcionado às análises econômicas estruturais da sociedade colonial brasileira, sobretudo nos trabalhos publicados por Caio Prado Jr., Celso Furtado, Antônio Fernando Novais, Jacob Gorender e Ciro Flamarion Cardoso; trabalhos de grande influência marxista, tendência intelectual mais atacada pela pós-modernidade. Em função deste critério, estabeleceu-se que os estudos de João Fragoso teriam uma atenção especial devido ao fato deste historiador, em relação aos demais componentes do grupo, ter se dedicado com maior intensidade aos estudos econômicos coloniais. Palavras-chave: Historiografia colonial brasileira – Atual historiografia fluminense sobre colonização brasileira – O Antigo Regime nos Trópicos – Pós-modernidade – Fragoso, João Luís Ribeiro – O contexto socioeconômico das décadas de 80 e 90. Abstract: Masters dissertation, in Historiography (whose main sources are bibliographic), which sought to draw causal links between the context of the 80s and 90s of the twentieth century and the historical production, seen together, important historians domiciled in the State of Rio de Janeiro: João Fragoso, Manolo Florentino, Maria de Fátima Gouvêa and Maria Fernanda Bicalho (specialized mainly in colonial Brazil), whose academic training and early in their careers if they gave exactly this context. These historians were conceived as forming the historiographical group (not dealing with a "school of historiography") called for this work as "The Old Regime in the Tropics" (ORT) - alluding to the title of the famous book edited by three (Fragoso, Gouvea and Bicalho). This context was understood as quoted predominance of postmodern intellectuals among some environments, especially in the West. Though these historians do not define themselves as postmodern, and in fact, as is argued in this thesis, are not postmodern historians, is advocated here that his theories were influenced trends and attitudes typical of postmodernity, gifts often, for example, in what was known, among other things, as "history of mentalities" or cultural history influenced by a more culturalist anthropology of nature etc. In seeking to achieve these objectives, we analyzed the characteristics of both the postmodern context as the most important post-modern theories (like the radical distrust towards the perspectives given by metatheories etc.), with the support Marxist authors who have deepened important discussions on the subject (especially David Harvey, Fredric Jameson, Ciro Flamarion Cardoso, Eric Hobsbawm and Perry Anderson). Also, much of viii the work of the four authors mentioned as composing the ORT was carefully researched in order to identify the relationships between this production and post-modern influences. An important point of this work is the understanding that this relationship was influenced dialectic; i.e., that it is not a simple determinism between structure (the contexts in question) and superstructure (the production of ORT) specific. Motivations existed, as Bourdieu defines, external (structural) and internal (individual subjectivities) in symbolic production of historians that this work are objects of study. It should be added that with regard to external influences of the aforementioned contexts, Josep Fontana and his theory of history, to historicize the historiographical production, served as an important support. It is also necessary to clarify that it is not playing a role in everything that historians have produced the ORT; historiographical-bibliographical study was qualitative and not quantitative. The main criterion for qualitative use of this production was to prioritize its economic studies, as it is understood that the bulk of the criticism made by ORT was directed to structural economic analysis of colonial Brazilian society, especially in the work published by Caio Prado Jr., Celso Furtado, Antonio Fernando Novais, Jacob Gorender and Ciro Flamarion Cardoso; works great Marxist influence, intellectual trend more attacked by postmodernity. According to this criterion, it was established that the studies of João Fragoso had a special attention due to the fact that this historian, in relation to other components of the group, have been dedicated with greater intensity to colonial economic studies. Keywords: Brazilian colonial historiography – Contemporary historiography of Brazilian colonization Rio – The Old Regime in the Tropics – Postmodernism – Fragoso, João Luís Ribeiro – The socioeconomic context of the decades of 80 and 90. ix Sumário INTRODUÇÃO 01 Capítulo I – AS DÉCADAS PERDIDAS 32 1.1. Características Gerais do Contexto Pós-Moderno das Décadas de 80 e 90 do Séc. XX 32 1.1.1. U fator cultural conservador 39 1.1.2. A especificidade Latino-Americana dos contextos pós-modernos, neoliberais e globalizados das décadas de 80 e 90 40 1.1.3. A formação da pós-modernidade dentre suas principais áreas de atuação intelectual: da Arquitetura às Ciências Humanas 44 1.1.4. Hobsbawm – O exemplo de uma crítica marxista a uma tentativa de um estudo histórico-antropológico pós-moderno: ―O Pós-Modernismo na Floresta‖ 55 1.1.5. Considerações finais acerca da pós-modernidade nas ―décadas perdidas‖ 57 1.2. O Método 63 Capítulo II – PARA QUE SERVIRIA UMA HISTÓRIA ECONÔMICA ―AGONIZANTE‖? 78 2.1. ―A Agonia‖ da História Econômica 79 2.2. E a ―Agonia‖ continua 87 2.3. Considerações Finais sobre a ―Agonia‖ 92 2.4. As relações entre ―Agonia‖, ART, ASC e MPEC 95 Capítulo III – UMA ECONOMIA QUE SE RETROALIMENTA: A FORMAÇÃO SOCIOECONÔMICA FLUMINENSE; OS NOVENTA E OITO ANOS DE NOSSO MODELO COLONIAL SEGUNDO O ART 98 3.1. Críticas a uma historiografia ―tradicional‖ 106 3.1.1. O Antigo Sistema Colonial 98 3.1.2. O Modo de Produção Escravista Colonial 116 3.1.3. Evitando ―a Agonia‖ metodológica pelo uso de teorias lusitanas principalmente 120 3.2. O Arcaísmo como Projeto, um Escopo Teleológico, pois ―O arcaísmo da sociedade brasileira não existe por acaso, mas por desígnio.‖ 125 Capítulo IV – JOÃO FRAGOSO: A HISTÓRIA ECONÔMICA DO ART – DE UMA BREVE FORMAÇÃO MARXISTA À HISTÓRIA DAS ―ELITES‖ 143 4.1. O Marxismo de João Fragoso 144 4.1.1. A Concepção de um Sistema Agrário para a Economia do Vale do Paraíba Fluminense na passagem do século XIX para o XX 144 4.1.2. Racionalidade ou Arcaísmo? 175 4.1.3. E a Roça confirma o Sistema 177 4.2. Captando o instante da metamorfose teórica de Fragoso, de marxista a um estudioso das ―elites‖ 179 4.3. João Fragoso, um historiador das ―elites‖ 181 x
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