Em A caminho de Wigan , George Orwell infiltra-se, como a água da chuva e o frio por entre as brechas das casas degradadas, na vida das comunidades de mineiros do Lancanshire, descendo com estes homens infaustos e desesperançados às minas e às catacumbas da existência humana. Orwell assume assim a sua origem nobre, não por ser essa a sua condição social e a origem da sua educação, mas porque conseguiu, sob a negregura da pele alheia, encontrar-se a si mesmo, o que afinal também se verifica a seguir, quando aborda a embaraçosa questão da elevada taxa de desemprego e as conse-quentes miserandas condições de vida. A partir daí, e já na segunda parte do livro, como uma consequência natural da experiência anterior, uma luz depois de um longo e escuro corredor subterrâneo, Orwell avança com as suas ideias, ou ideais, sobre o socialismo, sobre a forma crítica como este poderia ser aplicado e subsidiar a construção de outro mundo, longe do futuro previsto em Mil Novecentos e Oitenta e Quatro.