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O caminho para Wigan Pier PDF

150 Pages·2015·0.97 MB·Portuguese
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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.link ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." Tradução Isa Mara Lando Introdução Richard Hoggart Posfácio Mario Sergio Conti Sumário Introdução – Richard Hoggart Nota sobre o texto – Peter Davison Primeira parte Segunda parte Posfácio: De uma classe a outra – Mario Sergio Conti Sobre o autor INTRODUÇÃO | Richard Hoggart Fragmentado, irregular, por vezes desleixado, com frequência perverso — mesmo assim, O caminho para Wigan Pier vem cativando a maioria dos leitores (e deixando outros furiosos) desde que foi lançado, há mais de cinquenta anos. É um livro muito inglês, escrito por um personagem muito inglês: um tipo excêntrico, egresso da public school,* que critica impiedosamente as public schools e tudo o que elas representam; um escritor com um senso excepcional do imediato, um texto original e vigoroso, forte na ousadia e nas opiniões firmes, ora cheio de raiva, ora cheio de carinho. Somos forçados a procurar esses adjetivos para captar um pouco dos paradoxos do livro. Os trabalhos anteriores de Orwell, especialmente Na pior em Paris e Londres, já sugeriam o que ele poderia realizar se lançasse o olhar para o Norte da Inglaterra, região industrial assolada pelo desemprego nos anos 1930. Assim, o editor esquerdista Victor Gollancz já deveria ter uma ideia do que esperar quando, em janeiro de 1936, fez a encomenda a Orwell, pedindo-lhe que contribuísse para a série sobre “as condições da Inglaterra”, que vem desde Cobbett e Carlyle até a nossa época. Mais tarde, Gollancz decidiu incluir o livro em sua série Left Book Club (Clube do Livro de Esquerda). Segundo Bernard Crick, biógrafo de Orwell, Gollancz queria publicar nessa série apenas a primeira metade do livro, a menos polêmica. Mas os representantes de Orwell, sua esposa, Eileen, e seu agente (nessa época Orwell partira para lutar na Espanha), se recusaram a permitir que o texto fosse cortado; assim, Gollancz se sentiu obrigado a escrever um prefácio. Em especial na segunda parte do livro, sua encomenda tinha lhe dado (para usar no sentido exato uma expressão que muitas vezes é mal empregada) bem mais do que ele pedira — um texto “altamente provocativo”, disse ele com esperteza, enquanto se esforçava para proteger seus leitores e a pureza ideológica do seu Clube do Livro contra aquele ex-aluno de Eton sem papas na língua de espécie alguma. De pouco adiantaria hoje mencionar esse prefácio se ele não fosse um pequeno clássico do intelectualismo da classe média inglesa de esquerda, e um exemplo marcante de muita coisa que Orwell justamente estava atacando. Gollancz consegue aceitar boa parte da descrição de Orwell sobre a vida da classe operária, mas critica nervosamente Orwell por ele dizer que a classe média acha que os operários cheiram mal — e, na verdade, cheiram mal mesmo. Gollancz não conseguia aceitar esse tipo de observação direta acerca de uma classe social que ele só conhecia por meio do intelecto. Teria ficado menos chocado se Orwell tivesse dito que a intelligentsia do país, os que passam férias em Hamstead, cheira mal. Gollancz está em terreno mais sólido, embora pelos motivos errados, quando critica Orwell por se permitir vituperar à vontade. Isso se aplica, porém, sobretudo à segunda metade do livro. Há poucos livros cindidos ao meio de forma tão drástica. A primeira metade é um retrato da vida da classe trabalhadora no Norte da Inglaterra, vitimada por uma extrema pobreza, em meados dos anos 1930 — um retrato explícito e inesquecível da própria textura dessa vida. Não é um retrato da classe trabalhadora respeitável, com certeza, mas Orwell ficou profundamente chocado com o que viu nos dois meses que passou em Wigan, Barnsley e Sheffield, e não estava disposto a acrescentar ressalvas para dourar a pílula. Ele sabia que nem todo mundo vivia sujo, mas a imundície era a verdadeira indicação do preço da industrialização capitalista, em uma de suas piores formas. É impossível esquecer a imagem, vista de relance por Orwell do trem, ao voltar para o Sul, de uma jovem exausta tentando, em vão, desentupir um cano: “Ela sabia muito bem o que estava lhe acontecendo — compreendia tão bem como eu que terrível destino era esse, ficar de joelhos naquele frio terrível, no chão de pedras úmidas do quintal de uma favela, enfiando uma vareta em um cano de escoamento imundo, entupido de sujeira”. A segunda metade é argumentativa e não descritiva — uma crítica bastante irregular do socialismo inglês e em especial do socialismo de uma classe média sincera e cheia de boa vontade. Por vezes, mostra uma hilaridade do tipo pastelão de um homem que sente o impulso de pular da cadeira e dizer palavrões em uma reunião dos Quakers; e, com igual frequência, sabe furar com precisão certeira o balão do intelectualismo de esquerda infantiloide. É fácil ver por que esse livro gerou, e continua gerando, um impacto tão contundente. De um lado, muitas reações negativas; de outro, muita gratidão pelo apoio recebido. Acima de tudo, é um estudo sobre a pobreza e sobre a força das divisões de classe subjacente a ela. Orwell nota, com desprezo, que em 1937 era moda dizer que as divisões de classe estavam desaparecendo na Grã-Bretanha. Vinte anos depois publiquei um livro que apresentava um argumento semelhante, e alguns críticos disseram que eu estava redondamente enganado, pois o sentimento de classe estava praticamente morto na Inglaterra. Mais trinta anos se passaram e as mesmas coisas continuam sendo ditas. As distinções de classe não morrem; apenas aprendem novas maneiras de se expressar. A atitude de Orwell diante dessa questão é inteiramente atual. A cada década, declaramos, cheios de astúcia, que já enterramos as divisões de classe; e a cada década o caixão continua vazio. A exatidão de Orwell quanto à natureza das distinções de classe nos delicia constantemente. Basta ver esta descrição de seu próprio grupo, “a faixa inferior da classe média alta”, e as mudanças sem fim a que esta se submete para manter as aparências, para não cair “na classe trabalhadora, que é o nosso lugar”. Poucos autores descreveram tão poderosamente a sensação de quase pânico que a ameaça dessa queda pode produzir nos que estão em um nível social pouco acima do fundo do poço — uma superioridade mantida inteiramente, ou quase inteiramente, pelo sotaque; um fino fio que os separa do abismo. Mas “talvez, quando chegarmos lá, o abismo não vai ser tão terrível como temíamos, pois, afinal de contas, não temos nada a perder a não ser o nosso ‘H’”.** Grande parte da obra de Orwell, e em especial O caminho para Wigan Pier, trata, portanto, de uma luta pela libertação — a libertação dos grilhões da classe social. Algo que afeta todos nós, já que cada classe é sustentada por sua própria rede de estilos; suas atitudes, seus códigos, as opiniões que recebeu do consenso geral — e, até mais, os preconceitos de que foi vítima. A precisão com que Orwell atinge o alvo, e ele o faz com muita frequência, explica a sensação de liberdade que consegue provocar. E, no entanto, debaixo de tudo isso ele é sempre fraternal, buscando uma Inglaterra comunitária, não dividida. Através de suas viagens, ele conquistou o direito de dizer: “A Inglaterra é uma família”, e continuar, mordaz como sempre: “mas com os familiares errados no comando”. Isso explica o movimento pendular em seus escritos: vai desde a raiva — quando ataca mais uma divisória que separa as classes — até um sentimento profundo de solidariedade, quando sua imaginação se abre para novas ideias e visões, e novos sentimentos de camaradagem, enquanto essas divisórias vão caindo. Para muita gente, o sentimento de camaradagem é mais difícil de aceitar do que a raiva, em especial quando ele não lamenta, e sim louva, certos aspectos da vida da classe operária. Faz também algumas generalizações impulsivas, como é do seu feitio, mesmo a respeito da classe trabalhadora — por exemplo, quando afirma que “nos últimos doze anos, a classe operária inglesa foi se tornando servil com uma rapidez aterrorizante”. Mas certas pessoas se preocupam menos com esses comentários do que com seus louvores à vida da classe trabalhadora, em especial no lírico trecho que encerra a Primeira Parte, onde ele descreve o aconchego de uma sala de estar da classe operária, quando o pai tem emprego seguro e a família está de bom humor. Não são, conclui ele, os triunfos técnicos da civilização moderna, nem as grandes conquistas artísticas, nem os momentos públicos mais “chiques”, o que ele mais valoriza na Grã-Bretanha. Não, “é a lembrança do interior das casas da classe operária [...] que me faz lembrar que o nosso tempo não tem sido tão mau assim para se viver”. Essa passagem já foi muitas vezes chamada de “sentimental”. Pelo contrário, não é sentimental em absoluto. Ela reflete a coragem das convicções de Orwell, suas próprias descobertas; a coragem de reconhecer que seu coração se abriu. Muitos intelectuais de hoje, assim como na época de Orwell, são capazes de aceitar juízos contraditórios, coisa que Orwell lhes dá em quantidade. Mas os mesmos intelectuais ficam profundamente incomodados diante de expressões de afeto e amor, e precisam lançar mão de seus epítetos depreciativos. Eles não podem dizer: “Orwell, apesar de ser um casca-grossa, abriu o coração para pessoas que estão, à sua maneira, vivendo a verdade, e está nos convidando a fazer isso também”. Não; em vez disso, precisam dizer: “Agora ele virou um sentimental”. Esse “-al” no fim de “sentimental” é um mecanismo de escape — para escapar de ter que refletir sobre as verdadeiras expressões do “sentimento”. Os paradoxos do próprio Orwell, e portanto de seus escritos, vão se acumulando sem cessar durante a leitura. Ele pode ser excepcionalmente delicado, mas também áspero e feroz. Sente uma piedade intensa pelos pobres e desvalidos e, ao mesmo tempo, uma repulsa típica de classe média — na verdade, mais que de classe média, algo profundamente pessoal — no contato íntimo com eles. É capaz de sentir uma imensa compaixão e também uma amarga rejeição; estende a mão fraterna, mas continua, essencialmente, sozinho. É capaz de ter uma cabeça excepcionalmente lúcida, mas também de ser obstinado e inflexível. Pode mostrar um bom-senso tão grande que se torna uma forma incomum de uma elevada inteligência; mas também é capaz de exibir os preconceitos enraizados de sua classe social. Não surpreende que, embora tenha passado tanto tempo mergulhado na vida das camadas mais baixas da sociedade nas grandes cidades do século , teria gostado de ser um pároco de aldeia do XX século , vendo crescer suas nogueiras e mostrando o tradicional decoro dos ingleses. XVIII Seja qual for o interesse intelectual de suas ideias e opiniões, a maneira mais frutífera e agradável de se compreender Orwell vem da apreciação do seu trato com a linguagem. E em primeiro lugar pelos exemplos de relaxamento com a linguagem, já que eles também dizem do seu temperamento, quase tanto como os pontos fortes. Ele ama as palavras extremas, tanto adjetivos e advérbios como substantivos, e não se importa em repeti-los com frequência; a redundância é uma das táticas de seu estilo. O primeiro adjetivo da lista é “terrível”, seguido de perto por “medonho”; depois “aterrador”, “repulsivo”, “pavoroso”; e também “indizivelmente”, “horrivelmente”, “obscenamente”; por fim, o substantivo “horror”. São todos muito característicos e nos atingem com força. O mesmo fazem as expressões que usa para apontar algo ao leitor ou para provocá-lo: “Você vê este...”, “Você vê aquele...”. Os “você” vão se seguindo em marcha, em especial em fórmulas como: “Você vê esse tal...”. É tudo muito direto e coloquial, algo que agarra você pelo braço e cria um envolvimento mútuo. Orwell parte do princípio de que o leitor dispõe de um amplo leque de conhecimentos comuns, ao usar algumas frases favoritas, como: “... com aquela maneira peculiar, sempre atenta e amorosa, que têm os inválidos”, ou “Para o jantar em geral havia aqueles bolos de carne de três pence que vêm em latas”. Admite-se que todos já tivemos essas experiências, e tudo isso contribui para a peculiar intimidade desses escritos. Ele era também perito em odiar, e às vezes seu estilo é melodramático e vai muito além da razão: “... toda aquela tribo horrorosa de mulheres que se acham tão superiores, e aqueles barbudos de sandália que tomam suco de frutas e acorrem em bandos ao cheiro do ‘progresso’ como moscas-varejeiras em cima de um gato morto”. Pode ser engraçado, mas, como ele poderia dizer hoje, “passou da conta, foi demais”. Apesar de toda a sua força e de toda irritação que às vezes causam, esses são elementos menores em comparação com as virtudes da prosa de Orwell. Acima de tudo, ela é, de modo geral, um modelo de clareza e simplicidade. Abri propositalmente este livro ao acaso e me deparei com uma frase também ao acaso. Ela diz o seguinte: “Você teria que descer ao fundo de várias minas até conseguir entender os processos que acontecem ao seu redor”. Não é uma frase elegante, precisaria ser mais enxuta, mas é inteiramente clara. As palavras são curtas e há apenas um substantivo abstrato. “A boa prosa é como uma vidraça”, disse ele, e em geral sua prática correspondia a esse axioma. Orwell não será um guia para todos, mas, para alguns de nós, ele — e também Samuel Butler, que morreu um ano antes do nascimento de Orwell — é um modelo para os prosadores contemporâneos. Orwell é, em primeiro lugar, uma voz, e uma voz tipicamente inglesa: ele vem direto ao nosso encontro, ou nos atrai para perto de si. Outros escritores também têm suas “vozes”, mas pode ser, sobretudo, por uma questão de jeito, de estilo, e não de substância. A voz de Orwell expressa aquilo que é visto por um olho de uma clareza excepcional: um olho que observa detalhes reveladores, como o fato de que nos escritórios das minas já existe um carimbo para “interrupção do trabalho devido a morte”, fazendo-nos compreender como eram comuns as mortes nas minas de carvão. Ou então ele começa com esta frase característica: “Fiquei impressionado com...”, e continua refletindo sobre como o “status” modifica toda a atitude de alguém em relação a uma pensão por invalidez. Ou, de maneira mais intelectual, ele diz: “Aqui você se depara com um fato importante: todas as opiniões revolucionárias extraem sua força, em parte, da secreta convicção de que nada pode ser mudado”. É uma afirmação demasiadamente absoluta, mas faz você estacar de repente e pensar de novo. Orwell é uma consciência pública; e uma consciência com o sentido do olfato excepcionalmente bem desenvolvido. Ele nos faz perceber quanto esse sentido, tão negligenciado e subestimado, permeia o nosso ser. Basta ler o final do Capítulo IX, onde ele tem que se obrigar a entrar em uma casa de pensão — “me deu a sensação de descer para algum lugar subterrâneo — um esgoto cheio de ratos, por exemplo” — e “uma cozinha subterrânea suja e bolorenta, iluminada pelo fogo”. Um jovem estivador bêbado, de aparência perigosa, vem se aproximando, mas só para estreitar Orwell em um abraço e lhe oferecer uma xícara de chá: “Tomei uma xícara de chá. É uma espécie de batismo”. O cristianismo da infância de Orwell está sempre se reafirmando, porém é novamente posto à prova a cada experiência. Em O caminho para Wigan Pier o melhor exemplo desse senso de dever, captado no sentido do olfato, ocorre perto do fim do primeiro capítulo, na peroração sobre o que o imperialismo inglês significou para tanta gente: “... e, assim, tudo aquilo veio dar nisto — nestas favelas labirínticas, com cozinhas escuras lá no fundo e gente velha e doente rondando como um bando de besouros negros. É uma espécie de dever ir a esses lugares, vê-los e cheirá-los de vez em quando — especialmente sentir o cheiro deles, para não nos esquecermos de que eles existem; embora talvez seja melhor não nos demorarmos muito tempo por lá”. Seria, creio, um espírito muito pobre aquele que não ficasse, no final, e por vezes depois de alguma luta, impressionado por tais textos e enredado por tal escritor. * * Ao contrário do que o nome sugere, a "public school" na Inglaterra é uma escola particular de elite, com elevados custos para o aluno. (N. T.) ** Referência ao sotaque típico da classe operária inglesa, que não pronuncia o "H" aspirado inicial; por exemplo, palavras como house, home são pronunciadas 'ous, 'ome. (N. T.)

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Como Aldous Huxley observou com muita veracidade, “uma . notando que sua ilha fica bem ao norte no Hemisfério Norte, criou a compreender, e quem vem, digamos, de Cardiff, Durham ou Dublin nem sempre sabe qual dos.
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