Jorge Bessa O Apocalipse do Estado Islâmico annabel lee © 2017 Jorge Bessa Todos os direitos desta edição estão reservados ao Autor. annabel lee www.editoraannabel.com.br e-mail: [email protected] EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E REVISÃO Annabel Lee Produções Culturais PREPARAÇÃO Elisabete Vinas CAPA W. Padmé REVISÃO Edilson Fernandes da Cruz * B557a BESSA, Jorge. O Apocalipse do Estado Islâmico / Jorge Bessa. Brasília : Annabel Lee, 2017. 266p 1. Religiões. 2. Governo. 3. Terrorismo. 4. Organizações de Inteligência. 5. Espionagem I Título. . CDD 200 CDU 28-14 Embora pouco conhecidas, profecias e previsões apocalípticas fazem parte do Alcorão, o livro sagrado do Islã, e dos Hadiths, um corpo de conhecimentos atribuído ao profeta Maomé, que constituem a base da fé muçulmana. Teriam sido essas profecias o motor que transformou um diminuto grupo de rebeldes iraquianos em um exército profissional de terroristas que domina várias partes da Síria e do Iraque e recebe apoio de jovens do mundo todo? Neste livro, o escritor Jorge Bessa, um ex-oficial de Inteligência que chefiou o Departamento de Contraterrorismo da ABIN, vale-se de toda a sua experiência para examinar não só a questão apocalíptico-religiosa da organização terrorista Estado Islâmico, mas também sua ligação com todas as peças do intrincado xadrez das relações internacionais no Oriente Médio envolvendo os países muçulmanos, os Estados Unidos e seus aliados. Ao analisar o conteúdo do Alcorão e de outras fontes consideradas sagradas pelos muçulmanos, o Autor aponta para um fenômeno preocupante: a crença, por parte de muitas lideranças muçulmanas, mas principalmente do Estado Islâmico, de que o fim do mundo está próximo e eles têm um importante papel a desempenhar na grande batalha do Armagedon islâmico, o grande Apocalipse há muito profetizado nas tradições sunitas e xiitas que levará a um novo mundo onde somente os muçulmanos reinarão. Sumário Introdução CAPÍTULO I A complexidade de um mundo em evolução CAPÍTULO II Uma nova crença velha Apocalipse e apocalipisismo CAPÍTULO III Século XXI – O século do terrorismo A ameaça terrorista O que é terrorismo Causas do terrorismo A Jihad islâmica A escatologia islâmica Os Hadiths O Mahdi Yawm ad-Din (O Dia do Juízo Final) Os sinais dos tempos islâmicos A Aparição do Dajjal – Anticristo A segunda vinda de Jesus A luta contra Gogue e Magogue A aparição da Besta Sinais no céu e na terra A Ressurreição e as Três Trombetas CAPÍTULO IV O Estado Islâmico – Sua gênese e desenvolvimento Wahabismo, a raiz ideológica do Estado Islâmico A Arábia Saudita e o conflito entre xiitas e sunitas A vertente militar do Estado Islâmico Um espião por detrás do EI O califado islâmico A administração do Estado Islâmico CAPITULO V O Estado Islâmico é islâmico? A estrutura de Inteligência do EI Os espiões contra o Estado Islâmico A vida nada fácil dos espiões Os truques sujos da espionagem O recrutamento no Estado Islâmico Presente de um desertor As escravas modernas do EI O Estado Islâmico e a Internet CAPITULO VI O Apocalipse do Estado Islâmico Dabiq – O local da Batalha Final Um governo do Estado Islâmico O Armagedon do Estado Islâmico O retorno do Mahdi CAPITULO VII A presença de terrorismo no Brasil Palavras finais Literatura recomendada Introdução Em um mundo caracterizado pela complexidade, um novo fator concorre para dificultar a vida dos responsáveis pelas organizações de Inteligência e Segurança: entender e neutralizar as ameaças representadas pelos atores não estatais, ou seja, aqueles que não constituem Estados reconhecidos, mas atuam como tal, cujo exemplo mais preocupante é a organização conhecida como Estado Islâmico (EI). Não bastassem as preocupações de ordem global, como a fome no mundo, a proliferação nuclear e as alterações climáticas, entender e opinar sobre o que está acontecendo no Oriente Médio depois da invasão do Iraque pelas forças norte- americanas, da ascensão do Estado Islâmico, da guerra civil na Síria e da chamada “Primavera Árabe”, não é tarefa fácil para os profissionais dos chamados Serviços Secretos, aqueles que têm a responsabilidade de obter, processar e disseminar, em tempo hábil, aos dirigentes dos países aos quais servem os alertas sobre as ameaças que pesam sobre sua sociedade. A complexidade e a velocidade das transformações na situação política naquela conturbada parte do mundo exigem dos analistas de Inteligência um acompanhamento diuturno de todas as fontes de informações disponíveis, independentemente da posição político-ideológica de cada uma. Para eles é importante examinar os fatores que têm levado à radicalização naquela região, pois somente as responsabilidades do colonialismo e do neocolonialismo europeu não são suficientes para explicar os últimos acontecimentos. É falsa, como os fatos estão a indicar, a presunção de que seja a presença de Israel e sua política o fator de instabilidade na região, como durante muito tempo se acreditou. Uma declaração recente do ministro das Relações Exteriores do Bahrein, Shaikh Khalid Bin Ahmad Al Khalifa, realizada em 12 de abril de 2016, apontou o Irã como a ameaça maior ao seu país do que Israel, jogando por terra a difundida acusação de que foi a criação do Estado de Israel que deu origem a todos os conflitos na região, ideia que conquistou muitos corações e mentes bem- intencionadas do Ocidente, que sempre acreditam nas teses recorrentes da luta em favor dos pobres e dos oprimidos do mundo. Em um tom duro, Ahmad Al Khalifa disse que os países do Golfo estão preparados para confrontar o Irã por sua política externa e que Teerã deveria cessar o seu apoio a facções do Oriente Médio. Disse Shaikh Khalid em uma entrevista ao canal Al-Arabiya, baseado em Dubai: Enviamos uma mensagem ao Irã e a todos os seus seguidores. Estamos agora dispostos a confrontá-los e não teremos nenhuma hesitação em defender nossos povos, estados, interesses e irmãos na região, porque esta é uma questão vital para nós. Bahrein acusa o Irã de fomentar a instabilidade no país e de fornecer armas para os militantes do Hezbollah libanês e a outros grupos que se encontram por trás de vários ataques a bomba contra as forças de segurança. O Irã nega as acusações. Segundo um estudo da empresa de consultoria internacional Burson- Marsteller divulgado em 12 de abril de 2016, entrevistas presenciais realizadas entre janeiro e fevereiro deste ano com 3,5 mil homens e mulheres de países como a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Egito, Líbia, Marrocos e Iêmen, 52% dos entrevistados consideram o Irã como a maior ameaça no Oriente Médio; já 50% consideram o EI como o principal obstáculo na região. Isso nos leva a refletir que, além da falta de democracia, das perseguições político-religiosas e das debilidades da economia que encontramos na maioria dos países da região, um outro grande causador de instabilidade está longe de Israel: ele se trava no interior do próprio muçulmanismo, representado no conflito entre xiitas e sunitas. O antigo antagonismo entre essas duas correntes religiosas do islamismo, que se arrasta desde a morte do profeta Maomé, em 632, tem vitimado mais muçulmanos do que cristãos e judeus. Por detrás desse conflito encontra-se também a rivalidade entre as duas maiores potências regionais, a Arábia Saudita e o Irã, ou, em outros termos, entre árabes e persas, sem esquecer as pretensões da Turquia de voltar a desempenhar um papel de relevo, e a luta das minorias, como os curdos, para alcançar a sonhada independência. A situação no Afeganistão, no Iraque, na Arábia Saudita, na Turquia e na Síria vem demonstrando o papel cada vez mais destacado dos atores não estatais, principalmente das organizações que, pelo seu Modus Operandi, são classificadas como terroristas. Nesse rol, está incluído o recém-declarado Califado Islâmico, que não pode ser considerado um Estado. Um elemento novo para análise é o surgimento de um componente apocalíptico nas guerras travadas pelo Estado Islâmico. Seitas apocalípticas como a do pastor Jim Jones e o suicídio coletivo de seus seguidores em Jonestown; o suicídio coletivo de 16 membros da seita da Ordem do Templo Solar na colina de Isère, na França; os Davidianos em Waco e os seguidores da seita Heaven’s Gate são alguns dos exemplos do perigo que pode representar uma liderança carismática exercendo um forte apelo apocalíptico sobre pessoas ignorantes ou psicologicamente frágeis. O problema é que no caso do Estado Islâmico, seus dirigentes se valem de um exército ágil, guiado por um serviço secreto eficiente, e não como um grupo de fanáticos visionários e esquizofrênicos. O terrorismo por eles praticado se tornou mais profissional e mais violento do que o de outros grupos, como a Al- Qaeda. Por outro lado, os militares dos Estados Unidos e de outros países, que sempre prepararam seus exércitos para enfrentar inimigos convencionais, em campos de batalhas convencionais e com armas convencionais, sentem dificuldades para combater adversários como o Estado Islâmico ou Al-Qaeda e sua forma terrorista de atuação. Assim, foram forçados a adaptar sua estrutura militar e de Inteligência ao novo desafio postado por essas organizações jihadistas. Cabe, pois, à Inteligência acompanhar as atividades dessas organizações, analisando a biografia de seus dirigentes, seus antecedentes, seus pontos fortes e fracos, suas intenções e alianças, táticas e ameaças que representam, traçando os cenários possíveis para cada conflito, ou intenções dos dirigentes desses grupos armados, de forma a oferecer aos dirigentes políticos os cenários mais plausíveis e as possíveis respostas a cada um deles. Este livro foi composto com informações obtidas das chamadas Inteligência de Fontes Abertas – que inclui livros, revistas e publicações ostensivas –, com os conhecimentos acumulados em minha experiência profissional, de quando atuei na Divisão de Contraterrorismo da antiga Secretaria de Assuntos de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, além de contatos com antigos Oficiais de Inteligência de outros países, com os quais mantenho contato. Nas páginas que se seguirão, examinaremos, mais especificamente sob o enfoque da Inteligência, a ameaça terrorista representada principalmente pela organização terrorista Estado Islâmico (EI), e como ela afeta a paz e a segurança regional e internacional. Veremos também o lado escatológico do islamismo do EI e sua crença de que estão lutando a grande Batalha do Armagedon; analisaremos seu nascimento e desenvolvimento até chegar às conquistas territoriais que lhes permitiram criar um Califado; seu método de recrutamento e capacidades militares e administrativas também serão citados. Apresentarei também as diferentes visões dos especialistas, de como combater o extremismo violento do EI. Será, pois, uma pequena contribuição de um velho Oficial de Inteligência, que procura trazer ao leitor brasileiro a sua visão sobre esse fenômeno que, apesar de aparentemente se encontrar distante de nós, de repente pode se fazer presente. Incluí um capítulo especial sobre a visão apocalíptica que norteia as ações das principais lideranças dessa organização terrorista, e mesmo de outras correntes do islamismo, que admitem estar lutando a batalha final do Armagedon – a batalha do fim do mundo – em que representam as forças do bem e o resto (sejam muçulmanos de outras correntes, cristãos, judeus e membros de outras nominações religiosas) representa as forças do mal que devem a todo custo ser destruídas.
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