Neologismos do Português de Angola: Proposta de constituição de base de dados com vista à construção de um Observatório Linguístico Ana Bela Pereira Loureiro Dissertação de Mestrado em Terminologia e Gestão da Informação de Especialidade Maio, 2015 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Terminologia e Gestão da Informação de Especialidade, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino. Declaro que esta dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia. O candidato, ____________________________________ Lisboa, .... de ............... de ............... Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciado pelo júri a designar. A orientadora, _____________________________________ Lisboa, .... de ............... de .............. Dedicatória Ao meu marido Luís, companheiro de todas as horas Aos meus filhos Harrison e Tiago, pelas elevadas horas de abandono À Lála, minha … irmã (in memoria). Agradecimentos A Deus por Tudo. Os meus sinceros agradecimentos à Profª Doutora Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino, pela humildade, disponibilidade, rigor científico demonstrado ao longo da orientação deste trabalho de investigação e por me fazer acreditar que seria capaz de chegar ao fim. À Profª Doutora Rute Costa, Profª Doutora Raquel Silva e Profª Doutora Maria Lobo por tudo quanto pude aprender neste Mestrado. A Sua Excelência Senhor Ministro da Educação, Prof. Doutor Pinda Simão e ao INAGBE pela concessão desta bolsa. À Comissão Multissectorial para o Acordo Ortográfico de 1990 pelo encorajamento, acompanhamento sistemático e fraternal. A V. Ex.ª Revma. Dom José Manuel Imbamba, à Drª Ana Paula Henriques por todo o apoio incondicional. Às minhas amigas Jane, Ana pela oportunidade e por, mais uma vez, me encorajarem nos momentos mais críticos desta investigação. Ao Director do periódico “Cultura, Jornal Angolano de Artes e Letras”, Dr. José Luís Mendonça pela disponibilidade incondicional em conceder o material para o corpus. Aos meus irmãos: Mila, São, Norberto, Irª Domingas, Rita, Petaias, João e à minha sogra Georgina por todo o incentivo e apoio. À Irina pelo carinho, colaboração e ao Miguel, Cândida, Gil, Marinela, Rui e Nadir pela ajuda incondicional. Enfim, a todos aqueles que de forma directa ou indirecta contribuíram para que pudesse terminar essa trajectória. Resumo O processo de evolução do léxico de determinada língua necessita de um acompanhamento sistemático dos fenómenos neológicos resultantes deste – recolha, estudo, selecção, convenção, registo e divulgação – por estruturas físicas e humanas, reconhecidas internacionalmente, em consonância com os padrões socioculturais e sociolinguísticos. Isto pressupõe a existência de normalização e harmonização linguística. A partir de estudos realizados por Ieda Alves, Tereza Cabré, Teresa Lino, Jean- François Sablayrolles, Alain Rey e Margarita Correia, efectuámos uma investigação sobre as tendências neológicas da Língua Portuguesa, tendo como base a imprensa angolana, com o auxílio do programa Hyperbase de Étienne Brunet. De setenta e quatro candidatos a neologismos analisados, concluímos que são mais frequentes os processos de formação por composição (24), hibridismo (21) e empréstimo (20), o que confere algumas especificidades neológicas, resultantes da coabitação do Português com as línguas angolanas de origem africana. Por isso, propomos a constituição de uma base de dados de neologismos como actividade pioneira, permitindo o registo oficial de novas unidades lexicais no acervo lexical desta variante (Português angolano), e incentivar o surgimento de projectos de investigação que visem contribuir para a evolução do léxico, Ensino do léxico, produção lexicográfica, prevendo a valorização e divulgação desta variante. Palavras – chave: neologismos angolanos, base de dados, Ensino, normalização, harmonização. Abstract Neologisms in Angolan Portuguese: a proposal for the establishment of a database with the view to constructing a linguistic observatory The process of the evolution of a lexicon of a specific language requires a systematic accompaniment of neological phenomena resulting from this – collection, study, selection, convention, register and divulgation – through physical and human structures internationally recognized in accordance with socio-cultural and socio- linguistic patterns. This presupposes the existence of linguistic normalization and harmonization. From studies carried out by Ieda Alves, Tereza Cabré Teresa Lino, Jea-François Sablayrolles, Alain Rey and Margarida Correia, we conducted an investigation into neological tendencies in the Portuguese language, from the Angolan press backed up by the Hyperbase programme by Etienne Brunet. Of seventy-four proposed neologisms analyzed, we concluded that training processes by composition (24), hybridsm (21) and borrowing (20) are the most productive, which confers some neological specifications, resulting from the cohabitation of Portuguese with indigenous languages. Therefore, we propose the establishment of a database of neologisms as a pioneer activity, allowing for an official register of new lexical units in the lexical collection of this version (Angola Portuguese), and to encourage the creation of investigation projects that aim to contribute to the evolution of the lexicon, Teaching of lexicon, lexicographical production, foreseeing the valuing and divulgation of this version. Key words: Angolan neologisms, database, Teaching, normalization, harmonization. ÍNDICE INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 CAPITULO I- PARTICULARIDADES SOCIOLINGUÍSTICAS DE ANGOLA...5 1.1 Situação sociolinguística ………….………………………………………………6 1.2 Políticas linguísticas ............................................................................................. 18 1.3 O Português em coabitação com outras línguas de Angola .................................. 24 CAPÍTULO II - CONSTITUIÇÃO DO CORPUS .................................................... 30 2.1 Corpus ................................................................................................................... 31 2.2 Tipo de textos analisados ...................................................................................... 32 2.3 Ficha de candidatos a neologismos ....................................................................... 33 2.4 Tratamento semi-automático ................................................................................ 35 2.4.1 Extensão do corpus ANGONEO ..................................................................... 36 2.4.2 Altas frequências ............................................................................................ 37 2.4.3 Riqueza vocabular e hapax ............................................................................. 38 2.4.5 Concordâncias ................................................................................................ 42 2.4.6 Frequência no Corpus ANGONEO ................................................................ 44 CAPÍTULO III – FENÓMENOS NEOLÓGICOS ENCONTRADOS ................... 47 3.1 Alguns pressupostos sobre a inovação lexical .................................................. 48 3.2 Aspectos a considerar no ensino-aprendizagem do léxico em PLM, LS e LE . 54 3.3 As tendências neológicas no Português de Angola ........................................... 58 3.4 Classificação dos neologismos ............................................................................. 61 3.5 Neologia de Forma ................................................................................................ 63 3.5.1 Derivação prefixal .......................................................................................... 63 3.5.2 Derivação sufixal............................................................................................ 64 3.5.3 Composição .................................................................................................... 65 3.6 Siglas e Acrónimos............................................................................................ 67 3.7 Amálgama ......................................................................................................... 67 3.8 Hibridismo lexical ............................................................................................. 68 3.9 Neologia Semântica .............................................................................................. 70 3.9.1 Extensão Semântica........................................................................................ 71 3.9.2 Empréstimos ................................................................................................... 71 3.9.3 Expressões Idiomáticas .................................................................................. 72 3.10 Classificação por relevância ............................................................................... 74 3.11 Da língua corrente ............................................................................................... 75 CAPÍTULO IV – PROPOSTRA DE BASE DE DADOS DE NEOLOGISMOS ... 77 4.1 A importância de base de dados de neologismos ................................................. 77 4.2 Constituição da proposta de base de dados ........................................................... 79 4.3 A importância de um Observatório Linguístico ................................................... 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS .......................................................................... 84 ANEXO I .......................................................................................................................... i ANEXO II ........................................................................................................................ ii ANEXO III ..................................................................................................................... vi INTRODUÇÃO Em quase todos os contextos da vida humana, o surgimento de alguém ou algo de novo constitui motivo de curiosidade, suscitando várias questões que o próprio homem se propõe procurar e apresentar propostas esclarecedoras de acordo com a circunstância em que tal novidade ocorre. Nas Ciências Humanas, domínio da Linguística, cabe à Lexicologia estudar os processos de formação de novas unidades lexicais, as características fonológicas, sintácticas, morfológicas, semânticas e as relações que surgem entre as unidades lexicais de língua corrente e os termos, sejam de sinonímia, antonímia, hiponímia, hiperonímia, polissemia, homonímia, metonímia. Actualmente registam-se vários trabalhos sobre o estudo de fenómenos neológicos na Língua Portuguesa, como por exemplo: Alves, Ieda (1998, 2010); Carvalho, Nelly (2010); Antunes & Correia (2010); Lino, Teresa (2003, 2010); Lino & Contente (2011, 2013), Mendes, Irene (2000); estas investigações tendem a aumentar e a direccionar-se por distintas perspectivas de análise. Apesar de a Língua Portuguesa ter o estatuto de língua viva em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola - países membros da CPLP- não encontramos resultados da realização de estudos sobre a novidade lexical dessas variantes, pelos respectivos países. No entanto, dados apresentados pela OLP – Observatório da Língua Portuguesa, de 25 de Agosto de 2010, e pelo Censo Populacional de Angola de 2014, atestam que Angola é o segundo país com maior número de falantes da Língua Portuguesa. Sendo a Língua Portuguesa o maior veículo de comunicação nas principais actividades internas e externas, em Angola, preocupa-nos o facto de neste país não existir, de forma escrita, os princípios reguladores do uso oral e escrito do Português, nem estruturas que garantam a fiabilidade linguística do Português, sua língua oficial. Outro problema, não menos importante, é a fraca existência ou inexistência de estruturas, cujo objecto de estudo seja a investigação científica. Estruturas que tratem de assuntos relacionados com a terminologia, lexicologia e lexicografia - academias, institutos, observatórios, bases de dados, e outros - que ajudem a comunidade linguística 1
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