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Nem anjos, nem demonios : interpretaçoes sociologicas do pentecostalismo PDF

266 Pages·1996·7.286 MB·Portuguese
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nem anjos nem demônios : interpretações sociológicas do pentecos- talismo / Alberto Antoniazzi... | et al. [. — Petropolis, RJ : Vozes, 1994. ISBN 85-326-1227-X 1. Pentecostalismo - Igreja Católica I. Antoniazzi, Alberto. 94-1466 CDD-269.4 índices para catálogo sistemático: 1. Pentecostalismo : Cristianismo 269.4 NEMANJOS NEM DEMÔNIOS Interpretações sociológicas do Pentecostalismo Alberto Antoniazzi, Cecília Loreto Mariz, Ingrid Sarti, José Bittencourt Filho, Pierre Sanchis, Paul Freston, Rogério Valle, Rubem César Fernandes, Wilson Gomes Digitalizado por: Jolosa VOZES Petrópolis 1994 © 1994, Editora Vozes Ltda. . Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ . Brasil. COORDENA ÇÃO EDITORIAL: Avelino Grassi EDITOR: Neylor J. Tonin COORDENAÇÃO INDUSTRIAL: José Luiz Castro EDITOR DE ARTE: Omar Santos EDITORAÇÃO: Editoração e organização literária: Orlando dos Reis Revisão gráfica: Revitec S/C . Diagramação: Josiane Furiati Supervisão gráfica: Valderes Rodrigues ISBN 85.326.1227-X Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda. - Rua Frei Luís, 100. Petrópolis, RJ - Brasil - CEP 25689-900 - Tel.: (0242)43-5112- Fax.: (0242)42-0692 - Caixa Postal 90023 - End. Telegráfico: VOZES - Inscr. Est. 80.647.050 - CGC 31.127.301-0001/04, em setembro de 1994. SUMARIO INTRODUÇÃO O risco das comparações apressadas (Rogério Valle e Ingrid Sarti), 7 PARTE I O FENÔMENO E SUAS REAÇÕES A Igreja Católica face à expansão do pentecostalismo (Pra começo de conversa) (Alberto Antoniazzi), 17 Remédio amargo (José Bittencourt Filho), 24 O repto pentecostal à cultura católico-brasileira (Pierre Sanchis), 34 PARTE II VISÃO HISTÓRICA Breve história do pentecostalismo brasileiro (Paul Freston), 67 1. A Assembléia de Deus, 67 2. Congregação Cristã, Quadrangular, Brasil para Cristo e Deus é Amor, 100 3, A Igreja Universal do Reino de Deus, 131 PARTE III VISÃO SOCIOLÓGICA Govemo das almas. As denominações evangélicas no Grande Rio (Rubem César Fernandes), 163 Libertação e ética. Uma análise do discurso de pentecostais que se recuperaram do alcoolismo (Cecilia Loreto Mariz), 204 . Nem anjos nem demônios (Wilson Gomes), 225 INTRODUÇÃO O RISCO DAS COMPARAÇÕES APRESSADAS Rogério Valle/Ingrid Sarti A rápida expansão do pentecostalismo é, provavelmente, o fenômeno mais importante no cenário religioso do Brasil e talvez de toda a América Latina, neste final de milênio. Segundo valioso levantamento realizado pelo ISER (sin­ tetizado na contribuição de Rubem César Fernandes a este volume), a cada dia útil do período 1990-1992 surgiu uma nova igreja evangélica na região metropolitana do Rio de Janeiro. Mais notável ainda é que este crescimento se dê sobretudo nas regiões mais pobres e com menor nível de escolaridade. No mesmo período, a atividade mediúnica ganhou dois centros por semana. Comparações com o surgimento de novas capelas e igrejas católicas não são possíveis, pois estas são dispensadas de registro civil e o “Censo Institucional Evangélico” foi feito com base no Diário Oficial. Outras fontes, no entanto, nos certificam de que refreou o crescimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)1. Fica assim a impressão de que as 1 1. Tal fato é comprovado nas várias avaliações diocesanas que vêm sendo realizadas em todo o país: Campinas, Belo Horizonte, Picos, São Mateus, Bonfim, Conceição do Araguaia, Cametá etc., algumas das quais começam a ser publicadas na coleção “Perspectivas Pastorais” das Paulinas. 7 CEBs seriam um fato social dos anos setenta e o pentecosta­ lismo, um fato social dos anos noventa. “Mudam as percenta­ gens da fé”, conclui Rubem César Fernandes. “Perplexidade” é a palavra que melhor resume o efeito destes novos números sobre elites católicas, as quais, aferran- do-se cegamente a uma definição ampla e tolerante de catoli­ cismo que em outros momentos renegam, sempre julgaram possuir uma hegemonia religiosa sobre o país. Logo lhes vêm à mente uma explicação simplista e conservadora, segundo a qual o crescimento do pentecostalismo seria provocado por uma suposta concentração da Igreja Católica na problemática política e social, em detrimento da atividade propriamente, religiosa e pastoral. Como assinala o Pe. Alberto Antoniazzi em seu texto, tal interpretação deve ser de pronto rejeitada. Afinal, este cresci­ mento se dá também na área de dioceses católicas, onde a “opção preferencial pelos pobres” foi excluída do planejamen­ to pastoral. Aliás, o Levantamento Nacional de Comunidades Eclesiais Católicas revelou uma tendência a dois pólos: comu­ nidades dinâmicas, onde há atividades tanto religiosas quanto sócio-políticas, e comunidades não dinâmicas, onde não há nem uma coisa nem outra . Todavia, os conservadores não são os únicos a estarem perplexos. Inúmeros agentes de pastoral, aos quais a Igreja deve sua admirável presença pública na defesa da cidadania e da justiça nos últimos vinte e cinco anos, assentaram sempre sua atuação na certeza de que o avanço da pastoral católica seria proporcional à capacidade que esta teria de tratar dos problemas “concretos” da população - a começar pela miséria econômica e a opressão política. Hoje, vêem esta convicção abalada pelo sucesso de um movimento religioso aparentemen­ te etéreo e alienado, e diante dele tendem muitas vezes ou a uma apologia ingênua, ou a uma crítica ideológica. 2. Cf. R. Valle e M. Pitta. Levantamento nacional de comunidades eclesiais católicas. Resultados estatisticos. No prelo. Petropolis, Vozes, 1994. 8 Mas até que ponto toda esta perplexidade de uns e de outros não estaria baseada em comparações sem sentido! De fato, os dados de que dispomos hoje, tanto quantitativos como qualita­ tivos, não são, em sua grande maioria, comparáveis. Poucas são as pesquisas que utilizaram os mesmos procedimentos metodológicos nas comunidades pentecostais e católicas3. Em vez disto, muitos textos discorrem longa e exclusivamente sobre o pentecostalismo - seus templos, seus fiéis, suas crenças e ritos - e só nas conclusões passam a mencionar as CEBs, numa comparação que o leitor mais arguto percebe estar im­ plícita desde o primeiro momento do trabalho. E difícil compreender tal procedimento. Se o objetivo é confrontar formas de religiosidade popular, não se deve dissi- ■ mular a interlocução existente entre elas, pois restringe-se inutilmente o resultado das pesquisas e corre-se o risco de ver suposições gratuitas transformadas em conclusões injustificá­ veis. Por exemplo, muitas análises concluem que a conversão afeta globalmente a vida do crente, tanto no seu âmbito mais interior, quanto no comportamento público. Mas isto não sig­ nifica que tenhamos aí, necessariamente, um traço distintivo ou exclusivo do pentecostalismo. Por que o mesmo não se daria com os membros das CEBs? Neste caso, nada teríamos avan­ çado na caracterização nem do pentecostalismo, nem das CEBs. A interlocução a que nos referimos fica ainda mais eviden­ te, quando introduzimos outra exigência indeclinável nas com­ parações entre pentecostalismo e pastoral católica: a dimensão histórica. Muitas CEBs, sobretudo no meio rural (onde elas são mais numerosas) se formaram em tomo de uma capela, erguida 3.0 CERIS e o CEDI estão iniciando uma pesquisa que visa justamente vencer a atual imprecisão da análise comparativa, utilizando os mesmos critérios e indicadores (tais como expansão, evolução quantitativa, formas de organização, causas de adesão e expectativas futuras, relação com a sociedade e outras instituições etc.) para a análise das igrejas pentecostais, das CEBs, e do Movimento de Renovação Carismática católico. A pesquisa compreende a organização de um banco de dados reunindo pesquisas sobre as três formas religiosas, a busca de estatísticas confiáveis e, finalmente, uma pesquisa qualitativa em dois centros urbanos. 9 em louvor a um determinado santo. As novenas, terços, ofícios, pagamentos de promessa, festejos e peregrinações que lá ocor­ riam marcaram profundamente a dimensão celebrativa das CEBs. Portanto, o problema no horizonte de ação dos agentes de pastoral não era a conversão - pois o povo já era católico, ao mesmos em princípio... - e sim o aprofimdamento da vivência da fé, o compromisso. Vão assim privilegiar a discus­ são e intervenção do povo sobre suas condições de vida e de trabalho. Lentamente, as atividades das comunidades passam a assumir um outro perfil: leitura da Bíblia, grupos de casais e de jovens, celebrações da Palavra, vias-sacras, novenas de Natal, preparação para os sacramentos... Mais tarde, a tendên­ cia se acentua: Círculos Bíblicos, encontros fora da comunidà-' de, Campanhas da Fraternidade e logo também participação em sindicatos, lutas pela terra, etc. Estas novas atividades (que não eliminam as mais antigas, ligadas ao catolicismo popular tradicional) introduzem uma dimensão reflexiva e, a seguir, uma dimensão prática, hoje indissociáveis na vida das CEBs4. Vemos portanto que só a partir de seu movimento fenomeno- lógico - de sua caminhada - é que podemos compreender as CEBs. A história do pentecostalismo brasileiro é mais recente, mas ainda assim já podemos identificar, com Paul Freston, três grandes ondas. A primeira delas (Assembléia de Deus) formará comunidades rigorosas na vivência da fé, como no caso das CEBs (ainda que o objeto do compromisso raramente coincida nos dois casos), enquanto a segunda (Deus é Amor, por exem­ plo) estará mais próxima do pólo “movimento” do que do pólo “igreja” (tal como a Renovação Carismática Católica). Já a terceira onda, a do pentecostalismo Autônomo (Universal do Reino de Deus, por exemplo), terá o trinômio cura-exorcismo- prosperidade como alicerce de seu “individualismo coletivis- ta”, nos termos de Bittencourt (cf. seu texto “Remédio 4. Para a forma como este processo se dá num caso concreto, ver R. Valle e C. Boff. O Caminhar de uma Igreja nordestina. Avaliação pastoral da diocese de Picos. Coleção Perspectivas Pastorais. São Paulo, Edições Paulinas, 1993, p. 18s. 10

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