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Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo PDF

156 Pages·1994·31.763 MB·Portuguese
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ÍNDIOS EBANDEIRANTES NAS ORIGENS DESÃOPAULO JOHN MANUEL MONTEIRO NEGROS DA TERRA Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo 2~ reimpressão Copyright © 1994 by John Manuel Monteiro Capa: Ettore Bottini SUMÁRIO sobre a litografia A dança dos índiospuris, in Viagempelo Brasil, 1817-1820 i de Spix e Martius Preparação: Márcia Copola Apresentação e agradecimentos................................ 7 Índice remissivo: Otacílio F. Nunes Jr. 1. A transformação de São Paulo indígena, século XVI.... 17 Revisão: Ana Maria Barbosa Os Tupi na Era da Conquista.................................. 18 ~K)C..: CarlosAlberto [nada - Contato, alianças e conflitos......................... 29 Jesuítas e colonos na ocupação do Planalto 36 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) O contraponto jesuítico 42 (Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil) Colonos na ofensiva.............................................. 51 Conclusão............................................................ 55 Mcnrciro, John Manuel Negros da terra :índios ebandeirantes nasorigens de São Paulo / John Manuel Monteiro. - São Paulo : 2. O sertanismo e a criação de uma força de trabalho..... 57 Companhia das Letras, 1994. A riqueza do sertão............................................... 58 Bibliografia. "I>N85-7164-394-6 Os portugueses de São Paulo e a destruição do Guairá 68 As grandes bandeiras e a economia paulista............... 76 1.Bandeirantes csertanistas -Brasil2. Brasil -História A reorganização do apresamento.............................. 79 -Entradas ebandeiras 3.Escravidão -Brasil 4. Índios da América do Sul -Brasil -Condições sociais 5. São Paulo Um remédio para a pobreza? . 85 (Estado) -História 6. Trabalho indígena 1.Título. Novos rumos 91 94-2280 CDD-980.5 3. O celeiro do Brasil 99 Índicespara catálogo sistemático: Um espaço para o desenvolvimento.......................... 100 I. Brasil :índios :Escravidão :Política indigcnista portuguesa : Caminhos da agricultura paulista 113 História 980.5 2. Índios: Escravidão :Política indtgenista portuguesa :Brasil : História 980.5 4. A administração particular. 129 A elaboração de uma mentalidade escravista 130 1995 O uso e costume da terra 136 Todos osdireitos desta edição reservados à Colonos e jesuítas: a batalha decisiva 141 EDITORA SCHWARCZ LTDA. Escravos ou administrados? 147 Rua Tupi, 522 01233-000 - São Paulo - sp 5. Senhores e índios 154 Telefone: (011)826-1822 Fax: (011)826-5523 Da sobrevivência à vivência..................................... 154 Caminhos para a integração 159 A busca de um espaço próprio 170 O conflito inevitável 175 APRESENTAÇÃO O sentido ambíguo das fugas 181 De índio a escravo: comentários finais 186 E AGRADECIMENTOS 6. As origens da pobreza rural 188 São Paulo rural, 1679: distribuição da riqueza............ 189 A concentração e a consolidação da riqueza............... 195 Em 1651, após uma longa marcha pelos sertões, alguns rema- A difusão da pobreza rural 202 nescentes da grande expedição do mestre-de-campo Antonio Rapo- so Tavares chegaram a Belém do Pará, tão castigados por doenças, 7. Os anos finais da escravidão indígena....................... 209 fome eataques de índios que, segundo o padre Antonio Vieira, "os Caminhos da liberdade: alforrias 210 que restavam mais pareciam desenterrados que vivos" .No entanto, Caminhos da liberdade: a justiça 215 acrescentava o mesmo padre, a viagem "verdadeiramente foi uma Transição para a escravidão negra? 220 das mais notáveis que até hoje setem feito no mundo": durante três anos edois meses osintegrantes da tropa haviam realizado um "gran- Notas 227 de rodeio" pelo interior do continente, embora nem mesmo soubes- Referências bibliográficas 267 sem por onde andavam. Perdidos na imensidão da América, só des- Mapas e tabelas.................................................... 289 cobriram que haviam descido o grande rio Amazonas quando suas Índice remissivo 291 precárias eimprovisadas embarcações alcançaram o entreposto mi- litar do Gurupá, na foz do Xingu, sendo disto informados pelos es- tarrecidos soldados do forte. No entanto, oque mais causou espanto em Vieira foi aaparen- te contradição entre tão desmedidos esforços e seus objetivos pro- saicos, que tinham levado estes portugueses a atravessar tantas lé- guas esofrer tantas privações para capturar a mão-de-obra que jul- gavam indispensável para o seu modo de vida. Afinal de contas, o motivo singular que havia incentivado o empreendimento era o de arrancar "ou por força ou por vontade [os índios] de suas terras e os trazer às de São Paulo eaí se servirem deles como costumam". De certa forma, a expedição de Raposo Tavares representa al- go emblemático da expansão seiscentista na América portuguesa. Apesar de muitos historiadores, seguindo Jaime Cortesão, ressalta- rem a dimensão geopolítica do empreendimento, esta e tantas ou- tras expedições deapresamento oriundas de São Paulo pouco tinham a ver com a expansão territorial. Muito pelo contrário: ao invés de contribuírem diretamente para a ocupação do interior pelo coloni- zador, as incursões paulistas - bem como as tropas de resgate da região amazônica e os "descimentos" dos missionários em ambas 7 as regiões - concorreram antes para a devastação de inúmeros po- indígena emSão Paulo não selimitavam àmera lógica comercial. Na vos nativos. Parafraseando Capistrano deAbreu, aação destes "co- verdade, praticamente todos osaspectos da formação da sociedade e lonizadores" foi, na realidade, tragicamente despovoadora. economia paulista durante seusprimeiros dois séculos confundem-se Na época, os paulistas ficaram conhecidos na América ena Eu- de modo essencial com osprocessos deintegração, exploração edes- ropa como grandes sertanistas, sem iguais no seu conhecimento dos truicão depopulações indígenas trazidas de outras regiões. dilatados sertões, na sua perseverança e coragem. Posteriormente, Nesta nova interpretação crítica da história social de São Paulo alguns historiadores ergueram estes sertanistas - batizando-os de entre os séculos XVI e XVIII, as populações nativas ocupam um pa- bandeirantes - aproporções épicas, reconhecendo particularmente pelcentral. Ao enfocar as origens, desenvolvimento edeclínio da es- seu papel na expansão geográfica da América portuguesa. Mas, se cravidão indígena, os capítulos que seseguem procuram demonstrar as bandeiras paulistas passaram a ocupar um lugar de destaque na que as principais estruturas da sociedade colonial na região surgi- historiografia brasileira, a sociedade que se constituiu a partir des- ram de um processo histórico específico, no qual diversas edistintas tes empreendimentos ainda permanece, na verdade, pouco conhecida. sociedades indígenas ficaram subordinadas a uma estrutura elabo- Com certeza, atrás das façanhas destes intrépidos desbravado- rada visando controlar e explorar a mão-de-obra indígena. res esconde-se a envolvente história dos milhares de índios - os ne- No seuconjunto, apesar de focalizar mais especificamente aes- gros da terra - aprisionados pelos sertanistas de São Paulo. Assim, trutura edinâmica da escravidão indígena, este livro busca dialogar grande parte dos estudos tem seconcentrado nas peripécias dos ban- com três problemas centrais da história do Brasil: o papel do índio deirantes, sendo que o "ciclo de caça ao índio" teria constituído ape- na história social e econômica da Colônia; o pujante mito do ban- nas uma fase preliminar e mesmo de importância menor das ativi- deirante; e a importância das economias não exportadoras para a dades bandeirantes, na qual os paulistas teriam fornecido escravos formação do país. Longe de resolver estas questões, o material aqui índios para os engenhos do Nordeste açucareiro. Ao mesmo tempo, apresentado antes visa contribuir com novos elementos para uma dis- aimensa bibliografia sobre aformação da sociedade eeconomia co- cussão mais ampla e crítica da dinâmica interna que se desenvolvia loniais tem dedicado pouca atenção ao papel do trabalho indígena. nos interstícios de uma economia e sociedade voltadas prioritaria- Apesar de algumas contribuições recentes terem lançado luz sobre mente para o Atlântico. este tema negligenciado, as principais tendências no estudo da Co- Este livro nasceu de uma tese de doutorado defendida na Uni- lônia permanecem subordinadas a um quadro teórico no qual a or- versidade de Chicago em 1985. Embora sepreserve grande parte do ganização do trabalho seatém à lógica da expansão do capitalismo material original da tese, a mesma foi ampliada e enriquecida du- comercial. Nesta perspectiva, oíndio - quando mencionado - de- rante os últimos seis anos em função de pesquisas adicionais e em sempenha um papel apenas secundário eefêmero, ocupando aante- deferência àscríticas recebidas. Muito devo aJohn Coatsworth, Bent- sala de um edifício maior onde reside a escravidão africana. leyDuncan, Friedrich Katz eStuart Schwartz, integrantes da banca, Negros da terra retoma ajá trilhada história seiscentista de São por seus comentários esugestões precisas, algumas das quais foram Paulo buscando redimensionar todo o contexto histórico do fenô- integradas a esta versão. meno bandeirante. O ponto de partida é a simples constatação de Agradeço às seguintes instituições, que financiaram pesquisas que as freqüentes incursões ao interior, em vez de abastecerem um em arquivos portugueses, italianos e brasileiros: Center for Latin suposto mercado de escravos índios no litoral, alimentavam uma cres- American Studies (Universidade de Chicago), Social ScienceResearch cente força de trabalho indígena no planalto, possibilitando a pro- Council, FulbrightlHayes Commission eCNPq.Também contei com dução eo transporte de excedentes agrícolas; assim, articulava-se a oapoio institucional do Cebrap, que generosamente me acolheu em região da chamada Serra Acima a outras partes da colônia portu- 1991-2como pesquisador visitante, permitindo a revisão final deste guesa e mesmo ao circuito mercantil do Atlântico meridional. Po- livro dentro de um rico ambiente interdisci plinar, privilégio raro pa- rém, deve-se ressaltar que a dimensão e o significado do trabalho ra quem seacostumou com a austeridade intelectual da universidade. 8 9 Trechos deste livro apareceram em diversas publicações espe- cializadas: Slavery and Abolition, Estudos Econômicos, História (UNESP), Revista deAntropologia, Ler História, Ciências Sociais Ho- NEGROS DA TERRA je eRevista deHistória. Sou grato aos pareceristas anônimos destas revistas por suas importantes críticas. Inúmeras pessoas ofereceram prestimosa colaboração em diver- sas etapas desta trajetória. Durante minhas estadias em Portugal, contei com a valiosa assistência e companhia intelectual de Albino Marques, L. M. Andrade, Patrick Menget, BillDonovan eIvan Al- ves Filho, sendo que estes dois últimos também me acolheram no Rio de Janeiro. Entre oscolegas americanos, sou grato aMartin Gon- zalez, Cliff We1ch, Joel Wolfe, Herb Klein, Alida Metcalf, Mary Ka- rasch, Muriel Nazzari eKathy Higgins, que leram ecomentaram al- gumas partes do trabalho. Meus pais, Manuel eMadelyn Monteiro, bem como meu irmão Willy, ofereceram vários tipos de apoio em muitas ocasiões. Em São Paulo, ogrupo interdisciplinar ligado ao Núcleo deHis- tória Indígena e do Indigenismo tem proporcionado um ambiente fecundo para a discussão deste livro. Agradeço particularmente a Marta Rosa Amoroso, Beatriz Perrone-Moisés, Nádia Farage, Ro- bin Wright, Miguel Menéndez (já falecido), Paulo Santilli, Domi- nique Gallois e Manuela Carneiro da Cunha. Dentre os colegas da UNESP, devo reconhecer oapoio ecomentários de Luiz Koshiba, So- nia Irene do Carmo, Ana Maria Martinez Corrêa, Manoel LeIo Bellotto, Teresa Maria Malatian, Kátia Abud, Ida Lewkowicz, Jacy Barletta eAngélica Resende. Pela leitura de versões anteriores deste trabalho, sou especialmente grato a Francisco "Pancho" Moscoso, Carlos Eugênio Marcondes de Moura, Jacob Gorender, André Ama- ral deToral, Luiz Felipe deAlencastro eLilia Moritz Schwarcz, todos adiantando sugestões enriquecedoras. Contei ainda com o estímulo de Horácio Gutiérrez, José Roberto do Amaral Lapa, Bob Slenes, Lúcia Helena Rangel, Sílvia Helena Simões Borelli, Mara Luz, Ma- ria Odila Leite da Silva Dias, Luiz e Dida Toledo Machado, e, so- bretudo, Maria Cristina Cortez Wissenbach. Finalmente, meu maior débito écom Maria Helena P. T. Ma- chado, por seu companheirismo eindispensável apoio intelectual, sem ruim donjuda que me prestou na tradução deste livro. Álvaro eTho- IIllIS nossos filhos, 1II111bém contribuíram, pois sem eles o trabalho t tl'tlft Nldo 111'111 1!IIIIsI'I\p/do, porém mais pobre. 10 Recife '. , , , N * ESQUEMA GERAL DAS EXPEDrçõES DEAPRESAMENTO, 1550-1720 Expedições deresgate eapresarnento dosGuarani, p 1550-1635 (por mar) Expedições deresgate eapresamento dosGuarani, 1585-1641(por terra) Expedições deapresamento deoutros grupos, sobretudo pós-l640 Expedições demercenários paulistasnasGuerras doNordeste, 1658-1720 asc scc ". """'m dReotaRapaopsrooximTaadvaares,da16e4xp8-e5d1ição Rota daexpedição deSebastião PaisdeBarros, 1671-1674 ..•ÂN. ~ REGIÃO DE SÃO PAULO y NO FINAL DO SÉCUW XVII S Vilas ~ Aldeias ( Capelas rurais t Data de fundação t (ouprimeira menção SA-oJoão de.Atibaia na documentação) ~- (1658) (e.1669) N.S. i ddoeDJuenstdeirarío N.S.t deNN.ozSa.rét (l6ll) doDesterro (1676) ouSanta Inês N.S. ~ ~ t (e.162l) daCandelária N.S. deltu 7;(;,/# SERR~ DO JAp/ deBelém I (16l8) (e.1673) N.S. til!üeuerro lI' IIIM1) \~/buari q..•..o '\ 1\tlj~, N.s.t datCNon.cse.ição ~. Rio ./lIqueri daConceição de deVuturuna Araçariguama (1687) Santana N.S~ (1697) deParnafba tN.S. daPontede (162l) daConceição Sorocaba SatntoAntonio doTapeti (1661) São Roque t (1681) (1660) (e.16l3) N.s.6 i Santana ~ daGraça deMogidasCruzes c' deCarapicuiba (1611) ') (16Il) N.S. t '0\,0 6 deMontserrate N.S. (e.1662) doRosário' SantoAmaro deEmbu (e.1600)t (1624) MAR N.S. DO dosPrazeres deltapecerica6 SERR~ daSerra ~ (séc.XVII) SãoPaulo (lll4/ll6O) 12 18 24 30km 1 A TRANSFORMAÇÃO DE SÃO PAUW INDÍGENA Século XVI No dia de Natal de 1562, Martim Afonso Tibiriçá perdeu sua última batalha, sucumbindo a uma das doenças infecciosas que gras savam entre os habitantes indígenas do Brasil na época. De certo mo do, a vida e a morte deste importante guerreiro e chefe tupiniquim espelharam a própria marcha da expansão européia na capitania de São Vicente no século XVI. Muitos anos antes, ele já havia incorpo rado a seu grupo - como genro - o primeiro branco e assistira à rápida ascensão deste como influente líder de índios e portugueses. Na década de 1530, Tibiriçá consentira na formação de uma aliança com os estranhos, certamente tendo em vista a vantagem que esta lhe proporcionaria sobre seus inimigos tradicionais. Com a chegada dos primeiros jesuitas, no meio do século, autorizara a edificação de uma capela rústica dentro de sua aldeia e permitira que os padres convertessem seu povo, ele próprio sendo o primeiro catequizado. Os jesuítas, por sua vez, expressaram sua reverência por este índio considerado exemplar sepultando-o no interior da modesta igreja de São Paulo de Piratininga. Embora ressaltem seu papel colaborativo no estabelecimento do domínio europeu na região, os parcos dados biográficos existentes sobre Tibiriçá podem ilustrar também uma outra perspectiva. De fato, se as ações de Tibiriçá ressentiam-se de uma forte influência das de mandas dos europeus, é importante lentbrar que responderam antes à lógica e à dinâmica interna da organização social indígena. Além disso, mesmo figurando como protagonista na formação das rela ções luso-indígenas na região, Tibiriçá sofreu, ao lado dos demais integrantes da sua sociedade, as profundas crises e transformações desencadeadas pela expansão européia. Aquilo que parecia uma alián ça inofensiva e até salutar logo mostrou-se muito nocivo para os índios. As mudanças nos padrões de guerra e as graves crises de au toridade, pontuadas pelos surtos de contágios, conspiraram para de bilitar, desorganizar e, finalmente, destruir os Tupiniquim. 17

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