NA PRESENÇA DO SEN'I IDO Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas oão Augusto Pompéia Silê Tatit Sapienza PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SAO PAULO Reitora: Anna Maria Marques Cintra C'dIJC Editora da PUC-SP Direção: Miguel Wady Chaia NA PRESENÇA DO SENTIDO Conselho Editorial Uma aproximação fenomenológica Ana Maria Rapassi a questões existenciais básicas Anna Maria Marques Cintra (Presidente) Cibele Isaac Saad Rodrigues Dino Preti Marcelo da Rocha Marcelo Figueiredo Maria do Carmo Guedes Maria Eliza Mazza Pereira, Maura Pardini Bicudo Veras Onésimo de Oliveira Cardoso eive p ^^ ^, ^^ São Paulo 2013 Associaçâo Brasileira das Editoras Universitárias 2010, João Augusto Pompéia e Bilê Tatit Sapienza. Foi feito o depósito legal. Pirita catalografica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvea Kfouri / PUC-SP Pompéia, João Augusto Na presença do sentido: uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas / João Augusto Pompéia e Bilê Tatit Sapienza. - 2. ed., 1. reimpr. - São Paulo : EDUC ; ABD, 2013. 246 p.; 18cm Bibliografia ISBN 978-85-283-0416-9 1. Fenomenologia. 2. Daseinsanalyse. 3. Psicoterapia. I. Pompéia, João Augusto. II. Título. CDD 142.7 SUMÁRIO • '152.1 616.8914 1° edição: 2004 2. edição: 2010 Direção Arte e existência e... – 17 Miguel Wady Chaia J-1-listória dos QZ k 31 Produção Editorial Magali Oliveira Fernandes Desfecho: encerramento de um processo ............... Sonia Montone 51 Preparação Sobre a morte e amorrer.............................................. 69 Sonia Rangel Culp a e desculpa . . ...... . . . 87 Revisão Teresa Maria Lourenço Pereira Tempo da maturidade .0-1Ç 119 Editoração Eletrônica caracterização da psicoterapia .................... Digital Press 153 Capa Psicoterapia e psicose ......................................... 171 William Martins Secretário Poder e brincar ................................................... 205 Ronaldo Decicino AIM edue DASMAMYSE EDUC - Editora PUC-SP ABD - Associação Brasileira Rua Monte Alegre, 984 - Sala S16 de Daseinsanalyse 05014-901 - São Paulo - SP Rua Cristiano Viana, 172 Tel./Fax: (11) 3670-8085 05411-000 - São Paulo - SP E-mail: [email protected] Tel.: (11) 3081-6468 e 3082-9618 Site: www.pucsp.br/educ E-mail: [email protected] Site: www.daseinsanalyse.org C € CAA, CCA- PREFÁCIO ^ ^ Cub d.e-c,ov\ A realização de quem fala é ser ouvido. Neste,_sen- . tido Bilê é, sem dúvida, a realização de quem quer que I^U^^ _37._ a G+n; entre em diálogo com ela. Uma "escutadora" excepcional, Bilê é também uma ^-^ redatora de mão cheia. Tendo acolhido a experiência que (4-,\ se apresenta a elá, é capaz de converter o falado em tex- OA. to com rua propriedade. As linguagens oral e escrita são muito diferentes. Não é fácil converter uma na outra. Não basta reproduzir o falado no papel: é preciso re-dizer. É isto que Bilê fez com algumas palestras que realizei nestes últimos doze anos. É para mim muito gratificante trazer, com ela, ao público leitor os textos que compõem este livro. C11(1;10v\: Construídos em co-autoria, estes textos correspondem a palestras feitas para públicos muito diferentes, em mo- l\ v:,a ` mentos também diferentes. '`=1 or),-(\c ^ ^ Para que o leitor possa ter uma noção do contexto em ^^^^ ^ 1 ^ ^} que estas palestras foram realizadas, segue abaixo uma re- r , n ^^ cï, LQ-A lação de quando e para quem cada uma delas foi feita. c,tt r^ í1 i ate, L II 8 NA PRESENÇA DO SENTIDO PREFÁCIO 9 Desfecho: Encerramento de um Processo Psicoterapia e Psicose Palestra proferida na Semana da Psicologia Palestra apresentada para Equipe de Paramédicos do do Curso de Psicologia da UNISANTOS, em 1990. CAISM - Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em 2000. Culpa e Desculpa Poder e Brincar Palestra apresentada para pais de adolescentes em Palestra apresentada para psicólogos e psicoterapeutas evento promovido pela Associação Brasileira de do Centro de Estudos Fenomenológico-Existencial de Daseinsanalyse, em 1992. Santos, em 2001. Arte e Existência João Augusto Pompeia Palestra apresentada na II Bienal de Santos, em 1992. Uma Caracterização da Psicoterapia Palestra apresentada na Faculdade, de Psicologia da em 1992. UNISANTOS, Tempo da Maturidade Palestra apresentada para psicólogos e psicoterapeutas no evento "A trajetória humane, promovido pela Associação Brasileira de Daseinsanalyse, em 1993. História dos Desejos Palestra apresentada para adolescentes de 12 a 17 anos em evento organizado pela Associação Brasileira de Daseinsanalyse, em 1993. Sobre a Morte e o Morrer Palestra apresentada na Semana de Psicologia da UNISANTOS, em 1996. APRESENTAÇÃO Neste livro estão, transformadas por mim em tex- tos, nove palestras de João Augusto Pompeia. Embora tenham sido feitas para públicos diversos e em épocas diferentes, percebemos nelas duas constantes. Uma delas é a insistência na necessidade de preser- vação da capacidade humana de sonhar — este poder es- tar solto naquelá brecha do espaço e do tempo, em que algo que ainda não é realidade é realmente vislumbrado e desejado. Quando essa capacidade é aniquilada, perde- se o que é mais peculiarmente próprio do ser humano, e se acrescenta à devastação da Terra a devastação do mun- do dos homens. E, aqui, esse falar com tanta propriedade sobre o sonhar provém de alguém que planta, colhe,e re- planta sonhos, mesmo sabendo que alguns deles morrem. A outra é a lembrança de que também é próprio do homem estar sempre às voltas com o significado de tudo que lhe diz respeito: seus sonhos, seus sentimentos, suas ações, suas faltas, o que se aproxima e o que se afasta dele. Ele sempre poderá perguntar: qual o sentido disto? 12 NA PRESENÇA DO SENTIDO APRESENTAÇÃO 13 Já que falamos de sentido, qual o sentido da publi- Após -a explosáo da bomba, os cientistas que estive- cação destes textos? Por que privilegiar estes temas? Será ram envolvidos em sua concepção e construção viveram que eles condizem com a nossa época tão objetiva, prática dilemas morais. Era impossível não olhar para o que re- e apressada? Parece que não. E exatamente isto é o preocu- sultou de pesquisas que, a princípio, estavam no campo de uma ciência pura. pante: o fato de soarem como deslocadas coisas que são Em nossos dias, desenvolvem-se também pesquisas essenciais ao ser humano, o não haver lugar para elas. na área biológica, e ai estão novos problemas 'éticos liga- As idéias desenvolvidas aqui ganham relevo, pelo dos a questões como, por exemplo, a reprodução humana. contraste, quando observamos as marcas do nosso tempo. A sociedade se preocupa com o impacto do progres- Vale a pena divagarmos um pouco pensando nelas. so científico e tecnológico sobre os valores humanos e discute tal assunto. Todos concordam que ` essa é uma Faz tempo - antes de a física ter conseguido a fissão questão delicada. O poder absurdamente grande de-fa- nuclear — Rutherford (1871-1937) disse, brincando, que zer quase tudo, poder que não pára de aumentar, gera qualquer dia algum idiota num laboratório poderia ex- uma espécie de medo de podermos estar, num futuro plodir o mundo sem querer. próximo, vivendo num mundo que terá se tornado es- Embora ele tivesse dito isso de brincadeira, essa tranho para nós ou, até mesmo, sem mundo para viver. possibilidade destrutiva passou a ser real quando, em 16 Esta ameaça traz um mal-estar que vai de um certo des- de julho de 1945, no deserto de Los Alamos, aconteceu a conforto até a angústia. primeira explosão atômica provocada pelo homem. Mas há uma outra ameaça, igualmente deletéria, que Nos dias 6 e 9 de agosto do mesmo ano foram joga- nos, pressiona, só que vem mais dissimulada, quase nem das as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. é vista como perigo. Não nos causa o mesmo impacto Em 7 de agosto, o presidente Truman divulgou pelo ra- que a possibilidade da destruição do planeta ou de to- dio que o potencial destrutivo da bomba de Hiroshima parmos, um dia desses, com uns clones meio esquisitos. era maior que vinte mil toneladas de explosivos. E, a Essa ameaça não vem dos laboratórios científicos. Tra- partir desse dia, a humanidade sabe que o potencial des- ta-se de uma pressão exercida pela necessidade cada vez trutivo do homem não tem limites. maior de corresponder ao grande valor atual: a Esperteza. APRESENTAÇÃO 15 14 NA PRESENÇA DO SENTIDO Ser esperto significa: armado de sua lucidez e sen- Há espertos de todos os tipos, em todas as profis- sões e em vários graus; eles podem pertencer a qualquer so de realidade, determine o que traz lucro de qualquer natureza, prestigio e, sobretudo, poder para você, e cor- nível socioeconômico e cultural; podem ser analfabetos ou ra atrás disso; se precisar, atropele o que e quem estiver pós-graduados; podem ser grosseiros ou sutis. Os esper- na frente, mesmo que seja você próprio, aquele sujeito tos conseguem tudo; aliás, eles não toleram frustração. meio bobo que, as vezes, ainda tem sonhos de poder ser A confraria dos espertos cria e espalha uma cultura diferente. que ensina a importância de eles serem vencedores - não Há lições e regras de esperteza: a vida é uma dispu- se sabe bem o que eles vencem. E o que é mesmo que eles ta diária; não confie em ninguém; finja; não mostre fra- ganham? Ao vencedor, as batatas, como lemos em Quincas queza; imponha seus direitos; se for preciso, passe por Borba, de Machado de Assis. cima; almoce-o antes que ele jante você; pense grande, A Esperteza não costuma andar sozinha pelo mun- isto e, vise obter muito; encurte caminhos para conseguir do. Ela é amiga da Insensibilidade, e quando as duas rápido; seduza; corrompa; seja duro e não se importe se, saem a passeio elas se divertem muito brincando: Há com seu jeito, você aniquila os sonhos dos teimosos aquela brincadeira de faz-de-conta em que a Esperteza que insistem em viver em outra sintonia, pois é até diz: "Faz de conta que eu me chamava Sabedoria, tá?". E bom que eles também aprendam o que é a vida. a Insensibilidade completa: "Tá, e eu era a princesa 'Tudo- É claro que esse estilo de ser e e sempre foi uma pos- Me-Toca', tá?". Então, elas falam coisas superinteressantes, sibilidade humana: Os escritos mais antigos que se co- de tudo um pouco, e há algumas coisas que elas conhecem nhecem contam histórias de espertezas, mas agora isso bastante mesmo. Até ficam sentimentais. Nesses mo- aparece de um modo exacerbado. mentos elas mesmas acreditam no seu jogo. Outras vezes, Interessante é que essa necessidade de ser esperto é diferente. Elas chamam uma outra amiga, a Violência, não é vista como ameaça, mas sim como uma meta, e todos para brincar junto, e aí o jogo fica pesado. O Poder tam- nós, em alguma medida, nos envolvemos com essa meta. bém é sempre muito bem-vindo nessas brincadeiras, O resultado, ironicamente, é a desconfiança entre todos, mas, quase sempre, eles não querem a Culpa por perto. a insegurança geral em que vivemos. Eu sou estimulada Eles a chamam de "Desmancha-Prazer", muito chata essa a cultivar a esperteza, mas, obviamente, os outros também aí. Existe também uma velha que não é cônvidada, mas são, e assim estamos todos nós, como dizemos, na luta. 16 NA PRESENÇA DO SENTIDO teima em ficar, por perto e dizer que está ficando tarde e que o jogo uma hora acaba. Eles sabem que o nome dela é Morte: eles olham para outro lado e arrumam uma outra brincadeira, chamada "Não-Quero-Pensar-Nisso". Bem, esse cenário é o contraponto para os textos ARTE E EXISTÊNCIA aqui reunidos: Pode ser que, ao lê-los, em alguns mo- mentos, você pergunte: mas : em que mundo vive esse cara que diz essas coisas? Se isso acontecer, aproveite, Ao ser convidado para falar sobre arte, senti que não amplie a questão e pergunte: em que mundo nós estamos sei tanto sobre o assunto para fazer uma análise intrín- vivendo? seca do fenômeno artístico. Apesar disso aceitei, pois Ynes- no não sendo um especialista a arte me toca. Bile Tatit Sapienza Quando falo em obra de arte, faço-o como leigo, como alguém que olha uma tela, uma escultura e pensa: "Puxa vida, isto aqui é Tuna obra de arte"; como alguém que, ao ler uma poesia, um romance ou ao assistir a um teatro, tem vontade de dizer "Mas isto é assim mesmo, isto é verdade E nessa perspectiva, de alguém que é tocado pela arte, que me proponho a falar aqui. Vejo o "ser tocado" pela arte como algo que só pode acontecer porque há uma profunda relação entre arte e existência. Que relação é essa? Que é a existência para que pos- sa ser mobilizada pela arte?