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Marxismo, psicanálise e o feminismo brasileiro PDF

309 Pages·2017·7.178 MB·Portuguese
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Maria Lygia Quartim de Moraes Marxismo, psicanálise e o feminismo brasileiro: tomo II IFCH Coleção Trajetória 9 TRAJETÓRIA Revista do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas Universidade Estadual de Campinas ISBN: 978-85-86572-62-3 Reitor: Prof. Dr. Marcelo Knobel Representantes Docentes e Discentes Diretor: Prof. Dr. Jorge Coli Revista Temáticas, Revista RURIS, Revista Diretor Associado: CEMARX, Cadernos AEL, Revista RHAA, Prof. Dr. Jesus J. Ranieri História Social, CPA, alunos de Pós-Graduação e Graduação Comissão de Publicações Coordenação Geral: Representantes de funcionários Prof. Dr. Jesus J. Ranieri Maria Cimélia Garcia Samuel Ferreira Representantes Docentes Prof. Dr. Jesus J. Ranieri Projeto da Capa: Cleo Nehring Dobberthin Prof. Dr. Márcio Augusto D. Custódio Produção Editorial, Finalização e Divulgação Prof. Dr. Frederico N. R. de Almeida Setor de Publicações do IFCH/Unicamp Profa. Dra. Fátima Évora Profa. Dra. Tirza Aidar Impressão Profa. Dra. Mariana Chaguri Gráfi ca do IFCH /Unicamp Doutoranda Flávia Paniz Colaboradora: Profa. Dra. Guita Grin Debert Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Cecília Maria Jorge Nicolau – CRB 8/3387 M791m Moraes, Maria Lygia Quartim de, 1943- Marxismo, psicanálise e o feminismo brasileiro. /Maria Lygia Quartim de Moraes. -- Campinas, SP : UNICAMP/IFCH, 2017. 2 v. (Coleção Trajetória, 9) 1. Marxismo. 2. Psicanálise. 3. Feminismo. I. Título. II. Série. III. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. CDD - 335.4 - 150.195 - 305.42 Para Marta, Cleo e Sofi a Agradecimentos Cleo Maria Nehring Dobberthin Margareth Rago e Rubens Naves Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo – FAPESP Fundação Carlos Chagas de Pesquisa Apresentação A Coleção TRAJETÓRIA mantém seu objetivo de estimular os professores do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas da UNICAMP a reunir e submeter à crítica acadêmica escritos dispersos que expressem, a critério exclusivo do autor, os momentos fundamentais de sua formação intelectual. A exemplo dos volumes publicados até agora, compete ao autor selecionar, organizar e apresentar textos, em obediência à sua versão original, transferindo para a introdução as observações que considerar necessárias para posicionar-se quanto ao estado atual de suas refl exões sobre a(s) unidade(s) temática(s) incluídas no volume. Direção do IFCH TOMO II MOVIMENTOS SOCIAIS, CIDADANIA E DEMOCRACIA NO CONE SUL SUMÁRIO 1. o golpe de 1964 ...................................................................................................... 11 2. Breve história do feminismo brasileiro na década da mulher .............................................................................................. 41 3. A imprensa feminista dos anos 1975/1980 ..................................................... 169 4. Cidadania e a luta pelos direitos da mulher ..................................................... 209 5. Direitos humanos e o movimento de mulheres no Brasil ................................................................................................................ 235 6. Feminismo, movimentos de mulheres e a (re)construção da democracia no Cone Sul............................................... 255 7. Direitos humanos na era da globalização neoliberal ............................................................................................................... 283 8. Entrevista à revista Brasileiros ........................................................................... 299 1 O GOLPE DE 1964: TESTEMUNHO DE UMA GERAÇÃO1 À memória de Norberto Nehring Depois do fato consumado parece inútil perguntar como seria o Brasil de hoje sem o golpe de 1964. Mas, em compensação, é possível avaliar as consequências do golpe militar que iniciou um 1 Este texto utiiliza dados pesquisados e coletado pelo projeto Documentos e Memórias da Repressão Militar e da Resistência Política – Brasil: 1964-1982, que coordenei, com a inestimável colaboração de vários alunos e pesquisadores, especialmente Mário Augusto Medeiros da Silva e Alessandra Bagatim A realização do projeto tonou-se possível graças ao decisivo apoio do CNPq. 12 O Golpe de 1964: testemunho de uma geração dos períodos mais sinistros da história brasileira. Na verdade, golpes de estado não eram novidade nem na história do Brasil nem da América Latina. Naquele momento, o Brasil encontrava-se numa encruzilhada, da qual a crise econômica era a expressão mais visível das profundas contradições da nossa sociedade, dadas as diferenças de direitos e de renda entre as classes sociais, bem como as disparidades regionais. A solução dos problemas sociais e regionais seriam as famosas “reformas de base” apregoadas pelos intelectuais da CEPAL e pelo ministro de economia, Celso Furtado. Isto numa conjuntura em que o país se “modernizava”, ou seja, entrava em contato com outros valores e costumes, principalmente por meio do cinema e da imprensa especializada: o pós II Guerra Mundial introduziu o consumo de massas e a idealização dos Estados Unidos. Os quadrinhos de Walt Disney chegaram ao país no começo dos anos 50 e a inovadora revista Claudia, da Editora Abril, surgiu em 1961. Toda uma geração urbana foi educada indo ao cinema ver musicais, westerns e fi lmes de guerra que transmitiam os valores e o american way of life. O velho modelo da rigidez católica ibérica começou a ruir para as classes médias e altas. Na década dos anos 60 observou-se um fenômeno novo: o aparecimento, em várias partes do mundo ocidental, de uma juventude extremamente politizada e militante. Em sua maioria, estudantes secundaristas e universitários. Eles foram os novos atores coletivos dos anos 60 e as principais vítimas da repressão político- militar. Pois se as instituições democráticas permitiram um relativo compromisso com as reivindicações juvenis, a presença na América Latina de ditaduras militares levou à radicalização do movimento estudantil e sua intensa participação na resistência armada. Na Argentina, cerca de setenta por cento dos quase 30 mil desaparecidos políticos tinham entre 16-30 anos. No Brasil, encontramos uma proporção semelhante, como veremos em seguida. Uma outra característica nova – compartilhada por todos os países da América Maria Lygia Quartim de Moraes 13 Latina – é a presença feminina na vida política, especialmente no movimento estudantil e na luta armada dos anos 70. 1 – Os anos 60 Entre os anos 60/70, o tipo de organização que Immanuel Wallenstein (2003, p. 179-84) denominou de “nova esquerda” tinha uma forte representação entre os estudantes, que constituíam uma força política importante. Por isso é que, nessa época, ditaduras do mundo todo adotaram como uma de suas medidas iniciais invadir universidades, colocar na clandestinidade as centrais estudantis e prender professores e alunos. Isso quando não foram massacrados, como aconteceu no México2 e na Indonésia. No Brasil, a juventude de esquerda também desempenhou um papel prepoderante na crítica ao imobilismo dos partidos comunistas ofi ciais.3 Nos anos 1960, a falta de liberdade política nos países socialistas e outras degenerescências já eram rechaçadas por muitos jovens, homens e mulheres, que aderiram à luta armada, 2 Em jullho de 2004 o ex-presidente Luis Echeverría (1970-6) foi indiciado pela acusação de genocídio ao autorizar o assassinato de estudantes em protesto ocorrido em 10 de junho de 1971, na Cidade de México (FSP, 24/07/2004, A11). 3 No Brasil, as correntes políticas de direita e esquerda desenvolveram-se no interior da universidade pública brasileira, importante formadora da elite intelectual e profi ssional, que constituiu um monopólio quase completo do ensino universitário até os anos 70. A Universidade Católica, por sua vez, detinha a hegemonia entre as privadas. A luta entre direita e esquerda sempre foi muito forte nas faculdades de Direito, que constituíam uma espécie de escola formadora dos políticos paulistas e brasileiros. A esquerda, por sua vez, dividia-se grosso modo entre católicos e comunistas, que se enfrentavam especialmente na luta pela hegemonia das grandes centrais universitárias :as uniões estaduais e a união nacional dos estudantes. 14 O Golpe de 1964: testemunho de uma geração precisamente egressos dos partidos de esquerda ofi ciais. A vitória das teses guevaristas, no seio dos partidos comunistas tradicionais, partiu de um compromisso político entre militantes comunistas e trotksistas e o movimento estudantil, que foi se radicalizando no decorrer dos anos.4 Por outro lado, se observarmos a cronologia dos acontecimentos que levaram ao confronto armado, fi ca claro que a resistência política nos anos 1965 a 1968 deslocou-se principalmente para a esfera intelectual e artística. Em artigo que discute a introdução das obras de Lukács no Brasil, Celso Frederico argumenta que o fechamento da participação política institucional após o golpe de 64 tornou a esfera cultural um espaço de resistência à ditadura. Diz ele: A efervescência artística do pré-64, expressa no cinema novo, na bossa nova, nos Centros Populares de Cultura, desdobrou-se, após o golpe, num amplo movimento de resistência cultural contra os novos governantes, a censura e o chamado “terrorismo cultural”. A contes- tação inicial do regime foi feita basicamente pela intelligentzia radicalizada, num momento dramático em que donos do poder não ousavam estender a repressão para as classes médias intelectualizadas. É este o contexto de onde surgirá um aguerrido movimento estudantil que, a partir de 1966, ocupou as ruas das principais cidades do país, desafi ando a ditadura (FREDERICO, 1995, p. 188). 2 – A morte dos sonhos de uma geração Para muitos de minha geração, o golpe militar de 1964 foi uma grande tragédia política, com dolorosas consequências em 4 A Ação Libertadora Nacional, que uniu os comunistas “históricos” Carlos Marighela e Joaquim Câmara Arruda com jovens universitários uspianos é o melhor exemplo desse encontro entre militância polica da “velha esquerda” e os egressos do movimento estudantil, além de muitos intelectuais e artísticas..

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