Marcio Simão de Vasconcellos Teologia e Literatura Fantástica A redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio. Orientador: Prof. Joel Portella Amado Co-orientador: Profª. Eliana Yunes Rio de Janeiro Março de 2014 Marcio Simão de Vasconcellos Teologia e Literatura Fantástica A redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Prof. Joel Portella Amado Orientador Departamento de Teologia – PUC-Rio Profª. Eliana Lucia Madureira Yunes Co-orientadora Departamento de Letras – PUC-Rio Profª. Lúcia Pedrosa de Pádua Departamento de Teologia – PUC-Rio Prof. Antonio Manzatto PUC-São Paulo Profª. Denise Berruezo Portinari Coordenadora setorial de pós-graduação e pesquisa do Centro de Teologia e Ciências Humanas – PUC-RJ Rio de Janeiro, 28 de março de 2014 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador. Marcio Simão de Vasconcellos Graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB), campus Petrópolis, e pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Especialista em Ciências da Religião pela Faculdade Teológica do Rio de Janeiro (FATERJ). Professor de grego e Novo Testamento no Seminário Teológico Batista de Duque de Caxias (STBDC). Possui interesse em investigar a relação entre a Teologia e a cultura contemporânea, mantendo um diálogo aberto com a Literatura e a pós-modernidade. Ficha Catalográfica Vasconcellos, Marcio Simão de Teologia e literatura fantástica: a redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis / Marcio Simão de Vasconcellos ; orientador: Joel Portella Amado ; Co- orientador: Eliana Yunes. – 2014. 172 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Teologia, 2014. Inclui bibliografia 1. Teologia – Teses. 2. Redenção. 3. Literatura Fantástica. 4. I C. S. Lewis. I. Amado, Joel Portella. II. Yunes, Eliana. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Teologia. IV. Título. CDD: 200 Para minha esposa, Miriã, minha eterna Tinidril, e para minha filha, Bruna, o presente mais maravilhoso que Deus me deu. Amo vocês! Agradecimentos A Deus, fonte eterna de toda redenção e esperança. Ao meu orientador, Professor Joel Portella Amado, pelas conversas, incentivos e apoio na realização deste trabalho. À minha co-orientadora, Professora Eliana Yunes, pela ajuda inestimável e pela paixão contagiante pelas histórias e narrativas. Ao CNPq e à PUC-Rio pela bolsa concedida, fundamental para a conclusão desta pesquisa. Aos meus pais, Sônia e Edézio, por terem me amado sempre e por terem me ensinado a amar a leitura e as boas histórias. Afirmo com todas as letras: não há pais melhores! Ao meu tio Toninho (in memorian). Boa parte das histórias infanto-juvenis que li em minha infância – das histórias em quadrinhos aos contos de fada – veio através do meu tio. Lembro-me, com saudades, dos sábados à tarde, em que visitávamos livrarias e bancas de jornais perto de casa. Ao meu irmão, Marcelo, pelo amor constante e pela amizade sempre presente. Você é o melhor irmão do mundo! Ao meu amigo, prof. Alessandro Rodrigues Rocha, por ser referencial de vida acadêmica e pastoral repleta da graça de Deus. Ao meu amigo Antonio Lucio Avellar Santos, pela amizade concreta e duradoura. Ao meu amigo Jansen Racco Botelho de Melo, pela amizade, pelas conversas, pelas caronas e pelos cafés com teologia. Ao casal Alexandre e Simone, amigos sempre presentes e verdadeiros. A todos os professores e funcionários do Departamento de Teologia pelos ensinamentos e por toda ajuda sempre disponível. A todos, muito obrigado! Resumo Vasconcellos, Marcio Simão de; Amado, Joel Portella; Yunes, Eliana. Teologia e Literatura Fantástica: a redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis. Rio de Janeiro, 2014, 172 p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Teologia e Literatura Fantástica: a redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis investiga a relação entre teologia e literatura, destacando a importância de se ultrapassar o racionalismo reducionista, seja na prática teológica, seja na vida cotidiana. Além disso, desenvolve o conceito de redenção cristã analisando a maneira como este tema é apresentado na literatura fantástica, especialmente a forma que ele é retratado na Trilogia Cósmica do escritor irlandês C. S. Lewis. A partir desses pontos, propõe-se a literatura fantástica como espaço potencial para a prática teológica. Palavras-chave Redenção; Literatura Fantástica; C. S. Lewis. Abstract Vasconcellos, Marcio Simão de; Amado, Joel Portella (Advisor); Yunes, Eliana (Advisor). Theology and Fantastic Literature: the redemption in the Cosmic Trilogy C. S. Lewis. Rio de Janeiro, 2014, 172 p. MSc. Dissertation – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Theology and Fantastic Literature: the redemption in the Cosmic Trilogy C. S. Lewis investigates the relationship between Theology and Literature, highlighting the importance of overcoming reductionist rationalism, whether in practical theology, whether in daily life. It also discusses the concept of christian redemption, analyzing how this theme is presented in fantastic literature, especially the way it is portrayed in the Cosmic Trilogy by Irish writer C. S. Lewis. From these points, it is proposed the fantastic literature as a potential space for theological practice. Keywords Redemption; Fantastic Literature; C. S. Lewis. Sumário 1. Introdução ..................................................................................................... 09 2. A redenção e a literatura fantástica em C. S. Lewis ....................................... 14 2.1. Biografia de C. S. Lewis ............................................................................... 15 2.2. O imaginário como lugar teológico em C. S. Lewis: o valor e o sentido dos contos de fada e da literatura fantástica ..................................... 34 2.3. Redenção em C. S. Lewis: uma análise de sua obra de não ficção ............... 47 2.4. A Trilogia Cósmica de C. S. Lewis .............................................................. 61 2.4.1. Além do planeta silencioso ....................................................................... 64 2.4.2. Perelandra ................................................................................................. 67 2.4.3. Uma força medonha ................................................................................. 69 3. A redenção: análise histórica e teológica ....................................................... 73 3.1. Do cristianismo primitivo à teologia medieval ........................................... 76 3.2. Da era medieval à modernidade ................................................................. 91 3.3. Novas perspectivas sobre a redenção ....................................................... 102 4. Contribuições da literatura fantástica de C. S. Lewis sobre o conceito de redenção ....................................................................................... 113 4.1. A relação entre teologia e literatura ............................................................ 114 4.2. A literatura fantástica como locus teológico ............................................... 124 4.3. A redenção na Trilogia Cósmica de C. S. Lewis: análise descritivo-interpretativa .................................................................. 129 4.4. A Trilogia Cósmica de C. S. Lewis e o conceito de redenção cristã .......... 149 5. Conclusão .................................................................................................... 160 6. Referências bibliográficas ........................................................................... 167 9 1 Introdução Meu nome também é Ransom – disse a Voz. C. S. Lewis Redenção e literatura fantástica parecem, a princípio, termos quase irreconciliáveis. Mesmo com grande esforço imaginativo, por parte de quem deseja relacioná-las, a pergunta permanece: o que uma supostamente teria a ver com a outra? Uma possível resposta a essa questão pode ser encontrada na vida e obra do escritor irlandês C. S. Lewis. Considerado por muitos como um dos maiores pensadores cristãos do século XX, Lewis atuou como escritor, crítico literário, teólogo e filósofo. Foi, além disso, professor de Literatura Medieval e Renascentista na Universidade de Oxford e em Cambridge. Justamente por isso é muito difícil resumir em poucas linhas o valor de seus escritos para diversas áreas do conhecimento humano. O crítico literário William Empson afirmou que “Lewis era o homem mais lido de sua geração, alguém que lia tudo e que se lembrava de tudo o que lia”1. Essa quantidade eclética de leituras proporcionou a Lewis a capacidade de analisar diferentes assuntos e, a partir destas análises, escrever vários ensaios, sobretudo sobre crítica literária. David L. Russel afirma que a maior parte das críticas literárias fica obsoleta em sua própria geração, mas as de Lewis permanecem extremamente legíveis, provocativas, e, talvez mais significativamente, sendo impressas mais de três décadas após sua morte – um vigoroso testemunho de seus poderes de estudioso.2 David Downing, por sua vez, afirma que, ao término de sua vida, Lewis já havia publicado 40 livros, sendo que outros 20, também de sua autoria, apareceram em edições póstumas3. Milhões de seus textos são vendidos a cada ano. Na verdade, pode-se afirmar que rascunhos e/ou esboços escritos por Lewis tornam-se bastante prováveis de serem publicados. Uma rápida pesquisa na internet revela a quase inesgotável quantidade de sites destinados a C. S. Lewis, ou à análise de suas obras. 1 DURIEZ, Colin, O dom da amizade, p. 62 2 Ibid., p 104-105 3 DOWNING, David, C. S. Lewis: o mais relutante dos convertidos, p. 175 10 Ao mesmo tempo que era extremamente inteligente, Lewis também era profundamente piedoso, característica que transparece claramente em seus textos. Por exemplo, no prefácio do livro Cartas a uma senhora americana, que reúne uma vasta correspondência de C. S. Lewis, Clyde S. Kilby esclarece que Lewis “doava dois terços de sua renda e mesmo assim não ficava satisfeito com a caridade que praticava”4. Aliás, talvez seja justamente nesse livro que a compaixão, a empatia e a espiritualidade de Lewis surjam com maior clareza. É importante ter em mente que, para alguém que detestava o trabalho de escrever cartas – em sua autobiografia, Lewis deixa claro que uma vida ideal e feliz seria aquela na qual não houvesse quase nenhuma correspondência e a vinda do carteiro não fosse temida5 – manter uma correspondência com mais de cem cartas, todas destinadas a uma única pessoa a quem ele nunca esperou encontrar em vida, revela um cuidado fraterno e verdadeiramente pastoral com as necessidades alheias. Neste livro, Lewis faz algumas observações sobre a prática da oração6, o cuidado e a providência divina7 e as dúvidas e temores que insistem em abalar os seres humanos8, que revelam um conhecimento não apenas teórico sobre tais assuntos, mas acima de tudo, prático. Lewis sabia do que falava, apenas porque também vivia estas contradições da alma em seu próprio cotidiano. Esta autopercepção foi registrada em um comentário seu feito a respeito de um de seus livros mais famosos – Cartas de um diabo a seu aprendiz. Nele, Lewis diz: Alguns me elogiaram indevidamente supondo que minhas Cartas eram o fruto maduro de muitos anos de estudo de teologia moral e ascética. Eles se esqueceram de que há uma forma igualmente confiável de aprender como funciona a tentação. “Meu coração” – não preciso de outros – “mostra-me a maldade dos ímpios”.9 A capacidade de Lewis em vincular fé e imaginação criativa em seus escritos fornece-lhe lugar de destaque quando se deseja refletir sobre a relação 4 LEWIS, C. S., Cartas a uma senhora americana, p. 10 5 LEWIS, C. S., Surpreendido pela alegria, p. 147-148 6 Vale transcrever aqui uma das opiniões de Lewis sobre a oração: “Nossas orações são as orações dEle: essa é a mais pura verdade. Ele fala consigo por meio de nós. (...) Na verdade, Deus sempre tem de fazer tudo – fazer todas as orações, praticar todas as virtudes. (...) Nossas orações são Deus conversando consigo mesmo, nada mais que Romanos 8.26, 27. Além disso, a orientação, ‘orar sempre’, sem dúvida, é velha conhecida nossa: a parábola que menciona o juiz injusto [Lc 18.1 a 8]”. (cf. LEWIS, C. S., Cartas a uma senhora americana, p. 28-30) 7 Ibid., p. 30 8 Ibid., p. 27, 59, 62, 131 9 DOWNING, David, C. S. Lewis: o mais relutante dos convertidos, p. 172
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