LIZ ANDRÉA DALFRÉ OUTRAS NARRATIVAS DA NACIONALIDADE: O MOVIMENTO DO CONTESTADO Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção de grau de Mestre em História, pelo Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro. CURITIBA AGOSTO – 2004 2 TERMO DE APROVAÇÃO LIZ ANDRÉA DALFRÉ OUTRAS NARRATIVAS DA NACIONALIDADE: O MOVIMENTO DO CONTESTADO Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro Departamento de História, UFPR Prof.ª Dr.ª Roseli Terezinha Boschilia Departamento de História, Universidade Tuiuti do Paraná Prof.ª Dr.ª Márcia Regina Capelari Naxara Departamento de História, UNESP Curitiba, 01 de outubro de 2004 3 AGRADECIMENTOS Os erros de um trabalho de dissertação certamente iniciam nos agradecimentos, pois nunca conseguimos lembrar o nome de todos aqueles que colaboraram, direta ou indiretamente, para a consolidação do trabalho. De qualquer forma, tentarei lembrar daqueles, que, mais diretamente, me auxiliaram na realização desse projeto. Inicialmente, agradeço ao meu orientador, Prof. Luiz Carlos Ribeiro, pelo acompanhamento e atenção dedicados a esse trabalho e à banca de qualificação, formada pela Profª. Judite Maria Barboza Trindade e pelo Prof. Euclides Marchi, que contribuíram com questões fundamentais para a finalização deste trabalho. Ao Prof. Marcos Napolitano, pelas discussões propiciadas na disciplina de Seminário, importantes na definição da problemática e dos caminhos adotados. À Lucí e a Dóris, pelo apoio técnico. Agradeço ao programa de bolsas da CAPES, que possibilitou maior dedicação ao curso durante o período de sua realização. De forma especial, agradeço a todo o corpo docente da Universidade Tuiuti do Paraná, onde concluí a graduação mas, principalmente, à Prof.ª Wilma de Lara Bueno, que vem me acompanhando em tantas caminhadas, à Profª Helena Isabel Müller, por mostrar que o desentendimento é fundamental para que haja entendimento, ao Prof. Sérgio Feldmann, pelo incentivo inicial. Agradeço às minhas “orientadoras” Profª Roseli Boschilia e Prof.ª Sidinalva Wawzyniak, pela orientação pessoal e profissional, que possibilitaram a conclusão de mais uma etapa desse trabalho, iniciado há alguns anos. Sem o auxílio, o empenho e a dedicação de vocês esse trabalho não existiria. Agradeço aos companheiros do Grupo de Estudos Libertários, que propiciaram reflexões importantes sobre o ofício do historiador e a atuação na sociedade. Pude contar, desde o primeiro momento em que me interessei pelo tema, com o auxílio e a atenção de Márcia Janete Espig, cujo trabalho e postura serviu como referência para a elaboração deste trabalho. Agradeço também, aos pesquisadores Paulo Pinheiro Machado e Rogério Rosa Rodrigues, pela possibilidade que me 4 deram de utilizar suas obras, importantes para uma compreensão maior sobre o conflito. Durante o curso recebi, de diferentes formas, o apoio dos colegas Ilton, Lorena, Ale, Marcos, Sirlei, Andréa e Viviane. Agradeço também aos amigos que, pacientemente, conviveram com muitas ausências mas, também, propiciaram momentos de intensas reflexões sobre o caminhos que escolhemos: Raquel, Marcelo, Patrícia, Ozias, Fernando, Michela, Karin e Indianara. Por fim, agradeço aos meus familiares pela paciência que esse processo exigiu e, principalmente, ao Luiz, certamente a pessoa que mais sofreu com essa caminhada, pois conviveu com momentos de desânimo, de desespero e de euforia, mas sempre esteve ao meu lado, dando seu incondicional apoio. 5 Profecia (ou Testamento da Ira) Herdeiros do novo milênio Ninguém tem mais dúvidas O sertão vai virar mar E o mar sim Depois de encharcar as mais estreitas veredas Virará sertão Antoê tinha razão rebanho da fé A terra é de todos a terra é de ninguém Pisarão na terra dele todos os seus E os documentos dos homens incrédulos Não resistirão a Sua ira Filhos do caldeirão Herdeiros do fim do mundo Queimai vossa história tão mal contada Ah! Joana Imaginária Permita que o Conselheiro Encoste sua cabeleira No teu colo de oratórios Tua sala de rosários Teu beijo de cera quente E assim na derradeira lua branca Quando todos os rios virarem leite E as barrancas cuscuz de milho E as estrelas tocadeiras de viola Caírem uma por uma Os soldados do rei D. Sebastião Mostrarão o caminho Cordel do Fogo Encantado 6 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................... 6 ABSTRACT .............................................................................................. 7 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 8 2. CONTESTADO: UM TERMO POLISSÊMICO.......................................... 22 2.1 A guerra do Contestado ou o território contestado?................................. 23 2.2 A polissemia do termo continua: as direções seguidas............................ 25 2.2.1 Especificidades de uma polissemia: os clássicos..................................... 27 2.2.2 Olhares de permanência........................................................................... 36 2.2.3 A perspectiva da esquerda....................................................................... 38 2.2.4 Outras perspectivas: a cultura e a modernidade...................................... 43 2.3 Algumas hipóteses e uma proposta de pesquisa..................................... 47 3. REPRESENTAÇÕES SOBRE O CONTESTADO NA IMPRENSA 50 REGIONAL................................................................................................ 3.1 Os periódicos no início do século XX: os lugares da imprensa................ 50 3.2 O Diário da Tarde...................................................................................... 56 3.2.1 O Movimento do Contestado no Diário da Tarde...................................... 60 3.2.1.1 “O brilhante ornamento do exército brasileiro”.......................................... 60 3.2.1.2 José Maria: “guerreiro audacioso, fanático e monarquista“..................... 71 3.3.1.3 De facínoras a ignorantes: algumas representações sobre os rebeldes . 78 3.2.1.4 Algumas representações geográficas ...................................................... 83 3.2.1.5 O olhar romântico...................................................................................... 86 3.2.1.6 O olhar científico....................................................................................... 89 3.3.1.7 Identidade nacional/regional – uma ferida cultural.................................... 95 4. CONTESTADO: UMA NARRATIVA DA NACIONALIDADE..................... 104 4.1 Um projeto de nação................................................................................. 104 4.2 O homem e o meio no pensamento social brasileiro................................ 109 4.3 Algumas narrativas sobre o Movimento do Contestado........................... 115 4.3.1 Representações sobre a nacionalidade.................................................... 125 4.3.2 Representações sobre o espaço.............................................................. 130 4.4 Os Sertões: paradigma dos movimentos sociais...................................... 133 4.4.1 Os narradores do Contestado e a presença euclidiana............................ 134 4.4.2 Euclides da Cunha e o Movimento do Contestado .................................. 138 4.4.3 Uma comparação para se pensar o Brasil e os brasileiros....................... 143 5. CONCLUSÃO............................................................................................ 145 REFERÊNCIAS......................................................................................... 149 7 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão histórica acerca de algumas representações produzidas durante a década de 1910 sobre o Movimento do Contestado. Centrando a análise nos textos produzidas pela imprensa periódica escrita paranaense e pelos militares, compreendemos que as narrativas desse evento estiveram inscritas em uma comunidade de imaginação, onde determinadas noções foram recorrentes. Verificamos a tensão existente entre concepções românticas e racionalistas nas reflexões a respeito dos habitantes do interior e que demonstraram o interesse de determinadas instituições do período, na constituição de uma identidade nacional e regional. Essas narrativas também possibilitaram refletirmos acerca da importância da obra de Euclides da Cunha, Os Sertões, na formação de um pensamento sobre o conflito sulino. As narrativas fundantes do Movimento do Contestado, convergiam para uma representação comum no período, onde o homem do interior, apesar de considerado bárbaro e ignorante, também foi eleito como o elemento autenticamente nacional. Nesse sentido, os textos que narraram o conflito na segunda década do século XX, mostraram-se permeados por dúvidas e contradições em torno da necessidade de exterminar os rebeldes, por um lado considerados inimigos da República, porém, por outro lado, compreendidos enquanto cerne da verdadeira nacionalidade. 8 ABSTRACT The present work has as objective to carry through a historical reflection concerning some representations produced during the decade of 1910 on the Movement of the Contetado one. Centering the analysis in the texts produced for the periodic press paranaense writing and the military, we understand that the narratives of this event had been enrolled in an imagination community, where determined slight knowledge had been recurrent. We verify the existing tension between romantic and racionalistas conceptions in the reflections regarding the inhabitants of the interior and that they had demonstrated the interest of definitive institutions of the period, in the constitution of a national and regional identity. Also they make possible to reflect concerning the importance of the workmanship of Euclides da Cunha, Os Sertões, in the formation of a thought on the southern conflict. The fundantes narratives of the Movement of the Contestado one, converged to a common representation in the period, where the man of the interior, although considered barbarous and ignorant, also it was chosen as the autenticamente national element. In this direction, the texts that had told the conflict in the second decade of century XX, had revealed permeados for doubts and contradictions around the necessity of exterminar the rebels, on the other hand considered enemy of the Republic, however, on the other hand, understood while cerne of the true nationality. LIZ ANDRÉA DALFRÉ OUTRAS NARRATIVAS DA NACIONALIDADE: O MOVIMENTO DO CONTESTADO CURITIBA AGOSTO - 2004
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