. -- . -----·------........-....-----,-.-,.,.~. Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai ·• www.etnolinguistica.org "O homem branco, aquele que se diz civilizado, pisou duro não só na terra, mas na alma do meu povo, e os rios cresceram, e o mar se tornou mais salgàdo porque as lágrimas da Dall'lgna Rodri,Ps . Aryon minha gente foram muitas." Cibae Ê·wororo - ou Lourenço ' Rondon - índio Bororo, de Mato Grosso Intenção deste livro é divulgar, de forma mais sistemática, conhecimen tos sobre a existência de línguas in dígenas no Brasil e sobre as rela ções que se vão descobrindo entre elas. Por seu caráter de divulgação, t nãà se destina apenas aos especia- 1i stas no assunto, mas ao público em geral, interessado no descobrimento das nações indígenas deste país. O Autor gostaria especialmente de alcançar com este trabalho os pró prios índios que porventura busquem ter uma informação de conjunto so bre a situação da língua de cada um em relação à língua de todos. ~ CEdições CLoyola ' • .. Coleção: Missão aberta - 11 • • • • .. , Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai www.etnolinguistica.org ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Universidade Estadual de Campinas I COLEÇÃO "MISSÃO ABERTA" 1 . ENTRE ·OS fNDIOS MtiNKtt Thomaz A. Lisbôa 2 . EDUCAÇÃO INDÍGENA E ALFABETIZAÇÃO B. Meliá Língu,as brasileiras 3 . EM DEFESA DOS POVOS INDfGENAS Paulo Suess 4 . PRECISAMOS UM CHÃO Elizabeth A. R. Amarante; Verónica Nizzoli Para o conhecimento das línguas indí·genas 5 . CRôNICA DAS CASAS DE CARIDADE ..... • Eduardo Hoornaert 6. TEXTOS INDIGENISTAS Curt Nimuendajú .... 7 . LEIS E REGIMENTOS DAS MISSÕES José Oscar Beozzo 8. DEUS, ESPfRITOS E MAGIA Joseph A. Graf 9. OS ENAUENli:-NAUÊ - PRIMEIROS CONTATOS Thomaz A. Lisbôa 10. CUXIUARA - O PURUS DOS INDíGENAS. Gunter Kroemer 11 . LfNGUAS BRASILEIRAS - PARA O CONHECIMENTO DAS LfNGUAS INDfGENAS ~ Aryon Dall'Igna Rodrigues CEdiçôesCLoyola PREFACIO Em 1966, quando a LingUística como disciplina em "'? homem branco, aquele que se diz civilizado, pisou duro cursos de Letras ainda engatinhava no Brasil, o prof. Aryon nao só na terra, mas na alma do meu povo, e os rios cres Dall'Igna Rodrigues publicava, em Estudos Lingüísticos: Re ceram, e o mar se tornou mais salgado porque as lágrimas vista Brasileira de Lingüística Teórica e Aplicada, vol. 1, n. 1, da minha gente foram muitas." um artigo intitulado Tarefas da Lingüística no Brasil. Esse, ·artigo correu mãos de centenas de estudantes de graduação; Cibae Eurororo - ou Lourenço Rondon - naquele ano e nos anos subseqüentes. Era então muito índio Bbroro, de Mato Grosso atual. Hoje, quase vinte anos depois, continua atual, no que respeita a todas ou quase todas as tarefas nele apontadas. E talvez, mais que todas, continua atual a tarefa de inves tigação das línguas indígenas do Brasil. O prof. Aryon dizia, textualmente: "As línguas indígenas constituem · ( . .. ) um dos pontos para os quais os lingüistas brasileiros deverão voltar a sua atenção. Tem-se aí, sem dúvida, a maior tarefa da lingüís tica no Brasil". Por um lado, "cada nova língua que se investiga traz novas contribuições à lingilistica; cada nova língua é uma outra manifestação de como se realiza a lin guagem humana. ( . . . ) Cada nova estrutura lingüfstica que se descobre pode levar-nos a alterar conceitos antes firma dos e pode abrir-nos horizontes novos para a, visualização geral do fenómeno . da linguagem A tarefa da do· Capa hu~ana". cumentação e descrição lingüística segue-se a da compara Francisco Carlos Gôngora ção: "Desde que se tenham algumas descrições de línguas, aparecerão espíritos curiosos bastante para dedicar-se a Edições Loyola comparar essas descrições e dai tirar conclusões, classifi Rua 1822 n. 347 cando as línguas como relacionadas umas com as outras ou Caixa Postal 42.335 como pertencentes a tipos semelhantes num ou noutro par 04216 - São Paulo - SP (Brasil) ticular, e para fazer deduções de ordem mais profunda, no Tel.: {011) 914-1922 âmbito da lingüística geral e no campo das ciências antro pológicas". Por outro lado, "se é licito falar em responsa- © EDIÇOES LOYOLA - São Paulo~ 1986 5 \ b!lid~~e de um~_ comunidade. com respeito à investigação tão meramente cultural - ela nunca o foi, mas em certa c1ent1f1ca na regiao em que vive essa comunidade, então os medida podia ser assim visualizada, enquanto a conquista lingüistas brasileiros têm aí uma responsabilidade enorme das últimas fronteiras nacionais para o interior não se co que é não deixar que se percam para sempre cento e tanto~ locava com a premência de agora, o que permitia escamo documentos sobre a linguagem humana". tear até certo ponto o problema do recuo dos grupos indí genas pressionados pelas frentes de expansão-, e sim como Qual. o saldo dessas palavras, após quase duas décadas? questão política que interessa à formulação e viabilização Melancolicamente, não muito positivo. E verdade que hou de um projeto democrático global para o Brasil. Pois Bra ve, nesse permeio, a atuação quase ininterrupta de perto sil democrático significa não apenas eleições diretas e Cons de uma centena de missionários-lingüistas do SIL (Summer tituinte. Signüica também o reconhecimento jurídico, ins of Linguistics) em quase cinqüenta grupos indíge Institut~ titucional, da pluralidade cultural e lingüística da nação, e nas autoctones. Fruto disso foram várias análises fonoló a formulação clara dos direitos e deveres que tal reconhe gicas, alguns dicionários bilingües, traduções de textos bíbli cimento implica. c_os em número razoável, esparsas gramáticas pedagógicas. E verdade, também, q~e paulatinamente à custa de muita Duplamente signüicativo, portanto, neste momento, é o pertiná~i~, . f oi-s,e f armando um pequeno' grupo de pessoas trabalho do prof. Aryon Rodrigues: por um lado, constitui - .de in1c10 so no Museu Nacional, agora igualmente na importante contribuição para o conhecimento científico das Un1camp, no Museu Emílio Goeldi, na Universidade de Per línguas indígenas brasileiras; por outro, representa uma par nambuco - diretamente interessadas na investigação das ticipação concreta, ainda que assim não se coloque explici línguas indígenas brasileiras. Entre professores, pesquisa tamente, na luta maior pela construção do Brasil democrá dores e estudantes, segundo recente levantamento efetuado tico que todos desejamos. por um lingüista da Unicamp, o Brasil conta atualmente com 34 brasileiros dedicados parcial ou integralmente a Rio de Janeiro, janeiro de 1985 esse campo de estudos. Resumindo: das cerca de 170 línguas indígenas atual Ruth Monserrat ' mente faladas em território brasileiro, em menos de sessen ta ,f~i ini,ciado algum tipo de estudo de natureza lingüística a (a1 incluidos os trabalhos do SIL). Quanto estudos com pletos ou mais ou menos exaustivos, provavelmente não so mam uma dúzia. "E. pouco, é muito pouco, é quase nada . . . ", como diz , a musica. contexto, os trabalhos lingüísticos do prof. Aryon ~esse Rodrigues, entre eles o presente, constituem vivo testemu nho de sua coerência e fidelidade à tarefa maior da lingüís tica no Brasil há tanto tempo. ~pontada Antes de encerrar, quero chamar a atenção para outro aspecto, talvez não tão evidente em 1966, mas que agora cobra novo relevo, tornando-se, creio, o principal argumento para a e. urgência do estudo das línguas indíge i~portância. nas .br8:s1leiras, ex1g1ndo-lhe novos piques quantitativos e qualitativos. Trata-se da questão indígena. Não como ques- 6 7 INTRODUÇÃO Este li,rro tem sua origem numa série de artigos pu blicados em 1982, 1983 e 1984 no jornal mensal Porantim, órgão informativo e crítico ·do Conselho Indigenista Missio nário (Cimi). A intenção do livro é a mesma dos artigos: divulgar, de forma sistemática, alguns conhecimentos sobre ' a existência das línguas indígenas do Brasil e sobre as re ( lações que se vão descobrindo entre elas. Como trabalho de divulgação, não é destinado aos especialistas em línguas indígenas, mas ao público geral interessado no conhecimento das populações indígenas deste país, inclusive aos próprios índios que por ventura gostariam de ter uma informação de conjunto sobre a situação da língua de cada um em re lação às línguas de todos. Para conseguir a comunicação com leitores de diferen tes níveis de experiência, procurei evitar a linguagem técni ca do lingüista e tentei explicar ou sugerir o significado de alguns termos e conceitos lingüísticos que foi necessário utilizar. Esforcei-me para que a simplificação não acarretas se a descaracterização dos fatos. Também as palavras das línguas indígenas foram escritas de forma simplüicada, de modo a dar ao leitor de português uma idéia aproximada da pronúncia de cada língua. . Certamente as listas de pala vras que ilustram os vários capítulos não se destinam a provar cientüicamente as relações entre as línguas, nem devem servir de ponto de partida a estudantes de lingüísti '· • ca que se sintam tentados a explorar um campo de pesqui sas tão rico e tão atraente como é o das relações históricas e pré-históricas entre as línguas e os povos que primeiro ocuparam o território brasileiro. 9 / ) Quem queira desenvolver seus próprios estudos sobre (e não Guerén); ( c) para os sons fricativos serão usadas uma língua determinada ou sobre um conjunto de línguas as letras f v s z x j , logo se escreverá Asuriní (e não Assuriní, deve procurar as obras que tratam especialmente dessas nem Açuriní), Xavánte (e não Chavánte), Jê (e não Gê, nem iínguas e dos povos que as falam . Para facilitar essa busca, Gês); (d) para as semiconsoantes, isto é, i e u que não fa acrescentei algumas indicações nas notas a cada capítulo. zem sílaba, no início de palavras e entre vogais, serão usa Essas notas, além de fornecer a,o leitor essas indicações bi das as letras y e w: Yamináwa (e não I amináua), Wayoró bliográficas sem sobr~carregar a leitura do capítulo, permi (e não U aioró). Essa convenção não pretendeu ser abusiva tem que ele perceba como o conhecimento, que pouco a com respeito à ortografia portuguesa, mas tão somente re pouco vamos tendo das línguas indígenas e de suas caracte gular e eliminar as ambigüidades e confusões no uso técnico rísticas, resulta da contribuição de muita gente. Lingüistas, . desses nomes em estudos antropológicos e lingüísticos. antropólogos, naturalistas, missionários têm contribuído p.a Também na transcrição de palavras das línguas indí ra esse ·conhecimento,. e sobretudo índios que falam as di genas empregam-se as letr.as k, w e y, além de s com o valor versfis línguas, os quais têm sido os colaboradores essenciais de ç ou ss. Aos que apressadamente se inclinariam a ver de todos os lingüistas e antropólogos e de quem quer que, nisso influência estrangeira, seja lembrado que a tradição bem ou mal, faça as vezes do lingüista. Nas indicações bi brasileira no uso das letras k, w e y para transcrever lín bliográficas limitei-me, entretanto, a salientar apenas os guas indígenas já conta com trezentos anos. Com efeito, trabalhos mais acessíveis, não só quanto ao nível de com essas três letras foram usadas sistematicamente pelo padre plexidade técnica, mas também quanto à disponibilidade no Luís Vincêncio Mamiani para escrever a língua Kirirí (p. comércio livreiro ou nas bibliotecas. Essas indicações foram ex., yawà 'gancho', woroyà 'espia', kenke 'limpo') em suas feitas em combinação com a B.ibliografia oferecida no fim duas obras publicadas em Lisboa em 1698 e 1699. Já antes do volume, na qual são listados alfabeticamente, pelos nomes havia sido estabelecida uma ortografia racional para o Tu dos autores, todos os livros e artigos referidos no texto e pinambá (Tupí Antigo, Língua Brasílica) com a utilização nas notas. Note-se que não se trata, aí, de uma bibliografia do k e do y (p. ex., akér 'eu dormi', akym 'molhado', completa sobre as línguas indígenas brasileiras, mas de uma tykyyra 'irmão mais velho do varão), a qual foi utilizada lista bastante limitada, em que predominam os trabalhos na segunda edição do Catecismo na Língua Brasílica, publi publicados recentemente no Brasil e em que deixa de apa cada em 1686, e noutras obras publicadas em seguida pe recer grande parte dos estudos editados no exterior. los missionários jesuítas. Esse uso atravessou o século XVIII, nos escritos em Língua Geral Amazônica, aparecen Para evitar a estranheza dos leitores que · não estão fa do, por exemplo, no Dicionarió Portuguez ·e Brasiliano pu miliarizados com os escritos ·sobre línguas e culturas dos blicado em 1795 (p. ex., jukyra 'sal', iké 'aqui') estendeu povos indígenas do Brasil, convém esclarecer que a grafia -se ao século XIX, como no Curso de Língua Geral do Ge dos nomes desses povos e de suas línguas utilizada neste neral Couto de Magalhães, de 1876 (p. ex., kurumí 'o jo livro obedece basicamente a uma convenção promovida há vem', . rerekó 'você tem', purauké akánga 'cabe 'trabalhar'~ trinta anos ( 1953) pela Associação Brasileira de Antropolo ça') e chegou ao século XX, como nos "Elementos neces gia e desçle então adotada não só pela maioria dos antro sários pa.ra aprender o N:heengatú" ( 1909) do bispo do pólogos e lingüistas, mas também por muitos indigenistas Amazonas, D. Frederico Costa (p. ex., iké 'aqui', akaiú 'ano', e missionários. Os pontos principais dessa convenção são: kapoamo 'ilha') e nas grandes contribuições de Stradelli (a) os nomes de, povos (e de línguas) indígenas serão em ( 1927) e Amorim ( 1928) (p. ex., Stradelli kysaua 'rede de pregados como palavras invariáveis, sem flexão de gênero dormir', Amorim kunhãmukú 'moça', opysyka 'ele pega'). nem de número: a língua Boróro (e não Boróra), os índios Também Capistrano de Abreu utilizou aquelas letras pa Boróro (e não Boróros); (b) para os sons oclusivos serão ra escrever as línguas Bakairí (1895) e Kaxináwa (1914) usadas as letras p b t d k g, isto é, não se usarão as letras (p. ex., Bakairí keli 'disse', yamu 'escuro', iwüde 'mulher e e q em lugar de k, ao passo que g será-usado no lugar de casada'; Kaxináwa kini 'branco', nawa 'gente', kayawa 'en gu: Karajá (e não Carajá), Kir~rí (e não Quirirí), Gerén direitar'). Analogamente procedeu Mansur Guérios em seus 10 11 Estudos sobre a língua Caingangue (1942) (p. ex., kukrõ ttm óbito para alterá-los substancialmente. Essa relativida 'panela', wí 'falar', wê 'ver'), da mesma maneira que os de deve ser tida em mente ao tomar-se conhecimento desses pa~ , dres Colbacchini e Albisetti na escrita do Boróro (1942) (p. numeras. ' ex., ki 'anta', koiwo 'casa de cupim', awara 'caminho'). A fonte principal para as populações foram os dados compilados pelo Conselho Indigenista Missionàrio e incluí Por aí se vê que não há razão para pensar que a utili zação das letras k, y e w seja algo antinacional, devido de dos na. 2.ª edição do mapa Povos Indígenas no Brasil e Pre certo à atuação de missionários de língua inglesa junto aos sença Missionária <Brasília, 1985). Em poucos casos recorri povos indígenas (os primeiros missionários-lingüistas come a fon:es. altemativ~s ou suplementares. A principal obra de çaram a atuar no Brasil no fim da década de 1940 e o re~e~encia alternativa é outra publicação missionária, a 10.ª Summer Institute of Linguistics chegou aqui em 1956). Pe ediçao do Eth1fologue, o mais amplo catálogo de línguas do mundo, organizado por Barbara Grimes e publicado por lo contrário, a transcrição das línguas é uma questão técni Wycliffe Bible Translators (Dallas, 1984). ca, que tem de ser enfrentada com critérios e recursos téc nicos, de validade supranacional, como bem entenderam N? registro do de falantes às vezes foi posto n~mero muitos dos espíritos mais críticos que com elas se ocuparam um numero entre parenteses, o qual deve ser lido como nos = nos séculos passados. exemplos seguintes: (65) 2 há apenas 2 falantes da língua população total de 65 índios, que agora falam o Por num~ Nas transcrições feitas neste livro, o k e o· w foram = tugues; (411) ? não sabemos se ainda há falantes de lín empregados com seus valores mais universais: leia-se ka gua indígena numa população total de ·411 índios que falam como se fosse o Português cá, kis como se fosse o ·português (predominantemente) o Português. quis, mawá como se fosse o Português Mauá. Mas o y foi usado com o mesmo valor que tinha na ortografia do Tu Ao leitor qué, além das informações que vai encontrar neste livro sobre as língt.ias indígenas, queira acrescentar pinambá, p.ara representar a vogal_ alta não arredondada algum conhecimento sobre as respectivas culturas e sobré (como o e central (com a língua mais recuada que na i) a situação em que se encontram os povos que as falam pronúncia do i). Foi usado â para vogal do mesmo tipo podemos indicar o livro de Júlio César Melatti tndios d~ do y, mas de altura média, isto é, com a língua menos nuii.s Brasil, 4.a edição, São Paulo, Hucitec, 1983. obras de levantada, como o â do Português âmago (mas sem a na g~ande envergac:t~ra estão em vias de publicação: Povos in salidade que se dá na pronúncia de muitos falantes do Por digenas do Brasil, coleção prevista para ter 18 volumes edi· tuguês). Para a sem iv ogal anterior ou i assilábico foi usada t~da em São P!-ulo pelo Centro Ecwnênico de Docum~nta a letra i, como no Português iaiá. çao e Info!1llaçao (Cedi), sob a coordenação geral de Carlos Um outro esclarecimento cabe dar ao leitor a respeito Alberto Ricardo; e a Suma Etnológica Brasileira, prevista para ter sob a coordenação de Darcy Ribeiro dos números de falantes de cada língua indígena, incluídos se~ v~Iume~, e Berta G.- Ribeiro, editada e:µi Petrópolis pela Editora Vozes. ·nos quadros que finalizam os capítulos . 2 a 9. Todos os povos indígenas do Brasil têm hoje· populações muito pe Para a localização atual dos povos indígenas o melhor quenas. Quando uma população é tão diminuta que conta in~t~~~to é.º n:a~a Povos, !ndígenas do Brasil e Presença só pouco mais ou pouco menos de uma centena de pessoas Missio~na~ 2. e~1ç~o, ?3:as1l1~, ~985, publicado pelo Conse (situação que vale para um terço das línguas indígenas), lho Indigen1sta Missionario ( Ctml), o qual inclui informação qualquer variação nos números dados é importante, não sobre a lingüística, sobre as populações e so ~l~sifica~ã~ havendo valores numéricos negligenciáveis como nas esta rel1g1osas que atuam junto a cada povo. Este ~re as.mi~s~s tísticas de grandes populações. Por isso não se utilizaram livro 1nt1.mamen.te associado a esse· mapa, na medida em f1?~ números arredondados a não ser em muito poucos casos que s1stemat1camente os números com que nele são ~t1l1za de populações de alguns milhares de pessoas. Entretanto, localizado~ o~ ~º!ºs que falam as línguas aqui referidas. números aparentemente precisos (como 7 ou 49) tendem a Para a. . recente e antiga dos povos indígenas di~tnbu1ç~o ser falseados a todo momento: basta um nascimento ou no terr1tór10 bras1le1ro e em suas vizinhanças, há o exce- 12 13 lente Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú, publicado de cem anos Carl Friedrich Philipp von Martius tenha feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE) um primeiro ensaio de apresentação conjunta das línguas • em 1981. indígenas do Brasil CMartius 1867), estas línguas como um todo foram subseqüentemente englobadas nos estudos so Os livros e artigos sobre os povos indígenas do Brasil bre as línguas da América do Sul. Assim, as obras de re são registrados sistematicamente na grande Bibliografia ferência sobre a distribuição e a classificação das línguas Crítica da Etnologia Brasileira, cujos dois primeiros volu brasileiras passaram a ser, sucessivamente, as de Daniel mes foram organizados por Herbert Baldus e cujo terceiro - Brinton (The American Race, Nova Iorque, 1891), Alexan volume teve como responsável Thekla Hartmann ( l .º volu der F. Chamberlain ("Linguistic stocks of South American me, São Paulo, 1954, reimpressão Nendeln/Liechtenstein, Indians, with a distribution map" in American Anthro'J)0,1o 1970; 2. volume, 1968; 3.º volume, Hannover, 0 Hannov~r, gist, vol. 15, 1913), Paul Rivet ("Langues de l'Amérique du 1984). Sud et des Antilles" in A. Meillet e M. Cohen ( orgs.), Les O índice de L.ínguas no final deste livro apresenta em Zangues du Monde, 1924), Wilhelm Schmidt (':Die ~aris, ordem alfabética todos os nomes de línguas, inclusive sinô Sprachen Südamerikas", na obra· do mesmo autor: Die nimos e variantes, mencionados nos diversos capítulos. Não Sprachfamilien und Sprachenkreise der Erde, Heidelberg, inclui, entretanto, sinônimos e variantes não citados aqui. 1926), Chestmír Loukotka ( Clasificación de las lenguas su Compreende também os nomes das famílias e dos troncos damericanas, Praga, 1935, e "Klassifikation der südameri lingüísticos. Para que esse índice, além de remeter às pá kanischen Sprachen" in Zeitschrift für Ethnologie, vol. 74, ginas onde cada língua é referida, sirva também de indica 1944), Joseph A. Mason ("The languages of South American ção sucinta sobre a classificação genética de cada língua, Indians" in Julian H. Steward (org.), Handbook of South foi acrescentada a cada nome a designação da respectiva fa American Indians, vol. 6, Washington, 1950), P. Rivet e C. mília lingüística, por exemplo: "Apalaí (fam. Karíb)"; e aos Loukotka ("Langues de l'Amérique du Sud et des Antilles" nomes de famílias dos troncos Tupí e Macro-Jê foi acrescen in A. Meillet e M. Cohen (org.), Les Zangues du Monde, 2.ª tada a indicação correspondente: "Arikém, família (tronco edição, Paris, 1952) e, ainda uma vez, Chestmír Loukotka Tupí) ". Sinónimos e variante são indicados pelo sinal de ( Classification of South American lndian languages, Los An = igualdade, por exemplo: "Ajuru ( Wayoró)" ou "Waiká, geles, 1968). Em 1939 o mesmo Loukotka publicou um extra = família ( Yanomámi, família)"; nesses casos as indicações to de sua classificação referente às línguas brasileiras ("Lín sobre a classificação bem como sobre as páginas do livro guas indígenas do Brasil" in Revista do Arquivo, n. LIV, são dadas só uma vez, junto ao nome tomado como base São Paulo, .1939). Nos últimos trinta anos foram publica de referência e que é aquele colocado após o sinal de igual das várias apresentações de conjunto das línguas sul-ameri dade. A abreviatura "v." indica inclusão num grupo de canas, as quais representam simplesmente reordenações das dialetos, por exemplo: "Guajajára (v. Tenetehára)"; mas essa .. classificações mencionadas acima, maior ou menor con ~om indicação, por razões várias, não é dada sistematicamente, tribuição crítica. Destacam-se as de Norman A. McQuown nem consistentemente. ( "The indigenous languages of Latin America" in American Antes de entregar o livro ao leitor, uma nota sobre as Anthropologist, n. s., vol. 57, 1955), Antonio Tovar (Catálogo fontes do conhecimento nele transmitido. Como já foi men de las lenguas de América del Sur, Buenos Aires, 1961), Carl cionado acima, a ampla e variada contribuição para o co e Florence Voegelin ("Languages of the World: native Ame nhecimento individual das diversas línguas se reflete nas rica", fascicle 2, in Anthropological Linguistics, vol. 71, n. 7, notas bibliográficas · que se seguem a cada capítulo. O co 1965) e Jorge A. Suárez ("South American Indian langua nhecimento de conjunto, integrativo, crítico e organizatório ges" in Encyclopaedia Britannica, edição de 1974) . . Em 1970 ou classificatório se deve a muitos autores, a quem, salvo o autor deste livro publicou uma tabela de classificação con duas ou três exceções, não foi possível fazer menção nos sensual das línguas brasileiras no artigo "Línguas amerín capítulos que se seguem, os quais têm objetivo meramente dias", que escreveu para a Grande Enciclopédia Delta-La~ informativo, nem histórico, nem· teórico. Embora já há mais rousse (Rio de Janeiro), o qual foi, indevidamente incorpo- 14 15 • rado a artigo assinado por outras pessoas, reproduzido na Enciclopédia M·irador Internacional (São Paulo e Rio de Ja.neiro, 1982). Todas essas obra..,c; de classüicação ou de compilação devem muito, no que se refere às línguas do Brasil, às contribuições mais particulares de outros pesqui sadores, entre os quais se Lucien Adam, Karl von 1 des~acam den Steinen, Paul Ehrenreich, Constant Tastevin, Theodor Koch-Grünberg e, muito especialmente, Curt Nimuendajú. Por fim, cabe dizer que este livro não duplica nem subs titui a Introdução às línguas indígenas brasileiras de Joa AS LfNGUAS INDfGENAS quim Mattoso Câmara Jr. Essa obra, cuja leitura sempre é recomendável, foi publicada originalmente em 1965 (Mu seu Nacional, Rio de Janeiro) e não pôde levar em conta . o grande surto de informações de primeira mão produzidas sobre as línguas brasileiras justamente nos últimos vinte Os índios do Brasil não são um povo: são muitos povos, anos. diferença maior está, porém, no fato de que o livro ~ ãiferentes de nós e diferentes entre si. Cada qual tem usos de Mattoso Câmara Jr. foi dedicado especialmente à trans e costumes próprios, com habilidades tecnológicas, atitudes missão de conhecimentos de lingüística geral, necessários estéticas, crenças religiosas, org.anização social e filosofia a quem queira abordar o estudo das línguas indígenas e a peculia,res, resultantes de experiências de vida acumuladas uma revisão crítica da história dos estudos dessas línguas e desenvolvidas em milhares de anos. E distinguem-se tam no Brasil. Nenhum desses objetivos teve em vista o autor neste livro, cujo escopo é simplesmente o de informar sobre bém de nós e entre si por falarem diferentes línguas. a existência e a distribuição das línguas hoje faladas no Como todas as demais, as línguas dos povos indígenas Brasil. do Brasil são inteiramente adequadas à plena expressão individual e social no meio físico e social em que tradicio nalmente têm vivido esses povos. Embora diferentes, elás compartill1am do que todas as quase seis mil línguas do mundo têm em comum: são manifestações da mesma capa~ cidade de comunicar-se pela linguagem. Essa capacidade é uma qualidade desenvolvida pela espécie humana e se caracteriza por princípios e propriedades que, presentes em todo homem, facultam a qualquer criança desenvolver o domínio de qualquer língua, sempre que exposta ao con tato com falantes dessa língua. Da inesma forma, permitem a ql1alquer adulto, com maior ou menor esforço, aprender línguas diferentes da sua própria. Embora constituídas a partir de princípios e proprie dades comuns, as línguas estão sujeitas a grande número de fatores de instabilidade e variação, que determinam ne las forte tendência à constante alteração. Essa tendência é normalmente contrabalançada pela necessidade de mútuo ajuste entre os indivíduos de uma mesma comunidade so cial, ajuste sem o qual não se cumpriria a finalidade básica 16 17