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KOYRÉ, Alexandre. Galileu e Platao PDF

44 Pages·2011·9.84 MB·Portuguese
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Alexandre Koyr'; PANFLETOS GRADIVA 1. H. Shelman A From;:o antes da Revo/w;ao Michael Mullett A Comra-Reformo Marlin Blinkhorn I Mussofini e 0 iloNa Fascisla David Arnold I Galileu e Platao A Epoca dos Descobrimenlos / 1400-/600 I e Conceiyiio Coelho Ferreira Natercia Neves Simoes Do Mundo do «mais ou menos)} A Evo/urao do PensamenlO Geograflco ao Universo da Precisao Alexatldre Koyre Gafileu e Pta/ao A PUBLICAR Tradmrao revista por P. M. Harman JOSE TR1NDADE SANTOS, A Revofuriio Cien/fjica da Faculdade de Letras da Universidade Classica de Lisboa grodil.O Tradu~o; Maria Teffsa Bri/o Clirado Revisao do te,'Cto: Manuef Joaqulm Vieiro FOlocomposiliio: Dilor GUe"l"iro Rosor/o Impressao e BcabBmento: Gr4flca BarbfJsa & Somos, L. t", Cab(!fo de MontachiqlJe Gradi va - Publicao;5es, L.d• Rua 1.° de Maio, 134, 3,·, esq . - Telef. 6472 99 HOi LisboQ Codex NOTA Os dais estudos ora apresentados aos lei/ores de lingua portuguesa Joram origina/mente publi­ cados em 1943 e 1948. Polemicamente inovadores, as pontos de vista que deJendem opunham-se as con-entes da epistern%gia e his/aria das ci~ncias da Jorlemente marcadas por tendencias ~poca, empiristas e positivislas. Contra eslas. Koyre sus­ tenta duas teses capitais. A primeira deJende que as conquistas do pensamenta antigo devem ser a examinadas luz das categorias do tempo em que surgiram. e nao segundo os pontos de visla actuais. A segunda aparece-nos como uma apai­ xonada deJesa da ideia: uma rec/amardo dos di­ reiLOs da leon'ca contra os da reali­ imagina~ao zartlo pratica. As /eses de Koyre anunciavam hd meio s~cu/o o estilo que as investigariJes em epistem%gia, hist6ria e filosofia das ciencias viriam a apre­ senlar nas decadas de 60 e 70, sobretudo a par­ tir de duas obras de enorme projeerdo: The Logic 7 of Scientific Discovery, de Karl Popper, e Structure of Scientific Revolutions, de Thomas Kuhn'. Mas, para alem da «mensagem)) de Koyre, hd ainda a clareza, a frescura da sua exposifiio e a agi/idade do discurso. Aspectos ainda mais valorizados hoje pela circunstdncia de a posi~do de Koyre ir no sentido das mais divul­ concep~6es gadas na actualidade. Parranto - e mesmo que nao houvesse oUlras raz6es -, estas ja seriam bastantes para enal/eeer os meri/os destes dais pequenos mas importantes eSlUdos, cuja oportu­ nidade e sobremaneira evidente. Sublinha-se ainda Galileu e Platao o interesse destes lex/os como indispensQvel ins­ trumento de apoio a estudantes e professores de Filoso./ia no ensino secundario. Jose Trindade Santos • Originalmente publicada em 1934, a Logik der Fors­ chung s6 veio a torn3:r-se urna das obras rnais importantes da epistemologia actual ap6s a sua tradulflo em ingles, em 1959. Pelo seu lado, a Structure of Scientific Revolutions aparece em 1962, como segundo volume da International Enciclopedia of Unified Science, publicada pela Univer­ sity of Chicago Press. Mas a vigencia destas obras pro­ I longa-se ainda para atem da decada de 70. ,I 8 \' 1 j o nome de Galileo Galilei eneontra-se indisso­ luvelmente Jigado A revolu~ao cientifiea do se­ cufaxVl; wna das mais profundas, se nAo a mais profunda revolu,ao do pensamento humano de­ pois da descoberta do cosmo pelo pensamento grego: urns que impliea uma «mutaI;8o» inte­ revolu~4o leetual radical, de que a cieneia fisiea modem ••, ao mesmo tempo, expressao e fruto I. e Esta revolulf30 por vezes caracterizada e ex­ plicada simultaneamente por uma especie de re­ volta espiritual, por urns transforma~i!o completa de tods s stitude fundamental do espirito humano, tomando a vida activa, vita acliva , 0 lugar da theo­ n·a, vita contemplativa , que ate entao havia side considerada a sua forma mais elevada. 0 homem Cf. 1. H. Randall, Jr., The Making 0/ {he Modern I Mind, BOston, 1926. pp. 220 e segs. e 231 e segs.; cr. tam­ bem A. N. Whitehead, Science and the Modem World, Nova Iorque, 1925. 11 modemo procura dominar a natureza, aD passo que obra raramente ultrapassou a ordem da teona 5. o homem medieval ou antigo se esfon;ava, antes A nova balistica foi elaborada, nao por arHfices de mais, por a eontempiar. Deve, pois, explicar-se ou srtilheiros, mas contra eles. E GaJileu nao apren­ a tendimcia meeanista da fisica classica - fisica deu 0 seu oficio com aqueles que se atarefavam de Galileu, de Descartes, de Hobbes, scientia activa, nos arsenais e estaleiros navais de Venez8. Muito operativQ - , que devia tomar ~ homem «dono e pelo contrArio: ensinou-lhes 0 dele.r: 6. Alem disso, senhor da natureza», por este desejo de dominar, \ de agir. Deve-se considera-Ia como decorrente muito a i simplesmente desta atitude, como aplica,Ao na­ A ciencia de Descartes e de Galileu foi, bern enten­ J tureza das categorias do pensamento do Homo faber', dido, exttemamente importante para a engenheiro e 0 tecnico; A ciencia de Descartes - afor/ion, a de Galileu ­ cia provocau, finalmeote, uma revolu~io tecnica. Todavia, nAo e mais (como ja foi dito) do que a ciencia do nAa foi criada e desenvolvida par engenheiros e tt~cnicos, mas sim por te6ricos e fil6sofos. artesao ou do engenheiro). e 6 «(Descartes artesio» a concep~Ao de cartesianismo Esta explica,Ao nAo me parece, devo confessa­ que Leroy deseovolveu no seu Descartes Social, Paris, 1931 , E ~io, inteiramente satisfat6ria. verdade, bern en­ e P. Borkenau levou 80 absurdo no seu livro Der Obergong tendido, que a filosofia modem a, tal como a etica vorn jeudalen zum burgerlichen Weltbild, Paris, 1934. e a religiilo modemas, pOe a t6nica na ac,ilo, n. Borkenau explica 0 nascimento da filosofia e da ciencia car­ tesianas por uma nova forma de empreendirneoto econ6mico, praxis, bern mais do que 0 faziam 0 pensamento e, e isto a manufactura. Cr. a critica do livre de Borkenau, cri­ antigo e medieval. 0 mesmo verdade aeerca ea tica muito mais interessante e instrutiva que 0 prOprio Iivro, ciencia modems: penso na fisica cartesians, nas feita por H. Grossman, «Die gese\JschafUichen Grundlagen suas comparsc;oes com roldanas, eordas e alavan­ der mechanistischen Philosophie und die Manufaktun), in cas, Contudo, a atitude que acabilmos de descre­ Ze;lschrift fUr Sozial/orschung, Paris, 1935. ver e muito rnais a de Bacon - cujo papel fia his­ Quanto a Galileu, encontra-se ligado as tradiy6es des e an.esAos, consttutores, engenheiros, etc., do Renascimento toria das ciencias nao da mesma ordem _ que 4 por L. Olschki. Galileo und seine Zeit, Halle, 1927, e mais a de Galileu ou de Descartes, A ciencia destes nilo f: recentemente por E. Zilsel, «The sociological rools of e de engenheiros ou anesaos, mas de homens cuja science», in The American Journal 0/ Sociology, xLvn, 1942. Zilsel sublinha 0 papel desenvolvido pelos «arteslos qualificados» do Renascimento na expansao da modema J E preciso nlo confundir esta conce~ao largamente mentalidade cientlfica. Como e sabido, e verdade que os ar­ difundida com a de Bergson, para quem 100a a fisica, quer a tistas, engenheiros, arquitectos, etc., do Renascimento tive­ e, aristotelica, quer a newtoniana, em Ultima analise, obra ram urn papel importante na luta contra a tradi9Ao aristote­ do Homo faber. lica e que alguns deles - como Leonardo da Vinci e Bene­ ) Cf. L. Laberthonniere, Eludes sur Descartes> Paris, detti - procuraram mesmo desenvolver urna dinAmlca nova, 1935, II, pp. 288 e segs., 297 e 304: «(Physique de \'expUci­ antiaristoti:lica; todavia, esta dinimica, como 0 mostrou de tation des chases.» modo concludente Duhem, era, nos seus aspectos principais, ~ Bacon e a arauto, 0 buccinator da ci!ncia modema, ados nominalistas parisienses, a dinAmica do impetus de e nilo urn dos seus criadores. Jean Buridan e de Nicolau Oresme. E, se Benedetti, de longe 12 13 esta teoria explica demasiado e demasiado poueo. cren9as tradicionais. Ora foi precisameDte por ter Expliea 0 prodigioso desenvolvimento da ciencia construido um telesc6pio e 0 haver utilizado, ao do scculo xvn pelo da tecnologia . Todavia, este observar cuidadosamente a Lua e os planetas, ao ultimo e muito menos marc ante que 0 primeiro. descobrir os satelites de Jupiter, que Galileu des­ Por Dutro lado, esquece as conquistas tecnicas da feriu urn golpe mortal contra a astronomia e a cos­ Idade Media . Negligencia 0 apetite de poder e de mologia do sua cpoca. riqueza que inspirou a alquimia 80 longo de toda Contude, nlio devemos esqu'ecer que a obser­ a sua hist6ria. va~Ao ou a experiencia, no sentido da experiencia Quiros eru<litos insistiram na luta de Galileu espontAnea do sensa comum, nao desempenhou urn contra a autoridade, contra a tradi(fAo, em parti­ papel capital - ou, se desempenhou, foi urn papel cular a de Arist6teles: contra a tradic;ao cientifica negativo, de obstaculo - ns funda<;ao da ciencia e filosofica que a Igreja defendia e ensinava nas moderna ' . A Fisico de Arist6teles, e mais ainda 0 universidades. Sublinharam 0 papel da observa~Ao dos nominalistas parisienses, de Buridan e Nicolau e da experiencia Da nOva ci~ncia da natureza 7. Oresme, encontrava-se muito mais proxima, segundo E perieitamente verdade que a observa980 e a ex­ Tannery e Duhem, da experiencia do senso comum perimenta~ao constituem urn dos tra~os mais carac­ do que a de Galileu ou de Descartes '. Nao foi a E ten'sticos da ciencia modema. certo que nos es­ crites de Galileu encontramos inu.rneros apelos it a • E. Meyerson (Identite el realite, 3.' ed., Paris, 1926, obselVa93o e experiencia e uma ironia amarga p. 156) mostra de modo muito convincente a falta de acordo em rela~ao aos homens que nAo acreditavam no entre a «'}xperi!ncia» e os principios da fisiea mode rna. testemunho dos seus olhos, porque aquilo que viam • P. Duhern, Le Systeme du monde, Paris, 1913 , I, era contrario ao ensinamento das autoridades, au , pp. 194 e segs.: ~~Esta dinamiea, com efeito. varece adaptar­ pior ainda, que Dao queriarn, como Cremonini, -se de modo tao feliz as observa~Oes correntes que nAo pode­ a ria deixar de se impor. antes de mais, aceita~Ao dos que olhar pelo seu telesc6pio com medo de verem al­ primeiro especuJaram sabre as fonras e os movimentos ... Para guma coisa que pudesse contradizer as teorias e que os fisicos venham a rejeitar a dinamica de Arist6teles I: e a construir a dinAmica moderna serA necessaria que com­ o mais ootavel destes ((precUrsores» de Galileu, transcende preendam que os faetos de que todos os dias sao testemunhas e algumas vezes 0 mvel da dinAmica ((parisiense», nAo em nao sAo, de modo algum, factas simples, elementares, aos virtude do seu trabalho como engenheiro e artilheiro, mas quais as leis fundamentais da dintmica devem imediatamente sim porque estudou Arquimedes e decidiu aplicar ((a filoso­ aplicar-se; que a marcba do navio puxado por barqueiros, a I' faa matematiC8>~ investiga~!o da natureza. que 0 rolar num caminho da viatura atrelada, devem ser en­ , Muho recentemente fui amigavelmente criticado por carados como movimentos de urna extrema comp\exidade ; ler negligenciado este aspecta dos ensinamentos de Galileu. r : numa palavr8, que como principio da ci!ncia do movimento (Cr. L. Olschki, «The Scientific Personality of GaJileo», in se deve, poT abstracyao. considerar urn m6vel que, sob a a~ao Bulle/in 01 the His/ory of MediCine, XU, 1942.) Nilio creio, de uma u.nica fan;:a, se move 00 v8zio. Ora, na sua dinamica, devo confessa-Io, ter mereeido essa crltica, ainda que acre­ Arist6teles vai 80 ponto de concluir que tal movimento e c dite profundamente que a eieneia essellcialmtmte teoria, e impassive).» nio colecta de «faetas». 14 15 Mas determo-nos sobre esta caracteristica parece­ «expenencia)), mas a que de­ «experimenta~ao», -me um pouco superficial. A meu ver, nao basta sempenhou - apenas mais tarde - urn papel posi­ tive considenivel. A experimenta~Ao consiste em estabelecer simplesmente 0 facto . Devemos corn­ preende-l e explica-l0 - explicar por que razao interrogar metodicamente a natureza; esta interro­ o a fisica moderna roi capaz de adoptar este prin­ ga~ao pressupOe e implica urna linguagem com a cipio: compreender porque e como 0 principio de qual formulemos as quesWes, bern como urn dicio­ inercia, que nos parece taO simples, tao claro, tao nario que nos pennita ler e inteFPretar as respos­ plausivel e mesmo evidente, adquiriu este estatuto tas. Para Galileu, sabemo-Io bern, era em curvas, de evidencia e de verdade a pn'ori, quando, para circulos e triangulos, em linguagem matematica, Me­ os Gregos, como para os pens adores da ldade ou, mais precisamente, em linguagem geometn'ca dia, a ideia de urn corpo que, posto em movimento, - nao a do senso comum ou de puros slrnbolos-, a continuasse sempre a se mover era evidentemente que devenamos falar natureza e feceber as suas falsa e mesmo absurda ". respostas. A escolha da linguagem e a decisao de Nao tentarei explicar aqui as razoes e as cau­ a empregar nAo podiarn evidentemente seT deter­ se­ sas que provocaram a revolu'1ao espiritual do minadas pela experiencia que 0 pr6prio usa desta E culo XVI. suficiente, para 0 noSSO prop6sito, des­ linguagem devia tomar posstveJ. Era-lhes neces­ creve-la, caracterizar a atitude mental ou intelec­ saria vir de outras fontes. tual da ciencia moderna por meio de dois tra~OS Outros histotiadores da e da filosofia ci~ncia 10 solidarios: 1.0, a destroi~ao do cosmo, por conse­ procuraram mais modestamente caracterizar a fisica modema, enquanto flsica, par meio de alguns dos guinre, 0 desaparecimento da ciencia de tadas a0s considerac;6es fundadas sobre essa n~ao 2. SellS tra~os marcantes: por exemplo, 0 papel que a geornetriza~ao do espac;o - isto e, a substi1t2u;i <;:ao, o principia da inercia ai desempenha. Exacto de do espayo homogeneo e abstracto da geometria novo: 0 prindpio da inercia ecupa urn Jugar emi­ eudidiana pela concep~ao de urn espa«O c6smico Dente na mecaruca classica, em contraste com a qualitativamente diferenciado e concreto, a da fi­ E dos antigos. ai a lei fundamental do movimento; sica pre-galilaica. Podemos resumir e exprimir reina implicitamente sobre a fisica de Galileu e como segue essas duas caractertsticas: a matema­ explicitamente sobre a de Descartes e de Newton. tizac;ao (geometrizac;ao) da natureza e, por con­ sequencia, a maternatiza9ao (geometrizac;3.o) da Kurd Lasswitz. Geschichte der Atomislik. Hamburgo 10 cil~ncia. e Lipsia, 1890, n, pp. 23 e segs.; E. Mach, Die Mechanik in ihrer Entwicklung, 8.- ed .• LJpsia, 1921, pp. 117 e segs.; E. Wohlwill, «Die Entdeckung des Beharrunggesetze!)}, in Cf. E . Meyerson, op. cit. , pp. 124 e segs. II Zeitschri/t for V61kerpsychologie und Sprachwissenschqft, 0 termo persiste, bern entendido, e Newton fala ainda )1 vols. XIV e xv, 1883 e 1884, e E. Cassirer, Das Erkenntnis do cosmo e da sua ordem (como fala tambem do impetus), problem in der Philosophie und Wissenschqft der neueren mas num sef\tido inteiramente novO. Zeit, 2.- ed., Beriim, J911, I, pp. 394 e segs. 17 16 A dissoluc;ao do cosmo signilica a destruic;ao de uma ideia: a de urn rnundo de estrutura finita. A dissolwyao do cosmo, repito-o, eis 0 que me hierarquicamente ordenado, de Urn mundo qualita­ purece ser a revoluc;ao mais profunda realizada au sofrid8 pelo espirito humane depois da invenc;Ao tivamente diferenciado do ponto de vista ontolo_ gico. Esta esubstituida pela de urn universo aberto, do cosmo pelos Gregos. Euma revoluc;ao tao pro­ indetinido e meSrno ate infinito, que as rnesmas funda. de ccnsequencias tilo longinquas. que, du­ leis universais unificarn e governpm. Urn universo rRnte steulos, as homens - com raras except;oes, entre as quais Pascal- nac se apercebe.ram do no qual todas as coisas pertencem ao mesmo nivel e de Ser, ao contrario da conce~~o tradicional, que seu alcance e sentido; e ainda agora frequente­ distinguia e opunha as dais mundos do ceu e da mente subestimada e mal cornpreendida. o Terra. As leis do ceu e as da Terra sao, a partir que os fundadores da ciencia modema, e de agora, fundidas em conjunto. A astronomia e a entre eles Galileu, deviam entAo fazer nao era Eisiea tornam-se interdependentes, e rnesmo unifi­ critical' e combater certas teorias erradas, para as cadas e unidas Is50 impliea a desapari~ao, da substituir por outras melhores. Deviam fazer algo 1), perspectiv8 cientifica, de todas as considera~6es compJetamente diferente: destruir urn mundo e baseadas no valor, na perfei~iio. na harmonia, na substituf-Io por outro, refonnar a propria es!rutur. signific8y80 e no designio I", que desaparecem no da nossa inteligencia, fannular de novo e rever os espat;o infinito do novo universo. E neste novo uni ­ seus conceitos. conceber 0 SeT de wna nova maneira, verso, oeste novo mundo duma geometria tomada claborar urn novo conceito de conhecimento, urn real, que as leis da ffsica classica encontram valor novo conceito de ciencia - e mesmo ate substituir e aplica,iio. urn ponto de vista bastante natural, 0 do senso comum. e por urn outro que 0 nt\o de modo algum u. Isto explica por que razlio a descoberta de co i­ 50S. de leis, que parecem hoje tao simples e facels Como procurei mostrar nootro lado (Etudes gaJiMennes, fII, GIa) lile et fa tof d'inelTie, Paris, J940), a ci!ncia modema que 8S ensinamos as criant;as -leis do movimento, resulta desta unific8vllo da astronomia e da fisica, que Ihe lei da quod a dos corpas - exigiu urn esforc;o tao permi(e aplic8r os metodos de pesquisa matematica, utiJiza ­ longo, tao .rduo, frequentemente vao, de alguns dos dos ate entAo no estudo dos fen6menos celestes, ao estudo dos fenomenos do mundo subJunar. I, I< cr. E. Brehier, Histo;re de laphilosophie. t. IT. CascoJ, cr. P. Tannery. «GaiMe et les principes de 18 dyna­ Paris, 1929, p. 95 : (( Descartes liberta a fisica do domlnio mlquc)). in Mcmoires scienti/iques, VI, Paris, 1926, p. 399: do COsmo nelenico, isto e, da imagem de um certo estado ~(Se. pIlI&. julgannos 0 sistema dinamico de AristOteles, abs­ privilegiado de coisas que salisfaz as nossas necesSidades IJllirmos os preconceitos que decorrem da nossa edUC8¥8.0 esteticas ... NAo ha estado privilegiado, uma vez que todos modema, se procurarmos colocar-nos no estado de espirito as estados sAo equivalentes. Nllo ha, portanto, lugar em que podia ler um pensador independente do come~o do se­ fisica para a procura das causas finais e a considera~l1o do culo xvn, e diflcil nao reconhecer que esse sistema est! melhor.» muito mais de acordo com a observalr~o imediata dos factos que 0 nosso.» 18 19 maiores gentos da humanidade, urn Galileu. urn tradic;;:ao inintenupta conduz das obras dos nomi­ Descartes 16 . Este facto, por seu lado, parece~me nafistas pansienses as de Benedetti, Bruno, Gali­ refutar as tentativas modemas de minimizar, ou leu e Descartes. (Eu pr6prlo acrescentei urn elo a mesmo negar, a originalidade do pensarnento de hist6ria desta Contudo, a conclusao que tradi~ao.) II Gali1eu , au, pelo menos, 0 seu caracter revolucio~ dai extrai Duhem e enganadora: urn. revolU9aO nario; e torna igualmente manifesto que a aparente bern preparada e, apesar de tudo, uma revolw;ao continuidade no desenvolvimento da fisica, da Idade e, a despeito do facto de Ga1ileu teT, na sua juven­ Media aos tempos modernos (continuidade que tude (como Descartes, por vezes), partilhado as Cavern! e Duhem tao energicamente sublinharam), perspectivas e ensinado as teorias dos enticos me­ E e ifus6ria 11. verdade, bern entendido, que uma dievais de Arist6teles, a ciencia modema, a ciencia nascida dos seus esfor90s e das suas descobertas, nao segue a inspirac;ao dos «precursores parisien­ Cf. os me us Etudes gali/eennes, n, La fo j de 10 chute 16 des corps, Paris, 1940. ses de GalileU»), coloca-se imediatamente num mvel n Cf. Caverni, Stan'a del metodo sperimenlale il/ Ita ­ completamente direrente - urn nivel que gostaria fio > 5 vols., Firenze, 1891-96. em particular os vols. IV de designar como arquimediano. 0 verdadeiro pre­ e v; P. Duhem, Le Mauvement obsofu et Ie mouvemenr e cursor da fisica modema nao nem Buridan, nem relo/if, Paris, 1905 ; «(De l'acceleratiOD produite par une Nicolau Oresme, nem mesmo lOaD Fil6pono, mas rorce constante)), in Congres inrernaHonal de l'His/oire des SCiences, 3.- sessAo, Geoebra, 1906 ; Etudes Sur Leonard sim Arquimedes 19. de V;nci: Ceux qu 'iJ a fus et ceux qui rom Ju. 3 vols., Paris, 1909-13, em particular 0 vol. Ill : Les precurseurs parisiens de Galilee. Muito recentemente, a lese da conti­ I nuidade foi defendida por J. H. Randall, Jr., no seu brilhante artigo (Scientific method in the school of Padua), in Journal of the History of Ideas, I, 1940; Randal! mostra de modo Podemos dividir em dois periodos a hist6ria do con vincente a elabora~Ao progressiva do metodo de «reso­ pensamento cientifico d. Idade Media e do Renas­ luc;ao e cornposi~4o» no ensino dos grandes IOgieos do Re­ cimento, a qual a conhecer urn pouco come~amos nascimento. Contudo, 0 proprio Randall declara que <\Urn melhor 10 Ou, antes, como a ordem cronol6gica . elemento faJtou no metodo formulado por Zabarella : nao exigiu que os principios da ci~ncia natural fossem materna­ tiCOS» (p. 204) e que 0 Traclalus de paedia. de Cremonini. «soasse Como 0 aviso solene para OS matematicos triun­ I' cr. Etudes galileennes. I: A l'aube de la science fantes sobre a grande tradic;Ao aristotelica do empirismo c/assique, Paris, 194Q. racionaJ)} (id.). Ora «esta insistencia no papet dos materna­ I' 0 seculo XVI, pe.lo meROS na sua segunda metade. ticos que se juntou ao metodo 16gico de Zabarellu (p. 205) e 0 penodo em que se recebeu, estudou e compreendeu a constitui. precisamente. em rninha opiniAo, 0 conteudo da pouco e pouco Arquimedes. revoluC;Ao cientifica do seculo XVII e, na opiniao da epeea, Devemos esse conhecimento sobretudo aos trabalhos 10 a Hnha de demarcac;ao entre os adeptos de Platao e os de de P. Duhem (as obras altaS citadas na nota 17 e necessario Aris tOteles. acrescentar: Les Odgines de to starique, 2 vols. Paris, 1905, 20 21

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sofrid8 pelo espirito humane depois da invenc;Ao do cosmo pelos Gregos. Euma revoluc;ao tao pro funda. de ccnsequencias tilo longinquas. que, du.
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