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Johann Mortiz Rugendas no México (1831-1834). Um pintor nas pegadas de Alexander von Humboldt PDF

136 Pages·2002·38.603 MB·Portuguese
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Preview Johann Mortiz Rugendas no México (1831-1834). Um pintor nas pegadas de Alexander von Humboldt

J o h a n n M oritz R u g e n d a s n o M éxico U m pinto r nas pegadas de A lexander v o n H u m b o ld t Johann Moritz Rugendas no México J ohann M oritz R ugendas no M éxico (1 8 3 1 -1 8 3 4 ) U m p in to r n as p egad as de A le x a n d e r v o n H u m b o ld t A I P K Exposição do Instituto Ibero-Americano Patrimonio Cultural Prussiano, Berlim Exposição / Catálogo: Renate Löschner Tradução ao português: Claudia Schilling Impressão: Hellmich PrePress & Print GmbH. Berlim A exposição apresenta-se sob os auspícios do Ministerio das Relações Exteriores da República Federal da Alemanha nas seguintes cidades latinoamericanas: Santiago de Chile: Museo Nacional de Bellas Artes (maio-junho de 2002) Buenos Aires: Museo Nacional de Bellas Artes (julho-agosto de 2002) São Paulo: Fundação Memorial da América Latina. Galeria Marta Traba de Arte Latino-Americana (setembro-outubro de 2002) La Habana: Museo Nacional de Bellas Artes (janeiro-fevereiro de 2003) Geraldo Alckimin, Governador do Estado de São Paulo Marcos Mendonça, Secretário de Estado da Cultura Fundação Memorial da América Latina, Fábio Magalhães, Diretor Presidente Maria Cristina Masagão, Chefe de Gabinete Isaura Botelho, Diretora do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina Luis Takao Adathi, Diretor Administrativo e Financeiro Antonio Maschio, Diretor de Atividades Culturais Juçara Carbonaro Guerreiro, Gerente Geral da Diretoria de Atividades Culturais Mario Lorenzi, Presidente da Associação dos Amigos da Fundação Memorial da América Latina Galeria Marta Traba Conselho Curador: Fabio Magalhães, Antonio Maschio, Daniela Bousso, Elza Ajzenberg, Leonor Amarante, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Marcelo Araújo, Marcello Nitsche Gerente: Adriana Beretta Produtora Cultural: Angela Barbour Assistente Administrativo: Marcos Rosa Agradecimento Uwe Kaestner - Embaixador da Republica Federativa da Alemanha Dieter Hubertus Zeisler - Consul Geral da Republica Federativa da Alemanha em São Paulo Marcos A. Magalhães - Presidente da Philips da América Latina © 2002 Instituto Ibero-Americano, Património Cultural Pmssiano, Berlim ISBN 3-935656-07-6 GOVERNO DO ESTADO DE PHILIPS SECRETARIA SÃO PAULO LeãmUUfitycbetfev' MEMORIAL DA CULTURA Fcuirimdaen deo pdree sgeennttee., INDICE Renate Löschner A apresentação artística da América Latina no século XIX sob a influência de Alexander von Humboldt 7 JOHANN MORITZ RUGENDAS NO MÉXICO Vida e obra do pintor antes de sua viagem ao México Origens e formação 15 A viagem ao Brasil 1822-1825 15 O princípio da colaboração artístico-científica com Humboldt 17 “Voyage pittoresque dans le Brésil” 19 Estada na Itália 21 México 1831-1834 As incidências da viagem 23 As pinturas 25 Viagem pitoresca 27 Catálogo de estudos a óleo Quadros de género e paisagens 41 Tipos populares 55 Vida e obras da última época Os anos na América do Sul 58 Regresso à Alemanha 59 Notas 60 Bibliografía 60 Indice onomástico 62 Ilustrações 65 A apresentação artística da América Latina no século XIX sob a tivesse encontrado mais de oito espécies diferentes em Cuba e tives­ influência de Alexander von Humboldt se informado a Europa daquele tempo sobre esse particular: "A graça destas novas terras é ainda maior que a da campina de A apresentação artística da América Latina no século XIX está Córdoba. As árvores brilham permanentemente com suas folhas intimamente relacionada ao nome de Alexander von Humboldt. Os sempre verdes e, na maioria das vezes, estão carregadas de frutos. impulsos que partiram de sua grande expedição que, entre os anos Do solo crescem altas e florescentes ervas" 2 1799 a 1804 o levou á Venezuela, Colombia, Equador, Peru, México e Colombo não pôde evitar o feitiço do trópico e de sua natureza, Cuba, assim como os provenientes de seus livros de viagens e seus enquanto Humboldt via essas paisagens com os olhos de um pintor. conceitos relativos às paisagens do ponto de vista artístico- Em seu "Ensaio sobre uma fisionomia das plantas" ele fala de samam­ fisionômico, encontraram grande eco no campo da arte e nas ilustra­ baias com forma de árvores que "estendem no México suas ternas ções científicas de viagens. folhas sobre extensões de louro" e de bananeiras à sombra de altos Humboldt desenvolveu sua teoria da representação artística de bambus. Humboldt descreve o céu azul escuro por trás dos ramos de paisagens exóticas sob a influência do mundo tropical. A intensidade mimosas em forma de guarda-chuva, e chama nossa atenção para o das experiências vividas entre a natureza dessas regiões e o conse- pitoresco contraste entre os lírios e os plátanos, por um lado, e as qiiente desejo de ver essas experiências reproduzidas na pintura, formas de cactos por outro. Acima de tudo, o grande naturalista ficou levaram-no a pesquisar a temática do "sentimento com relação à impressionado com o contraste entre as diversas cores: as esplêndi­ natureza", tanto no âmbito da poesia quanto no da pintura, em épocas das orquídeas crescendo sobre troncos escuros, arbustos verdes ao e culturas diferentes. Dessa forma, descobriu que as primeiras obras lado de flores multicolores que apareciam entre as raízes e trepadeiras realistas de paisagens e plantas tropicais provinham dos pintores enlaçando árvores. O interesse de Humboldt era a representação holandeses Frans Post e Albert van der Eeckhout que, em 1637, artística da vegetação. Ele pensava que as plantas, com seu caráter acompanharam Maurício de Nassau, comandante da Companhia Ho­ multifacético, dando vida à terra do fundo do mar às mais altas regiões landesa das índias Ocidentais, e permaneceram diversos anos no montanhosas, eram o aspecto mais importante da fisionomia de uma Brasil. Em seus quadros e folhas gráficas Humboldt pôde reconhecer, paisagem. A distribuição - em conjunto ou isoladamente - dessas entre outras coisas, palmeiras, bananeiras e cactos. Humboldt desco­ plantas determina a "pobreza" ou a "riqueza" de uma região. Para esse briu que esse estilo artístico foi desenvolvido posteriormente pelo efeito também é muito importante a silhueta específica de cada planta. artista inglês William Hodges, que participou da segunda volta ao Depois de ter estudado a fundo essa temática e sob a influência dos mundo do capitão Cook, entre os anos 1772 e 1775. Seus trabalhos conceitos de Goethe relativos à morfologia, Humboldt buscou "deter­ sobre as margens do Ganges despertaram em Humboldt a sede pelo minadas formas primárias" que caracterizassem o aspecto de uma trópico. Aqui o grande naturalista deseja que os artistas contemporâ­ paisagem e que, ao mesmo tempo, simbolizassem o essencial, o típico neos continuem essa tradição e anuncia que: de um conjunto de plantas. A maior parte dessas plantas, cujo núme­ "A paisagística chegará a um novo e até agora completamente ro reduziu a 19, foi encontrada por ele nas selvas sul-americanas, que desconhecido florescimento". Este florescimento será possível "quan­ sein dúvida representam grande parte da vegetação de nosso planeta. do os jovens artistas tiverem a oportunidade de atravessar as redu­ Os artistas deviam concentrar seus trabalhos apresentando essa zidas fronteiras do Mediterrâneo e, longe destas costas, com um seleção de plantas-tipo, entre as quais se encontravam - de acordo espírito juvenil e puro, se confrontarem com a riquíssima e variada com a opinião de Humboldt - as palmeiras, bananeiras, samambaias, natureza dos úmidos vales do mundo tropical." 1 orquídeas, cactos e mimosas. O realmente importante na representa­ Dificilmente um pintor poderia desenhar uma mínima parte da ção artística era mostrar a forma, os contornos concisos. Para o imensa quantidade de tipos de orquídeas que Humboldt encontrou naturalista em busca de tipos fisionómicos, as pequenas variações e nos bosques dos Andes. Ao mesmo tempo, o grande naturalista diferenças não eram transcendentais, ao contrário, do ponto de vista alemão lamentava que os paisagistas europeus não levassem em botânico. conta a enorme diversidade de formas vegetais do trópico. Nessa época ainda se insistia em representar a palmeira através do exemplo de sua variedade oriental, a palmeira de tâmaras, ainda que Colombo 7 Seguindo essas sugestões de Humboldt, os artistas realizam as agrupações típicas, demonstrando que nas montanhas tropicais se gravuras para os livros de botânica do grande naturalista. Entre eles sobrepõem zonas climáticas que apontam para um aspecto dos vege­ encontrava-se o desenhista de plantas e gravurista Ferdinand Bauer, tais idêntico ao que se estende sobre a terra desde a linha equatorial, que em 1805 tivera a oportunidade de estudar - durante uma viagem rumo ao pólo. que o levara a dar uma volta ao mundo - a exótica vegetação tropical. A versão alemã de sua obra, "Geografia das plantas" é dedicada Sua forma de trabalho foi considerada excelente e exemplar por Goethe a Goethe, que se sentiu "extraordinariamente honrado" por esse que, em seu ensaio sobre a "Blumen-Mahlerei" [Pintura de Flores], gesto. Ele desenhou pessoalmente a gravura que estava faltando no frisava que Bauer: volume, o "Quadro físico dos Andes equinociais", como expressão "[...] com grande perfeição e para nosso regozijo mostra os diversos gráfica do pensamento de Humboldt. Denominou sua paisagem tipos de abetos com sua grande variedade de ramagem, folhas, simbólica de "Höhen der Alten und Neuen Welt" [Alturas do Velho brotos, frutos e sementes, representando-os mediante o simples re­ e do Novo Mundo]. Dessa forma, o poeta confronta os Alpes euro­ curso de expô-los à luz plena. Esta não abrange apenas os objetos peus com a cordilheira sul-americana, desenhando característicos em todas as suas partes, mas também, graças aos reflexos, lhes dá a picos de montanhas, insinuando florestas, sem deixar de marcar os máxima nitidez e clareza possíveis." 3 limites de crescimento das plantas e das neves perpétuas. Por sua parte, Humboldt, em seu " Quadro físico dos Andes equinociais", vai O fundamental em tudo isso era colocar em evidência as caracte­ ainda mais longe, ao elaborar e mostrar um corte vertical dos Andes rísticas do processo de crescimento, tal como sugeria Humboldt em na região do Chimborazo e do Cotopaxi, para poder indicar grafica­ suas "Lichtbilder" [imagens de luz], mente a vida em nosso planeta, das maiores profundezas às zonas "nas quais não se vê a copa das árvores, mas os enormes troncos e as mais elevadas. Nessa obra ele também nos oferece um panorama típicas ramificações; [...]" 4 dos diferentes grupos de plantas, anotando seus diferentes limites de Como Humboldt vê no contraste um recurso artístico que dá vida crescimento no desenho do maciço. Humboldt não deixou de incluir à obra de arte, aconselha o pintor a apresentar as plantas de forma em suas pesquisas a fauna e todos os fatores que influenciam o separada e contraposta uma à outra. Todos os estudos deviam ser mundo orgânico. realizados ao ar livre: Os limites de crescimento das plantas, o limite das neves perpétu­ "Só os esboços elaborados entre a natureza poderão - depois do as e a altura dos picos anotados em seu "Quadro físico dos Andes regresso do artista à Europa - transmitir-nos de forma convincente equinociais" também deviam ser totalmente compreensíveis para o o verdadeiro caráter das longínquas regiões, depois de serem re- leitor em sua forma artística. Além disso, na apresentação da natureza elaborados nos estúdios dos pintores do Velho Mundo. Essa ima­ inorgânica era preciso levar em consideração a estrutura geológica, gem daquelas regiões longínquas será ainda mais intensa para nós os contornos e as silhuetas das montanhas e o colorido das pedras. porque o artista, com grande entusiasmo, desenha e pinta um gran­ Humboldt chegou a essa conclusão depois de ter realizado estudos de número de objetos separadamente, como coroas de árvores, comparativos de montanhas, que o convenceram de que a configura­ espessas e carregadas de frutos, troncos caídos e recobertos por ção das montanhas depende da estrutura de suas formações; as orquídeas, pedras, margens e setores do solo da selva. Os estudos de montanhas com um processo de formação similar terão formas pareci­ plantas isoladas, realizadas com traços bem marcados, permitem das entre si. O basalto cria "picos gémeos" e cones truncados, o que o pintor, depois de retornar à Europa, renuncie ao estudo de granito forma cúpulas redondas. Em seu volume de viagem" Vues des plantas em estufas e aos chamados desenhos botânicos, que muitas Cordillères" e em sua obra "Umrisse von Vulkanen" ["Volcans des vezes falseiam a realidade".5 Cordillères de Quito e du Mexique"], ele demonstra esses princípios do processo da formação geológica através de numerosas represen­ Na representação de grandes áreas vegetais, o artista tinha de ir tações artísticas. além de pintar o mero colorido local, tentando mostrar conjuntos de Suas exigências só podiam ser realizadas através de um estudo plantas próprias de determinados climas como, por exemplo, a úmida meticuloso da natureza. Ao contrário de Goethe e Carl Gustav Carus, selva tropical, as savanas etc. Encontramos as bases dessa tarefa na que postularam idênticos princípios de criação artísticos, Humboldt obra "Ensaio de uma geografia das plantas". Nesse livro fundamen­ se preocupou com uma "cientificação" conseqiiente da arte. Sua meta tal, Humboldt analisa a fisionomia das plantas com relação às suas

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