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Jamile Estacia OS EFEITOS DO USO DO COMPUTADOR NA SUBJETIVIDADE DO ADOLESCENTE PDF

107 Pages·2008·0.42 MB·Portuguese
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Jamile Estacia OS EFEITOS DO USO DO COMPUTADOR NA SUBJETIVIDADE DO ADOLESCENTE Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Educação da Faculdade de Educação, da Universidade de Passo Fundo, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Educação, tendo como orientadora Dra. Tatiana Lebedeff. Passo Fundo 2003 À confiança e ao estímulo de minha orientadora Tatiana. Ao apoio e incentivo dos meus pais, José e Linda. À amizade de minha irmã Suraia. Ao amor e tolerância de Géder e Martina. 3 RESUMO O computador, mais especificamente o uso da internet, tem ocupado um lugar bastante significativo na vida dos adolescentes. Encontra-se presente no meio escolar, no convívio social e familiar. A intensidade do uso do computador, entre os aparatos eletrônicos, têm superado ao da televisão em termos de horas por dia . O presente estudo visa investigar quais as influências e modificações que a presença constante da internet no dia-a-dia dos adolescentes, inclusive pela ideologia que propõe, pode produzir nos modos de interação, nas formas de comunicação e na organização do pensamento do jovem contemporâneo. Através de um levantamento nas escolas da cidade selecionamos inicialmente uma amostragem de internautas e num segundo momento aprofundamos nossa análise através da técnica de estudo de caso. Como resultado, se observou que o uso do computador interfere na subjetividade dos adolescentes de diferentes formas: levando em consideração a singularidade da organização psíquica, o meio social e familiar dos mesmos, a relação de “interatividade” pode permitir uma vivência em que a experiência de criatividade e interação com os iguais e o meio é capaz de auxiliar a criança ou o jovem em processo de desenvolvimento, e por outro lado, em outros casos, determinar uma relação com o computador marcada por um caráter de submissão e dependência. Palavras-chave: subjetividade, adolescente, computador. ABSTRACT The computator, specifically the use of internet, has occupied a very significant role in the adolescents' life, being present in school and within social and familiar relations. In the range of electronics, the intensity of computator use has overcome that of the television in terms of hours spent daily. The present study aims to investigate the influences and modifications produced by the constant presence of internet in the adolescents' daily routine, including its proposed ideology, on the ways of interaction, communication and thinking organization of the contemporary youth. Through a survey in the schools of the city we selected, at first, a sample of internet users and, in a second moment, we deepened our analysis with the technique of case study. As a result, we observed that the use of computator interferes with the subjectiveness of the adolescents' thinking in different ways: taking into account the singularity of the psychic organization, their social and familiar medium, the relation of "interactiveness" may permit an experience in which creativeness and interaction with the fellows and the medium are able to help the developing child or youth; on the other hand, in other cases, it determines a relation with the computator marked by a character of submission and dependency. Key words: subjectiveness, adolescent, computator. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 07 1 O IMPACTO DA INFORMÁTICA NA SOCIEDADE ATUAL ......................................... 12 1.1 Virtualidade e vida real .................................................................................................... 17 2 POLÍTICA EDUCACIONAL E INFORMÁTICA .............................................................. 23 2.1 O computador e a cultura ................................................................................................. 25 2.2 Ideologia e educação ........................................................................................................ 28 3 CRISE DE PARADIGMAS .................................................................................................. 32 4 A SUBJETIVIDADE NOS NOVOS TEMPOS .................................................................... 36 4.1 O interdito ........................................................................................................................ 41 4.2 Constituição do ego e do narcisismo ............................................................................... 42 4.3 Esboço para a teoria de eleição de objeto ........................................................................ 43 4.4 Sobre o narcisismo: uma introdução (1914) .................................................................... 45 5 O USO DO COMPUTADOR COMO UM ESPAÇO TRANSICIONAL ............................ 51 5.1 A relação de objeto e a criatividade ................................................................................. 57 6 O SIGNIFICADO DO DECIFRAMENTO ........................................................................... 61 6.1 A inter-relação .............................................................................................................. 63 7 METODOLOGIA .................................................................................................................. 67 7.1 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados ........................................................... 67 7.2 Análise de dados .............................................................................................................. 69 7.3 Análise dos resultados dos questionários aplicados ........................................................ 69 7.3.1 Amostra selecionada ............................................................................................... 74 6 8 ESTUDO DE CASO .............................................................................................................. 79 8.1 Casos ................................................................................................................................ 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 89 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 95 ANEXOS .................................................................................................................................. 99 INTRODUÇÃO A idéia de pesquisar sobre o tema “os efeitos do computador na subjetividade do adolescente”, partiu de uma questão que emergiu da observação e convivência com adolescentes, tanto na clínica como no meio social, escolar e familiar. O aumento do uso de computadores por parte dos adolescentes tem provocado em todos nós, pais, professores, profissionais da saúde e em todos aqueles que interagem com essa geração, diversas inquietações no sentido de compreender qual é a influência ou os efeitos que o uso dos aparatos tecnológicos por parte das crianças e jovens pode ter na subjetividade. O impacto do uso do computador produzido nos modos de interação, nas formas de comunicação e na organização do pensamento do ser contemporâneo não pode ser desconsiderado ou minimizado. A questão norteadora desta pesquisa e que sustenta os estudos que vêm sendo realizados visa compreender como o adolescente se relaciona com a tecnologia, mais especificamente, com o computador, e qual é o lugar potencial que assumem os sujeitos envolvidos. Compreendemos que o computador pode potencializar uma vivência tanto de experiência e, portanto, capaz de auxiliar a constituir, ativar ou reforçar aspectos do desenvolvimento psíquico do adolescente, como, em outros casos, levar à submissão e à dependência. Filósofos, educadores, psicólogos, psicanalistas e demais estudiosos do tema proporcionam uma diversidade de pontos de vista, por vezes antagônicos. Assim, analisando as idéias de vários pensadores do comportamento humano, observamos que alguns possuem uma visão mais pessimista, ao passo que outros são mais otimistas quanto aos efeitos desse fenômeno. A intenção de buscar uma única resposta, aos poucos, foi suplantada pelo interesse de compreensão do poder e da influência da tecnologia no mundo e no sujeito da contemporaneidade, numa dimensão indissociável entre o psíquico, o social e o educacional. Entendemos que esse é um campo relativamente novo de investigação, sobretudo em nosso 8 meio, diferentemente de países do Primeiro Mundo, onde o uso da tecnologia nas mais diferentes áreas de atuação remonta há mais tempo e experiência e, portanto, tem produzido várias pesquisas acerca do tema. A pertinência de nosso estudo é reforçada na contribuição de Lévy (1998), que, ao teorizar a vivência pós-moderna, refere que estaríamos vivendo a terceira era; a primeira foi da oralidade; a segunda; da escrita e a terceira, atual, da virtualidade. Nesse sentido, não podemos desconsiderar a importância de analisar e compreender, em uma fase fundamental do desenvolvimento humano como a adolescência, qual é o lugar ocupado pelo ciberespaço1 em sua vida e quais os efeitos da cultura digital em sua formação integral. Pode-se dizer que o aspecto negativo ou patológico desta terceira era, a digital, segundo Birman (2000), está no sentido de que propõe uma nova subjetividade, na qual a experiência se coisifica e a dimensão crítica se perde, pois o desejo de ser sucumbe à exaltação dos aspectos narcísicos do eu, da individualidade na sociedade do espetáculo. Como conseqüência, para Eduardo Romano (2000), a tendência da juventude atual, conectada on line com os dispositivos telemáticos, é relegar o laço vincular em favor da virtualidade e de simulação, comprometendo a singularidade na formação da identidade do adolescente. O psicólogo argentino entende a virtualidade como sendo uma cultura efêmera, numa fugacidade que leva ao automatismo e que não ajudaria na construção do pensamento. O espaço virtual teria, então, uma característica de introjeção e consumo. O autor sugere que, em razão dessas características, os sujeitos que apresentam uma precariedade na configuração psíquica possuem a tendência de desenvolver um apego a objetos bidimensionais, o que leva, em muitos casos, à simulação de uma identidade como uma prótese de seu vazio interior. Atualmente, existem no mundo inteiro grupos de tratamento de ciberadictos. Pesquisas e publicações recentes, nacionais e internacionais, informam que o uso abusivo do computador tem superado o do televisor, tendo passado de quatro horas para dez horas diárias. Assim, tal qual um adicto, o sujeito experimenta a vivência de êxtase. Para o autor 1 Cyberespaço: esse termo foi inventado em 1984, por William Gibson, em seu romance de ficção científica Neuromante. No livro, o termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco do conflito mundial, nova fronteira econômico-cultural. Em Neuromante, a exploração do ciberespaço coloca em cena as fortalezas de informações secretas e protegidas pelos programas ICE, ilhas banhadas pelos oceanos de dados que se metamorfoseiam e são trocados em grande velocidade ao redor do planeta. Alguns heróis são capazes de entrar “fisicamente” nesse espaço de dados para lá viver todos os tipos de aventuras. O ciberespaço de Gibson torna sensível a geografia móvel da informação, normalmente invisível. Pierre Lévy (1998) toma-o para designar o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores, como conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos, na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. 9 Eduardo Romano (2000) a libido que está circulando aumenta o vazio na mesma progressão que o número de memória e de chips. Fascinação, por um lado, e confusão, por outro, os objetos virtuais mágicos e onipotentes, oferecem um gozo quase infinito. A imagem na tela é hiperpresença, é a indução do aqui e agora, amnésia da história. A adição é uma tentativa de restaurar o vazio e a ausência de sentido. A característica do espaço virtual entra em conexão com o espaço vazio. (p. 59). Para a pesquisadora Maria Vittoria Civiletti (2000), da Universidade Federal Fluminense, paradoxalmente, a fluidez e a velocidade das transformações do mundo contemporâneo colocam a identidade em xeque, exigindo uma reformulação constante das formas de existir. Vivemos, nesse novo contexto, uma inversão de paradigma. No confronto das formas de subjetivação primárias com as novas necessidades, vêm sendo criados alguns artifícios conciliatórios. Para Civiletti, os múltiplos “eus” que afloram diariamente nas salas de bate-papo virtual podem, dessa forma, ser considerados um sintoma da busca de um ambiente seguro, onde se possa viver a multiplicidade reprimida. Entendemos que a tecnologia não é neutra, pois propõe uma cultura efêmera, do aqui agora, do prazer imediato e, portanto, desconsidera a história do sujeito. A dimensão crítica perde-se e o que há é o automatismo, a reprodução e não a criatividade ou a construção do pensamento. Apesar da determinação de tais características, é importante discriminar que não é apenas o desenvolvimento da tecnologia o responsável por tais fenômenos, mas é o modo como o sujeito a utiliza, da mesma forma que é a cultura contemporânea que determina a utilização da tecnologia em favor de seus ideais. Um de nossos objetivos, portanto, ao procurar entender como os adolescentes têm utilizado o computador, visa avaliar em que medida este tem se apossado desse recurso como um objeto capaz de contribuir para o seu crescimento pessoal, ou, ao contrário, tem se transformado em objeto desse recurso. Além disso, pretendemos conferir outra hipótese, a de que o uso do computador por parte de adolescentes mais saudáveis permite que a interatividade possa conviver com a intersubjetividade, constituindo-se num espaço de construção de relações e de criatividade, contrário ao refúgio tecnovisual. Quando bem utilizado, o computador pode se constituir num objeto transicional2; desse ponto de vista, é interpretado não como um espaço de perda, mas que possibilita novas condições na vida humana, potencializando aspectos positivos. 2 Objeto transicional é um conceito psicanalítico de Winnicott publicado na primeira edição inglesa de 1971 por Tavistock Publications. Traduzido no livro O brincar e a realidade, o objeto tansicional funcionaria como uma espécie de ponte de transição entre o subjetivo mundo interno e imaginário da criança para o objetivo e real mundo externo. Segundo o autor, cria-se neste trânsito um espaço virtual que ele denominou de “transicional” com alto potencial e riqueza de criatividade. 10 Como um espaço de produção e não de perda, o caminho da virtualidade pode ser um caminho lúdico. Freud, em 1920, foi o primeiro a observar a importância desse “espaço virtual” para o desenvolvimento psíquico da criança. Sem utilizar essa denominação, mas referindo-se à idéia que possuímos a respeito desse espaço, Freud utilizou a metáfora do carretel, como jogo usado pela criança para permitir a elaboração de suas angústia de separação. Em outras palavras, é um ensaio para sair do mundo protegido, infantil, para o mundo exterior e enfrentar a vida. A diferença, em relação ao uso do computador, é que alguns o utilizam como um ganho, ferramenta que auxilia no ensaio para sair da casca de noz, ao passo que outros podem utilizá-lo para reforçar seus medos e inibições. Incluímos, para a compreensão do tema, dentre as importantes contribuições de Winnicott, o conceito de transicionalidade, que exploraremos com maior profundidade no corpo do trabalho. Segundo essa teoria, o que define o transicional não é a máquina, mas o uso que se faz dela. O virtual equivale aqui ao espaço e aos fenômenos transicionais, que, uma vez vividos como um espaço de elaboração da angústia de separação, potencializam no desenvolvimento do sujeito a criatividade e a autoconfiança em nível social, afetivo e cognitivo. O espaço virtual é bem utilizado quando há uma consciência que permite a discriminação entre o simulado ou representante e o real. Esse movimento é possibilitado quando ocorre o processo de apropriação, como refere Leontiev (1998), que envolve a tomada para si de instrumentos tanto materiais como simbólicos. Podemos pensar, sustentados por alguns dos autores, que o computador constitui uma nova ferramenta da cultura, ou, como diz Lévy (1993), uma “tecnologia de inteligência”. A comunicação mediada pelo computador, para Harnard (1991), constitui um tipo de comunicação que amplia as possibilidades de utilização do computador como ferramenta, propiciando novas modalidades de discurso e de cooperação. Pressupõe-se, portanto, a possibilidade de criação de novas formas de construção, como espaços de transformação psíquica e de mudança cognitiva em seus participantes. Finalizando, a nossa hipótese é que o adolescente, ao se relacionar com o computador, pode se colocar como um sujeito significante, que sente, registra e metaboliza o que absorve nesse contato; ele cria sentidos à medida que “acessa e navega” reconstruindo, com base em suas próprias vivências, novos significados. Em outros casos pode se colocar como um objeto passivo de uma relação onde a chamada “democratização” da informação, através de imagens e conteúdos, pode “extasiar” e passivizar frente a uma determinada conduta ditada pelo mundo do consumo e do apelo narcisista.

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