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Introdução ao Estudo G de Teixeira d trodução ao Estudo Genético de Duplo Passeio de Teixeira PDF

90 Pages·2015·1.57 MB·Portuguese
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FFaaccuullddaaddee ddee LLeettrraass da Universidade de Lisboa IInnttrroodduuççããoo aaoo EEssttuuddoo GGenético de DDuupplloo PPaasssseeiioo, ddee TTeeiixxeeiirraa ddee PPaassccooaaeess Diisssseerrttaaççããoo ddee Mestrado em Crítica Textual Patrícia Baltazar da Silva Franco OOrriieennttaaddoorraa:: Prof.ª Dra. Cristina Sobral 2015 Patrícia Baltazar da Silva Franco Introdução ao Estudo Genético de Duplo Passeio, de Teixeira de Pascoaes Tese apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para obtenção do título de Mestre em Crítica Textual Área de Concentração: Filologia e Língua Portuguesa Orientadora: Prof.ª Dra. Cristina Sobral Lisboa 2015 Resumo Teixeira de Pascoaes (pseudónimo de Joaquim Teixeira de Vasconcelos) é um escritor com um riquíssimo espólio literário e cuja obra, sobretudo a prosa, que corresponde à segunda e última fase da sua carreira, tem permanecido pouco estudada em Portugal, apesar de ter tido uma boa recepção fora do país. O trabalho aqui apresentado tem como objectivo ser uma introdução ao estudo do seu processo de escrita a partir dos materiais do seu espólio literário, pela primeira vez utilizado para uma abordagem genética. Partindo de uma descrição geral do espólio, constitui-se o dossier genético da narrativa Duplo Passeio e procede-se à descrição material (localização e história, suporte, escrita) dos seus quatro testemunhos manuscritos, um dos quais, incompleto, é aqui identificado pela primeira vez. Estabelece-se fundamentadamente a ordenação cronológica dos testemunhos e apresenta-se a edição genética de dois deles. Contribui-se para o conhecimento da génese e da recepção desta obra com recurso à correspondência pessoal do autor, nomeadamente com representantes de algumas casas editoras. São apurados ainda novos factos relativos à tradução alemã do texto e às relações do autor com o seu tradutor e amigo, Albert Thelen, em quem era depositada bastante confiança e dada grande liberdade no trabalho de tradução. Analisam-se alguns aspectos do processo de escrita de Pascoaes, nomeadamente a evolução do título de Duplo Passeio e a génese do passo central da narrativa, o Cristo de Travassos, no qual o encontro com uma criança está na origem de uma revelação religiosa para Teixeira de Pascoaes. Demonstra-se que escrevia e reescrevia as suas obras em busca da palavra ou expressão ideal, mas sem alterar a estrutura narrativa, e verifica-se que o processo criativo levava, por vezes, ao aproveitamento de segmentos de uma obra noutra, como acontece entre Duplo Passeio e a biografia O Penitente (Camilo Castelo Branco), em que ocorre bifurcação genética. Palavras-chave: Teixeira de Pascoaes, Duplo Passeio, Crítica Textual, edição genética, dossier genético Abstract Teixeira de Pascoaes (pseudonym of Joaquim Teixeira de Vasconcelos) is a writer with an extremely rich literary estate. His work, particularly the prose, which corresponds to the second and last phase of his career, has been little studied in Portugal, despite having had a good reception abroad. The work here presented intends to be an introduction to the study of his writing process based on his literary estate, for the first time used in a genetical approach. Starting from a general description of the literary estate, the genetic dossier of the novel Duplo Passeio is constituted and the four handwritten testimonies, one of which, incomplete, is for the first time identified here, are materially described (localization, history, material support, handwriting). The chronological order of the testimonies is established and the genetic edition of two of them is given as well. Resorting to the author's personal correspondence, for example with the representatives of some publishing houses, it contributes to the knowledge of the genesis and the reception of the novel. In addition, new facts are determined concerning the German translation of the text and the author's relationship with his translator and friend, Albert Thelen, in whom Pascoaes deposited quite confidence, giving him great liberties in the translation work. Some aspects of the writing process of Teixeira de Pascoaes are analised, namely the evolution of the title of Duplo Passeio and the genesis of the central episode of the novel, the Travassos Christ, in which the encounter with a child contributes to Teixeira de Pascoaes religious revelation. It is demonstrated that he wrote and rewrote his works in search of the ideal word or expression, but without changing the narrative structure. More: the creative process took him sometimes to use segments of a work in another, as between the novel Duplo Passeio and the biography O Penitente (Camilo Castelo Branco), whose genetic process is interconnected. Key Words: Teixeira de Pascoaes, Duplo Passeio, Textual Criticism, genetic edition, genetic dossier Índice Introdução ................................................................................................................... 6 1. O Espólio de Teixeira de Pascoaes .......................................................................... 9 2. A Narrativa Duplo Passeio ....................................................................................... 12 2.1. Produção, Publicação e Recepção................................................................... 12 2.2. Tradução ......................................................................................................... 25 3. Os Manuscritos: Descrição Material ....................................................................... 32 3.1. Manuscrito A ................................................................................................... 33 3.1.1. Localização e História .............................................................................. 33 3.1.2. Suporte .................................................................................................... 34 3.1.2.1. Acidentes do Suporte ..................................................................... 35 3.1.3. Escrita ...................................................................................................... 35 3.2. Manuscrito B ................................................................................................... 36 3.2.1. Localização e História .............................................................................. 36 3.2.2. Suporte .................................................................................................... 37 3.2.2.1. Acidentes do Suporte ..................................................................... 38 3.2.3. Escrita ...................................................................................................... 38 3.2.4. Folha Solta Junto ao Manuscrito B ......................................................... 40 3.3. Manuscrito C ................................................................................................... 42 3.3.1. Localização e História .............................................................................. 42 3.3.2. Suporte .................................................................................................... 43 3.3.2.1. Acidentes do Suporte ..................................................................... 44 3.3.3. Escrita ...................................................................................................... 44 3.4. Manuscrito D ................................................................................................... 51 3.4.1. Localização e história .............................................................................. 51 3.4.2. Suporte .................................................................................................... 52 3.4.2.1. Acidentes do Suporte ..................................................................... 52 3.4.3. Escrita ...................................................................................................... 52 4. Seriação dos Testemunhos ...................................................................................... 54 5. Questões de Génese ............................................................................................... 58 5.1. O Título ............................................................................................................ 58 5.2. Bifurcação Genética ........................................................................................ 60 5.3. Evolução Entre Estados Genéticos .................................................................. 72 5.3.1. A Génese do Cristo de Travassos ............................................................ 76 Conclusão .................................................................................................................... 86 Bibliografia .................................................................................................................. 87 Introdução Entrei pela primeira vez em contacto com Teixeira de Pascoaes há pouco tempo, através do manuscrito de Duplo Passeio que se encontra na Biblioteca Nacional (BN). Chamou-me a atenção o facto de ser muito rico em emendas, o que o torna à partida muito interessante para um estudo genético. Considerando a Crítica Genética como uma área da Crítica Textual, na qual esta dissertação se inscreve, proponho-me aqui a fazer a introdução ao estudo da génese de Duplo Passeio. Para tal, começarei por fazer a constituição do dossier genético. Dado este conceito não ser pacífico, importa esclarecer qual o seu significado nesta dissertação. Segundo Pierre-Marc de Biasi (2011: 67-68), dossier genético é o conjunto dos documentos e manuscritos relacionados com a escrita de uma determinada obra (planos, cenários, apontamentos, cadernos, esboços, desenhos, notas de leitura, marginália, fragmentos de redacções anteriores, notas de documentação, rascunhos, cópias, provas corrigidas, etc.). Biasi considera que o dossier genético é um conjunto compacto que importa organizar criticamente de forma a obter um conjunto estruturado, a que ele chama ante-texto. Para Grésillon (1994), no entanto, dossier genético e ante-texto são sinónimos. O termo ante-texto (avant-texte) foi proposto e definido por Jean Bellemin-Noël (1972: 15): l'ensemble constitué par les brouillons, les manuscrits, les épreuves, les « variantes », vu sous l'angle de ce qui précède matériellement un ouvrage quand celui-ci est traité comme un texte, et qui peut faire système avec lui. Grésillon (1994: 109), não colocando de parte este termo, prefere antes dossier genético por considerá-lo mais neutro, na medida em que ante-texto nos remete imediatamente para a noção de texto, e a crítica genética, tal como esta autora a entende e descreve, visa essencialmente, não o texto, não o resultado final, mas o processo da escrita. Dossier genético é o conjunto dos documentos escritos que testemunham a elaboração progressiva do texto (Lebrave e Grésillon, 2009), é o conjunto de todos os testemunhos genéticos conservados de um projecto de escrita ou de uma obra, classificados em função da sua cronologia de etapas sucessivas (Grésillon, 1994: 242). 6 Concordo com Grésillon. Não vejo necessidade de fazer, como Biasi, uma distinção entre ante-texto e dossier genético. Considerando-os como sinónimos, prefiro, pelas mesmas razões dadas por Grésillon, o termo dossier genético, pelo que o utilizarei ao longo da dissertação. A constituição do dossier genético é a primeira fase de todo o estudo genético, na medida em que define a cronologia dos vários testemunhos genéticos, seriando-os. Procurei ainda obter informação de génese externa, nomeadamente através da correspondência de Pascoaes. Segundo Biasi (2011: 67-68), o dossier genético pode ser enriquecido por documentos como a biblioteca pessoal do escritor, cartas recebidas, contratos de edição, actas ou documentos oficiais, etc. Importava tentar perceber qual o contexto da redacção de Duplo Passeio. Estes elementos, bem como a exogénese, complementam o dossier genético e informam-nos acerca das condições externas nos quais se situa uma génese (Grésillon, 1994: 25). A exogénese designa todo o processo de escrita consagrado a um trabalho de pesquisa, de selecção e de integração que se concentra em informações de uma fonte externa para a escrita. Autógrafo ou não, qualquer cópia ou nota de um documento, todo o material citado ou intertextual pertence à exogénese, como por exemplo recortes de jornais, fragmentos de textos impressos, notas de leitura e cartas de amigos fornecendo informações (Biasi, 2007). Ao longo desta dissertação apresentarei alguns destes elementos. O estudo genético deve prosseguir com a análise do modo como o texto se vai alterando ao longo do processo de escrita. Para essa análise, é fundamental a edição genética dos testemunhos. Uma edição deste género é muito útil, na medida em que apresenta por ordem cronológica um determinado processo de escrita, que, como já foi referido, é a principal finalidade da crítica genética. Até que ponto, por exemplo, existem emendas sucessivas num determinado ponto da narrativa? Fazer uma edição genética implica a decifração da escrita sequencial do texto e a sua exposição de uma forma mais acessível, legível e facilmente estudável. Uma edição vertical visa reconstituir o processo de escrita de uma ponta à outra do itinerário genético, através da publicação de todos os estágios da génese (Biasi, 2011: 170-171). Para esta obra, é preferível optar-se por uma edição horizontal. Neste tipo de edição, publica-se apenas os documentos que correspondem a um momento determinado da génese de uma obra. Uma edição horizontal inclui sempre uma parte 7 mais ou menos importante de verticalidade. A camada de escrita da qual se ocupa a edição horizontal possui as suas próprias temporalidade e espessura: não foi escrita de forma instantânea, possuindo, portanto, a sua própria história genética (Biasi, 2011: 156-158). As características do dossier genético de Duplo Passeio não permitem fazer uma edição vertical dos testemunhos. Por exemplo, há parágrafos inteiros que são completamente reestruturados em apenas um dos testemunhos, o que torna a edição horizontal — e, consequentemente, a sua leitura — suficientemente complexa. A edição vertical, juntando todas as variantes ocorridas no processo de escrita, seria pouco eficiente, na medida em que o seu resultado seria muito denso e ilegível. Em casos como Duplo Passeio, o ideal é fazer-se a edição horizontal de todos os testemunhos. Fazer a edição de todos os manuscritos, tendo em conta a sua dimensão, não seria exequível numa dissertação de mestrado. Tendo conhecimento da existência de três manuscritos da obra, optei por editar o segundo mais antigo, dado o mais antigo dos três não se encontrar completo. Entretanto pude identificar quatro folhas de um quarto manuscrito, até agora desconhecido e aparentemente anterior a todos os outros. Porque se trata apenas de um fragmento, e pela novidade da sua identificação, será também editado. Procederei, portanto, à edição do primeiro e do terceiro manuscritos. Sem a edição genética de todos os testemunhos e dada a quantidade de emendas em cada um deles, não será possível fazer um estudo muito aprofundado, que envolva, por exemplo, a classificação de todas as variantes de todos os manuscritos. Em qualquer estudo focado num determinado objecto, é esse objecto que o guia. É o que acontece num estudo genético, que inevitavelmente é orientado pelos dados que os testemunhos genéticos oferecem. Abdico, portanto, necessariamente, de um estudo genético com ambições de exaustividade. Proponho-me, porém, analisar verticalmente alguns passos seleccionados da narrativa e, para isso, editarei também o texto que lhes corresponde nos manuscritos segundo e quarto. Pretendo, assim, revelar a riqueza do dossier genético de Duplo Passeio, deixando para estudos futuros o muito que ainda fica por estudar. 8

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Introdução ao Estudo Genético de Duplo Passeio, de Teixeira de Pascoaes nova estrela que brilha alto de mais sobre nós. Ainda há pouco, na
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