– Márcio Seligmann-Silva –
Este livro apresenta um cruzamento muito profícuo entre Direito, Literatura, Psicanálise e Estudos Culturais, uma aposta bem-sucedida para importantes reflexões multidisciplinares.
Como pensar a relação entre Direito, Trauma e Justiça? Grandes julgamentos históricos, como o famoso julgamento de O. J. Simpson nos Estados Unidos e, no plano internacional, o julgamento Eichmann e os tribunais de Nuremberg surgem para pontuar esse instigante desafio teórico lançado por Felman.
Como a experiência traumática da perseguição antissemita e do holocausto podem ajudar a refletir a relação entre direito e trauma e, por que, ainda nos dias de hoje, negros, mulheres, índios e demais grupos sociais excluídos têm preconceitos afirmados, reproduzidos e aprofundados no âmbito das cortes judiciais?
A literatura permite pensar essa questão de maneira crítica e reveladora, e este livro abre o caminho para importantes reflexões multidisciplinares.
Além disso, olhando para as bases conceituais da autora: entre outros Hannah Arendt, Walter Benjamin, Freud, Levinas… e, por outro lado, para os grandes nomes da literatura com os quais dialoga, Tolstoi, Zola, Kafka… não é de espantar que o resultado desses encontros seja muito entusiasmante e extremamente criativo.
Felman nos lança, com esta obra, uma série de questões que atingem o âmago da instituição jurídica.
Assim como Freud abalou nossa identidade e visão do que é o ser humano, ao revelar o inconsciente psicológico, ao apontar para o inconsciente jurídico, também Felman, reconfigura o direito e seus limites.
Sobre o Autor
Shoshana Felman é uma eminente crítica literária, internacionalmente reconhecida pelo seu trabalho original e interdisciplinar. Professora de Literatura Comparada e de Literatura Francesa na Emory University, com doutorado pela Universidade de Grenoble (França), 1970, foi professora em Yale entre 1970 e 2004, tendo recebido aí a prestigiada cátedra Thomas E. Donnelly de Literatura Francesa e Comparada. Entre seus grandes temas de pesquisa destacam-se: literatura inglesa e francesa dos séculos XIX e XX, literatura e psicanálise, trauma e testemunho, e literatura e Direito. Suas obras mais conhecidas são: The Claims of Literature: a Shoshana Felman Reader (editado por Eyal Peretz, Ulrich Baer e Emily Sun) (2007); What Does a Woman Want? Reading and Sexual Difference (1993); Testimony: Crises of Witnessing in Literature Psychoanalysis and History (em coautoria com Dori Laub, M.D.) (1992); Jacques Lacan and the Adventure of Insight: Psychoanalysis in Contemporary Culture (1987).
Ariani Bueno Sudatti é graduada em Letras (Unicamp) e em Ciências Jurídicas e Sociais (PUC-Campinas). Possui Mestrado e Doutorado em Filosofia do Direito (USP). Suas áreas de estudo incluem linguagem jurídica, semiótica, filosofia da linguagem e ideologia, análise crítica do discurso da dogmática jurídica, meio ambiente, direitos humanos, teoria e crítica literária, testemunho, literatura e direito. Faz parte do grupo de estudos Democracia, Justiça e Direitos Humanos, coordenado pelo Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianca Bittar (Faculdade de Direito-USP). É advogada militante, professora de Linguagem Jurídica na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e pós-doutoranda junto ao Departamento de Teoria Literária do IEL/ UNICAMP. Pela Edipro, traduziu O Inconsciente Jurídico e Teoria da Norma Jurídica.
Márcio Seligmann-Silva é professor titular de Teoria Literária na UNICAMP e pesquisador do CNPq. Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986), mestrado em Letras (Língua e Literatura Alemã) pela Universidade de São Paulo (1991) , doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Freie Universität Berlin (1996), pós-doutor pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim (2002) e por Yale (2006).