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eu te amei com amor eterno, tive piedade do teu nada PDF

108 Pages·2016·0.84 MB·Portuguese
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EXERCÍCIOS DA FRATERNIDADE DE COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO “EU TE AMEI COM AMOR ETERNO, TIVE PIEDADE DO TEU NADA” RÍMINI 2016 “EU TE AMEI COM AMOR ETERNO, TIVE PIEDADE DO TEU NADA” ExErcícios da FratErnidadE dE comunhão E LibErtação RÍMINI 2016 Texto original em italiano. Tradução: Cláudio Cruz Revisão: Maria Ramos Ascensão © 2016 Fraternità di Comunione e Liberazione “Por ocasião do curso anual dos Exercícios Espirituais para os membros da Fraternidade de Comunhão e Libertação que tem lugar em Rímini, sob o título ‘Eu te amei com amor eterno, tive piedade do teu nada’ (Jr 31,3), Sua Santidade Papa Francisco, ao dirigir seu cordial pensamento e seus votos, lembra que o Jubileu da Misericórdia é ocasião propícia para redescobrir a beleza da fé que põe em seu centro o amor misericordioso do Pai feito visível no rosto de Cristo e sustentado pelo Espírito que guia os passos dos fiéis ao longo da história. A misericórdia é a via que une Deus e o homem, abrindo o coração para a esperança de sermos amados para sempre apesar do limite do nosso pecado. O Santo Padre auspicia que todos os que seguem o ca- risma do saudoso Luigi Giussani deem testemunho da misericórdia pro- fessando-a e encarnando-a na vida mediante obras de misericórdia cor- porais e espirituais e sejam sinal da proximidade e da ternura de Deus, para que a sociedade hodierna redescubra a urgência da solidariedade, do amor e do perdão. Ele invoca a proteção celeste da Virgem Maria e, enquanto pede que rezem em apoio ao seu ministério petrino, confere de coração ao senhor e a todos os participantes a implorada bênção apostólica, estendendo-a a todos os que estão conectados via satélite e à inteira Fraternidade.” Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado de Sua Santidade, 29 de abril de 2016 Sexta-feira, 29 de abril, noite Na entrada e na saída: Wolfgang Amadeus Mozart, Requiem em ré menor, KV 626 Herbert von Karajan - Wiener Philharmoniker “Spirto Gentil” n. 5, Deutsche Grammophon n INTRODUÇÃO Julián Carrón Não há ato verdadeiro da nossa vida consciente, se não parte da consci- ência de sermos pecadores. “Estamos aqui porque reconhecemos antes de tudo esta verdade: que somos pecadores. Se vocês acham que são ho- nestos, não é este o lugar para o qual deviam vir: seria de todo inútil”, dizia-nos Dom Giussani, porque “a consciência de sermos pecadores é a primeira verdade do homem que age na vida e na história”.1 Pecadores, ou seja, necessitados. É desta necessidade que desponta o grito, a pergun- ta, como acabamos de escutar no Requiem de Mozart: “Salva me, fons pietatis”.2 Como dizia o publicano, do fundo do templo: “Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!”.3 Peçamos ao Espírito que nos doe a consciência desta necessidade da Sua misericórdia. Oh! vinde, Espírito Criador Começamos estes nossos dias com a leitura da mensagem que nos enviou o Papa Francisco: “Por ocasião do curso anual dos Exercícios Espirituais para os mem- bros da Fraternidade de Comunhão e Libertação que tem lugar em Rími- ni, sob o título ‘Eu te amei de um amor eterno, tive piedade do teu nada’ (Jr 31,3), Sua Santidade Papa Francisco, ao dirigir seu cordial pensamen- to e seus votos, lembra que o Jubileu da Misericórdia é ocasião propícia para redescobrir a beleza da fé que põe em seu centro o amor misericor- 1 L. Giussani, Questa cara gioia sopra la quale ogni virtù si fonda, Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação, Notas das meditações [de Luigi Giussani]. Rímini, 1993, suplemento de Litterae communionis-CL, n. 6, 1993, p. 5. 2 W. A. Mozart, Requiem em ré menor, KV 626, III. Sequentia, n. 3 Rex Tremendae, CD “Spirto Gentil”, n. 5. 3 Lc 18,13. 4 Sexta-feira, noite dioso do Pai feito visível no rosto de Cristo e sustentado pelo Espírito que guia os passos dos fiéis ao longo da história. A misericórdia é a via que une Deus e o homem, abrindo o coração para a esperança de sermos amados para sempre apesar do limite do nosso pecado. O Santo Padre auspicia que todos os que seguem o carisma do saudoso Luigi Giussa- ni deem testemunho da misericórdia professando-a e encarnando-a na vida mediante obras de misericórdia corporais e espirituais e sejam sinal da proximidade e da ternura de Deus, para que a sociedade hodierna redescubra a urgência da solidariedade, do amor e do perdão. Ele invo- ca a proteção celeste da Virgem Maria e, enquanto pede que rezem em apoio ao seu ministério petrino, confere de coração ao senhor e a todos os participantes a implorada bênção apostólica, estendendo-a a todos os que estão conectados via satélite e à inteira Fraternidade. Cardeal Pietro Pasolin, Secretário de Estado de Sua Santidade”. “Então, o discípulo que Jesus mais amava disse a Pedro: ‘É o Senhor!’. Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu e arregaçou a túnica (pois estava nu) e lançou-se ao mar.” Estando com ele, “nenhum dos discí- pulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor”.4 “Depois que se sentou à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles. Neste momento, seus olhos se abriram, e eles o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. Então um disse ao outro: ‘Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos fa- lava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?’.”5 Os relatos das aparições de Cristo ressuscitado registram constante- mente o espanto dos discípulos ao vê-Lo vivo diante deles. É a Sua pre- sença viva que domina, determinando o ser e o agir deles. É comovente ver como Jesus se curva sobre a necessidade deles, sobre a desorientação que neles deixou a Sua paixão e morte: Ele responde ao medo, ao choro, à solidão, às dúvidas, à saudade dos discípulos com a Sua presença. De onde nasce essa urgência deles? Depois de tudo o que haviam visto e vivido por anos, por que é tão premente a necessidade deles? Porque toda a história vivida com Jesus, os três anos passados com Ele, os fatos vistos, as palavras escutadas não são suficientes para responder à necessidade presente deles. A lembrança de um passado, por mais fascinante que seja, não adianta para enfrentar o agora presente. E, com efeito, os discípulos de Emaús di- 4 Jo 21,7.12. 5 Lc 24,30-32. 5 Exercícios da Fraternidade ziam entre si: “Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel; mas, com tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram!”.6 Todos os sinais vistos, a convivência deles e o ter comido e bebido com Ele não conseguiam vencer o desconcerto, o medo e a solidão. Isto ficará sempre ilustrado no choro de Maria Madalena. Só a Sua presença viva constitui uma resposta à altura da necessidade deles. E assim é revelada aos discí- pulos, por meio da experiência deles, a natureza própria do cristianismo. O cristianismo não é uma doutrina, uma ética, um sentimento, mas o fato de uma Presença presente, que domina o olhar de quem a intercepta, uma Presença cuja única preocupação é mostrar-se, invadir a vida de Seus ami- gos, até o ponto de fazê-los experimentar uma vida sem medo, sem tristeza, não obstante Ele não esteja com eles como estava antes de morrer. Aquela Presença viva é o que eles têm em comum. Aquela Presença constitui o único fundamento verdadeiro da comunhão deles. E justa- mente esta experiência os faz ser mais conscientes da diversidade deles. 1. O estilo de Deus Esta forma de Deus agir, esta revelação a eles depois da ressurreição, que os fazia ser tão diferentes de todos os outros homens, torna ainda mais premente a pergunta feita por Judas Tadeu durante a Última Ceia: “Se- nhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?”.7 Retomando esta pergunta em seu livro sobre Jesus, Bento XVI acrescenta: “Por que é que não Te opuseste com força aos teus inimigos que Te leva- ram à cruz? Por que não lhes demonstraste, com vigor irrecusável, que Tu és o Vivente, o Senhor da vida e da morte? Por que é que Te mostraste apenas a um pequeno grupo de discípulos, em cujo testemunho temos agora de nos fiar? A pergunta, porém, diz respeito não só à ressurreição, mas a todo o modo como Deus se revela ao mundo. Por que só a Abraão, por que não aos poderosos do mundo? Por que só a Israel, e não de modo indiscutível a todos os povos da terra?”.8 E eis a sua resposta: “É próprio do mistério de Deus agir desse modo suave. Só pouco a pouco é que Ele constrói na grande história da huma- nidade a sua história. Torna-se homem, mas de modo a poder ser igno- rado pelos contemporâneos, pelas forças respeitáveis da história. Padece 6 Lc 24,21. 7 Jo 14,22. 8 J. Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a ressurreição. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011, p. 246. 6 Sexta-feira, noite e morre, e, como ressuscitado, quer chegar à humanidade apenas através da fé dos Seus, aos quais se manifesta. Sem cessar, Ele bate suavemente às portas dos nossos corações e, se Lhe abrirmos, lentamente vai-nos tor- nando capazes de ‘ver’”9 e, então, de entender. Neste ponto, Bento XVI observa: “Contudo, não é este precisamen- te o estilo divino? Não se impor pela força exterior, mas dar liberdade, conceder e suscitar amor. E – pensando bem – não é o aparentemen- te mais pequenino o realmente grande? Porventura não irradia de Jesus um raio de luz que cresce ao longo dos séculos, um raio que não podia provir de nenhum simples ser humano, um raio mediante o qual entra verdadeiramente no mundo o esplendor da luz de Deus? Teria o anúncio dos apóstolos podido encontrar fé e edificar uma comunidade universal se não operasse neles a força da verdade [a força do Alto]? Se ouvirmos as testemunhas com coração atento e nos abrirmos aos sinais com que o Senhor não cessa de autenticar as Suas testemunhas e de atestar-se a si mesmo, então saberemos que ele verdadeiramente ressuscitou; Ele é o Vivente. A Ele nos entregamos, sabemos que assim caminhamos pela estrada justa. Com Tomé, metamos a nossa mão no lado transpassado de Jesus e professemos: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ (Jo 20,18)”.10 É isto o que é perturbador, naquele tempo como hoje. O ponto de partida dos discípulos era esse fato indelével. A consci- ência deles era definida pela manifestação de Cristo, pelo encontro vivo com o Vivente. Mas justo este fato suscitava neles a pergunta: por que nos escolheste a nós? E esta pergunta escancarava-os para a consciência do método de Deus: escolher alguns (eleição, preferência) para chegar a todos; e do Seu modo de agir: um estilo suave. O estilo divino é não intervir com o poder da força, mas suscitar a liberdade sem forçar de nenhum modo. Péguy relembra-nos isto de forma assombrosa: “Por esta liberdade [...] sacrifiquei tudo, diz Deus, / Pelo prazer que tenho em ser amado por homens livres, / Livremente”.11 Este método de Deus – a consciência deste método – é particularmen- te importante neste momento, porque “hoje não vivemos uma época de mudança, mas uma mudança de época”,12 como diz o Papa Francisco; nos últimos anos, temos voltado com frequência a este tema da mudança. 9 Ibidem. 10 Ibidem, p. 246-247. 11 C. Péguy, “Il mistero dei santi innocenti”. In: Idem, I Misteri. Milão: Jaca Book, 1997, p. 343. 12 Francisco, Discurso aos participantes do V Congresso da Igreja Italiana, Florença, 10 de novembro de 2015. 7 Exercícios da Fraternidade A nova situação caracterizada pelo colapso de muitas seguranças antigas provoca em nós também, como nos discípulos, o desconcerto, o medo, as dúvidas sobre como ficar diante dela. Numa recente e clamorosa entrevista, Bento XVI pôs em evidência a chave – a dimensão crucial – dessa mudança de época: “Para o homem de hoje, em relação ao tempo de Lutero e à perspectiva clássica da fé cristã [dominada pela preocupação com a salvação eterna], as coisas em certo sentido viraram de cabeça para baixo [...]. Já não é o homem que acredita precisar da justificação perante Deus, mas é, isto sim, do parecer de que seja Deus quem tenha de justificar-se [perante o homem] por causa de todas as coisas horrendas presentes no mundo e em face da miséria do ser humano, todas coisas que em última análise dependeriam d’Ele”.13 Estamos diante de uma verdadeira e própria inversão do ônus da pro- va. Agora é Deus quem deve de algum modo justificar-se, não mais o homem: esta é a situação em que estamos, esta é a “tendência de fundo do nosso tempo”.14 Em certo sentido, é Deus quem deve justificar-se pe- rante o homem, e não vice-versa; é Deus, paradoxalmente, quem – dito em termos positivos – tem de mostrar que está à altura do homem, de seu pedido, de seu grito. “As coisas, em certo sentido, viraram de cabeça para baixo”, inverteu-se o ônus da prova: esse ônus agora está a cargo de Deus. É Ele quem tem de demonstrar que está ali para o homem, que lhe é indispensável para viver. É impressionante como Dom Giussani identificou com antecedência os sinais e o alcance desta mudança epocal e fez dessa mudança a pedra an- gular de seu método. É como se Deus, Deus feito homem, e a Sua presença histórica, a Igreja, tivessem de se justificar perante os homens ou – com palavras que nos são mais familiares – é como se Deus, a Igreja, “tivessem de comparecer ao tribunal onde você é juiz mediante a sua experiência”.15 Precisamente isto caracterizou o começo do nosso movimento. Dife- rentemente de muitos outros, já nos anos 1950 Dom Giussani percebeu que o cristianismo, mesmo sendo o pano de fundo tradicional de todos, já não exercia atração sobre os jovens com os quais se relacionava em Mi- lão e na escola. Era evidente para ele que Deus feito homem, Cristo, ti- nha novamente de “se justificar” perante aqueles jovens homens que nem 13 “Entrevista com S.S. o Papa Emérito Bento XVI sobre a questão da justificação pela fé”. In: Daniele Libanori (Org.), Per mezzo della fede. Cisinello Balsamo (MI): San Pao- lo, 2016, p. 127. Ver também: L’Osservatore Romano e Avvenire, 16 de março de 2016. 14 Ibidem, p. 128. 15 L. Giussani, L’io rinasce in un incontro (1986-1987). Milão: BUR, 2010, p. 300. 8

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